And the Oscar goes to...
Pelo andar da carruagem, essa frase entrará em extinção num futuro não muito longínquo. Pelo menos, nas circunstâncias e com a pompa que ela é dita hoje.
Recentemene, ao ser entrevistado pela Ophra Winfrey, Tom Cruise surpreendeu a todos ao subir no famos sofá da entrevistadora (uma espécie de sofá encantado da Hebe) e começou a dar pulinhos do tipo "eu tenho sete anos, papai e mamãe sairam e tem sorvete na geladeira".
Ao verem tal cena patética, muitos telespectadores não se deram conta, mas estavam testemunhando a agonia de um império.
Pesquisas mostraram, no começo deste ano, que um número cada vez maior de norte-americanos está trocando o cinema e a tv por outras formas de entretenimento, principalmente a internet.
Pouco depois o mundo do show business ficou chocadíssimo (o mundo do show business fica chocadíssimo por pouca coisa) quando, em 22 de agosto, a Paramont rompeu com Tom Cruise e sua produtora Wagner Productions, após um relacionamento de 14 anos. Isso coincidiu com outros grandes estúdios mexendo (para baixo) no salário de superastros com o Mel Gibson, Tom Hanks e Julia Roberts. Em Hollywood, a explicação era a mesma: os resultados cada vez mais fracos nas bilheterias não estão mais compensando os super-investimentos nas super-estrelas.
Na semana passada, veio a gota d´água: o famoso diretor George Lucas, criador do mega-sucesso Guerra nas Estrelas, anunciou que está pendurando a chuteira. Irá se dedicar à tv. Em um post de semanas atrás, eu abordei o excelente momento da tv norte-americana, então isso até não me surpreendeu tanto. Fiquei surpreso mesmo foi ao saber que o poderoso Lucas pretende se dedicar também a pequenos filmes para serem distribuídos na internet. Segundo ele, "o negócio dos filmes para o cinema está ficando muito caro e arriscado...gastar U$ 100 milhões para produzir um filme e outros U$ 100 para promovê-lo não faz sentido."
A decisão de Lucas não é um fato isolado, já que grandes do cinema e da tv vem anunciando um namoro com a web. A Fox, por exemplo, irá exibir programas de tv no MySpace. A Apple exibirá filmes no ITunes e a Warner investirá em vídeos de música no YouTube.
O que acontecerá ao cinema americano, ninguém pode prever.
Hollywood sempre foi assim um mundo à parte, uma espécie de Éden, cheio de divindades. A gente via Elizabeth Taylor, Ava Gardner, Frank Sinatra, Fred Astaire, Marlon Brando, Gregory Peck e etc e nunca conseguiam imaginá-los presos num engarrafamento, numa fila de supermercado ou pegando sol numa praia comum. Não. Eles moravam num planeta chamado Hollywood e não pertenciam a este plano terrestre. E nove entre dez mortais sonhavam em pertencer àquele mundo, mas quase ninguém conseguia.
Nos anos 60, uma nova geração de atores chegou para mudar tudo. Usavam jeans desbotados, mascavam chicletes, não cortavam cabelos, falavam gírias, davam declarações políticas e estavam mais próximos o possível de gente como a gente. Jack Nicholson, Jane Fonda, Goldie Hawn, Pete Coyote, Babra Streitsand, Dustin Hoffman e Al Pacino, pelo menos a gente consegui imaginar num engarrafamento. Mesmo que fosse num conversível de milhões de dólares. Era o fim do glamour em Hollywood, o fim da era dos deuses. Muita gente ficou chocada com essa nova leva de atores que compareciam á entrega do Oscar com ar de quem acabou de sair do banho e apertou um baseado. Os pobre mortais ficaram mais alegres, pois perceberam que o tal mundo dos deuses não parecia mais ser tão inacessível.
Nas décadas seguintes até os pulinhos de Cruise no sofá da Ophra, o que ainda restava do glamur hollywoodiano foi sendo deletado por estrelas que davam declarações polêmicas, se divorciavam escandalosa e milionariamente, eram presos por porte de drogas ou por dirigirem embriagados e que permitiam que suas vidas particulares fosse devassada pela imprensa de fofoca. O mofo do planeta Hollywood, que antes era escondido por camadas de tinta a óleo, agora era cada vez mais escancarado.
Hollywood fez com que várias gerações corressem atrás da fama e pudessem ser aceito no Paraíso. Com o advento da internet, a fama e o sucesso ficaram mais fáceis. De repente, você pode ter centenas de admiradores do seu blog ou fazer milhares de fãs com um vídeo no YouTube. Sem cachês milionários, sem carros conversíveis, sem mansões com praias particulares e nem amantes de milhões de dólares, é claro! Apenas o bastante para satisfazer o seu ego.
Aí vieram os pulinhos de Cruise e muitos dos pobres mortais se deram conta de que não queriam mais entrar no Éden. Pois o Éden parecia estar um nível abaixo deles.