domingo, agosto 09, 2009

E Os Fantasmas Querem Dançar De Novo

Na noite em que o jornalista Wladimir Herzog, da Folha de São Paulo, foi preso pela primeira vez, no final de outubro de 1975, onze outros companheiros de profissão já se encontravam detidos para depoimentos, no DOI-CODI/SP, orgão da repressão militar na capital paulista.
Todos foram liberados. Herzog seria preso outra vez, no dia 25 daquele mês e não voltou mais para casa. Morreu sobre torturas no mesmo DOI-CODI.
Ser jornalista naqueles tempos era uma profissão de alto risco. Aliás, apurar e denunciar as verdades poderia ser fatal naqueles tempos em que muitas verdades deveriam ser escondidas. Se você, por exemplo, procurar em todos os jornais do período mais negro dos governos militares, não irá encontrar palavras como tortura, censura, repressão ou qualquer outra que pudesse dar uma idéia do que realmente ocorria nos porões da ditadura.
Eu pensei em tudo isso quando li, na semana passada, o caso do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, que censurou um jornalista do Estado de São Paulo, por causa de uma matéria sobre o escândalo envolvendo o presidente do Senado, José Sarney. O que leva um membro do judiciário a calar um profissional cuja função é denunciar? Ao refletir sobre isso, senti um arrepio.
A partir de amanhã, dezenas de blogueiros irão participar de uma blogagem coletiva sobre o fato, organizada pelo D.O.. Não costumo participar de blogagens deste tipo, mas não posso me calar. A maioria dos blogueiros que participarão da blogagem não viveram, como eu, aqueles tempos sinistros das verdades incobertas. Eu vivi e temo que eles voltem. Esse foi o motivo do arrepio. Um arrepio de medo e apreensão. O ato deste desembargador pode abrir um precedene perigoso. Talvez seja paranóia minha, mas sinto a presença de fantasmas e horríveis zumbis querendo sair da tumba, como no clipe Thriller do Michael Jacson, para voltar a dançar em volta de nós. E este blog, então, teria que deixar de existir.
Rezo para que seja apenas paranóia de um membro de uma geração que foi castrada e oprimida pelos mesmos fantasmas que querem voltar a dançar.
Quanto ao presidente do Senado, acho que a imprensa já está falando tudo. Mas não devemos esquecer que Sarney não veio de Marte. Nenhuma nave marciana o colocou lá no Senado. Ele foi eleito pelo povo.
Acredito que uma boa parcela do povo brasileiro seja de ótima qualidade e esteja indignada com os últimos acontecimentos. Mas há uma outra que pensa o contrário.
Esse foi o outro motivo pelo qual decidi participar da blogagem. Para me juntar aos que fazem parte da primeira parte que não pode se calar diante dos fatos e quer gritar. Gritar bastante. Gritar mais alto do que a música que os fantasmas insistem em querer dançar.

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