sábado, janeiro 21, 2012

Enquanto isso, na pegação...


ELE: “Quer dizer que você…?”
ELA: “Sim, eu desisti dos homens.”
ELE: “Posso concluir que você desiste fácil?”
ELA: “Nasci no interior de Minas e fui campeã de surfe aos quinze anos. Não conheci o meu pai. Minha mãe limpava privadas para me alimentar e hoje sou executiva em uma multinacional.”
ELE: “Isso responde a minha pergunta, mas não me convence.”
ELA: “Pertenço há nove anos a mesma mulher.”
ELE: “E está aqui neste bar porque...?”
ELA: “Pelo mesmo motivo que você. Preciso de um drinque para relaxar após um dia difícil.”
ELE: E por falar em dia difícil, esse meu está superando os piores da minha vida. E pra terminar, agora encontro você.”
ELA: “Mas por que o desânimo? Podemos conversar. Como dois adultos que tiveram dias difíceis.”
ELE: “Então, podemos conversar de homem pra homem?”
ELA: “Você me faz sentir uma PQD ou uma caminhoneira ou um peão de rodeio.”
ELE: “Deixe-me ver sobre o que poderíamos conversar...você assistiu ao Fluminense e Corintians ontem?”
ELA: “Que tal falar sobre sua vida de casado?”
ELE: “Não posso falar sobre a minha mulher com uma mulher que dorme com mulheres.”
ELA: “Então fale do seu trabalho.”
ELE: “Podemos falar sobre outras mulheres. Que tal sobre aquela loura do vestido vermelho naquela mesa ali?”
ELA: “Temos maneiras diferentes de encarar as mulheres.”
ELE: “Eu conheço aquela loura. Ela também gosta de garotas e o cara que está com ela é gay.”
ELA: “E isso choca você?”
ELE: “Não. Mas ela está olhando pra cá e certamente não é para mim.”
ELA: “Não estou interessada.”
ELE: “Olhe, se você quiser eu posso apresentá-la a você.”
ELA: “Não sou uma pessoa fácil.”
ELE: “Aqueles peitos também não são fáceis!”
ELA: “Não seja vulgar.”
ELE: “Vulgar? Você não gosta de uma rosca?”
ELA: “Olha, eu não estou gostando nada do rumo desta conversa. Me respeite!”
ELE: “Me respeite? Tudo bem. Eu desisto, não vou apresentar aquele mulheraço a você. A Sandrinha não ia gostar deste teu papo de mulherzinha.”
ELA: “Tá certo. O placar foi Fluminense 2 x Corintians 0. Gols de Adriano Magrão aos vinte do segundo tempo.”

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sábado, janeiro 07, 2012

Pura Emoção

No final de 1980 a Rede Globo decidiu dar um presente para seus telespectadores: um show da maior cantora do país naqueles tempos. Elis Regina Carvalho Costa era o nome do especial, onde a pimentinha deveria cantar antigos sucessos e faixas do seu mais recente trabalho, Saudade do Brasil.
Elis estava no auge da carreira e tudo parecia ir bem em sua vida. Por isso, ninguém entendeu quando ao interpretar Atrás da Porta, - canção que Chico Buarque e Francis Hime haviam composto para ela, na época da sua separação do músico Ronaldo Boscoli, em 1972 - ela não segurou a emoção e passou a chorar quase que copiosamente. O diretor - acho que foi o Daniel Filho - teve o insight de nao cortar e prosseguir, enquanto eu e milhares de outros telespectadores assistiamos a cena, estupefados, sem entender nada. Assim como o chamado "padrao Globo de qualidade", Elis era uma profissional muito exigente consigo mesma e nunca se deixaria levar pela emoçao. O que teria acontecido?
Meses mais tarde, quando soubemos da sua separação do César Camargo Mariano, que, aliás, a estava acompanhando nos teclado no especial da Globo, entendemos a sua dor.
E é esta uma das muitas imagens que guardo de Elis (a mão tensa, as veias salientes, a maquiagem escorrendo pelo rosto, enquanto um pranto miúdo e sentido deformava sua feição), esta grande artista que nos deixou há trinta anos, comemorados no próximo dia 19.
No feriado de São Sebastião, 20 de janeiro de 1982, , aqui no Rio, eu voltava da praia do Leme, quando parei numa banca de jornal na avenida Princesa Isabel para passar os olhos nas manchetes e lá estava na primeira página do JB: O Brasil Sem Elis.
Foi o final de praia mais triste da minha vida.
Luz pra ti, Elis.

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