quarta-feira, dezembro 19, 2007

Músicas que podem lhes ser úteis - Parte II


Eu tenho um grande amigo. E esse grande amigo tem um filho. Analista de sistemas - desde os primórdios da informática -, trabalhador, ótimo filho.
Há muitos anos atrás, quando tinha apenas 19 anos, o garoto decidiu se casar. A família tentou dissuadi-lo, alegando sua pouca idade. O garoto, que pouco antes havia tido uma precoce desilusão amorosa, declarou que iria se casar com a fulana para esquecer a ciclana e também para fugir da solidão - como se pudesse se ser tão sozinho aos 19 anos.
O meu grande amigo e sua esposa permitiram que o moleque fizesse essa besteira.
E mais: me convidaram para ser padrinho neste crime, juntamente com a minha companheira na época.
E o crime aconteceu numa tarde de janeiro. O moleque quis uma lua-de-mel na Europa e por isso teve que se casar em pleno verão carioca.

Devia estar fazendo uns trinte oito graus e quem conhece o Rio sabe muito bem o que é ter que usar terno nessas condições.
Tivemos que deixar uma praia maravilhosa para sermos cúmplices num casamento que tinha tudo para fracassar.
Juro que na crucial hora em que o padre perguntou se havia alguém contra o crime, tivemos que nos segurar para não levantar e sairmos dançando e cantando:



Ele faz o noivo correto



E ela faz que quase desmaia



Vão viver sob o mesmo teto



Até que a casa caia



Até que a casa caia



Ele é o empregado discreto



Ela engoma o seu colarinho



Vão viver sob o mesmo teto



Até explodir o ninho



Até explodir o ninho



Ele faz o macho irrequito



E ela faz crianças de monte



Vão viver sob o mesmo teto



Até secar a fonteAté secar a fonte



Ele é o funcionário completo



E ela aprende a fazer suspiros



Vão viver sob o mesmo teto



Até trocarem tirosAté trocarem tiros



Ele tem um caso secreto



Ela diz que não sai dos trilhos



Vão viver sob o mesmo teto



Até casarem os filhos



Até casarem os filhos



Ele fala de cianureto



E ela sonha com formicida



Vão viver sob o mesmo teto



Até que alguém decida



Até que alguém decida



Ele tem um velho projeto



Ela tem um monte de estrias



Vão viver sob o mesmo teto



Até o fim dos dias



Até o fim dos dias



Ele às vezes cede um afeto



Ela só se despe no escuro



Vão viver sob o mesmo teto



Até um breve futuroAté um breve futuro



Ela esquenta a papa do neto



E ele quase que fez fortuna



Vão viver sob o mesmo teto



Até que a morte os una



Até que a morte os una



E imagino o padre e o povo todo saindo atrás de nós da igreja, cantando e dançando:



Até trocarem tiros

Até trocarem tiros

Fala sério!


Quanto à música, O casamento dos pequenos burgueses, é uma gravação do Chico Buarque - composição dele - e da Alcione e faz parte da trilha sonora do filme Ópera do Malandro, 1978. O Ópera, por sinal, foi baseado no clássico de Bretch, A Ópera dos Três Vintens, 1928, e na qual ele coloca que o homem é um animal essencialmente perverso. Com o qual eu concordo absolutamente.
Mas isso não quer dizer que perdi a esperança na raça humana. E por isso desejo a todos vocês


UM FELIZ NATAL E UM 2008 NOTA MIL!


Em tempo: O motivo deste post foi porque na semana passada, soube que o tal filho deste meu amigo está se divorciando.


E eu perdi aquela praia!

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sexta-feira, dezembro 14, 2007

29 centímetros


"Vinte horas. Sábado. Restaurante na Lagoa. Ainda chovia quando Marcela chegou.
MARCELA: - Boa noite.
EU: - Boa noite. Tudo bem?
Marcela era uma quarentona, classe média. Como a maioria. Bem vestida, cabelos louros e lisos. Tinha um sorriso sincero. Diferente dos outros.
MARCELA: - Você chegou há muito tempo?
EU: - Uns dez minutos.
Marcela, já sentada, me examinava com um sorriso curioso.
MARCELA: - Você é muito bonito. Se fosse mais jovem eu acharia que...
EU:- Que sou um miché?
MARCELA: - Isso.
Já dava para perceber que teria trabalho com ela. Só não imaginava o quanto. Sorri meio de lado e depois a encarei. Não nos olhos, mas...em algum ponto entre os olhos. Aprendi isso com a Clara, minha cliente psicóloga.
EU: - Mas eu não sou um prostituto.
MARCELA: - Tá certo. Posso perguntar o que você é, então?"

O que será que ele é, então?

Sei que as pessoas que freqüentam este blog não tem a mente suja e não estão pensando besteira. Mas quem quiser saber como a noite desses dois acabou, só lendo este conto - que tem o o título deste post como título - do meu livro Crimes e Perversões, cuja a terceira edição já está para sair. Garanta o seu pelo juliocorrea19@gmail.com.

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quarta-feira, dezembro 12, 2007

Músicas que podem lhe ser úteis - Parte I






Imagine a cena:


A esposa traída dá um flagra no marido com a...digamos...a Plano B.


Ao lado de um marido em pânico, a esposa traída começa a gritar:


"Sua piranha! Dando em cima de homem casado. Ele é casado, sabia, sua ordinária? Eu sou a mulher dele e você, quem é?"


E a outra responde:
"Sim...


Ele é casado


Eu sou a outra


Na vida dele


Que vive qual uma brasa


Por lhe faltar tudo em casa


Ele é casado


E eu sou a outra


Que o mundo difama


Que a vida ingrata maltrata


E sem dó cobre de lama


Quem me condena


Como se condena


Uma mulher perdida


Só me vê na vida dele


Mas não o vê na minha vida


Não tenho nome


Trago o coração ferido


Mas tenho muito mais classe


Do que quem não soube


Prender seu marido




Eu sou a outra
(Ricardo Galeno)


Foi imortalizada na voz da Carmem Costa, e depois gravada pela Bethânia, no seu histórico Drama - Terceiro Ato, em 1973 (essa que você deve estar ouvindo)


Mulherada, atenção para essa música. Para as Plano B, decorem-na, pois nunca se sabe.


Para as casadas, vou procurar outra música para que possa servir de resposta à altura.

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domingo, dezembro 09, 2007

Deu polícia no Rio


Reparem no preço do ingresso.

E qual a novidade?
Pergunto isso, não porque polícia no Rio não é mesmo nenhuma novidade.
Mas porque a maior banda de rock nos anos 80 tocou ontem aqui, num concerto emocionante.
Mas o grupo já havia estado na cidade numa longínqua terça-feira, há distantes 25 anos atrás. E eu estava lá.
O Police estava em seu auge e promovia o terceiro Lp, Ghost in the machine. Eu estava quimicamente animado e só me lembro vagamente de duas coisas:
1) O Maracanazinho estava lotado; e
2) Num dado momento comecei a dançar na arquibancada, ao som de Spirts in a material world (esta que você deve estar ouvindo) e vi que havia uns caras da equipe do grupo me filmando.
Em 1985, quando eu morava em São Paulo, fui a um bar de roqueiros, que exisitia ali, na rua Vergueiro, com um amigo. Na tv passava um documentário chamado Police Around The World (se não me falha a memória). De repente, o meu amigo gritou, apontando para a tv: "Ih, olha lá você!!". O bar inteiro olhou. Depois olhou pra mim e caiu na gargalhada. Eu estava mesmo ridículo.
Mas foi um ótimo show (se não me falha a memória).
Aliás, se encontrarem alguém que estava naquela noite no Maracanazinho e disser que se lembra de tudo. Duvide.
Quanto a volta do The Police, depois de anos de charminho do Sting, acho meio patético. Tudo tem o seu tempo. Certos os estão os Stones que não acabam para não terem que pagar o mico do "revival".
Quanto ao show de ontem? Bem, desta vez eu não estava lá. Para o bem de todos, foi melhor assim. No meu atual estado de decreptude não poderia ser mostrado dançando de novo.

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terça-feira, dezembro 04, 2007

Tapetinhos de ioga



Foto by methoxyroxy



Imaginem a cena:


O pai de uma amiga minha estava muito mal na CTI de um hospital aqui do Rio. A visitação era restrita e rápida. Só uma pessoa por vez. Como não era da família, dei a vez para os mais chegados.
O clima era mesmo o de sala de espera da CTI. Ansiosidade, preocupação, medo e angústia. Pois, eis que um jovem casal, que também aguardava, começou a se beijar calorosamente. Aliás, escandalosamente. Beijo de língua, daqueles que na minha época, no século passado, só se ousava a dar, na intimidade de um carro ou entre quatro paredes.


O casal em questão era a filha dessa minha amiga e seu namorado. Ambos de dezenove anos. No início, as pessoas não ligaram. Mas passados alguns minutos, a cena começou a incomodar. Se constrangimento tivesse cheiro, o fedor ali seria insuportável. Até que a avó da menina teve a lucidez de pedir a a mãe para que acabasse com aquilo.


Depois da visita, fui jantar com essa minha amiga e ela comentou o fato, censurando a mãe por ter se preocupado com algo tão banal, num momento tão crítico. Então, com a minha franqueza mundialmente conhecida falei que a Dona Olívia, a mãe dessa minha amiga, havia agido corretamente, já que a Pat, a filha, parecia estar se exibindo. Nem vou falar que o momento decididamente não pedia aquela demonstração de afeto exagerada.

Mas a cena na sala de espera da CTI foi apenas o reflexo de algo que tenho assistido todos os dias, nos lugares mais variados: no metrô, nas ruas, nos elevadores, nos bares, nas praias, nos cafés, casais demonstrando afeto caloro e exageradamente. É sempre a mesma coisa. Beijos longos, alguns minutos de agarração e em seguida os dois olham ao redor para ver quantas pessoas estão olhando. E como sempre há gente olhando, eles não escondem o orgulho e voltam à cena.

Tá certo, você pode dizer que estou ficando velho. E estou mesmo ficando velho. Mas eu costumava corar quando me excedia nas minhas demonstrações de afeto e percebia que estava sendo visto. Afinal, era uma coisa que só a mim dizia respeito.

Comecei a pensar nisso, outro dia, quando um casal ao meu lado se agarrava de uma maneira...digamos...marketeira. Isso poderia ser apenas estranho, se não estivéssemos na sala de espera de um laboratório, enquanto esperávamos para fazer exame de sangue, às sete da manhã de uma segunda-feira. Me lembrei, então, de uma cena do clássico do Woody Allen, Tudo que você gostaria de saber sobre o sexo, mas nunca teve coragem de perguntar, em que um casal só conseguia chegar ao orgasmo se fizesse o ato em lugares públicos. No caso, o casal era uma dupla de depravados doentios. O que eu percebo por aí é puro exibicionismo, uma necessidade desesperada de mostrar para todos que "tenho alguém", "que sou amado", "olhem como sou feliz com o meu amor!"

Eu poderia aceitar a opinião daqueles que irão me xingar de quarentão invejoso, mal amado e careta, se não fosse a resposta que a minha amiga me deu, após ouvir a minha opinião:

"Ah, relaxe! Para essa nova geração o importante é viver intensamente."

Eu: "Como assim?"

Ela: "Está tão difícil arrumar alguém, que eles tem mais é que aproveitar. Qual o problema?"

Eu: "Sei, mas numa sala de espera de CTI..."

Ela: "Seja aonde for. O importante é aproveitar. Ninguém sabe quanto tempo vai durar."

Eu: "O importante é usar o seu parceiro ou sua parceira para se exibir?"

Ela: "Sim, qual o problema? As relações hoje são só isso. Os parceiros são apenas objetos para acariciar o nosso ego, nos fazer sentir bem. E não vejo nada errado nisso."

Eu (Chocado): "Os parceiros viraram objetos úteis apenas para satisfação do ego?"

Ela: "E por que essa cara? São mesmo isso. Objetos práticos e úteis. Aliás sempre foram, só que essa geração tem a coragem de lidar com isso sem a hipocrisia da nossa geração."

Eu (Um pouco mais chocado): "Objetos práticos e úteis?"

Ela: "Isso, meu bem. Como..."

Enquanto a minha amiga procurava palavras, falei a primeira coisa que veio a minha mente:

Eu: "Como tapetinhos de ioga."

Ela (após uma gargalhada): "Essa foi ótima! Mas é isso mesmo. São todos tapetinhos de ioga."

Horas depois desta conversa, o seu Odilon, pai dessa minha amiga, partia desse mundo onde os parceiros afetivos viraram tapetinhos de ioga.

Luz pra ti, seu Odilon.

E pra nós também.

Mandem bala.


Aturar Bush ninguém merece. Infelizmente Vossa Santidade não pode mais pedir o seu exemplar do meu livro de contos Crimes e Perversões. Mas você pode pelo juliocorrea19@gmail.com.

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