segunda-feira, outubro 30, 2006

Derrota


Não sou bom para dar títulos. Até aos meus trabalhos tenho dificuldade de dá-los. Mas o título deste post poderia ser também o do filme que é a atual sensação no cenário cinematográfico carioca. Praticamente em todos circuitos inteligentes/interessantes a pergunta é a mesma: "Você ainda não assistiu A Pequena Miss Sunshine?" Mas o bochicho não se restringe ao Rio. Quem der uma circulada pela blogsfera vai encontrar posts e mais posts sobre essa comédia, dirigida por Jonathan Dayton e Valerie Faris. Por isso decidi assiti-la hoje. E não me arrependi.
De vez em quando um azarão acaba roubando a cena e virando o grande must da temporada cinematográfica. Quem não se lembra de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain? Mas no caso de Miss Sunshine, estamos falando de um filme que tinha tudo para ser um fracasso (baixíssimo orçamento, nenhuma estrela e personagens losers e excêntricos). Acabou que desde o seu lançamento, em 28 de julho último, nos cinemas norte-americanos, esta produção independente tem causado sensação e faturado milhões de dólares.
Ao ler sobre todo esse sucesso você deve estar se perguntando o porquê do título. Pois Miss Sunshine é sobre fracassos e fracassados. Gente como a gente? Nem tanto. Afinal um velho que é expulso de um asilo por usar heroína, uma garota feiosa que sonha em ser Miss América, um adolescente fã de Nietzsche que faz voto de silêncio até entrar para a Aeronáutica, um professor gay que tenta o suicídio por ter perdido um aluno-namorado para um rival e um pai de família fracassado que tenta dar a volta por cima dando um curso sobre "Os Nove Passos Para se Atingir o Sucesso", não são pessoas que se encontra em qualquer esquina. Mas todos sofrem, desejam, sonham e se emocionam como a gente. Aliás, esse é o segredo do sucesso de Miss Sunshine. O roteirista Michael Arndt não se limita a nos contar a história. Ele nos envolve na trama. O problema dos personagens passa a ser seu também. Pelo menos por 1h e 45 m. Coisa que há muito não vejo no cinema.
Mas o cinema independente norte-americano de vez em quando nos surpreende com filmes feitos em cima de roteiros originais e personagens cativantes. Foi assim desde o esquecido e inesquecível Felicidade (de Todd Solondz, 1998) até o vencedor de quase todos os Oscars de 2000, Beleza Americana (de Sam Mendes), passando pelo impagável e provocador Bem-Vindo À Casa de Bonecas (de Todd Solondz, 1995). Mas não estou falando aqui de um filme que pretende apenas dar um pequeno panorama dos perdedores da América. Vejo mais emMiss Sunshine. O filme está sendo lançado numa época em que os EUA estão enfrentando um momento de fragilidade não vista desde os sufocantes anos 70 de Nixon. Economia instável, medo de ataques terroristas, isolamento cada vez maior perante o resto do mundo e decepção com o Bush, estão fazendo a América evitar olhar-se no espelho. E o pior na decadência é perder a pose. Os personagens de Miss Sunshine perdem a linha o tempo todo, porque percebem que não há futuro para eles. E nos momentos mais críticos, principalmente no final, quando não resta mais nada, eles se unem para lembrar que são uma família e que só a união faz a força. É como se quisessem lembrar aos americanos que com arrogância e individualismo é mais difícil atravessar sem ferimentos essa era bushiniana.
O filme é tão emblemático que há pequenas semelhanças com o clássico Vinhas da Ira (John Ford, 1940), sobre uma família que, nos tempos terríveis da Grande Depressão, perde sua propriedade no sul e ruma para a Califórnia num caminhão velho, em busca de vida melhor. A família Hoover de Miss Sunshine está indo para a Califórnia numa kombi caindo aos pedaços para que a caçula, Olive, participe e ganhe o concurso Miss Sunshine, que é a única coisa que lhes resta para tentar salvá-los da merda total. E o final é parecido com o do clássico de Ford. Não vou contar, mas o título deste post dá uma idéia. Mas tudo é levado com um humor inteligente e simpático. Você torce por eles, sofre por eles, como se torcia pela miserável família Joad em Vinhas...
Por tudo que já falei, acho que derrota maior do que a dos personagens do filme seria não assiti-lo.

domingo, outubro 29, 2006

Elis "Bjork" Regina

Atualmente ela está gravando,em segredo,o próximo cd. O último foi lançado em junho, com o estranhíssimo nome de (___surrounded):.
Nos anos 90 a filandesa Bjork declarou que conhecia muito a nossa MPB e que sua grande influência seria a gaúcha Elis Regina. Na época não acreditei. Mas, examinando, melhor o trabalho desta, que é uma das cantoras mais originais e ousadas - e mal vestida - dos últimos tempos, percebe-se a carga emocional na forte interpretação, marca registrada da saudosa pimentinha. Um dos momentos em que pode-se perceber melhor isso, é em Bachelorette, faixa do cd Homogenic, lançado em 1997, e cujo clipe acaba de cair no YouTube. Aliás, Homogenic é, para mim, o melhor trabalho desta baixinha esquentada que veio do frio.
O vídeo de Bacherolette foi dirigido por Michel Gondry e em alguns momentos tem-se a impressão de que Bjork vai abrir os braças e cantar Upa, Neguinho! Reparem no luxo da produção, cheia de efeitos. E imaginem a nossa Elis vivendo numa época com tantas possibilidades. Embora ela não precisasse de tanto.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Curtos e Grossos



Ernest Hemingway faleceu em 02 de julho de 1961 e os americanos ainda estão festejando o 45a. aniversário da morte de um dos seus maiores escritores.
A Revista Wired, a bíblia dos amantes das novas tecnologias, por exemplo, em seu próximo número, que deve chegar às bancas dos EUA em 14 de novembro, traz uma homenagem e um desafio.
O negócio é o seguinte, Hemingway desafiou a si mesmo a contar uma história com o menor número de palavras possível. E ele escreveu. Usando apenas seis. Não acredita? Pois foi este continho aí embaixo:
"For sale: baby shoes, never worn."
Pois a Wired reuniu um time de escritores das mais diversas áreas para ver se eles seriam capazes de repetir o feito do autor de Adeus Às Armas e Por Quem os Sinos Dobram. O resultado você já pode conferir aqui. É um festival de criatividade e concisão, apesar de algumas esquisitices.
Na verdade, os micro-contos estão na moda. Com a rapidez exigida pela web, eles parecem ser o tipo de literatura perfeita e caem cada vez mais nas graças do povo.
Eu já entrei na onda e cheguei a criar alguns. Não cheguei ao radicalismo do Hemingway, mas consegui ser bem minimalista. O site da Unisinos também propôs um desafio. Mas era um conto com até 200 caracteres. E eu mandei este:
"No leito de morte de Fulana, a esposa. Ele falou, olhando nos olhos da moribunda: Eu sempre te amei, Ciclana."
E tem esse aqui, que é inédito:
"Três noites antes da separação, ela esperava pela paz, deitada ao lado dele. Um dia ainda serei feliz.Três noites depois da partida, a paz ainda não havia chegado. Em algum lugar, talvez ele esteja mais feliz."
E tem mais este:
"Era uma vez, um sonho...era só uma vez."
Será que alguém mais se habilita a criar essa espécie de hai kai em prosa?
E por falar em Literatura...
E amanhã, sexta 27 de outubro, tem o lançamento do terceiro número da Revista Bagatelas, na Livraria da Travessa, rua Visconde de Pirajá, 572, Ipanema, a partir das 20h. Estarei lá para abraçar talentosa que mais uma vez dará a cara a tapa. Quem quizer aparecer...

domingo, outubro 22, 2006

Diana

Foto tirada daqui.

Primeiro, clique aqui.
****************************
Velha amiga
Eu volto à nossa casa
Já não te encontro alegre
Quase humana
Corpo pintado
De branco e marrom
E uma tristeza no olhar
Como se conhecesse
Dor milenar
Já não te encontro
À espera ao pé da porta
Correndo viva e bela
Ou descansando
Tanto vazio por todo lugar
Tanto silêncio
Sinto ao chegar
Ao nosso território de brincar
Almoço aos domingos
A velha farra
Todos vão inventando
Novos segredos
Fica a ausência
Branca e marron
E a tristeza milenar
Mas os meninos voltaram a brincar
Como se ainda sentissem o seu olhar
Diana, Diana, Diana, Diana, Diana
Já não te encontro
À espera ao pé da porta
Correndo viva e bela
Ou descansando
Tanto vazio por todo lugar
Tanto silêncio
Sinto ao chegar
Ao nosso território de brincar
Almoço aos domingos
A velha farraTodos vão inventando
Novos segredos
Fica a ausência
Branca e marron
E a tristeza milenar
Mas os meninos voltaram a brincar
Como se ainda sentissem o seu olhar
Diana, Diana, Diana, Diana, Diá, Diana,
DianaDiana, Diana, Diana, Diana, Diá,Diana, Diana


****************************
A canção acima poderia ter sido feita para a garota da foto. Mas não foi. E sim, para uma cadelinha, que também não é a da foto. Na verdade, Toninho Horta e Fernando Brant compuseram em homenagem a cadela do Brant, que havia acabado de falecer. Não era a primeira vez que alguém expressava o seu amor ao animal de estimação. Diz a lenda que em 1968, o George Harrinson já havia composto Martha My Dear, incluída no Álbum Branco dos Beatles, e que seria dedicada a sua cadelinha. De qualquer forma uma homenagem em música não deixa de ser uma bela homenagem. Nem que seja para uma cadelinha. Mesmo por que, certos seres humanos não merecem qualquer tipo de homenagem.
Mas este post é uma homenagem à Clau, cadelinha da minha grande amiga Ana Cláudia, que foi encontrada morta no domingo último. Morreu de velha. Morreu porque assim Deus quis, já que amor e cuidados nunca lhe faltaram. Que bom se todos animais de estimação tivessem essa sorte. Luz pra ti, Clau!
* Os deuses da web estão mesmo de má vontade comigo. Depois do Blogger apagar parte do meu template, enfrentei sérios problemas com o Vírtua, motivo pelo qual ainda estou parcialmente afastado da blogsfera. Estou voltando aos poucos. Aguardem.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Dica


Não sei bem quando foi que aconteceu, mas, como falei há dois posts atrás, um dia um belo príncipe apareceu e tirou a literatura policial da floresta negra da subliteratura.
Pode parecer incrível para os mais jovens, mas quando comecei a minha vida de leitor, lá pelo início dos anos 70, pegava mal você dizer que era fã do gênero. Até mesmo em relação aos autores clássicos como Dashiell Hammett e Raymond Chandler, você podia enfrentar olhares de poucos amigos ao carregar um livro como O Falcão Maltês, escrito pelo primeiro, por exemplo. Você certamente seria antipatizado se, numa noite de autógrafos, dissesse que havia adorado o último da Agatha Christie. Por outro lado, os críticos a desprezavam e nem havia espaço para obras policiais nas livrarias.
Em suma, literatura policial era coisa de gentinha, gentalha. Uma literatura menor feita para gente que só queria se entreter. Era um público que só interessava em saber quem matou. Por isso os seus autores não tinham grandes pretensões além de fugir da fórmula "alguém é assassinado + alguém investiga + o cupado é punido = garantia de boas vendas".
Nas últimas décadas uma geração de escritores (Patricia HighSmith, Dennis Lehane, DonaLeon, entre outros) apareceu para dar sangue novo ao gênero que andava meio anêmico. Para esses escritores, quem matou é o que menos importa. São autores mais ambiciosos que experimentam muito mais e se esforçam para mostrar o quão grande é o universo policial. Tão grande que chega a namorar com outros universos, como o psicológico, o terror, o suspense, o romântico, a ficção científica, o drama, etc.
Não sei das estatísticas, mas acredito que a policial seja o tipo de literatura que mais cresça atualmente. Talvez perca somente para a auto-ajuda e a não ficção. Não é por outro motivo que várias editoras lançaram e estão lançando coleções para o gênero. A mais recente empreitada do tipo foi dado pela Bom Texto, aqui do Rio. Ela está lançando uma trilogia policial de nome sugestivo: Elementar, meu caro leitor.
E a coleção começou com chave de ouro, com O Crime Mais Cruel, da carioca Miriam Mambrini, que é um exemplo típico do alto nível que a literatura policial chegou nos nossos tempos. Miriam, que além de ter vários títulos publicados, inclusive o thriller As Pedras Não Morrem, pela própria Bom Texto, e de ter participado da badalada coletânea 30 Mulheres que estão fazendo a literatura hoje, organizada por Luiz Ruffato e lançada pela Record, também já ganhou vários prêmios literários, consegue, com equilíbrio e maturidade abordar um dos crimes mais terríveis: o seqüestro. É suspense de primeira, conduzido com frieza e sofisticação o bastante para conseguir algo muito difícil no gênero: não usar a violência gratuita.
O Crime Mais Cruel pega o leitor pelo modo mais puro: uma boa história.
Taí um livro que merece ser conferido, principalmente para se ter uma idéia de por quantas andam a literatura policial hoje em dia. Está a venda nas boas livrarias do ramo. Mas se você quiser comodidade, pode pedir na Livraria do Crime e eles o fazem chegar até você.
Como resolvi encontrar tempo para voltar a ler, passarei a dar mais dicas e trechos de livros aqui.
Aliás, fiquem de olho na coleção Elementar, Meu Caro Leitor, da Bom Texto, pois o próximo título a ser lançado será um tal de Crimes e Perversões, de um tal Julio Cesar Corrêa, e o terceiro será O Diário, de Agda Lobo. Darei mais detalhes depois.
NOTA DA GERÊNCIA:
O blogger me fez o grande favor de apagar o meu template e junto com eles se foram todos os meus links e serviços deste blog.
Grato pela compreensão
(que saco falar assim! Mas deu pra ententer? Não deslinkei ninguém.Fui)

terça-feira, outubro 17, 2006

Down In High Society


Todo brasileiro sabe (ou por experiência própria ou através de um parente ou amigo) o rol de problemas que vem junto com o desemprego. Baixa auto-estima, dificuldades financeiras, depressão, perda de amigos, alcoolismo, uso de drogas, suicídio, aumento da violência e da criminalidade. Isso todo mundo sabe de cor. Principalmente quem tem mais de 35 anos e assistiu o país entrar, em 1980, numa recesão da qual parece nunca mais ter saído.
No início o desemprego atingia mais as classes menos favorecidas, a classe média apenas estava demorando mais a arranjar emprego, mas parecia estar parcialmente protegida. A partir dos anos 90, a crise passou a atirngir a todos. E aqueles que tinham tido acesso a um diploma passaram a sofrer ainda mais. Pois um contínuo que perde o emprego poderá ser um camelô, sem muitos traumas. Um porteiro desempregado poderá até ganhar mais fazendo bicos como bombeiro hidráulico. Uma balconista poderá se transformar numa faxineira sem grandes dramas. Mas o que aconteceria com um executivo com um alto padrão de vida? A resposta nós sabemos. Queda no padrão de vida. Planos de saúde cancelados, filhos levados para uma escola inferior, viagens adiadas, lazer jogado para escanteio, mudança para um bairro mais desvalorizado, etc.
Tudo isso não é do nosso conhecimento. Mas o que Desemprego de Colarinho Branco, da jornalista Barbara Ehrenreich, lançado dias atrás pela Record, nos conta é que os norte-americanos estão sentindo isso na pele agora.
Barbara, que há alguns anos, fez bastante sucesso com Miséria À Americana, no qual se chegou a se travestir de copeira e garçonete para contar o drama dos empregados com baixa remuneração na nação mais rica do planeta. Agora ela mostra o drama de profissionais de classe média, com nível universitário, que perdem seus empregos e têm de enfrentar a queda no seu padrão e qualidade de vida.
Com o desaquecimento da economia em diversos setores, o problema está cada vez mais comum do que se imagina e tem acarretado um outro fenômeno: a migração de classes. Cidadãos que antes usavam um bom carro para sair da sua confortável casa nos subúrbios para trabalhar numa grande empresa, agora usam metrô e dividem apartamentos ou casas em locais menos valorizados. Alcoolismo, uso de drogas, violência e depressão são os resultados. Familiar? Mas não para por aí. O que existe de comum entre lá e aqui é a passividade. Perde-se o emprego e ninguém protesta. Mas nesse ponto as semelhanças acabam. Os nossos desempregados talvez não protestem por acreditarem ser inútil. Os desempregados da classe média americana talvez sintam uma espécie de culpa. Afinal, desde criancinha eles ouvem que nasceram na nação mais poderosa e rica do planeta, onde há oportunidades para todos, onde o seu telento é reconhecido e se eles se fizessem a coisa certa poderiam se dar bem. E quando eles fracassam, não se lembram das políticas econômicas desastrosas do governo. Eles culpam a si mesmos.
Além do mais muitos brasileiros sem emprego e sem perspectivas foram tentar a vida no exterior para não ficarem desempregados na maior profissão que o nosso povo tem: a esperança. Mas e os americanos desempregados? Eles vão para onde?
Isso tudo faz desse não-ficção de Barbara Ehrenreich um dos lançamentos mais interessantes do mês.

sábado, outubro 14, 2006

Aqui jaz...

Muvuca na porta do finado CBGB´s numa noite do verão de 1977. O cabeludo de banco, de óculos, encostado na parede é o também falecidao Joey Ramone, vocalista do famoso grupo punk, que, como muitas outras bandas, nasceram ali. Foto tirada daqui.


Pois é, acabou chorare. Neste sábado os jornais e críticos de música do mundo inteiro passaram a triste notícia: a lendária casa de rock CBGB´s, em Nova Iorque, vai fechar amanhã, domingo 15 de outubro, após 33 anos de atividades. Hoje tem show da Blondie e amanhã, o derradeiro show fica a cargo da também lendária Patti Smith, ambas iniciadas no local. Bandas como Ramones, Television e Talking Heads também debutaram neste clube sensacional, que surgiu para ser um local de música country e blues, mas que logo foi adotado pelos punks.
O East Village, onde fica a Bowery St., endereço do CBGB´s, sempre foi uma área extremamente desvalorizada, expremida entre Chinatown e a região portuária. Quando o lado oeste de Manhattans, até mesmo a ex-fedorenta e sombria área dos antigos abatedouros, começou a atrair restaurantes e bistrôs caríssimos, galerias de arte sofisticadas e grifes de luxo como a de Stella MacCartney, os comerciantes do outro lado intuíram o pior. E o pior chegou. Os aluguéis ficaram proibitivos na ilha a partir dos anos 90. E esse foi o motivo que levou o famoso clube punk a fechar as portas, segundo o seu proprietário, Hilly Kristal. Ele tem planos de reabrir o clube em - pasmem - em Las Vegas!!!!! Mas é claro que não será a mesma coisa.
Pois é, o CBGB´s vai fechar e levar com ele toda uma geração de roqueiros. Mas não só a velha geração, mas também a nova, que tinha no clube, um local generoso, onde podia mostrar seu trabalho. Porque as coisas para quem está começando no rock continuam quase tão difíceis quanto há 33 anos atrás.
Como vocês sabem, estive em Nova Iorque no mês passado e me surpreendi ao ver a Bowery tão limpinha, bem iluminada e cheia de lojinhas simpáticas. Estive no CBGB´s, que parecia mesmo meio deslocado em meio àquele cenário de limpeza e bom comportamento, onde em 1973, quando o clube foi reaberto, deslocados e desajustados de todos os gêneros disputavam lugar com ratos e baratas. Fiquei feliz por conhecer este lugar lendário. No post de 30 de setembro há uma matéria sobre o lugar e fotos que tirei. Na camisa que comprei ali, está escrito: Home of Underground Rock. E é ou era uma grande verdade.
Para saber mais sobre a história do CBGB´s e seu fim, mergulhe aqui.

Alô, Jorge! Agora só na próxima encarnação, meu véio!
E só restaram as fotos que tirei...


...e a camisa que comprei por U$ 28. Eu disse U$28? Pois a partir de hoje essa camisa comprada no CBGB´s...NÃO TEM PREÇO.


OBITUÁRIO

E já que este post está meio fúnebre, comunico mais uma morte. Aliás, os mais atentos já perceberam que o meu blog A Arte de Odiar havia sumido. Pois é, sem tempo de manter este, tive que sacrificar meu outro blog. E com ele se foi o Detetive Lacerda e suas aventuras. Lacerda morreu, mas segundo uma mãe de santo amiga minha, ele virou um encosto e está querendo voltar. Tenho rezado, argumentando que este blog é um corpo que não lhe pertence. Mas os mais antigos conhecem o Lacerda. E não se surpreendam se ele baixar por aqui a qualquer momento na matéria deste perna-de-calça.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Menino(a)s, Eu Vi! (Michael Jackson Negro)

Menino(a)s, Eu Vi! (Michael Jackson negro)

Já não é novidade para ninguém que sou uma criatura pré-histórica da era paleozóica, com 47 anos (bem vividos, é claro, mas...com 47 anos) Por isso, me respeitem este senhor que já teve que enfrentar muita boy band na vida, como N´sync, Menudos, BackStreet Boys, New Kids On The Block, etc.
A primeira e única que curti foram os The Jacksons Five. E hoje, na semana em que o jornal inglês Dayly Mirror, divulgou supostas fotos de Michael Jackson vestido de mulher, em St. Tropez, aumentando os boatos de que o astro planeja mesmo se submeter a uma operação de mudança de sexo, me senti ainda mais velho. Meu Deus! Eu sou de uma época mais inocente, em que Michael Jackson era apenas um menino negro, tímido (ver a entrevista no vídeo acima, no qual ele aparece com os imrãos, cantando I Want You Back e ABC, sucessos do primeiro disco, que estavam lançando naquele ano de 1970), com uma enorme cabeleira, trejeitos delicados, com voz de menina e um talento enorme para dança...bem, vamos parar por aqui porque talvez eu fosse inocente demais e percebi que havia algo errado com o moleque. Mas eu não estava sozinho. O mundo inteiro se rendeu ao talento e a graça daquele grupo, que tinha como atração o pequeno-grande Michael, pelo qual ainda guardo grande admiração, apesar da sua sombria vida particular. Espero que ele encontre o seu caminho e volte a nos dar (sem interpretações maldosas, por favor) grandes trabalhos. Inocência? Bem, meu único consolo é ter crescido numa época em que ainda se podia ser inocente.

quarta-feira, outubro 11, 2006

E Cruise Pulou no Sofá da Ophra


And the Oscar goes to...
Pelo andar da carruagem, essa frase entrará em extinção num futuro não muito longínquo. Pelo menos, nas circunstâncias e com a pompa que ela é dita hoje.
Recentemene, ao ser entrevistado pela Ophra Winfrey, Tom Cruise surpreendeu a todos ao subir no famos sofá da entrevistadora (uma espécie de sofá encantado da Hebe) e começou a dar pulinhos do tipo "eu tenho sete anos, papai e mamãe sairam e tem sorvete na geladeira".
Ao verem tal cena patética, muitos telespectadores não se deram conta, mas estavam testemunhando a agonia de um império.
Pesquisas mostraram, no começo deste ano, que um número cada vez maior de norte-americanos está trocando o cinema e a tv por outras formas de entretenimento, principalmente a internet.
Pouco depois o mundo do show business ficou chocadíssimo (o mundo do show business fica chocadíssimo por pouca coisa) quando, em 22 de agosto, a Paramont rompeu com Tom Cruise e sua produtora Wagner Productions, após um relacionamento de 14 anos. Isso coincidiu com outros grandes estúdios mexendo (para baixo) no salário de superastros com o Mel Gibson, Tom Hanks e Julia Roberts. Em Hollywood, a explicação era a mesma: os resultados cada vez mais fracos nas bilheterias não estão mais compensando os super-investimentos nas super-estrelas.
Na semana passada, veio a gota d´água: o famoso diretor George Lucas, criador do mega-sucesso Guerra nas Estrelas, anunciou que está pendurando a chuteira. Irá se dedicar à tv. Em um post de semanas atrás, eu abordei o excelente momento da tv norte-americana, então isso até não me surpreendeu tanto. Fiquei surpreso mesmo foi ao saber que o poderoso Lucas pretende se dedicar também a pequenos filmes para serem distribuídos na internet. Segundo ele, "o negócio dos filmes para o cinema está ficando muito caro e arriscado...gastar U$ 100 milhões para produzir um filme e outros U$ 100 para promovê-lo não faz sentido."
A decisão de Lucas não é um fato isolado, já que grandes do cinema e da tv vem anunciando um namoro com a web. A Fox, por exemplo, irá exibir programas de tv no MySpace. A Apple exibirá filmes no ITunes e a Warner investirá em vídeos de música no YouTube.
O que acontecerá ao cinema americano, ninguém pode prever.
Hollywood sempre foi assim um mundo à parte, uma espécie de Éden, cheio de divindades. A gente via Elizabeth Taylor, Ava Gardner, Frank Sinatra, Fred Astaire, Marlon Brando, Gregory Peck e etc e nunca conseguiam imaginá-los presos num engarrafamento, numa fila de supermercado ou pegando sol numa praia comum. Não. Eles moravam num planeta chamado Hollywood e não pertenciam a este plano terrestre. E nove entre dez mortais sonhavam em pertencer àquele mundo, mas quase ninguém conseguia.
Nos anos 60, uma nova geração de atores chegou para mudar tudo. Usavam jeans desbotados, mascavam chicletes, não cortavam cabelos, falavam gírias, davam declarações políticas e estavam mais próximos o possível de gente como a gente. Jack Nicholson, Jane Fonda, Goldie Hawn, Pete Coyote, Babra Streitsand, Dustin Hoffman e Al Pacino, pelo menos a gente consegui imaginar num engarrafamento. Mesmo que fosse num conversível de milhões de dólares. Era o fim do glamour em Hollywood, o fim da era dos deuses. Muita gente ficou chocada com essa nova leva de atores que compareciam á entrega do Oscar com ar de quem acabou de sair do banho e apertou um baseado. Os pobre mortais ficaram mais alegres, pois perceberam que o tal mundo dos deuses não parecia mais ser tão inacessível.
Nas décadas seguintes até os pulinhos de Cruise no sofá da Ophra, o que ainda restava do glamur hollywoodiano foi sendo deletado por estrelas que davam declarações polêmicas, se divorciavam escandalosa e milionariamente, eram presos por porte de drogas ou por dirigirem embriagados e que permitiam que suas vidas particulares fosse devassada pela imprensa de fofoca. O mofo do planeta Hollywood, que antes era escondido por camadas de tinta a óleo, agora era cada vez mais escancarado.
Hollywood fez com que várias gerações corressem atrás da fama e pudessem ser aceito no Paraíso. Com o advento da internet, a fama e o sucesso ficaram mais fáceis. De repente, você pode ter centenas de admiradores do seu blog ou fazer milhares de fãs com um vídeo no YouTube. Sem cachês milionários, sem carros conversíveis, sem mansões com praias particulares e nem amantes de milhões de dólares, é claro! Apenas o bastante para satisfazer o seu ego.
Aí vieram os pulinhos de Cruise e muitos dos pobres mortais se deram conta de que não queriam mais entrar no Éden. Pois o Éden parecia estar um nível abaixo deles.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Homenagem de Grego


Acho que muitos de vocês já devem conhecer a história: em outubro de 1906 o mineiro Santos Dumont, com o seu 14 Bis, realizava o primeiro vôo de um avião impulsionado por um motor aeronáutico, no campo de Bagatelle, em Paris.
Mas dois americanos, os irmãos norte-americanos, Orville Wright e Wilbur Wright, reivindicaram o feito, devido a um suposto vôo realizado em 17 de dezembro de 1903. Só que ninguém viu o tal vôo e o nosso Santos Dumont continua a ser aclamado por quase todo mundo como o Pai da Aviação.
Pois bem, justamente neste mês em que comemoramos o centenário do vôo do 14 Bis, foi lançado na Inglaterra, uma coleção de ensaios feita pela Universidade de Massassuchets, EUA, que afirmam que o nosso maior escritor, o carioca Machado de Assis, não passava de um plagiário.
Mas antes que vocês comecem a queimar alguma bandeira americana, fiquem sabendo que a coleção de ensaios foi organizada por um brasileiro, o professor da Unversidade Estadual do Rio de Janeiro, João Cezar de Castro Rocha, que se baseou num trecho escrito por Machado, em 1895 e que dizia:
"A Revolução Francesa e Otelo estão feitos; nada impede que esta ou aquela cena seja tirada para outras peças, e assim se cometem, literariamente falando, os plágios"
O Professor João Cezar vai mais longe, afirmando que Machado era um plagiário confesso "porque foi o primeiro escritor da literatura ocidental a reconhecer que o autor é antes de tudo um grande leitor".
A coleção tem o sugestivo título de The Author as Plagiarist – The Case of Machado de Assis (O autor como um plagiário – o caso de Machado de Assis) e foi lançada para abrir o início das comemorações do centenário da morte do Bruxo do Cosme Velho - como Machdo era conhecido -, que ocorrerá em 2008.
Garanto que deve haver muito americano rindo neste momento.
Para saber mais, mergulhe aqui.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um Tal de Tennessee


"A velha está acordada na cama e escuta o som da respiração dele. Noite após noite é sempre a mesma coisa. Ela permanece atenta a esse som rouco, dolorosamente rascante, e não consegue dormir. Toda vez que há uma interrupção ela fica tensa, aflita, enquanto os momentos excruciantes acumulam-se sobre seu peito quase imóvel qual pesos de ferro. Então, aos poucos ou de forma bastante repentina, o som recomeça. Ele não tinha parado de respirar. Apenas acordara por alguns instantes e tornara a adormecer.
Graças a Deus!, sussurra ela. Graças a Deus!
Durante o dia ela também escuta. Quando está na cozinha, permanece atenta aos sons que vêm da sala da frente, onde ele lê o jornal. Aguça os ouvidos à espera do amarfalhar periódico das páginas e das batidas do fornilho do cachimbo no cinzeiro.
Esses sons a tranqüilizam e ela respira mais aliviada.
Chama-o: Emiel, Emiel, está na hora das suas gotinhas!"

O nome do cara é Tennesse Williams. Você já deve ter ouvido falar dele, pois trata-se de um dos maiores dramaturgos de toda história do teatro (À Margem da Vida, Um Bonde Chamado Desejo, Gata Em Teto de Zinco Quente). Só que o cara também era (faleceu em 1983) contista. Não sabia? Pois ele era. E dos bons.
O melhor de tudo é que a Companhia das Letras acaba de lançar uma obra imperdível. Chama-se 49 Contos de Tennessee Williams. Isso. São 49 contos, centenas de personagens e dezenas de histórias fantásticas. O trecho acima é o início de Areia, apenas um dos textos desse livro que estou tendo o prazer de ler. A matéria prima de Williams é a alma humana. Seus personagens são os solitários, os bêbados, os ansiosos, os desesperados, os desajustados, os apaixonados, enfim, toda a fauna de perdedores, incompreendidos, perdidos e injustiçados que sempre existiram e sempre existirão. Você pode ter conhecido alguns deles. Talvez, durante sua vida, você deve ter sido pelo menos um deles.
O criador de Blanche Dubois, um dos personagens mais marcantes do teatrao mundial, sabe como ninguém dissecar a miséria, os monstros e os deuses que existem dentro de nós, expondo toda a brutalidade e a fragilidade do ser humano.
O livro tem um longo prefácio do também escritor Gore Vidal que foi amigo íntimo de Tennessee e alguns dos contos se transformaram em sucessos no palco. É o caso do excelente Retrato De Uma Moça Em Vidro, que se transformaria na sua primeira peça, À Margem da Vida.
Bem, eu voltei a fazer uma das coisas que mais gosto: ler. Leio até 3 livros ao mesmo tempo, como estou, por acaso, fazendo agora. E nos próximos posts vou dar algumas dicas para vocês. Essa é a primeira e é imperdível.
Ótimo findi.

terça-feira, outubro 03, 2006

Folha Corrida

Esta foto já foi postada aqui. Foi tirada em agosto último, na Mercearia São Pedro, lá em Sampa.
Nela, apareço com o Rafael Vidal, da Revista Bagatelas.
Mas reparem no casal à esquerda. Bonito e simpático. Feitos um para o outro. Gente acima de qualquer suspeita, que qualquer um gostaria de ter como vizinhos ou como padrinhos de seus filhos.
Pois guarde o nome dos dois: Diego Landucci e Tatiana Bortolozzo. Os sobrenomes italianos, que parecem terem ter sido tirados da Família Soprano, já poderiam dar uma noção dos negócios desses dois.
Porque o negócio desse simpático casal é extorsão, falcatruas, estelionato, estupros, seqüestros, roubos, desfalques, atentados, tráfico de drogas, contravenções, prostituição, furtos, tráficos de seres humanos e assassinatos dos mais hediondos e terríveis.
Esse adorável casal é dono da Livraria do Crime, a primeira e única livraria virtual especializada em literatura policial, um gênero que cresce a cada dia no mundo inteiro, após anos enfrentanto preconceitos e sendo chamado de literatura menor. No excelente site da Livraria é possível não só comprar títulos mais recentes lançados por aqui, como também encontrar obras fora de catálogo e saber das novidades desse mercado fascinante que não pára de atrair novos amantes. Há também promoções de dar água na boca, entrevistas, biografias e informações interessantes. Todos. Desde os clássicos Dashiel Hammett, Raymond Chandler e Agatha Christie, até o mais recente Dennis Lehane estão todos lá.
Como se não bastasse, a Livraria fez um conchavos com a gangue da Bagatelas e tem publicado contos de uma turma que, através da literatura, tem praticado muitos crimes. Inclusive esse que vos escreve, que nunca foi flor que se cheire.
Na verdade, contos policiais ainda são pouco difundidos no Brasil. Dê uma circulada em qualquer livraria e você encontrará muitos romances. Mas livros de contos neste gênero são raros. Raros porque são mais difíceis de serem feitos. Por isso, ao divulgar esse tipo de literatura a Livraria do Crime marca mais um golaço.
Mesmo que você não esteja familiarizado com o gênero, não pode deixar de dar uma olhada neste site, onde o crime compensa mesmo.
E em relação ao casal, as aparêcias não enganam.