Um Tal de Tennessee
"A velha está acordada na cama e escuta o som da respiração dele. Noite após noite é sempre a mesma coisa. Ela permanece atenta a esse som rouco, dolorosamente rascante, e não consegue dormir. Toda vez que há uma interrupção ela fica tensa, aflita, enquanto os momentos excruciantes acumulam-se sobre seu peito quase imóvel qual pesos de ferro. Então, aos poucos ou de forma bastante repentina, o som recomeça. Ele não tinha parado de respirar. Apenas acordara por alguns instantes e tornara a adormecer.
Graças a Deus!, sussurra ela. Graças a Deus!
Durante o dia ela também escuta. Quando está na cozinha, permanece atenta aos sons que vêm da sala da frente, onde ele lê o jornal. Aguça os ouvidos à espera do amarfalhar periódico das páginas e das batidas do fornilho do cachimbo no cinzeiro.
Esses sons a tranqüilizam e ela respira mais aliviada.
Chama-o: Emiel, Emiel, está na hora das suas gotinhas!"
O nome do cara é Tennesse Williams. Você já deve ter ouvido falar dele, pois trata-se de um dos maiores dramaturgos de toda história do teatro (À Margem da Vida, Um Bonde Chamado Desejo, Gata Em Teto de Zinco Quente). Só que o cara também era (faleceu em 1983) contista. Não sabia? Pois ele era. E dos bons.
O melhor de tudo é que a Companhia das Letras acaba de lançar uma obra imperdível. Chama-se 49 Contos de Tennessee Williams. Isso. São 49 contos, centenas de personagens e dezenas de histórias fantásticas. O trecho acima é o início de Areia, apenas um dos textos desse livro que estou tendo o prazer de ler. A matéria prima de Williams é a alma humana. Seus personagens são os solitários, os bêbados, os ansiosos, os desesperados, os desajustados, os apaixonados, enfim, toda a fauna de perdedores, incompreendidos, perdidos e injustiçados que sempre existiram e sempre existirão. Você pode ter conhecido alguns deles. Talvez, durante sua vida, você deve ter sido pelo menos um deles.
O criador de Blanche Dubois, um dos personagens mais marcantes do teatrao mundial, sabe como ninguém dissecar a miséria, os monstros e os deuses que existem dentro de nós, expondo toda a brutalidade e a fragilidade do ser humano.
O livro tem um longo prefácio do também escritor Gore Vidal que foi amigo íntimo de Tennessee e alguns dos contos se transformaram em sucessos no palco. É o caso do excelente Retrato De Uma Moça Em Vidro, que se transformaria na sua primeira peça, À Margem da Vida.
Bem, eu voltei a fazer uma das coisas que mais gosto: ler. Leio até 3 livros ao mesmo tempo, como estou, por acaso, fazendo agora. E nos próximos posts vou dar algumas dicas para vocês. Essa é a primeira e é imperdível.
Ótimo findi.
9 Comments:
Particularmente eu gostei muito da dica,JULIO.
Mas ler tres livros ao mesmo tempo é muito pra minha cabeça,heheh
Parabens!
Grande abraço!!
Pois é DO, vou comprando, comprando e quando vejo, a cabeceira está lotada. e tem mais livro na fila.
gd ab
Legal Julio, bom fim de semana
Abçs
Lindo final de semana, beijo*.*
Parece um bom livro..pelo que vc colocou aqui...vou comprar...bom fim de semana..nao ando lendo nada...so blogs..e ja toma um tempo enorme...rsts
merci j.c.! beijo.
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Sempre dependi da bondade de estranhos...
Lendo os comentários acima, acho que não estou só. Cabeceira cheia de livros e computador cheio de músicas novas para ouvir. Só com muito DDA mesmo...
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