terça-feira, julho 14, 2020

O Dia em que Entendi que a Minha Cidade é Bipolar



Estação de #marechalhermes, Janeiro de 2020

Em março de 1979, eu era um pacato garoto de classe média do #riodejaneiro e estudava em um colégio particular na #tijuca.
Nós tínhamos um professor de geografia muito figura, chamado Evandro, que eu adorava.
Ele tinha um método muito original de dar aula e logo no início daquele ano letivo ele anunciou que iria nos levar para conhecer a cidade. Como asim conhecer a cidade?  E ainda enfatizou: “dos dois lados”. Não entendemos muito bem o que aquilo queria dizer. Mas logo saberíamos.

Estação de Padre Miguel, janeiro de 2020.


Um enorme ônibus foi alugado para acomodar a turma. Muito cedo, rumamos para o #centrodaidade. Ali foi o ponto de partida da aventura. Depois começamos a subir a zona sul. #flamengo#botafogo#copacabana#ipanema e #arpoador.


Arpoador, março de 1979.

Chegamos a dar uma parada no Arpoador, que ainda tinha a Avenida Francisco Bhering aberta e havia passado por uma modernização recentemente. Depois seguimos para o #leblon#saoconrado.

Praia de Sepetiba, janeiro de 2020.

Fomos indo #barradatijuca acima, pela Avenida das Américas, até o final do #recreiodosbandeirantes . Neste momento, metade da turma já estava maravilhada, pois poucos haviam ido até aquele ponto da cidade. Mas o choque começou mesmo quando subimos a Serra da Grota Funda (naquela época, logicamente, não havia o Túnel Vice-Presidente José de Alencar) e, depois, descemos para a #pedradeguaratiba.

Estrada da Pedra, em 1979.


Estrada da Pedra, 2020.

Vacas, cavalos, carroças, sítios e chácaras. Enquanto o saudoso Evandro nos alertava que ainda estávamos dentro da cidade do #riodejaneiro, nós olhávamos tudo fascinados.

Sepetiba, 2020.

É difícil para um jovem de hoje imaginar o choque que foi para nós descobrir esse lado rural da cidade ounde vivíamos,  uma das maiores metrópoles da América Latina.

Sepetiba, 2020.

Passamos por #santacruz, que parecia uma cidade do interior naquela época. E poucos minutos depois, estávamos tirando fotos na orla de #sepetiba, que ainda tinha praia naquela época.

Sepetiba, 2020.

Nesse ponto estávamos completamente sem palavras diante de uma cidade que jamais imaginávamos existir.
Mas nem podíamos supor que a nossa aventura estava apenas começando.


Sepetiba, 2020.

Lembro-me fazia um dia belíssimo e almoçamos em um restaurante na margem da Baía de Sepetiba.



Praia de Sepetiba, 1979.

Como eu falei,  naquela época Sepetiba ainda tinha praias, que hoje encontram-se totalmente assoreadas...


Praia do Cardo, em Sepetiba, totalmente assoreada em 2020.

Depois, voltamos para o ônibus, pensando que retornaríamos para  a nossa zona de conforto classe média.
Mas o grande Evandro tinha outros planos para nós.

Praia do Recôncavo, Sepetiba, 2020, assoreada.

O ônibus nos deixou na estação de #santacruz. A partir dali, deveríamos descer até a #centraldobrasil...de trem!

Baía de Sepetiba, 2020.

O choque foi total. Com a exceção de mim, nenhum de nós havia pego um trem suburbano da Rede Ferroviária, que na época caiam aos pedaços. Poucos de nós haviam ido além do #méier e nossos olhos de classe média observavam tudo completamente chapados com o choque cultural.
O trem estava relativamente vazio, mas vimos pingentes, evangélicos pregando, vendedores de produtos que jamais imaginamos existir e tipos suburbanos que pareciam terem sido tirados de filmes ou documentários antropológicos.
#Bangú#realengo#deodoro#madureira#piedade#engenhonovo. Enquanto o trem sacolejante descia em direção a #central, diante de nós ia passando uma outra cidade. Mais feia, mas não menos fascinante. E o grande Evandro ia nos alertando: “Isso também é #riodejaneiro!”

Baía de Sepetiba, 2020.

Quando chegamos na #centraldobrasil, nossa relação com a cidade havia mudado. O ônibus alugado já nos esperava para voltarmos para o conforto classe média das nossas vidas, mas nossa visão de #riodejaneiro havia mudado radicalmente.
Infelizmente só tenho essas poucas fotos daquele dia, que aliás estão muito ruins.
Aqueles eram outros tempos. Duvido muito que algum professor hoje faça o que nosso querido Evandro fez.
Tenho muita saudade daquela turma e do Evandro, que já nos deixou.

Baía de Sepetiba, 2020.

Pois em março deste ano, eu repeti quase o mesmo passeio - com a exceção do Arpoador - que tanto me fascinou há 41 anos. O choque foi outro, já que a cidade mudou bastante. Foi uma experiência de vida!
Não sei o que o destino fez com cada um daquela turma de 1979, mas uma certeza eu tenho: assim como eu, ninguém esqueceu a aventura.
























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