domingo, abril 27, 2008

E tenho dito!



"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".

A história você já deve ter ouvido láááááá no primário. Mas foi de uma dessas sacadas que o imperador Dom Pedro I, falou para a muldidão que lotava a praça, que não voltaria para Portugal, contrariando as ordens da côrte. A matriz o queria de volta porque tinha interesse em manter nosso país apenas como mais uma colônia. Pois o nosso bravo imperador, contrariando a todos, não só ficou, como abriu caminho para a posterior independência, meses mais tarde.


O Dia do Fico foi 9 de janeiro de 1822 e o Paço Imperial continua aí, lindo. Após décadas de abandono, ele foi completamente restaurado pelo, então, presidente, José Sarney, no final dos anos 80. Hoje é uma das atrações turísticas mais visitadas no Centro do Rio. Conta com um cinema, locais para exposição, livraria, café e animados bares, onde ocorrem animados happy-hours. Na Praça Quinze, ao lado, caminho para quem vai pegar a barca para Niterói, costuma rolar shows de MPB. Os cariocas gostam...


...e os turistas também. Ainda mais porque bem ao lado está...


...o Arco dos Teles, com suas ruas centenárias, com ar daqueles becos do centro histórico de Londres. É uma das áreas mais interessantes da cidade. Também ficou durante anos abandonado, até que ganhou fôlego com o aparecimento de vários restaurantes, bares, botequins de grife, livrarias e locais voltados para a cultura e as artes. O Centro Cultural Banco do Brasil, o Centro Cultural dos Correios e a Casa França-Brasil, por exemplo. Ali, os happy hours são disputados à tapa.



Essas fotos foram tiradas no feriadão do dia 21 de abril, quando o Centro estava um cemitério. Eu estava de bobeira e fui dar umas pedaladas por esta região da qual gosto muito. Aliás, ninguém deveria passar por essa existência sem pedalar, pelo menos uma vez, pelo Centro do Rio num feriado. É uma experiência inesquecível.

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sábado, abril 19, 2008

Menos um ovo para fritar (Músicas que podem lhe ser úteis - Parte VI)





O capítulo Músicas que podem lhe ser úteis dessa vez é diferente e em dose dupla.





Isso porque acabei de saber da separação de um casal amigo. E sempre fico triste quando vejo um casal dizer adeus. Principalmente quando há crianças.





Já passei por isso e sei o quanto dói.








Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim







Não me valeu







Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!







O resto é seu







Trocando em miúdos, pode guardar







As sobras de tudo que chamam lar







As sombras de tudo que fomos nós







As marcas de amor nos nossos lençóis







As nossas melhores lembranças







Aquela esperança de tudo se ajeitar







Pode esquecer







Aquela aliança, você pode empenhar







Ou derreter







Mas devo dizer que não vou lhe dar







O enorme prazer de me ver chorar







Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago







Meu peito tão dilacerado







Aliás







Aceite uma ajuda do seu futuro amor







Pro aluguel







Devolva o Neruda que você me tomou







E nunca leu







Eu bato o portão sem fazer alarde







Eu levo a carteira de identidade







Uma saideira, muita saudade







E a leve impressão de que já vou tarde.


A primeira música faz parte do famosíssimo disco Chico Buarque, lançado em fins de 1978. Além dela está Apesar de Você, que desde 1970 estava proibida pela Censura Federal.


Um ano antes, o divórcio havia sido aprovado no Brasil, após décadas de debates entre o governo, a Igreja e a classe política. O argumento dos religiosos era o de que o divórcio provocaria uma espécie de swing, com todos trocando de parceiros após a primeira briga. "Será a desestruturação da família brasileira", diziam. Realmente a família brasileira, hoje, anda bem desestruturada, mas definitivamente não é por causa do divórcio.


Na verdade, o divóricio veio acabar com a hipocrisia de uma aberração jurídica, que obrigava os casais a permanecerem juntos, mesmo estando infelizes.


O que houve com a aprovação do divórcio foi uma enxurrada de separações, dado à imensa demanda reprimida. É o que o Chico e o seu parceiro Francis Hime parecem retratar nessa música é o que ele via acontecer a sua volta. Naqueles dias, todo dia a gente tinha a notícia de um casal se separando.


Trocando em miúdos fala do momento da partida e em se tratando de Chico Buarque, a coisa é tratada com precisão, humor, beleza e emoção. Acho incrível quando alguém me diz que Chico é um artista da elite. Que nada! Suas músicas falam de forma tão clara que tanto um trabalhador braçal da Baixada Fluminense, quanto um casal classe média de Ipanema, irão se identificar e se emocionar. Tá certo que o casal da Baixada nunca tenha ouvido falar em Pablo Neruda; nem o da Vieira Souto não tenha noção do que seja uma ajuda para o aluguel. Mas a emoção será a mesma, porque toda a separação é dolorosa, em qualquer lugar do mundo.

E talvez, para Chico a parte mais dolorosa da separação seja a hora da partida.

Mas para mim é ou foi a hora em que se percebe que se tem um ovo a menos para fritar.

E aí entra a segunda música.


One less bell to answer

One less egg to fry

One less man to pick up after

I should be happy

But all I do is cry

(Cry, cry, no more laughter)

I should be happy

(Oh, why did he go)

Since he left my life's so empty

Though I try to forget it just can't be done

Each time the doorbell rings I still run

I don't know how in the world

To stop thinking of him

'Cause I still love him so

I spend each day the way I start out

Crying my heart out

One less man to pick up after

No more laughter, no more love

Since he went away (he went away)

(One less bell to answer) Why did he leave me

(Why, why, why did he leave)

(One less bell to answer) Now I've got one less egg to fry

One less egg to fry

(Why, why, why did he leave) And all I do is cry

(One less bell to answer) Because a man told me goodbye

(Why, why, why did he leave)

(One less bell to answer) Somebody tell me please

Where did he go, why did he go

(Why, why, why did he leave) How could he leave me


One less bell to answer foi composta por Burt Bacharach e seu parceiro Hal Davies na virada das décadas 60/70, quando toda aquela revolução de costumes da época fez muitos casais discutirem suas relações e houve uma onda de divórcios nos EUA. Ela trata do dia seguinte à separação de fato, quando você acorda e se dá conta que dará um bom dia a menos. Quando você vai arrumar a cama e percebe que haverá um travesseiro a menos para guardar, no banheiro há uma escova de dentes a menos e na mesa do café haverá um ovo a menos. E mesmo que a separação tenha sido para o seu bem, como foi o meu caso, sempre haverá a dúvida, sempre haverá a surpresa, sempre haverá a saudade, afinal foram tantos anos!
É como uma tortura. Durante dias, a vida vai lhe dando pequenas alfinetadas. Uma música que toca no rádio, uma fotografia, um filme na tv, um objeto que foi lhe dado de presente pela(o) dita(o) cuja(o). Enfim, para uns essa tortura dura algumas semanas; para outros, pode durar anos. De qualquer forma, será uma eternidade.
É sobre essa tortura que Bacharach e Davies estão falando, com uma simplicidade - e ao mesmo tempo com uma beleza - que tanto o casal classe média de Manhattans, quanto os caipiras do Missouri irão entender. Só os gênios conseguem isso.
Aliás, não sei por que ainda me surpreendo com o Chico e com o Burt. Deles só se pode esperar mesmo isso.
De qualquer forma, se você estiver passando por uma separação, seja por qual motivo for, talvez essas músicas tornem a tortura um pouco menos dolorosa.

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quarta-feira, abril 09, 2008

Nóia






Quem freqüenta este blog sabe o quanto gosto de música. E quando a música é boa eu gosto de de assoviar.


Em primeiro lugar, eu quero ir para o céu e tenho pena das pobres almas ao meu redor, por isso não ouso cantar. Em segundo lugar, assoviar faz bem a minha alma, me enche de alegria e espalha alegria no ar. É o tipo de coisa que me faz bem e parece contagiar todos ao redor, com a exceção dos invejosos, é claro.


Pois, outro dia, uma amiga veio me dizer:


"Você não devia fazer isso. O ato de assoviar faz sua pele esticar para a frente, acentuando o envelhecimento."


A conscientização que os seres humanos têm hoje em relação à saúde e à estética é, na minha opinião, uma coisa sensacional. Mas quando a coisa começa a ir para os lados do exagero, o efeito é inverso.

Já falei aqui sobre uma colega de trabalho que adorava correr na praia e parou porque lhe disseram que "correr envelhece". Já estou cansado de ouvir gente dizer que não vai à praia para que o sol não estrague sua pele. Outro dia, eu estava em uma dessas comemorações que só acontecem uma vez na vida e outra na morte e alguém disse que não participaria do brinde porque alcóol faz mal à saúde. Achei, no mínimo, ridículo, já que não existem estudos científicos comprovando que uma taça de espumante tenha arruinado a saúde de alguém.


Mas isso não foi nada comparado à cena que presenciei numa festa, meses atrás. Eu estava num grupinho muito animado e alguém contou uma piada sobre política que fez todo mundo explodir em gargalhadas. De repente, a mulher de um dos convidados mandou essa: "Ai, vou me afastar deste grupo. Vocês vão me fazer ficar com rugas ao redor dos olhos de tanto rir."

Estiquei a minha gargalhada. Deixar de rir para não ficar com rugas! Fala sério! Só interrompi o meu riso quando percebi que a perua estava realmente falando sério. No mínimo, patético.
Acho que as pessoas devem procurar ter boa saúde e uma boa aparência para serem felizes. E não existe felicidade sem prazer. Devemos procurar fazer só o que nos traz prazer. Se isso faz mal à saúde, então, fazemos com moderação. Mas sem prazer não vale a pena permanecer neste mundo.
Talvez isso explique porque as pessoas estejam vivendo mais e mais bonitas, mas o consumo de anti-depressivo, barbituricos, soníferos, calmantes, bebidas alcóolicas e outras drogas está tão alto. Talvez isso explique porque os analistas estão ganhando tanto dinheiro.
Eu? Abrir mão do meu prazer só para não envelhecer? Tô fora!


Me deixa ficar velhinho assoviando, porra!


* Ah, e quanto à música? É o clássico do jazz, Blusette, com o graaaaaande Quincy Jones.





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sábado, abril 05, 2008

A rua tem vida

Quando não estou circulando de bike, estou de carro, metrô, táxi ou ônibus. Outro dia, choveu no Rio. Não dava para usar a bike e decidi ir até o Largo do Machado, há uns dois quilômetros de onde moro, caminhando. E fiquei bobo com certas mudanças que haviam ocorrido no meu bairro e eu nem havia me dado conta. Aproveitei também para botar em prática um hábito que costumava ter no passado e que foi assassinado à queima-roupa pela falta de tempo: caminhar e observar a vida nas ruas.

Pois o título deste post foi tirado de uma frase do A Alma Encantadora das Ruas, do jornalista e escritor Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio. Já falei sobre esse livro - lançado no início do século passado - aqui, mas é que a Companhia das Letras o está relançando numa edição de bolso e o site Domínio Público, o disponibilizou para download.

O livro é sobre as ruas do Rio, mas poderia ser sobre as de Bancoc, Tóquio, Moscou, Buenos Aires, Roma, Miami ou Nova Iorque. Em todas as cidades há ruas que merecem ser observadas. Como escreveu o magnífico João, há ruas gentis, há ruas trágicas, há ruas pacatas, há ruas depravadas, há ruas imorais. No seu bairro mesmo deve haver alguma rua carente, carecendo de sua atenção.

A correria desses nossos dias transformaram as ruas apenas em lougradouros públicos pelos quais passamos com pressa. Vou tentar dedicar algumas horas por semana para fazer como o bom e eterno Paulo Barreto e flanar por aí. Com uma vantagem: o pobre João do Rio não tinha uma máquina digital para registrar tudo.

Quer baixar o A Alma...?, mergulhe aqui.

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