domingo, dezembro 31, 2006

Metade dos blogueiros estão saindo de férias, então, decidi reeditar alguns posts do ano que termina. E começarei pela mensagem de ano novo de 2005.

Aqui vai...



Na cama king size, na suite de mais de trinta metros quadrados, na cobertura de um dos prédios de um condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, enquanto era fodida pelo marido, gordo e suado, Dilma Salgado pensa, enquanto geme:

“Nove mil e quatrocentos reais!”

Geme, enquanto pensa.“

Como sou cliente. Consigo uns trinta por cento de desconto.”

Pensa, enquanto geme:

“Se eu chorar, a Fernanda não vai me negar uns quarenta por cento. Afinal, quem ficou pendurada no telefone, movimentando os meus contatos em Brasília para que o marido dela não se envolvesse naquele escândalo?”

Geme e pensa:

“Tá decidido, nesse ano novo, vou colocar mais um botox.”


Faminta e sem um puto, Dora Almeida estava em algum lugar nas proximidades da Praça da Sé. Parecia apenas mais uma sem teto, acompanhando com os olhos a multidão que passava, pra lá e pra cá. E não alguém que estava decidindo mudar sua vida.

“Neste ano novo, vou voltar pra minha terra. Não há mais felicidade aqui pra mim.”



Enquanto ele preparava mais um scoch, naquele bar, na Hudson, quase esquina com Canal St., no Soho novaiorquino, Bruce dizia a si mesmo:

“Pense bem! Aceite o convite da companhia de Boston. Eles não vão encenar A Noite do Iguana? Você sempre amou Tennessee Williams. Pense bem! Pode dar certo. Largue esta merda e se arrisque. Se não der certo, pelo menos você será mais feliz. Qualquer coisa é melhor do que a sua vida agora. Você merece e vai ser mais feliz neste ano.”



Descendo a Marylebone Road, em direção ás cercanias do Regent´s Park, completamente bêbado e sentindo um frio que só o calor humano podia aplacar, Brian não acreditou quando duas mãos decidas seguraram os seus braços. Eram dois policiais. E ele riu.

“Precisa de ajuda, sir?”, perguntou um deles.“Eu pensei que fosse...eu pensei...Ela me largou, sabiam? Se foi para Leads com um Paquistanês.”

“Para onde o senhor está indo?”

“Para a Baker Station. A estação parece que está mais longe hoje.”

“Tudo bem, vamos levá-lo até lá.”

“Mas por que vocês estão me prendendo? Um vagabundo roubou meu sobretudo, enquanto eu dormia no cinema. Londres virou uma Terra de Ninguém.”

“Não estamos prendendo o senhor. Só estamos evitando que se machuque.”

Ao ouvir aquelas palavras, Brian sentiu o frio subitamente diminuir. E ele guardou o seu riso nervoso e confidenciou, como se confidenciasse a um amigo:

“Neste ano novo eu vou procurar ajuda.”

“Bom para o senhor. Já estamos chegando.”

“Por que ela foi me trocar por um paquistanês?”

Brian tinha os olhos cheios d´água, emocionado com aqueles dois homens bons, que pareciam ouvi-lo. E ninguém costuma ouvir os bêbados. Ainda mais um bêbado que chora.


Nesse trailer, num subúrbio pobre, nos arredores de Detroit, há pouco tempo, morava Neil Forest. Havia ido parar neste moquifo após ser demitido da linha de montagem na industria automobilística da cidade. Não por ineficiência, mas por ter ferido a Lei Patriótica de Bush. Foi denunciado por um colega de trabalho, após de ter expressado sua revolta pela morte do irmão, Brad, no Iraque. Foi também abandonado por Sarah, sua mulher, que carregou as crianças para a casa dos pais, em algum lugar em Ohio. Com mais tempo para viajar na Web, Neil conheceu e se uniu a outros inconformados com a dor da perda de parentes e amigos, na podridão da guerra. Conheceu também Myra, com quem neste momento está indo para Tulsa, Oklahoma, se juntar a centenas de outros, talvez milhares, que criaram uma ONG que abrigará toda uma legião de outros que, no ano novo, pretendem acabar com a guerra.

Neil e Myra estão felizes. A industria automobilística sente falta de Neil e a recíproca não é verdadeira.


A idéia chegou a Gerrard, quando ele caminhava com Pauline, por uma ferrovia abandonada nos arredores de Lê Havre. Quando Pauline parou um instante para fazer suas necessidades, ele começou a imaginar o que diria a Amélie, que havia ficado em Paris. Era o primeiro final de ano que não passavam juntos.

“E se Deus quiser será o primeiro de muitos outros.”, pensou.

E em sua mente, rodava o diálogo futuro:

Eu: “Tenho o direito de ser feliz.”

Ela: “Ne fais pas l’idiot. La vie ne consiste pas à réciter des vers.

Eu: “Tenho sido idiota por todo este tempo, Amélie. Porque fui incapaz de admitir que nunca deu certo.”

Ela: “Je vais me venger de ce que tu!”

Eu: “Vingar do quê? Será melhor para nós dois. La vie est ce qu’on en fait!”

Ela: “Fous-moi la paix!”

Eu: “Não seja assim, Amélie. Neste ano novo, desejo que você seja tão feliz, quanto eu serei.”


Utilizando-se de uma vela encontrada numa lixeira, Hanna preparou mais uma dose. Estava nos fundos de um prédio abandonado há algumas quadras da Turnbull av., South Bronx. Um buraco escuro e cheirando a podre, mas onde os ventos gelados de nordeste não podiam encontrá-la. Estava só e sentiu medo. Sempre teve medo de morrer só, destino de vários companheiros.

“Meu bom Deus, me ajude a sobreviver a mais essa. A última. Neste ano novo vou entrar para o programa da Metadona. Hanna vai começar do zero e vai ser feliz.”

E fechou os olhos para não ver a agulha penetrando em seu braço magro.


Após dançar por toda noite, na pista da boate, na Lagoa, Zona Sul do Rio, Cris subtamente parou, sentindo um cansaço nunca sentido antes. Era como se sua alma tivesse pesando algumas toneladas. Ela estava cansada e quis que todos soubessem disso. De repente, parada, ali, na pista, o cansaço deu um lugar a um prazer suave. E ela começou a dançar leve e sensualmente, indiferente aos outros que a tinham como bêbada. Gostando daquela sensação inédita, pensou: "A felicidade deve ser assim. Eu quero finalmente ser feliz em 2007."

E todos eles serão felizes em 2007.

E para todos que levaram Bala em 2006, devolvo o carinho recebido, desejando que neste ano novo nada consiga barrar a multidão de momentos felizes que vocês viverão e que, juntos, farão deste ano novo, inesquecível.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Do you wanna dance?

The Manhattans

No início dos anos 70 grande parte da juventude americana estava triste. O fim de sonho dos 60 havia tirado o tapete de muitos dos que investiram uma enorme cota de esperança na utopia de se criar um novo mundo. Foi um período de desencanto, desilusão e daquele gosto amargo de fim de festa.
Mas, relaxe! Muita gente ficou milionária com isto. Você ligava o rádio naquela época e ouvia gente como James Taylor, Carole King, Cat Stevens, Carly Simon, Neil Young, Elton John e grupos como América, Bread, Seals and Crofts, Eagles e por aí vai. A parada norte-americana estava repleta desses menestréis que, através de músicas acústicas ou baladinhas, procuravam cantar a tristeza daquela geração. Em comum também eles tinham o fato de serem brancos.
Os negros também estavam tristes. Haviam conseguido grande parte dos direitos civis, pelos quais haviam lutado durante mais de uma década. Mas e daí? Continuavam pobres, morando mal, morrendo de overdose nos becos, mantidos em guetos e vistos ainda como minoria. Não eram mais rejeitados em restaurantes e já podiam usar os mesmos ônibus e escolas que os brancos, mas continuavam, por exemplo, sendo os últimos a serem contratados e os primeiros a serem mandados embora.
Mas os negros tinham outra maneira para expressar a sua tristeza. Dançando.
Antes as músicas lentas para dançar só se preocupavam com o ritmo. Fazia-se uma baladinha bonitinha com um ritmo que convidasse os casais a se juntarem nas pistas e só. Mas nos primeiros anos da década de 70 uma nova geração de músicos negros quis ir mais além. Eles começaram a compor músicas que, seja através da melodia ou de arranjos mais bem cuidados, além de chamar para a pista de dança, também pegassem pela emoção. A receita era sempre a mesma: belas canções com interpretações inspiradas e uma pegada de início para fazer você suspirar: “Uuuuuuh, saca só que som!” Não é a toa que aqui no Brasil elas foram apelidadas de babas. Era para deixar qualquer um babando mesmo.
Essa que você provavelmente está ouvindo, por exemplo, é o grupo lá de cima, The Manhattans, com a belíssima I wish that you were mine.


Gladys Knight and the Pips

As novas baladas também tinham muito de sensuais. Não foi por outro motivo que elas foram um hit nos motéis e, por aqui, também foram chamadas de "mela-cueca". Neither one of us, dos sorridentes Gladys Knight and the Pips aí de cima, fez muita gente babar em 1973.

The Isley Brothers

O sucesso das babas foi imenso e veteranos como a cantora Dionne Warwick também entraram nessa. Em seu Lp Just Being Myself, de 1973, ela apareceu com a irresistível I´ve always get caught in the rain.

Os também veteranos Isley Brothers, deixaram de lado sua formação de rythm´blues para entrar na onda. Em 1974, eles emplacaram com The highway of my life. Até mesmo astros do rock, como os sacanas The Rolling Stones, para aumentar o seu faturamento, fizeram uma baba famosa, Angie, que Mick Jagger fez para a sua amante, Angela Bowie. Isso mesmo, a Sra. David Bowie.

A Rede Globo utilizou muitas babas nas trilhas sonoras de suas novelas. A maioria dos visitantes deste blog não eram nem nascidos. Mas alguns se lembram de Betcha By Golly Wow, dos The Stylistics, 1974. E outros chegaram a dançar Sideshow, dos Blue Magics. Nesse época, surgiam as babas nacionais começavam a estourar nas rádios através de gente como Hyldon (As dores do mundo) e Cassiano (A Lua e eu).


Os Blue Magics

O auge das babas foi entre 1971 e 1974. Mas em 1975 os The Spinners emplacaram a linda I Don´t wanna lose you, que também fez muito coração apaixonado sangrar.

The Spinners

A partir dos meados da década de 70, a explosão da disco music fez com que a onda de dançar agarradinho saísse de moda e as babas foram sumindo das rádios. Ao longo dos anos seguintes, tome punk, new wave, hip hop, funk, lambada, rap e música eletrônica e o romantismo das babas ia virando peça de museu.

Erykah Badu

Mas eis que a partir do final dos anos 90, uma nova geração de artistas negros surgia nos EUA. E alguns deles se empenharam a ressucitar as babas. Com nova roupagem, é claro.
Em 1997 Erykah Badu lançava o seu premiadíssimo cd Baduizm, no qual havia Next Lifetime, uma babinha da melhor qualidade. Quando o século XXI chegou, as babas voltaram lentamente a serem ouvidas nas rádios, através de gente como Jill Scot e Kelly, entre outros. Em 2005, uma baba chegou até a emplacar nos EUA, na voz da dupla rapper Ludacris & Lisher, Lovers and Friends.

Na verdade, as babas são um derivado da música soul, que através das gerações vem conquistando milhões de fãs, como eu. As babas são para mim a melhor corrente da soul music.

E tudo o que falei até agora foi para homenagear o pai deste estilo musical, falecido no último Natal. Os outros blogs já devem ter falado tudo sobre James Brown. Preferi homenageá-lo através do melhor que o estilo musical que ele criou produziu.

Viva a soul music!

Luz pra ti Brown.

* Todas as músicas em negrito estão na playlist que fiz. Se quiser ouvir todas, basta clickar no selinho do myflash fetish na barra ao lado e deixar tocar, enquanto você faz as outras coisas. E que tal pegar alguém que você ama e dançar agarradinho? Só para reviver uma época em que a música tocava os corações. Com certeza fará bem pra sua saúde e sua soul.

sábado, dezembro 23, 2006

O mal que a Suzana Vieira faz a algumas mulheres


Não gosto muito de postar sobre a vida de celebridades. Aliás não gosto de postar sobre a vida de ninguém. Nem da minha. Mas trabalho com uma mulher na faixa dos sessenta que cortou os cabelos igual a Suzana Vieira. Fez plástica, colocou botox e se submeteu a uma cirurgia de redução de estômago "só para poder botar biquini no verão e ficar igual a minha musa." Depois desta operação de guerra estética, ela vive chegando perto dos outros e comentando: "Fulana, você deveria fazer peelling (é assim mesmo que se escreve?). Sua pele está horrível", "Fulano, não leve a mal, mas você está engordando.", "Fulana, sua barriga está enorme!"
Esta senhora mora em frente à praia, mas nem pisa na areia, pois tem medo que o sol estrague sua pele. Confessa que passa fome, ao seguir uma dieta rigorosa. Não sai à noite para poder dormir bastante "pois faz bem à pele". Deixou de correr, uma de suas paixões, "porque disseram que envelhece." Confessa que está ansiosa para arranjar parceiros sexuais - embora seja casada. "Quando viajo, só falto colocar uma placa dizendo: Estou em Liquidação." E confessa também que sente inveja da juventude da própria filha.
O exemplo desta senhora pode ser considerado um exagero, mas não está muito distante do de muitas outras mulheres em sua faixa etária. O que essas mulheres têm em comum é a atriz global Suzana Vieira como exemplo de que a juventude pode ser eterna. Para elas a Suzana é a grande esperança.
Este post não é contra Suzana Vieira, que, por sinal, considero uma grande atriz. Mas é contra a imagem vendida por ela de mulher impetuosa, gostosa, alegre, enérgica, jovem e radiante. Milhares de mulheres querem ser Suzana Vieira, sem se darem conta de que Suzana Vieira é uma só, de que a atriz é constituída de determinadas características pessoais e físicas, que a tornam única. Além do mais, estamos falando de uma atriz, de uma pessoa que precisa cuidar da aparência por uma questão profissional.
Nunca conheci Suzana Vieira pessoalmente, mas conheço algumas pessoas que tiveram contato com ela. Todas garantem que a mulher é um furacão. Só que esse furacão já foi um Katrina e hoje está caminhando naturalmente para se transformar numa tormenta tropical. Não há nada que ela e nem as suas discípulas possam fazer em relação a isso, a não ser amenizar os efeitos da decadência física.
Sempre achei que todos os seres humanos têm a obrigação de cuidar de si o melhor possível. Mesmo na velhice. Mas temos que aceitar o fato de que estamos ficando velhos. Isso traz serenidade, charme e outro tipo de beleza. E não impede de envelhecermos da melhor forma que pudermos. Acho que essas mulheres fariam um grande favor a si mesmas se esquecessem da Suzana Vieira, relaxassem e procurassem apenas estar bem e felizes.

Haja Noel!!!!!!!

Multidão de Papais Noeis no metrô de Nova Iorque. Foto da edição, que está nesta semana nas bancas americanas, na revista New York.


E é preciso mesmo muitos Bons Velhinhos para carregar tudo o que eu desejo a vocês. É tanta felicidade, tanta saúde, tanta paz, tanto sucesso, tantas realizações...ufa! E ainda tem o Ano Novo! E querem saber? Por mais que os Noéis se esforcem, ainda será pouco, perto do que vocês merecem!

Um Natal Nota 1000!
Para Todos
De coração

quarta-feira, dezembro 20, 2006

El Justiciero

Qual a imagem que você tem de uma favela do Rio? Miséria, pobreza e tráfico de drogas por todos os lados, certo? Quase. Em 92 das centenas de comunidades existentes na Cidade Maravilhosa o último ítem não existe mais. Não que as autoridades tenham tomado alguma providência. Mas na ausência do governo, milícias fortemente armadas, formadas em sua maioria por ex-policiais, tomaram conta desses locais para oferecerem segurança, em troca da cobrança de pequenas taxas, que, como na Kelsons, na zona da Leopoldina, pode chegar a R$ 15. E quem não pode pagar? Bem, nem é bom falar.
Os jornais cariocas tem falado muito no assunto, ultimamente. Mas nenhum deles destacou o fato de que essas versões dos justiceiros mexicanos do século XIX, não são bem novidade.
Se não vejamos, no final da década de 50 a marginalidade do Rio começava a deixar de ser romântica. Não se assaltava mais apenas com navalha e as ações estavam cada vez mais ousadas. Então, o Chefe do Departamento de Segurança Federal, general Amaury Kruel, destacou um grupo de policiais experientes para dar cabo dos bandidos mais perigosos. A intenção era intimidar os outros "recuperáveis". Nascia o Esquadrão da Morte.
Mas a bandidagem continuou assanhada. Tião Medonho era a maior ameaça, segundo a polícia da época. E ele foi o líder do bando que efetuou o famoso assalto ao trem pagador da Central do Brasil. Chegou a virar filme logo depois, nas mãos de Roberto Farias.
Surgiram, então ,outros pequenos Esquadrões pelo Brasil e aqui no Rio foram formados os chamados 15 homens de ouro da polícia , capitaneados pelo famoso detetive Milton Le Coq, cuja a finalidade era mesmo diminuir a violência através de balas na calada da noite.
A imprnesa e a literatura passaram a ficar de olho no trabalho dos justiceiros. A matança de vários marginais em Duque de Caxias e no Rio, em 1963, por exemplo, foi amplamente noticiada na imprensa e documentada no livro Sangue no 311, de Santos Lemos.
Quando Le Coq foi morto ao dar voz de prisão ao lendário bandido Cara de Cavalo, em plena luz do dia, na rua Teodoro da Silva, Vila Isabel, toda a polícia civil jurou vingança. Não só contra Cara de Cavalo, que seria fuzilado com mais de 50 tiros, dias depois, na casa de uma amante, em Cabo Frio, mas contra toda a marginalidade. Surgia, então, a horripilante Scuderie Le Coq, pesadelos dos vagabundos a partir daquele momento.
Presuntos começaram a proliferar nas periferias do Rio e dos municípios da Baixada Fluminense. A classe média não ligava, pois aquilo não lhe dizia respeito. Com a decretação do AI-5 e posterior recrudecimento da repressão militar, o cidadão comum tinha a ilusão de que estivesse seguro e passava a consumir o novo tipo de literatura que surgia, e que romanceava a vida bandida, sempre com um final feliz. Feliz para a polícia, é claro. Esquadrão da Morte, de Amado Ribeiro e Pinheiro Jr. hoje já virou cult. Mais tarde viriam os trabalhos de José Louzeiro, Aracceli, Meu Amor e Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia. O clássico Meu Depoimento Sobre o Esquadrão da Morte, de Hélio Bicudo, que por sinal está completando 30 anos, também passou a ser cultuado.
Mas a bandidagem não esmoreceu. Pelo o contrário. Com parte dos policiais dos Esquadrões da Morte agora sendo usados na repressão política - sob a tutela do temido Delegado Fleury - , a criminalidade crescia. E surgiam bandidos ousados e destemidos que peitavam a forte repressão da época com coragem e deboche. Lúcio Flávio já é lenda. A parte dos Esquadrões que continuavam a agir em cima dos bandidos, agora, transformavam os grupos em negócios lucrativos. Passaram a matar por encomenda. Políticos, comerciantes, bicheiros, fazendeiros, eram grandes clientes deste "serviço".
Na segunda metade do anos 70, até a música passaria a registrar as ações dos grupos de extermínio. "Tá lá o corpo caído no chão...", dizia o João Bosco, em De Frente Pro Crime, do seu lp Caça à Raposa, 1975. Em 1979, Elis Regina cantava "Onze tiros e não sei por que tantos. Esses tempos não estão pra ninharia."
Mas enquanto as ações dos Esquadrões da Morte cresciam proporcionalmente com o aumento da violência, os militares cometiam um erro fatal. Presos políticos eram postos nas mesmas celas das dos bandidos comuns. Esse erro fez nascer no Presídio da Ilha Grande, no Rio, o Comando Vermelho, a primeira facção de "alto nível" do país, bem antes do PCC. Escadinha e Gordo, foram os primeiros encarregados a por em prática a filosofia robinhoodiana da facção, que queria tirar dos ricos para distribuir para os excluídos. Mas fazendo isso com armas pesadas, contrabandeadas do exterrior.
Mas como tudo aqui no Brasil vira bagunça, os ideais do Comando Vermelho foram pro buraco e tudo se transformou num bando de moleques drogados e desorganizados, capazes de matar por qualquer bobagem. Daí para bandidos como e Fernandinho Beira Mar foi um pulo.
Nos anos 80 e 90 a justiça agiu com mais rigor sobre os Esquadrões e muitos desses bandos foram desbaratados. Mas as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ambas no Rio, e num espaço de um mês, em 1993, vieram para mostrar que os grupos de extermínios vieram mesmo para ficar.
E agora surge essa nova modalidade de Esquadrão, mais mercantilista e mais cruel, pois obriga a quem não pode, a pagar pela proteção que o poder público nos deve.
A Classe média continua achando que isso não lhe diz respeito. A polícia, com sua truculência, trazida da época da ditadura militar, consegue manter a violência num patamar quase suportável. Mas até quando? E sem direito a justiceiro para lhe dar proteção no final.

A imagem da repressão com a qual a polícia ainda tenta manter a ordem, em foto premiada do Jornal do Brasil.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Drops


"Um dia, na rua Agostinho Menezes, onde então Nelson morava, um marido banana que era chutado como um cão pela esposa e ainda a bajulava, cansou-se do tratamento que vinha recebendo e, no meio da rua, deu uma sova de cinto na cara-metade. É claro que a vizinhança correu para ver o fato, sendo que as mulheres gritavam: "Bate mais, bate mais". O marido bateu até se cansar, parou, e então o inesperado aconteceu: a mulher atirou-se aos seus pés, aos beijos. E, desde aquele dia, passou a desfilar com o ex-banana, de braço dado e nariz empinado, toda orgulhosa. Ao ouvir os comentários das vizinhas que tinham apoiado maciçamente a surra, Nelson concluiu: "Toda mulher gosta de apanhar"."

Fonte: site Releituras

Foi esse episódio patético que levou Nelson a criar a coluna A Vida Como Ela É, em 1951, no jornal carioca Última Hora. O sucesso foi fenomenal durante os dez anos que durou. Em 1992 a Companhida das Letras lancou dois volumes com as melhores crônicas da coluna. Os livros tornaram-se best sellers, mas as edições se esgotaram e viraram peça de colecionador. Agora, 55 anos depois da estréia da mesma, a Editora Agir acabou de relançar uma nova coletânea das crônicas, dessa vez numa edição luxuosa. Nelson bem que merece. E nós também.


Apreenderam "Feliz Ano Novo"

"Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca - lançado em outubro de 1975, com várias edições esgotadas e total sucesso de público e de crítica - foi agora proibido em todo território nacional. Uma prova de que nem as mais austeras autoridades escapam da tentação de fazer humor negro. Aconselhamos a todos que receberem cartões do escritor desejando Feliz Ano Novo a se dirigirem ao posto policial mais próximo e entregarem a mensagem ao delegado mediante recibo, sob pena de serem acusados de cumplicidade numa atividade ilegal."
Jaguar - na coluna Dicas, do Pasquin de 27/12/76
Outro dia eu falei aqui sobre a famosa apreensão do livro de contos do Rubem Fonseca, há 30 anos atrás. Pois é, no site Portal Literal - link ao lado - estão várias matérias comentando a absurda atitude do governo militar, inclusive o decreto do Ministério da Justiça, proibindo a obra. E mais: todas as resenhas publicadas em jornais sobre o Rubem de 1963 até hoje. Imperdível.
Parabéns para nós
Mamãe ficaria orgulhosa ao saber que, no último sábado, fui escolhido Personalidade do Ano pela revista Time. Na verdade, eu e a torcida de todos os times. Na verdade, nós, internautas, fomos escolhidos por fazermos parte da imensa rede de troca de informações como YouTube, blogs, MySpace, etc, que segundo o editor da revista, nas bancas norte-americanas a partir desta segunda, "estão transformando a era da informação."
A imprensa mundial por várias vezes este ano já vinha declarando que o poder da informação já vinha mundando de mãos e se democratizando. Mas agora o fato de uma das revistas mais influentes assumirem este fato de forma tão grandiosa, só vem confirmar a grande revolução social que está se iniciando e da qual me sinto orgulhoso de participar.
Segundo Lev Grossman, escritor de tecnologia da Time e crítico literário: "A questão é a retirada do poder da mão de poucos, a colaboração gratuita e como isso irá não somente mudar o mundo, mas mudar a maneira como o mundo muda. A ferramenta que torna isso possível é a internet. É uma ferramenta que junta as pequenas contribuições de milhões de pessoas e as torna importantes.
E mais, na disputa pelo prêmio, nós vencemos candidatos de peso como os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e da China, Hu Jintao, o líder norte-coreano Kim Jong-il e o ex-secretário de Estado americano James Baker. Agora vamos combinar, nós merecemos, não?

domingo, dezembro 17, 2006

Ratoeira no Rio

Atores na versão inglesa da peça de Agatha Christie
Não. Este post não é sobre a Linha Vermelha, a Linha Amarela, avenida Brasil, Rocinha, auto-estrada Lagoa-Barra ou qualquer uma das muitas ratoeiras que existem por aqui hoje em dia. Estou falando de A Ratoeira, peça que estreiou no West End, a Broadway londrina, em 25 de novembro de 1952 e ainda está em cartaz no St. Martin´s Theatre.
Vou repetir. Estreou em 1952 e ainda está em cartaz no St. Martin´s Theatre, tendo completado no último mês, 54 anos ininterruptos em cartaz e mais de 20 mil apresentações. E um detalhe: a autora do espetáculo, que inclusive já entrou para o Livro Guiness, a saudosa Agatha Christie, faleceu há 30 anos, em janeiro de 1976.
Os cariocas que não podem ir a Londres, como eu, estão tendo a grande oportunidade de assistir a este clássico do teatro mundial, na sala Marília Pêra do Teatro Leblon. Fui ontem à noite. E encontrei casa cheia. Como é bom ver o teatro assim, com filas e gente brigando por ingresso!
Quem costuma levar bala aqui sabe da minha paixão por textos policiais. E também por teatro. Agora imaginem o que foi para mim ver um texto policial sendo encenado! A Ratoeira é um típico texto da velha Agatha. Personagens diversos e muito bem definidos e uma trama elaborada e com aquele final surpreendente que faz você imaginar a escritora lá no céu rindo da sua cara, por mais uma vez ter lhe enganado.
Dirigida por João Fonseca, a versão brasileira de A Ratoeira é um luxo! O cenário nos remete a uma casa de campo em estilo vitoriano, na Inglaterra dos anos anos 50. Os figurinos são um primor! Numa noite quente de quase-verão no Rio, o elenco tem que usar botas de neve, sobretudos, cachecóis, gorros e luvas. Aliás, o elenco é primoroso, capitaneado por Gabriel Gracindo e Tonico Pereira. Mas quem rouba mesmo a cena é a grande Débora Duarte, que está im-per-dí-vel. Sua atuação já vale o ingresso.
Agatha Christie foi o meu primeiro contato com a literatura policial. Naquela época ainda havia um grande preconceito não só contra ela, mas também contra textos policiais. Eu nunca entendi isso direito. A velha Agatha é primorosa ao construir personagens e tramas com um cuidado e um requinte de poucos. Há ainda o seu humor sofisticado e com a acidez tipicamente britânica. Até os assassinatos são praticados com elegância.
Agatha morreu quando eu ainda era adolescente estava começando a fazer a minha biblioteca. Fiquei chocado. Mas ontem, 30 anos depois, fiquei feliz ao ver que ela continua sendo admirada por várias gerações e que o público lhe dá o respeito que os críticos sempre lhe negaram. Valeu Agatha!


Indignado(a) com o aumento de salários dos congressistas?

Pois é, o Brasil tem inimigos dentro de casa. Cada vez fica mais claro quem joga contra este país. E se estiver difícil engolir mais essa, a lista a baixo pode lhe ser útil:
Deputados e Senadores que votaram a favor do aumento:

Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado:Tel.: (61) 3311-2261 - renan.calheiros@senador.gov.br
Ney Suassuna (PB), líder do PMDB:Tel.: (61) 3311-4345 - neysuassun@senador.gov.br
Ideli Salvatti (SC), líder do PT:Tel.: (61) 3311-2171 - ideli.salvatti@senadora.gov.br
Demóstenes Torres (PFL-GO):Tel.: (61) 3311-2091 - demostenes.torres@senador.gov.br
Tião Viana (PT-AC):Tel.: (61) 3311-4546 - tiao.viana@senador.gov.br
Efraim Moraes (PFL-PB):Tel.: (61) 3311-2425 - mailto:efraim.morais@senador.gov.br
Rodrigo Maia (RJ), líder do PFL:Tel.: (61) 3215-5308 - dep.rodrigomaia@camara.gov.br
Miro Teixeira (RJ), líder do PDT:Tel.: (61) 3215-5272 - dep.miroteixeira@camara.gov.br
José Múcio Monteiro (PE), líder do PTB: Tel.: (61) 3215-5458 - dep.josemuciomonteiro@camara.gov.br
Inácio Arruda (CE), líder do PCdoB:Tel.: (61) 3215-5582 - dep.inacioarruda@camara.gov.br
Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo:Tel.: (61) 3215-5706 - dep.arlindochinaglia@camara.gov.br
José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da minoria (oposição):Tel.: (61) 3215-5856 - dep.josecarlosaleluia@camara.gov.br
Luciano Castro (RR), líder do PL:Tel.: (61) 3215-5401 - mailto:dep.lucianocastro@camara.gov.brBismarck Maia (CE), vice-líder do PSDB:Tel.: (61) 3215-5622 - mailto:dep.bismarckmaia@camara.gov.br
Inocêncio Oliveira (PL-PE):Tel.: (61) 3215-8204 - dep.inocenciooliveira@camara.gov.br
Givaldo Carimbão (PSB-AL): Tel.: (61) 3215-5732 - dep.givaldocarimbao@camara.gov.br
Mário Heringer (PDT-MG):Tel.: (61) 3215-5212 - dep.marioheringer@camara.gov.br
Jorge Alberto (PMDB-SE):Tel.: (61) 3215-5723 - dep.jorgealberto@camara.gov.br
Sandro Mabel (PL-GO):Tel.: (61) 3215-5443 - mailto:dep.sandromabel@camara.gov.br
Carlos Willian (PTC-MG):Tel.: (61) 3215-5472 - dep.carloswillian@camara.gov.br
Sandra Rosado (PSB-RN):Tel.: (61) 3215-5650 - dep.sandrarosado@camara.gov.br
Benedito de Lira (PP-AL):Tel.: (61) 3215-5942 - dep.beneditodelira@camara.gov.br
Esses foram contra:

- senadora Heloísa Helena (AL), líder do PSOL;
- deputado Chico Alencar (RJ), líder do PSOL;
- deputado Henrique Fontana (RS).
Não podemos deixar passar mais essa.
Passem essa lista para frente!

No final de semana passado, precisei ir a Florianópolis para resolver uns assuntos particulares e aproveitei pra relaxar um pouco nessa cidade que mora no meu coração. Fiquei sabendo que 86% da população local não são florianopolitanos. São pessoas de outras cidades e estados que se apaixonaram pela ilha e para lá se mudaram. Olhando essa foto, não é difícil saber por quê.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Palavras


Recentemente, num evento literário, aqui no Rio, ainda nas comemorações dos 30 anos de lançamento do seu Poema Sujo, uma obra escrita no exílio, em Buenos Aires, e hoje considerada revolucionária, Ferreira Gullar, ao discrusar, disse a seguinte frase:
"Eu não quero ter razão. Eu quero ser feliz."
E foi muito aplaudido.
Talvez o Ferreira, levado pela emoção do momento, não tenha se dado conta da profundidade das suas palavras. E o perigo embutido nela.
Eu sou um imbecil que não sei ser feliz sem ter razão, embora muitas vezes abra mão de alguns direitos para não ter a minha paz perturbada. Sou da paz. Se alguém me corta no trânsito ou me dá um esbarrão na rua, não vou brigar por isso. Mas tive uma ótima educação e acredito nas leis do universo, aquela que diz que todo mal que você faz...
Quero ser feliz, por merecimento, fazendo o que acho certo. Isso pra mim é felicidade, o resto é ilusão.
Será que sou mais imbecil do que imaginava?
Mandem bala!

Não adianta! O trabalho voltou a me ocupar e estou um pouco distante daqui. Tenham paciência!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Wait Until Tomorrow


Mais uma aventura do Lacerda, o detetive do meu romance policial A Arte de Odiar.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Reflexão


Estou envolvido em um projeto que envolve muitas pesquisas em jornais antigos. E estas pesquisas me levaram à edição do O Globo, do dia 5 de março de 1936, que anuciava as circunstâncias da prisão do líder do Partido Comunista Brasileiro, Luiz Carlos Prestes:

"Preso há algum tempo já pela polícia carioca, o extremista Victor allan Baron, nas declarações sucessivas que prestou, acabou por denunciar a estadia de Luiz Carlos Prestes no Rio. Entrando em diligências a polícia terminou por localizar o ponto onde se encontrava o chefe da revolução comunista, levando a efeito, hoje, numa diligência aparatosa, a sua prisão. Luiz Carlos Prestes foi capturado pela manhã, à rua Honório no 279, sendo conduzido para a Polícia. O denunciante, ao ter a notícia da prisão, suicidou-se, ao que fomos informados, saltando do 2o andar do palácio da rua da Relação ao patio interno."

No mesmo dia, uma edição extra, completava:

"A prisão de Luiz Carlos Prestes, pela maneira por que se consumou, vem confirmar as suspeitas de que os chefes e inspiradores da mashorca vermelha de novembro ainda não haviam perdido as ultimas esperanças. Conforme sempre informaram as nossas autoridades mais responsáveis, numa constante advertência ao povo, o trabalho subterrâneo dos agentes do Komintern prosseguia intenso nos vários setores em que o Brasil fôra dividido pelos "técnicos" de Moscou. De outro modo, realmente, não se compreende que o principal daqueles agentes tivesse permanecido no Rio, afrontando os riscos do cerco em que o colocara a polícia, quando não lhe teria sido de todo modo impossível, pelo menos transportar-se para outra cidade, talvez mesmo para outras terras, desconhecida como se tornara a sua fisionomia, no correr dos anos, para a quase totalidade dos brasileiros. Ele, com certeza, ainda sonhava com outro golpe..."

Prestes foi preso como um bandido perigoso. Junto com ele, sua mulher Olga também foi presa e passaria por todo aquele drama que acho que você já conhece (se não conhecer, o premiado filme Olga conta tudo). Ao ler estas notícias de setenta anos atrás, fiquei me perguntando: o que faria Prestes, caso fosse vivo hoje, ao ver a esquerda no poder e o país como está? O que sentiria ao ver que muitos dos que estão no governo eram simpatizantes de muitas das suas idéias? Suportaria ao ver o povo, para o qual sacrificou parte da sua vida, mantendo essas pessoas no poder? Iria sobreviver a dor de ver que toda a sua luta foi em vão?

Prestes está morto há dezesseis anos e nunca saberei a resposta.

Mais um Rubem

"- Já ouvi acusarem você de escritor pornográfico. Você é?"

"- Sou, os meus livros estão cheios de miseráveis sem dentes".

Trecho do conto Intestino Grosso

Há 30 anos eu e milhares de brasileiros líamos o texto acima e era como se aquele livro nos esbofeteasse. Meu Deus! Eu mal havia deixado meus livros infantis e os romances da Agatha Christie!

O livro em questão era o Feliz Ano Novo, que havia saído no final de 1975, pela já finada Editora Arte Nova. Naquele natal, se você tinha alguém exigente e inteligente para presentear, a escolha era sempre a mesma: Feliz Ano Novo. Por este motivo Rubem Fonseca já havia vendido 30 mil exemplares naquele final de 1976 e uma quarta edição já estava indo para o forno, quando aconteceu o inesperado: o, então, ministro da justiça, Armando Falcão, proibiu o livro em território nacional, com o seguinte argumento: "Folheei algumas páginas e vi alguns palavrões. Então, determinei: Recolha-se!"

Há trinta anos, então, os brasileiros não puderam dar Rubem Fonseca de presente de natal. O livro já havia sido retirado das prateleiras das livrarias e tinha-se que recorrer aos sortudos - como eu - que haviam conseguido seu exemplar, antes da proibição. Na escola, nas festas, nos bares e praias, as pessoas discretamente sussurravam nos ouvidos das outras: "Me empresta o Feliz Ano Novo." O medo se justificava, pois você poderia ser preso ao carregar o tal livrinho, que só seria liberado, assim mesmo pela justiça, em fins de 1989. O próprio Rubem correu o risco de ser preso, por ordem de um senador da ARENA, o partido do governo militar, que acusou o autor de praticar um atentado ao pudor. Mas, ao ler o trecho acima, percebe-se que a ira do governo não era bem por causa dos palavrões.

Trinta anos depois gostaria de ganhar o mais recente livro deste, que, para mim, é o maior contista brasileiro de todos os tempos. Como amante da literatura polical tenho a maior admiração por este mineiro de Juiz de Fora, que mandou bala em livros como A Coleira do Cão, Lúcia McCartney, Romance Negro e Outras Histórias. Todos de contos, sim. Porque gosto mais do Rubem contista, embora ele também tenha publicado excelentes romances como O Caso Morel, A Grande Arte e Agosto.

E é justamente um livro de contos que a Companhia das Letras está lançando agora. São pequenos contos, todos com nomes de mulheres, cheios de histórias erótica e românticas. Alguns já foram mostrados em sites literários por aí, e achei uma delícia. Alguns críticos não gostaram. Mas, pelo menos, como há 31 anos atrás, já tenho um presente para dar e receber neste natal.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Welcome to the jungle




Pronto! É tarde demais! Estreou nos EUA, na última sexta-feira, dia 1, Turistas, o longa de John Stockwell, com roteiro de Michael Ross, que mostra o drama de um grupo de jovens norte-americanos que escolhem o Rio de Janeiro para passar suas férias e acabam comendo o pão que o diabo amassou, após serem vítimas do golpe do boa-noite-cinderela e terem todos os documentos, cartões de crédito e dinheiro roubados, além dos passaportes.
É só assistir o trailer do YT e perceber que há muito exagero, é bem verdade. Mas que a violência contra turistas é uma realidade no Rio, ninguém pode negar.
A primeira crítica que li sobre o filme foi esta aqui, do Village Voice. E é arrasadora. Mas alguém tem dúvida de que a merda vai ser lançada no ventilador, quando essa droga estreiar aqui, justamente no ano do PAN?
O governador eleito, Sérgio Cabral, e o prefeito César Maia já devem estar tomando os seus lexotans.

sábado, dezembro 02, 2006

A Ruiva Solitária da Tijuca


Bem, como o meu romance policial A Arte de Odiar está prestes a ser relançado, decidi postar pequenas histórias do detetive da trama, o Lacerda. Toda semana será postada uma história.

Como os visitantes mais novos não pegaram a fase em que o Lacerda aparecia por aqui, vou começar pelas primeiras histórias. Como essa.




Alô, galera paulista! Na próxima terça, dia 5, será lançado o livro acima, Desumano, de Olívia Maia, na badalada Livraria da Vila, a partir das 18h30m. Olívia tem 21 aninhos e este é o seu primeiro romance a ser publicado. Ainda não conheço o trabalho desta estudante de letras da USP. Então, por que estou postando o convite?
1 - Porque é literatura policial e essa também é a minha praia;
2 - Porque a Olívia é gente como a gente, quero dizer, é blogueira como a gente, e devemos prestigiar um dos nossos. A vitória dela é a nossa vitória também, pois mostra que as editoras e a mídia estão cada vez mais de olho na gente; e
3 - Porque não me custa nada, ora.
Infelizmente uma questão geográfica me impedirá de ir. Sucesso pra ti, Olívia! Mais informações no blog da moça. Mergulhe aqui.