
O título deste post talvez desse um bom filme ou uma peça de teatro. Seria um trabalho bonito porque mostraria que muitos preconceitos morreram. Mas, por outro lado, seria feio porque outros surgiram na mesma proporção.
Sou de uma época em que uma mulher separada, por exemplo, era mal vista. Uma mulher que ousasse a discutir sexo com o parceiro, seria taxada, se tivesse sorte, no mínimo de vagabunda. Um homem que deixasse aflorar sua sensibilidade ou admitisse ajudar a mulher nas tarefas domésticas, ouviria piadinhas. Um homem ganhasse menos do que a parceira, seria olhado com desconfiança e a sua parceira seria taxada por sem vergonha, por sustentá-lo. Casamentos intraraciais eram considerados quase que um pecado. A menina que optasse por permanecer virgem, um rapaz que dissesse que frequentava um local GLS (na verdade essa sigla nem exisita), o homem que optasse por não ingerir nenhum tipo de alcóol ou se uma mulher dissesse que estava abrindo mão do casamento para se dedicar a sua carreira, então, teriam muito que se explicar!
Os tempos mudaram e os costumes também. E com eles, novos preconceitos nasceram. E este post é sobre um deles.
Que as pessoas estão cuidando mais da saúde e, como consequência, estão vivendo mais, ninguém duvida. Nunca fui muito dado a esportes, embora tenha praticado alguns, como surfe, natação e ciclismo. Mas sempre valorizei o que tenho de mais importante. E sigo minha vida dentro dos limites da idade.
Pois bem, outro dia, num evento social, a amiga de uma amiga me perguntou: "Quando é que você vai assumir a sua idade?"
A pergunta caiu como uma bomba, não por eu ter me sentido agredido, mas pelo fato de nunca ter pensado nisso.
"Tenho 50 anos, por quê?", foi a minha resposta.
Então, a pessoa começou a enumerar os motivos pelo qual eu não me comporto como um homem da minha idade: roupas muito básicas, o fato de não viver sem um tênis, gostar de bike, estar sempre com um ipod pendurado, viver em academia, gostar de uma mochila e ter um blog (!).
Demorei alguns segundos para entender que não estava diante apenas de uma simples provocação e, sim, um ato de preconceito, do tipo: Você faz aquilo que eu considero coisa para jovens, então você é um velho ridículo, que não aceita sua idade, perdeu a noção de tempo e não pode ser levado a sério. E como argumentos como esses não podem ficar sem resposta, enchi o peito e despejei tudo o que vou colocar aqui:
1 - Primeiramente, minha roupa preferida é jeans, tênis e camiseta básica, sim. Acho um privilégio poder andar desse jeito, embora nem sempre seja possível. Quando tenho que encarar um terno, encaro sem problemas. Faça uma pesquisa e pergunte a quantos engravatados quiser, e verá que a maioria gostaria de usar um jeans e camiseta básica. Não acho que isso seja coisa apenas de jovens. E se for, 1 X o para você porque não vou deixar de andar básico sempre que puder. Logicamente, não é todo tipo de jeans que uso. Não vou usar nada rasgado ou excessivamente desbotado, nem nos momentos de folga. Assim como não tenho a consciência de que não posso mais usar tatuagem, nem piercings e muito menos, pintar meu cabelo de vermelho;
2 - Quanto a bike, assim como a natação, são as únicas atividades físcias que faço. Talvez eu ficasse ridículo com um skate. Mas conheço gente mais velha que pedala todos os dias. Se consigo fazer na bike o que muito jovem não consegue, devo mais é me orgulhar disso;
3 - Amo música e ipods são um meio prático de se levar música para qualquer lugar. Não ouço heavy metal e nem rap, mas, sim músicas antigas ou que fazem a cabeça de um homem de meia idade;
4 - Levo mochila quando vou comprar alguma coisa ou quando viajo. Prefiro uma mensager bag que caiba laptop. Mas de forma nenhuma acho que uma mochila seja coisa exclusivamente para jovens;
5 - Não vivo em academia. Faço musculação, não por uma questão estética, mas, sim, porque após os trinta, todos sabem que nossa massa muscular começa ir para o espaço e não quero ficar entrevado numa cadeira quando chegar aos 70. Para falar a verdade, detesto academia. Vou lá apenas para fazer meus execícios e dar o fora;
6 - Quanto ao blog, pelo amor de Deus! Se blogar fosse coisa exclusiva para jovens, o escritor português José Saramago deve estar senil. Sinto a necessidade de escrever sobre coisas que, de alguma forma, me tocam. Como este assunto, por exemplo.
Aliás, o principal motivo deste post foram as conversas que tive com algumas pessoas da minha idade e o fato de todas elas estarem sentindo o mesmo tipo de preconceito. Infelizmente, a medicina está nos proporcionando o privilégio de vivermos mais e melhor. Mas a sociedade não evoluiu na mesma velocidade e ainda está presa a padrões de comportamento do século passado.
É uma pena!
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