Down In High Society
Todo brasileiro sabe (ou por experiência própria ou através de um parente ou amigo) o rol de problemas que vem junto com o desemprego. Baixa auto-estima, dificuldades financeiras, depressão, perda de amigos, alcoolismo, uso de drogas, suicídio, aumento da violência e da criminalidade. Isso todo mundo sabe de cor. Principalmente quem tem mais de 35 anos e assistiu o país entrar, em 1980, numa recesão da qual parece nunca mais ter saído.
No início o desemprego atingia mais as classes menos favorecidas, a classe média apenas estava demorando mais a arranjar emprego, mas parecia estar parcialmente protegida. A partir dos anos 90, a crise passou a atirngir a todos. E aqueles que tinham tido acesso a um diploma passaram a sofrer ainda mais. Pois um contínuo que perde o emprego poderá ser um camelô, sem muitos traumas. Um porteiro desempregado poderá até ganhar mais fazendo bicos como bombeiro hidráulico. Uma balconista poderá se transformar numa faxineira sem grandes dramas. Mas o que aconteceria com um executivo com um alto padrão de vida? A resposta nós sabemos. Queda no padrão de vida. Planos de saúde cancelados, filhos levados para uma escola inferior, viagens adiadas, lazer jogado para escanteio, mudança para um bairro mais desvalorizado, etc.
Tudo isso não é do nosso conhecimento. Mas o que Desemprego de Colarinho Branco, da jornalista Barbara Ehrenreich, lançado dias atrás pela Record, nos conta é que os norte-americanos estão sentindo isso na pele agora.
Barbara, que há alguns anos, fez bastante sucesso com Miséria À Americana, no qual se chegou a se travestir de copeira e garçonete para contar o drama dos empregados com baixa remuneração na nação mais rica do planeta. Agora ela mostra o drama de profissionais de classe média, com nível universitário, que perdem seus empregos e têm de enfrentar a queda no seu padrão e qualidade de vida.
Com o desaquecimento da economia em diversos setores, o problema está cada vez mais comum do que se imagina e tem acarretado um outro fenômeno: a migração de classes. Cidadãos que antes usavam um bom carro para sair da sua confortável casa nos subúrbios para trabalhar numa grande empresa, agora usam metrô e dividem apartamentos ou casas em locais menos valorizados. Alcoolismo, uso de drogas, violência e depressão são os resultados. Familiar? Mas não para por aí. O que existe de comum entre lá e aqui é a passividade. Perde-se o emprego e ninguém protesta. Mas nesse ponto as semelhanças acabam. Os nossos desempregados talvez não protestem por acreditarem ser inútil. Os desempregados da classe média americana talvez sintam uma espécie de culpa. Afinal, desde criancinha eles ouvem que nasceram na nação mais poderosa e rica do planeta, onde há oportunidades para todos, onde o seu telento é reconhecido e se eles se fizessem a coisa certa poderiam se dar bem. E quando eles fracassam, não se lembram das políticas econômicas desastrosas do governo. Eles culpam a si mesmos.
Além do mais muitos brasileiros sem emprego e sem perspectivas foram tentar a vida no exterior para não ficarem desempregados na maior profissão que o nosso povo tem: a esperança. Mas e os americanos desempregados? Eles vão para onde?
Isso tudo faz desse não-ficção de Barbara Ehrenreich um dos lançamentos mais interessantes do mês.
8 Comments:
humpf, bem feito.
Agora é a vez deles.
Gringo rico? Tem mais é que sifu...
como boa preta, pobre, suburbana e latino americana, me regozijo cada vez que vejo os EUA sifu...
sorte e saúde pra todos
Todo mundo deveria ser rico e bem-sucedido !
Pelo menos todo mundo que eu conheço...
Esse livro vale a pena..nao tem mais emprego no mundo essa e a verdade..talvez na china com sues bilhoes de pessoas..e triste descer de classe amigo...e triste ficar desempregado..triste perder tudo de uma hora pra outra..triste mundo que deveria se acabar logo..
Gostei da dica,JULIO.
Muito oportuna,eu diria.
Abraços!
Júlio, bem interessante o livro. Deve ser bem mais difícil para eles aceitar o desemprego e baixar o padrão de vida, num país que diz dá oportunidade para todos. Ela fala se há muitos suicídios?
Bjos.
Puxa.. valeu a dica.. vou procurar para ler!
Beijos
toquei o melodia e o erasmo pra vc hoje no guarana groove, ouviu?
Estou terminando o livro: detalhe - comecei ontem. Grande, e trágico, livro. E a gente vai por aí.
Berthe.
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