Do you wanna dance?
No início dos anos 70 grande parte da juventude americana estava triste. O fim de sonho dos 60 havia tirado o tapete de muitos dos que investiram uma enorme cota de esperança na utopia de se criar um novo mundo. Foi um período de desencanto, desilusão e daquele gosto amargo de fim de festa.
Mas, relaxe! Muita gente ficou milionária com isto. Você ligava o rádio naquela época e ouvia gente como James Taylor, Carole King, Cat Stevens, Carly Simon, Neil Young, Elton John e grupos como América, Bread, Seals and Crofts, Eagles e por aí vai. A parada norte-americana estava repleta desses menestréis que, através de músicas acústicas ou baladinhas, procuravam cantar a tristeza daquela geração. Em comum também eles tinham o fato de serem brancos.
Os negros também estavam tristes. Haviam conseguido grande parte dos direitos civis, pelos quais haviam lutado durante mais de uma década. Mas e daí? Continuavam pobres, morando mal, morrendo de overdose nos becos, mantidos em guetos e vistos ainda como minoria. Não eram mais rejeitados em restaurantes e já podiam usar os mesmos ônibus e escolas que os brancos, mas continuavam, por exemplo, sendo os últimos a serem contratados e os primeiros a serem mandados embora.
Mas os negros tinham outra maneira para expressar a sua tristeza. Dançando.
Antes as músicas lentas para dançar só se preocupavam com o ritmo. Fazia-se uma baladinha bonitinha com um ritmo que convidasse os casais a se juntarem nas pistas e só. Mas nos primeiros anos da década de 70 uma nova geração de músicos negros quis ir mais além. Eles começaram a compor músicas que, seja através da melodia ou de arranjos mais bem cuidados, além de chamar para a pista de dança, também pegassem pela emoção. A receita era sempre a mesma: belas canções com interpretações inspiradas e uma pegada de início para fazer você suspirar: “Uuuuuuh, saca só que som!” Não é a toa que aqui no Brasil elas foram apelidadas de babas. Era para deixar qualquer um babando mesmo.
Essa que você provavelmente está ouvindo, por exemplo, é o grupo lá de cima, The Manhattans, com a belíssima I wish that you were mine.
Gladys Knight and the Pips
As novas baladas também tinham muito de sensuais. Não foi por outro motivo que elas foram um hit nos motéis e, por aqui, também foram chamadas de "mela-cueca". Neither one of us, dos sorridentes Gladys Knight and the Pips aí de cima, fez muita gente babar em 1973.
O sucesso das babas foi imenso e veteranos como a cantora Dionne Warwick também entraram nessa. Em seu Lp Just Being Myself, de 1973, ela apareceu com a irresistível I´ve always get caught in the rain.
Os também veteranos Isley Brothers, deixaram de lado sua formação de rythm´blues para entrar na onda. Em 1974, eles emplacaram com The highway of my life. Até mesmo astros do rock, como os sacanas The Rolling Stones, para aumentar o seu faturamento, fizeram uma baba famosa, Angie, que Mick Jagger fez para a sua amante, Angela Bowie. Isso mesmo, a Sra. David Bowie.
Os Blue Magics
O auge das babas foi entre 1971 e 1974. Mas em 1975 os The Spinners emplacaram a linda I Don´t wanna lose you, que também fez muito coração apaixonado sangrar.
A partir dos meados da década de 70, a explosão da disco music fez com que a onda de dançar agarradinho saísse de moda e as babas foram sumindo das rádios. Ao longo dos anos seguintes, tome punk, new wave, hip hop, funk, lambada, rap e música eletrônica e o romantismo das babas ia virando peça de museu.
Mas eis que a partir do final dos anos 90, uma nova geração de artistas negros surgia nos EUA. E alguns deles se empenharam a ressucitar as babas. Com nova roupagem, é claro.
Em 1997 Erykah Badu lançava o seu premiadíssimo cd Baduizm, no qual havia Next Lifetime, uma babinha da melhor qualidade. Quando o século XXI chegou, as babas voltaram lentamente a serem ouvidas nas rádios, através de gente como Jill Scot e Kelly, entre outros. Em 2005, uma baba chegou até a emplacar nos EUA, na voz da dupla rapper Ludacris & Lisher, Lovers and Friends.
Na verdade, as babas são um derivado da música soul, que através das gerações vem conquistando milhões de fãs, como eu. As babas são para mim a melhor corrente da soul music.
E tudo o que falei até agora foi para homenagear o pai deste estilo musical, falecido no último Natal. Os outros blogs já devem ter falado tudo sobre James Brown. Preferi homenageá-lo através do melhor que o estilo musical que ele criou produziu.
Viva a soul music!
Luz pra ti Brown.
* Todas as músicas em negrito estão na playlist que fiz. Se quiser ouvir todas, basta clickar no selinho do myflash fetish na barra ao lado e deixar tocar, enquanto você faz as outras coisas. E que tal pegar alguém que você ama e dançar agarradinho? Só para reviver uma época em que a música tocava os corações. Com certeza fará bem pra sua saúde e sua soul.
15 Comments:
Acho que não poderia ter havido homenagem melhor,JULIO.
Sem duvida eu tomei uma grande aula aqui
Abração!
Júlio,vc não viu o site? Bah, é o mesmo layout do G1. Cópia deslavada. Abs
Olá!!
Amei a música e parabéns pelo post!
O tempo muito nos ensinou.
Ensinou a amar a vida,
Não desistir da luta,
Recomeçar na derrota,
Renunciar as palavras e pensamentos negativos,
Enfim , acreditar nos valores humanos.
Ser otimista !!! (Cora Coralina)
Desejo que você tenha uma noite Ano Novo maravilhosa
E que seu ano seja ainda melhor!!
Feliz 2007!
Beijos
Que foto linda essa da Erykah!!!!
Julio, meu bom, tô passando para deixar um cheiro e desejo de bons ventos e frutos para o ano que está para chegar!
Tudo de melhor para você ;o)
beijos
MM
ps: foi um prazer imenso *conhecer você*
Meu amigo quero desejar um Rio de Janeiro com Paz...e um 2007 100% postivo pra vc
Desviando de outras balas perdidas,(rs),acabei achando a sua. O que aliás nem está perdida. Lindo o seu post em homenagem a James Brown. E reouvir essas músicas, me trouxeram ao tempo de infância onde ficava olhando os casais enamorados dancando agarradinho.
Um abraco carinhoso.
Georgia
Oi Julio,
Um beijo por este post, lindíssima homenagem!
Feliz 2007, que todos nossos sonhos se realizem.
Oi Julio,
Um beijo por este post, lindíssima homenagem!
Feliz 2007, que todos nossos sonhos se realizem.
Nossa... demais!!!
Adorei!
Que 2007 seja um Ano ma-ra-vi-lho-so pra todos nós... e há de ser... se Deus quiser...
Obrigada pelo carinho!
Beijo*.*
Não sou fã de black exploitation, mas o Kool and the gang bota quebrando.
O Brown era um foda. Esse vai fazer falta mesmo.
Grande homenagem, chefe! Brown pode ter certeza de ele fará falta a um monte de gente!!!
A playlist tá matadora!!!
Abraços!!!
Puxa querida, melhor homenagem não poderia haver. Nossa mãe! Revivi a minha adolescência. Muito obrigada pelas palavras carinhosas. Um Feliz 2007 para você, familiares e amigos. Estou agitando com o Jôka o tal encontro. Dá um jeito de ir, depois darei detalhes. Beijocas
Que ótima retrospectiva, Júlio! Realmete ess turma era DEMAIS! Vou deixar a sua playlist tocando direto aqui hoje. Um ótimo 2007 pra ocê.
Ola! Adorei o seu blog!!! Ah! Se você gosta de séries de TV tenho um blog onde postei alguns comentários sobre seriados que gosto como Arquivo X, C.S.I, Xena...
http://seriadosnatv.blogspot.com
Feliz Ano Novo!!!
aí, julio. 100%. só queria saber dessas suas fontes. meu caderno semanal, como te disse. queria eu que fosse diario, como o jornal. mas como nós somos um só...
valeu mesmo, descobrir da onde vem os melas.
é isso aí. aquele abraço.
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