segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Momento Retrô: Como era gostoso ser brega

Nos anos 60 até o brega tinha charme.

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sábado, janeiro 07, 2012

Pura Emoção

No final de 1980 a Rede Globo decidiu dar um presente para seus telespectadores: um show da maior cantora do país naqueles tempos. Elis Regina Carvalho Costa era o nome do especial, onde a pimentinha deveria cantar antigos sucessos e faixas do seu mais recente trabalho, Saudade do Brasil.
Elis estava no auge da carreira e tudo parecia ir bem em sua vida. Por isso, ninguém entendeu quando ao interpretar Atrás da Porta, - canção que Chico Buarque e Francis Hime haviam composto para ela, na época da sua separação do músico Ronaldo Boscoli, em 1972 - ela não segurou a emoção e passou a chorar quase que copiosamente. O diretor - acho que foi o Daniel Filho - teve o insight de nao cortar e prosseguir, enquanto eu e milhares de outros telespectadores assistiamos a cena, estupefados, sem entender nada. Assim como o chamado "padrao Globo de qualidade", Elis era uma profissional muito exigente consigo mesma e nunca se deixaria levar pela emoçao. O que teria acontecido?
Meses mais tarde, quando soubemos da sua separação do César Camargo Mariano, que, aliás, a estava acompanhando nos teclado no especial da Globo, entendemos a sua dor.
E é esta uma das muitas imagens que guardo de Elis (a mão tensa, as veias salientes, a maquiagem escorrendo pelo rosto, enquanto um pranto miúdo e sentido deformava sua feição), esta grande artista que nos deixou há trinta anos, comemorados no próximo dia 19.
No feriado de São Sebastião, 20 de janeiro de 1982, , aqui no Rio, eu voltava da praia do Leme, quando parei numa banca de jornal na avenida Princesa Isabel para passar os olhos nas manchetes e lá estava na primeira página do JB: O Brasil Sem Elis.
Foi o final de praia mais triste da minha vida.
Luz pra ti, Elis.

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domingo, fevereiro 27, 2011

Músicas que podem lhe ser úteis - X

Ou como salvar a sua noite...

Tudo bem. Você saiu á noite para se divertir e acabou conhecendo aquela pessoa que parecia ser AQUELA PESSOA.
Aí, papo vai; papo vem, e você percebe ter trocado gato por lebre.
Como sair dessa furada e salvar sua noite de forma educada e elegante?
Tudo bem, o negócio é o seguinte: Convide-a(o) para ir a sua casa.
Isso mesmo. Só que você já terá deixado engatilhada no CD player essa simpática musiquinha dos The Beatles, chamada Revolution 9 (que você deve estar ouvindo, numa versão diferente a do disco).
Então, comece um papo a respeito do simbolismo crítico de Zé do Caixão, enquanto elemento representante da decadente sociedade teconcrata contemporânea.



Revolution 9 é a penúltima faixa do antológico álbum duplo The Beatles - mais conhecido como White Album - que os fab four lançaram em outubro de 1968.

Naquela época o psicodelimso começava a dar os seus últimos suspiros e o mundo do rock ainda tentava digerir o impacto do lançamento, poucos meses antes, do álbum Two Virgns, de John Lennon & Yoko Ono.
O choque causado pela capa, na qual os dois pombinhos aparecem como vieram ao mundo, era uma bobagem com o que se sentia ao colocarmos o disco para rodar.
O troço era o trabalho mais louco que se fez no rock até o presente momento. Tratava-se de uma seleção de ruídos, gravações feitas de trás para frente, músicas estranhas, sons esquisitos e mais: a voz esganiçada da Yoko Ono, que mais parecia um animal primitivo uivando. Quem já passou pela assustadora experiência de ouvir a Yoko cantar (ou gritar), sabe do que estou falando.
Apesar dos Beatles terem torcido o nariz para o experimentalismo de Two Virgns, já que se afastava bastante do perfil musical da banda, Revolution 9 é  uma tentativa de se levar o psicodelismo às últimas consequências e também apoiar a loucura feita por Lennon pouco antes.
Mas voltando a sua noite, se Revolution 9 não lhe ajudar, reze. Reze bastante, porque A TAL PESSOA deve estar mesmo apaixonada por você.

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quarta-feira, janeiro 19, 2011

Músicas que podem lhe ser úteis - IX

Você teve um vizinho que:
* Escutava músicas no volume máximo em qualquer hora do dia;
* Roubava o seu jornal de manhã;
* Estacionava sempre na sua vaga na garagem;
* Fez gato e roubava o seu sinal de TV paga;
* Ensinou o cãozinho a urinar na sua porta;
* Soltava fogos e fazia cornetaço toda vez que o seu time perdia;
* Não admitia que aquela infiltração era culpa dele;
* Fazia aquelas reformas intermináveis que enchiam sua casa de poeria e barulho;
* Fez as fofocas mais horrorosas sobre você no prédio;
* Pixou nas paredes do prédio que você estava devendo o condomínio.
Enfim, um perfeito canalha.
Mas como não há mal que sempre dure, o safado comprou um outro apartamento num prédio melhor.
Mas agora precisa alugar o antigo para ajudar o condomínio no novo prédio que é bem mais caro.
Pois meu amigo ou minha amiga, a hora da vingança chegou.
Toda vez que um corretor for mostrar o tal imóvel, que tal tocar no volume máximo esta sequência tão agradável dos The Fevers? Todas as músicas foram gravadas no início da década de 70, quando a música pop no Brasil ainda estava em busca de uma identidade e precisava apelar para versões baratas e arranjos ordinários.
Som perfeito para quem precisa jogar baixo como você. Toque toda a sequência e, no final, vá para a janela e grite: "De novo! Agora, todo mundo cante comigo" e repita a sequência, cantando junto a plenos pulmões.
Duvido, caro(a) leitor(a) que o vizinho maldito consiga alugar seu ap.
Mas como tudo na vida envolve risco, é bom que você tenha em mente que ele pode voltar a morar no antigo imóvel ou você ser expulso do prédio.

FALA SÉRIO!!!!!

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quarta-feira, dezembro 08, 2010

Onde você estava quando o sonho foi alvejado à queima-roupa?

Lennon dando o autógrafo que selaria seu destino, ao lado do imbecil que o mataria menos de um minuto depois.
Eu estava estudando para a prova final da Cultura Inglesa, no dia seguinte.
Passava de uma e meia da manhã e eu ouvia a Rádio Cidade - a mais popular do FM carioca, na época. Nunca gostei de estudar ouvindo música. A música exerce tanto efeito em mim que me desconcentra totalmente.
Então por que eu estava ouvindo rádio enquanto estudava?
Talvez fosse porque eu precisasse ouvir o Ivan Romero - o locutor mais famoso da Cidade, na época - interromper a programação para falar de uma notícia vinda da sucurssal do Jornal do Brasil, em Nova Iorque:
"Gente, ainda falta confirmar. A coisa está meio confusa, mas parece que John Lennon acaba de ser assassinado com cinco tiros."
Logicamente, meus estudos foram para a cucuia.
Alguns minutos depois, o Ivan interrompeu a programação novamente para confirmar o que ninguém queria crer: "Parece que é verdade, gente. Jonh Lennon está morto."
Tive a idéia de gravar as notícias que chegavam e guardo essa fita até hoje.
Corri para o telefone para ver se alguém estava acordado. Talvez alguém me dissesse que tudo não passava de brincadeirinha.
Eu estudava na PUC, na época, e minha turma havia combinado uma chopada na Pizzaria Guanabara naquela noite para comemorar o final do ano letivo. Eu havia passado por lá e voltei cedo para estudar.
Para piorar as coisas, minha vó - mãe do meu pai - havia falecido naquele mesmo fatídico 8 de dezembro e o clima era fúnebre lá em casa.
Voltei para o Baixo Leblon - que era o lugar mais badalado do Rio, naqueles tempos, era o que a Lapa é hoje.
Minha turma estava lá e o clima era de perplexidade. Algumas meninas da minha turma choravam. Um grupo numa mesa próxima entoava os refrãos de Merry Xmas, The War is Over. Os garçons nos abasteciam de chopes e informações que obtinham no rádio. De vez em quando, parava um carro, junto à muvuca na calçada e o motorista perguntava: "É verdade? Lennon está morto?"
Me lembro de um cara gordo e barbudo, em uma moto, que parou no sinal da Ataulfo de Paiva e gritou, meio bêbado: "Mataram o homem! Puta que o pariu!" E arrancou em alta velocidade, sumindo na noite quente.
Perto dali, - e eu ficaria sabendo no dia seguinte pelos jornais - o Caetano Veloso havia parado para comprar o JB na famosa bancoa que fuincionava em frente à farmácia Piauí. Um taxista o viu e gritou: "Caetano, mataram o homem, Caetano!"
Perplexidade, tristeza, raiva, pesar. Eu, milhões de jovens em todo o mundo, os garçons da Pizzaria Guanabara, o motoqueiro bêbado, o taxista, Caetano veloso. Todos unidos na mesma dor.

Na manhã seguinte, só nos restou confirmar tudo nos jornais. Fico imaginando uma tragédia dessas acontecendo hoje em dia, com a internet. Seria mais fácil obter informações, é óbvio. Mas, em compensação, não haveria aquela cumplicidade, aquela união em torno da estúpida morte de um ídolo - caso você ainda não saiba, Lennon foi morto ao dar um suposto autógrafo mal dado, para um fã que o esperava na frente do seu prédio, na parte oeste do Central Park.
Só nos restava acompanhar a longa vigília dos fãs em frente ao Dakota Building, onde Lennon & Yoko viviam. Enquanto outros fãs se suicidavam ao redor do mundo, que havia ficado mais triste após aquela noite terrível.
Yoko decidiu não fazer velório e nem enterro. E pediu que fãs ao redor do planeta organizassem vigílias para pedir luz ao espírito do ex-Beatle. A maior delas ocorreu no Central Park. No Rio, houve uma pequena multidão se reunindo no Jardim de Alah, em Ipanema.
Mas quanto mais se rezasse, quanto mais se chorasse, quanto mais se sofresse, nada iria mudar a estupidez que foi a morte de John Lennon.
Me dei mal na prova da Cultura Inglesa no dia seguinte. Mas nada importava. Lennon havia sido assassinado.
Aprendi inglês mais tarde. Mas Lennon jamais iria voltar. Daqui a algumas horas, irão se completar três décadas daquela morte estúpida. Perdi o contato com a minha turma da PUC e nem sei por onde andam os outros personagens daquela noite tristíssima - com a exceção do Caetano, é claro. Mas tenho a certeza de 30 anos depois, nenhum deles se refez daquela madrugada.
Você não sabe ou não se lembra do nome do imbecil que puxou o gatilho contra Lennon? Relaxe! Ele não merece mesmo ser lembrado. No mínimo por ter me feito me dar mal na prova de inglês. No máximo, por ter liquidado o sonho de milhões de jovens em todo o mundo. E isso custa caro.

* O que você está ouvindo é gravação de alguém que, perplexo, lá em Nova Iorque, começou a percorrer as rádios em busca de notícias, naquela madrugada gelada e triste. Algum dia, eu mostro aqui as gravações que fiz. Isso foi tirado daqui.
* Para ver também como a notícia da morte de Lennon conseguiu interromper uma partida de baseball, em Nova Iorque, naquela noite, mergulhe aqui.

É amanhã, hein!

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segunda-feira, agosto 09, 2010

Músicas que Podem lhe Ser Úteis XIII

Você não aguenta mais trabalhar e procura uma forma de se aposentar mais cedo. Que tal por motivo de loucura?
Já dei diversas dicas neste blog. Você tentou e não deu certo?
Tudo bem, então decore bem a letra dessa música do Gil, O Roxinol (que você também deve estar ouvindo), que é uma das faixas do seu  histórico Lp Refazenda, lançado em 1975.
Quando estiver diante do psiquiatra encarregado de fazer o seu laudo, capriche num olhar de peixe morto e mande...

Joguei no céu o meu anzol

Pra pescar o sol

Mas tudo que eu pesquei

Foi um rouxinol

Foi um rouxinol



Levei-o para casa

Tratei da sua asa

Ele ficou bom

Fez até um som

Ling, ling, leng

Ling, ling, leng, ling



Cantando um rock com um toque diferente

Dizendo que era um rock do oriente pra mim

Cantando um rock com um toque diferente

Dizendo que era um rock do oriente pra mim



Depois foi embora

Na boca da aurora

Pássaro de seda

Com cheiro de jasmim

Cheiro de jasmim
 
Boa sorte! Mas se não der certo, tenho outra alternativa...Refazenda seria o nome de um sítio onde Gil, Macalé, Wally Salomão e Jorge Mautner pretendiam formar uma comunidade aqui no interior do estado do Rio de Janeiro. Que tal comentar com o psiquiatra sua loooonga passagem por lá. Qualquer um que tenha vivido nos anos 70 com este quarteto deveria ser aposentado sumariamente por motivos químicos.
 
Fala Sério!

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segunda-feira, julho 19, 2010

Uma canção, uma história

Muitas vezes, nós até gostamos de uma música. Sem saber que por trás desta música  existe uma história, ainda mais bonita do que a própria canção.
É o caso de You´ve Got a Friend (que você deve estar ouvindo).
Em 1970, Carole King era uma compositora nova-iorquina do Brooklyn muito prestigiada há uma década, quando criou clássicos da música pop americana como The Locomotion e Will you love me tomorrow. No ano anterior, King havia se divorciado de seu parceiro musical, o compositor e músico Gerry Goffin. Ela também havia acabado de lançar o seu primeiro trabalho solo, o belo Writer, que foi injustamente mal recebido pelo público e pela crítica.
Ela também conheceu James Taylor e se apaixonou por ele.
Taylor era, até aquele ano,  um obscuro cantor/compositor de estilo country, que também tinha fracassado feio com o seu primeiro solo. Apesar de ter sido apadrinhado por Paul McCartney. Taylor também estava vivendo o seu inferno particular: não conseguia se livrar do vício da heroína e nem das crises de depressão desde que sua companheira, Suzanne Schnerr, havia cometido suicídio.
Decidido a transformar sua dor em arte, Taylor compôs Fire and Rain, que seria o carro-chefe do seu próximo trabalho, Sweet Baby James (capa acima).
Aqueles eram tempos conturbados. O Sonho dos anos 60 estavam desabando, a guerra do Vietnam prosseguia e nada do que os jovens haviam idealizado nos últimos anos se mostrava possível de se realizar num futuro distante.Grande parte da juventude americana se sentia perdida, desiludida e abandonada pelos seus ídolos (Os Beatles haviam acabado de acabar, Hendrix & Janis estavam mortos).
A tristeza contida em Fire and Rain tocou fundo no coração de milhares de jovens e Sweet Baby James tornou-se um grande sucesso. Faturou o Grammy de disco do ano e vendeu mais de 10 milhões de cópias.
Taylor e King resolveram ficar juntos. E a América torcia por eles. Afinal, as afinidades entre os dois pareciam ir além da música e eles eram o casal que todos gostariam de ver envelhecendo juntos.

Infelizmente, a coisa não foi assim. Por algum motivo, os dois se separaram. A decisão foi de Taylor. Ele até amava Carole, mas entre eles havia a heroína. E James não queria que aquela garota tão legal sofresse com um viciado praticamente destinado a aparecer morto com uma seringa enterrada no braço, como muitos naqueles tempos.
Enfim, James Taylor e Carole King, o casal mais badalado da música pop, em 1970, não estava mais junto. Ao lerem a notícia na mídia, os fãs ficaram tristes. Não tanto quanto Carole. E ela decidiu também transformar seu sofrimento em arte.

"Eu amo você. E amo tanto, que se você for memo mais feliz sem mim, então, tudo bem. Pode ir. Mas se por acaso precisar de mim, lembre-se de que você tem uma amiga e não hesite em me procurar. E eu estarei logo ao seu lado." Esse parece ter sido o pensamento de King ao escrever para o amigo viciado, a clássica You´ve got a friend, que diz mais ou menos assim:

Quando você estiver abatido e confuso

E precisar de uma ajuda,

E nada, nada estiver dando certo,

Feche seus olhos e pense em mim

E logo eu estarei lá

Para iluminar até mesmo suas noites mais sombrias.



Apenas grite o meu nome

E você sabe, onde quer que eu esteja

Eu virei correndo, oh sim, querido,

Para te encontrar novamente.

Inverno, primavera, verão ou outono,

Tudo que você tem de fazer é chamar.

E eu estarei lá, sim, sim, sim,

Você tem um amiga.



Se o céu acima de você

Tornar-se escuro e cheio de nuvens

E aquele antigo vento norte começar a soprar,

Mantenha sua cabeça sã e chame meu nome em voz alta

E logo eu estarei batendo na sua porta.

Apenas chame meu nome

E você sabe, onde quer que eu esteja

Eu virei correndo para te encontrar novamente.

Inverno, primavera, verão ou outono,

Tudo que você tem de fazer é chamar

E eu estarei lá, sim, sim, sim.



Hei, não é bom saber que você tem um amiga?

As pessoas podem ser tão frias,

Elas te magoarão e te abandonarão

E então elas tomarão sua alma se você permitir-lhes.

Oh, sim, mas não permita.



Apenas chame alto meu nome

E você sabe, onde quer que eu esteja

Eu virei correndo para te encontrar novamente.

Babe, você não entende que

Inverno, primavera, verão ou outono,

Hei, agora tudo que você tem a fazer é chamar...

Senhor, eu estarei lá, sim eu estarei,

Você tem um amiga,

Você tem um amiga.

Não é bom saber? Você tem um amiga...

Não é bom saber? Você tem um amiga...

Você tem um amiga...

E como amigos, eles continuaram trabalhando juntos. Em novembro de 1970, por exemplo, Taylor e King apareceram num concerto dele, na famosa casa de espetáculos Troubadour, em Los Angeles. Enquanto, que ele aceitou a participar das gravações do próximo trabalho dela, o antológico Tapestry, lançado no início do ano seguinte. E abrindo o lado B, lá estava You´ve got a friend.
Uma grande parcela da juventude norte-americana continuava perdida, triste, e daria tudo para ouvir de alguém o que Carole disse para Taylor nessa música. E Tapestry foi um sucesso avassalador. Bateu recorde de vendas, ficou até 1977 no top 40 da Billboard, foi eleito o disco do ano de 1971 e deu a King o Grammy de cantora do ano. Nele, além da canção motivo deste post, há clássicos como It´s too late e So far away.
O própio James Taylor incluiu You´ve got a friend em seu disco daquele ano, o belo Mud Slide Slim and the Blue Horizon. Lançado em maio de 1972, o compacto onde ele interpretava a canção feita pela amiga, vendeu um milhão de cópias em apenas uma semana. Isso significa que um milhão de pessoas compraram o single por causa da canção. Quantas sabiam da bela história de amor e amizade por trás dela?

De qualquer forma, a fila tem que andar e Carole King seguiu sua vida. Viu o amigo Taylor se casar naquele ano com Carly Simon e ter com ela um relacionamento infeliz que acabou ruindo nos anos 90. Ela teve uma carreira marcada por alguns bons álbuns, meteu-se em política (apoiou recentemente tanto Hilary Clinton quanto Obama) e com assuntos do meio ambiente. Também fez pequenas aparições em séries de tv.
Ainda encontrou tempo para casar, criar filhos e se tornar numa bela senhora de 68 anos.

Em 2007, James Taylor e Carole King estavam sossegados em seus cantos quando a famosa casa de espetáculos Troubadour (lembra-se) quis comemorar os 40 anos de sua existência relembrando alguns dos shows memoráveis ocorridos ali. E alguém lembrou-se daquela longínqua noite em novembro de 1970, quando Taylor e King dividiram o palco.

Os dois aceitaram o convite para cantar extamente numa noite de novembro de 2007, 37 nos depois, por tanto. Um longo período durante o qual muita água havia rolado debaixo da ponte. Os dois já estão casados com parceiros diferentes, mas bem que poderiam estar juntos, pois ainda formam um casal simpático, não acha?
O sucesso do show no Troubadour fez a dupla anunciar, exatamente dois anos depois, um excursão mundial juntos. Além do lançamento do cd duplo com o concerto daquela noite de 2007.

A excursão começou em março último e tem sido um sucesso retumbante. Em alguns lugares, os ingressos se esgotaram um mês antes. Em outros, chegaram a superar em vendas, a final da liga nacional de baseball.


Em um dos shows, na Austrália, a atual queridinha do pop mundial (lugar que Carole King ocupou há quase 40 anos) Lady Gaga, fez questão de cumprimentar a dupla nos bastidores.

As vendagens do CD também está bombando e trouxe de novo a dupla aos primeiros lugares da parada americana, feito que ambos não conseguiam há muitos anos.
Infelizmente, pelo que parece, a excursão não passará pelo Brasil e só nos resta memos curtir este belo disco, que já tratei de colocar na minha prateleira de cds.
O trabalho é muito bom. Com a dupla de amigos cantando juntos apenas sucessos dos anos 70, que já tornaram-se clássicos, como Country Road, Fire and Rain, It´s too late, I Feel The Earth Move e You Can Close Your Eyes.
Vale para se ver que, pelo entusiasmo do público, a dupla entrou mesmo para a eternidade ou para ver a emoção dos dois ao cantarem juntos You´ve Got a Friend. Um dado interessante é que a banda que está acompanhando os dois é a mesma que os acompanhou no concerto de 1970.

Tá certo, algum chato vai dizer que a excursão e o CD são oportunistas, uma jogada de marketing que serve para alavancar a carreira de dois astros que haviam caído no ostracismo.
Pode até ser, mas quem leva isso em conta, certamente não conhece a história de You´ve got a friend e não percebe a magia deste reencontro.
Não percebe que 40 anos se passaram desde que um cara legal mas problemático chamado James e uma garota bacaninha chamada Carole ficaram juntos e se separaram para o bem de um do outro e iniciaram uma amizade que já dura quatro décadas. Quantas amizades hoje durarão quatro décadas? Aliás, sempre achei a amizade mais importante do que o amor. Porque se o relacionamento não passar pelo estágio da amizade, é melhor cada um ir para um lado.
O chato que apenas enxergar oportunismo na volta desses dois artistas geniais, não será capaz de se emocionar com a linda história de amor que há por trás. O verdadeiro amor. Aquele que é capaz de abrir mão, capaz de se sacrificar ou até de sofrer pelo bem do ser amado. Será que este tipo de amor é coisa do passado? Hoje em dia, você liga o rádio e só ouve canções sobre o amor. Mas que tipo de amor está se referindo? Hoje, eu vejo jovens casais se agarrando em lugares públicos e me pergunto quantos deles seriam capaz de ter o mesmo desprendimento de Carole King? Quantos deles, ao terminarem, permaneceriam amigos de verdade?
Talvez esses sejam questionamentos de uma pessoa que está envelhecendo. Pode ser. Mas o meu consolo é ter vivido na época do verdadeiro amor e ter estar ainda vivendo um amor verdadeiro. Daqueles que são vacinados quanto o tempo, mas que se mesmo assim, acabarem, darão início a algo mais lindo: a verdadeira amizade.
* Na trilha sonora You´ve got a friend na versão de Carole King e na de James Taylor.

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segunda-feira, abril 19, 2010

Músicas que podem lhe ser úteis - XI


Você quer uma promoção? Ou está precisando de uns dias de férias antecipados? Quer um aumento de salário? Ou quer ser transferido para aquele setor onde não se faz nada? Ou quem sabe quer tudo isso junto?
Bem, você também tem aquele chefe que escolhe aquele tipo de gravata que nem o Bozo usaria, certo? O coitado é alvo de piadinhas e comentários assassinos pelos corredores, não?
Pois, então decore esta musiquinha do Jorge Ben, que é a segunda faixa da sua obra prima A Tábua de Esmeralda, lançado em 1974, auge da carreira do mestre do swing.
Tudo o que tenho a dizer sobre este disco antológico já falei em Há 33 Anos O Samba Invadia As Coberturas Duplex da Vieira Souto.
Pois bem, não custa nada levantar a auto-estima do coitado. Então, quando o seu chefe chegar com sua gravata que todos odeiam,  sem medo de ser feliz, levante-se e cante bem alto:

Lá vem o homem da gravata florida
Meu deus do céu... que gravata mais linda
Que gravata sensacional
Olha os detalhes da gravata...
Que combinação de côres
Que perfeição tropical
Olha que rosa lindo
Azul turquesa se desfolhando
Sob os singelos cravos
E as margaridas, margaridas
De amores com jasmim
Isso não é só uma gravata
Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata

Qualquer homem feio, qualquer homem feio
Vira príncipe, simpático, simpático, simpático
Porque... com aquela gravata
Ele é esperado e bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa nascem flores e amores
Com uma gravata florida singela
Como essa, linda de viver
Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,...

Duvido que você não consiga o que quer.
Isso se os seus colegas de trabalho não lhe enforcarem com a dita cuja primeiro.

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segunda-feira, março 29, 2010

Músicas que podem lhe ser úteis - X



A relação anda meio parada? Sem graça? Meia-bomba? Quer botar uma pimentinha?
Que tal uma briguinha para depois fazer as pazes em grande estilo? Se for em ritmo de tango ainda melhor.
Aliás, Tango é o título desta música que o compositor e cantor carioca Marcos Valle fez para a trilha sonora da novela Os Ossos do Barão, lançada pela Rede Globo, em 1973, cantada pela Cláudia Regina.



Em seu disco de 1974 - aliás, para mim, o melhor da sua carreira -, o Marcos lança essa música cantada por ele, com versos como "...de te rasgar a roupa, agir como louco e morrer de amor..." Existe coisa mais calliente.
Agora, meu amigo e minha amiga, decore e use na primeira oportunidade.

TANGO
(Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle)


Quem que você pensa que eu sou


Pra me humilhar

Zombando desse amor



Eu não vou passar a vida a te esperar

Envelhecer

Pra só te ter pra mim



Pois faça

Que eu faço ainda mais

Pois saia

Que eu saio ainda mais

Pois traia

Que eu traio ainda mais

Você não sabe que eu sou capaz



De te deixar agora

Te mandar embora

E morrer de amor



De te rasgar a roupa

Agir como louco

Me matar de amor



Quem é que você pensa que é

Pra maltratar

Quem vive a te esperar



Não espere do meu corpo a solidão

Eu sei amar

Mesmo sem ter amor



Eu tanto posso ir como ficar

Eu tanto posso amar como odiar

Eu tanto sei sorrir como ferir

Não brinque com a paixão, que eu sou capaz



De te deixar agora

Te mandar embora

E morrer de amor



De te rasgar a roupa

Agir como louco

E morrer de amor



Pois faça

Que eu faço ainda mais

Pois saia

Que eu saio ainda mais

Pois traia

Que eu traio ainda mais

Você não sabe que eu sou capaz



De te deixar agora

Te mandar embora

E morrer de amor



De te rasgar a roupa

Agir como louco

Me matar de amor



De te deixar agora

Te mandar embora

E morrer de amor

Agora, se depois disso tudo a coisa ainda não esquentar, você está precisando de um novo relacionamento.
Fala sério!

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terça-feira, novembro 03, 2009

O dia em que o sonho morreu

Era para ser um evento pequeno. Os Rolling Stones queriam comemorar o sucesso da sua turnê norte-americana, naquele segundo semestre de 1969 com um concerto gratuito. Em agosto, o mundo todo havia podido admirar a grande festa dos quinhentos mil jovens em Woodstock, que fez todos pensarem – nem que fosse por alguns minutos – na possibilidade de um mundo melhor. Os Rolling Stones não foram convidados para Woodstock. Não que eles não merecessem ir, mas não se tinha dinheiro para contratá-los. E Mick Jagger, com o seu ego woodstockiano de leonino, sentiu-se rejeitado. Então, o senhor Jagger decidiu fazer o seu Woodstock particular. E nenhum evento pode ser pequeno quando um leonino rejeitado decide se vingar. E daqui a algumas semanas estarão se completando 40 anos de um evento que nenhum roqueiro da antiga nem sequer quer se lembrar.
Marcado para 6 de dezembro, o tal concerto gratuito seria realizado no Golden Park, em São Francisco (o qual conheci este ano e sobre o qual já falei aqui). Foi anunciado como o Woodstock da Costa Oeste. Por isso, 24 horas depois de a prefeitura da cidade conceder a permissão para um evento para 150 mil pessoas, cerca de o 300 mil já haviam chegado a São Francisco, vinda de todas as partes dos EUA. Temendo um tumulto, o prefeito voltou atrás. E os Rolling Stones tiveram que procurar desesperadamente outro lugar para o seu Woodstock. Alguém se lembrou, então, de um autódromo abandonado, há poucos quilômetros de São Francisco. Altamont ficava na região serrada ao redor da Baía. Não era um lugar adequado e qualquer pessoa sensata, desistiria. Mas nada pode deter um leonino magoado.




A segurança de Woodstock havia sido feita por voluntários. Mick Jagger quis que a segurança do seu evento fosse feita por os perigosos motoqueiros Hell Angels, experiência que já havia dado certo em Monterey Pop, em 1967, e no antológico concerto dos Stones no Hyde Park, em junho daquele ano.

Mas os líderes dos Hell Angels de São Francisco estavam na cadeia, cumprindo pena por assassinato. E sem os seus líderes, os motoqueiros – mundialmente conhecidos por sua violência -, simplesmente surtaram.

Aliás, os tempos haviam mudado. Os dias de paz & amor, na época de Monterey Pop estavam mesmo acabando. Uma grande parte da juventude americana havia passado da inocente maconha ou das viagenzinhas de LSD para coisas mais perigosas. O abuso de drogas tomava proporções epidêmicas no país. Para se ter uma idéia, naquele mês de dezembro, as autoridades de saúde da cidade de Nova Iorque comunicavam que apenas nos últimos 12 meses, haviam ocorrido 900 casos de overdose de heroína. A maioria das vítimas tinha menos que 20 anos.
Essa mistura de platéia alucinada e Hell Angels surtados não poderia dar em boa coisa. O olhar de ódio do Hell, com seu bigodinho hitleriano, acima, para o Mick Jagger, dá uma idéia da tensão que pairava no ar. Assim como a frieza dos Hells, sorrindo indiferentes ao pânico da platéia, tentando fugir da pancadaria e das loucuras que rolavam na escuridão lá atrás. E as fotos a seguir não mentem...
Brigas, agressões e piração por abuso de drogas aconteciam a cada minuto, como o caso dessa jovem nua - apesar da temperatura estar pouco acima dos dez graus -, completamente pra lá de Mahakesh, que passava por cima de todos, numa tentativa tresloucada para chegar até o palco. E devido ao frio, o abuso de álcool para se aquecer tornava as coisas ainda piores.
Toda vez que os Rolling Stones tentavam cantar uma música, um clarão abria-se na platéia.
E toda vez que a violência explodia na platéia de mais de 500 mil jovens, a multidão tentava se abrigar próximo ao palco. Mas era recebida por Hell Angels ferozes.
A imagem dos Hells abrindo passagem à força pela platéia, antes do início do concerto, já dava uma mostra do que estava por vir. Aliás, Altamont não foi um concerto só dos Stones. Santana, Crosby, Stills, Nash and Young e os novatos do Flying Burrito Brothers, estavam entre os convidados. O concerto do Jefferson Airplane teve que ser interrompido porque o guitarrista, Marc Ballin, foi nocauteado por um Hell raivoso. Outra banda de São Francisco, Greateful Dead, chegou, mas nem subiu no palco. Foram aconselhados a dar meia volta, tamanha confusão que pairava no local.
Se o senhor Jagger não tivesse um ego tão grande, teria interrompido aquela doideira. Mas preferiu continuar cantando num palco repleto de Hell Angels descontrolados (na foto, um deles aparece espancando o rodie da banda).
Então, o pior aconteceu, quando um jovem negro de 18 anos, Meredith Hunter (o vulto de verde na foto acima) - talvez, alucinado por drogas -, teve a infeliz idéia de sacar e apontar uma arma para Mr. Jagger. A foto também mostra o momento em que ele foi agarrado por um Hell com um facão em punho.
E a coisa foi resolvida segundo a Escola Hell Angiana de Diplomacia: com várias facadas fatais. Isso tudo na frente de uma platéia chocada e Stones apalermados.
Finalmente a ficha caiu e Mr. Jagger percebeu que havia ido longe demais.
Então, os Stones decidiram rapidamente dizer bye-bye, cantando cinicamente Satisfaction...
...e sairam batidos de helicóptero, deixando para trás, 500 mil jovens perplexos.
O que era para ser um evento pequeno, mas motivado por um ego enorme. E tudo foi documentado de forma magistral em Gimme Shelter, documentário de Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin, que estreiaria uma ano depois e é considerado o melhor trabalho do gênero sobre rock.

Na entrevista coletiva que se seguiu à tragédia, um Mick Jagger ainda atordoado, tentava explicar o fiasco com a seguinte frase: "Muita gente diz que Altamont marcou o fim de uma era. Mas na verdade marcou o fim da inocência dos caras que ainda acreditavam nela." Pode ser. De qualquer forma, Altamont foi um marco triste na história do rock e da juventude dos anos 60, que aliás estavam terminando mesmo. A esperança que Woodstock havia construído, Altamont destruiu em poucas horas. Tá certo que uma sociedade igualitária e justa é uma utopia, que o individualismo talvez nunca seja vencido, que acabar guerras com flores, dedos em V e gritando paz & amor é uma inocência sem noção. Tá bom que vencer a sociedade de consumo com boas intensões é o mesmo que tentar vencer o diabo com orações. Tá certo que a revolução sexual foi um blefe e que subestimar as drogas foi um erro sem proporções. Tá certo que foi tudo ilusão e que ninguém pode, segundo Vinícius, viver longe da realidade impunimente. Mas certamente havia maneira melhor de mostrar isso do que Altamont.
E a imagem da jovem chorando na beira do palco, enquanto assiste ao seu mundo desabar, é simbólica.
Era para ser um evento pequeno. Mas, além do jovem negro esfaqueado, mais três mortes ocorreram: uma jovem morreu afogada em um lago, ao tentar fugir de Hells que queria estuprá-la, um jovem morreu atropelado pelas pesadas Harley Davidson e um outro foi espancado até a morte numa briga. Ops! Eu disse três? Na verdade foram quatro. O sonho de toda uma geração também foi pro brejo naquele 6 de dezembro de 1969.

Todas as fotos deste post - com a exceção do poster do filme - foram tiradas do sensacional site Morethings .


* Na trilha sonora Gimme Shelter, canção que os Stones compuseram para o documentário e que está no Lp Let it Bleed, 1970.

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quarta-feira, outubro 21, 2009

Músicas que podem lhe ser úteis - IX

Você quer se aposentar sem ter tempo de contribuição ainda e não sabe como. Eu já dei uma dica aqui. Não deu certo?

Tá legal. Então, faça o seguinte:

1) Decore a letra dessa musiquinha que você deve estar ouvindo e que tem o singelo título de AA UU. Está no álbum Cabeça de Dinossauro, da banda paulistana Titãs, lançado em 1989.


AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!
Estou ficando louco

De tanto pensarEstou ficando rouco

De tanto gritar...(2x)
AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!
Eu como, eu durmo

Eu durmo, eu como

Eu como, eu durmo

Eu durmo, eu como...
Está na hora de acordar

Está na hora de deitar

Está na hora de almoçar

Está na hora de jantar...(2x)
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!
Estou ficando cego

De tanto enxergar

Estou ficando surdo

De tanto escutar...(2x)
AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!
Não como, não durmo

Não durmo, não como

Não como, não durmo

Não durmo, não como...
Está na hora de acordar

Está na hora de deitar

Está na hora de almoçar

Está na hora de jantar...(2x)
AA! UU! AA! UU!AA! UU! AA! UU!


2) Depois, no meio do expediente, vai até o banheiro. Tire TODA a roupa e descabele o cabelo;

3) Faça aquela cara como se o seu remédio tarja preta tivesse acabado há dias e a crise de abstinência estivesse começando;

4) Por final, saia do banheiro e volte para o local de trabalho cantando bem alto, a plenos pulmões, pulando e dançando, enquanto pensa nas horas a mais que você vai dormir, as praias que você vai pegar, as viagens que vai poder fazer, enfim, no quanto você vai ser feliz.

E se não der certo? Bem, pelo menos você vai se ver livre dos seus companheiros de trabalho, pois eles devem ser loucos e serão internados.



Fala sério!!!!

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terça-feira, outubro 06, 2009

A Música da Minha Vida

Todo mundo tem "a música da sua vida." E essa é a minha.
Voltando no tempo, até a madrugada de natal, 25 de dezembro de 1997. Estávamos ceiando e assistindo à Missa do Galo na tv, quando o telefone toca. Corri para atender, pensando que era mais um retardatário para nos desejar coisas boas, mas, na verdade, era a atual companheira do meu pai, para me dizer que ele havia acabado de falecer.
Meu pai tinha fibrose pulmonar - resultado de anos de tabagismo exagerado - e havia sido desenganado pelos médicos dois dias antes. Mas naquela tarde eu havia estado com ele. Estava bem e fizemos planos para o ano novo. No dia seguinte, toda a família deveria visitá-lo. Por volta das 22h eu havia falado com ele por telefone. Despediu-se desejando-me toda felicidade do mundo. Nada me fazia supor que ele morreria poucas horas depois.
No momento em que recebi a notícia, eu estava diante do enorme janelão do nosso apartamento, no Flamengo. Enquanto eu amortecia o golpe, ia olhando para os apartamentos nos prédios em frente e via as famílias festejando, trocando presentes, se cumprimentando, dançando, rindo.
Poucos minutos depois, lá estava eu à procura de um táxi para tratar da transferência do corpo. Durante o caminho, fui reparando nas janelas todas enfeitadas com luzes coloridas. As pessoas nas ruas carregavam seus presentes e ainda mantinham o ar festivo. Só quem passou por uma experiência dessa sabe a solidão esmagadora que se sente nesse momento. "Meu Deus! Eu sou o único ser humano triste e arrasado na face da terra esta noite!" Tá certo, era um exagero! Mas essa é a sensação incômoda que se sente. Afinal, eu também sabia que o natal nunca mais seria a mesma coisa para mim.
Por coincidência, o rádio do táxi, começou a tocar Azul da Cor do Mar (essa que você deve estar ouvindo). E naquele momento, confesso que meus olhos ficaram cheios d´água pela primeira vez, desde que havia recebido a notícia da passagem do meu pai. Mas o Julio que desembarcou na Tijuca, onde meu pai havia estado internado, não era o mesmo que havia embarcado no Flamengo.
Quando essa música foi lançada, em 1970, eu tinha dez anos e enfrentava uma das piores fases da minha vida: meus pais haviam acabado de se separar, enfrentávamos uma dura crise financeira, eu ia muito mal na escola e acabei perdendo o ano, devido a uma hepatite que quase me matou. Eu não tinha maturidade suficiente para enfrentar problemas que deixariam até mesmo um homem adulto meio abalado. Assim como não tinha maturidade para perceber a beleza dessa letra. Minha irmã tinha esse disco, que foi o primeiro trabalho do Tim Maia, e eu achava essa música apenas bonita, na época.
O Nelson Motta conta em seu livro Vale Tudo. Tim Maia (Editora Objetiva) - há um ano na lista dos mais vendidos - que o síndico - apelido que Tim sustentou durante anos, causando tumultos e brigando com as platéias - estava na pior, em 1968, após ter sido extraditado dos EUA por porte de drogas, e teve que morar quase que de favor no quarto de um apartamento na zona sul carioca, dividido por dos amigos jornalistas. Feio, duro e obeso, Tim tinha uma dificuldade crônica para encontrar namoradas - aliás um problema que se arrastaria pelo resto de sua vida e o faria sofrer demais. O tal apartamento era um entre e sai de garotas e o pobre Tim tinha que se contentar ficar ouvindo a festa rolando nos quartos ao lado. Foi numa dessas noites solitárias, ele escreveu Azul da Cor do Mar.

Muito se fala sobre o fato de o artista compor melhor em fases de sofrimento. E nesse caso foi a mais pura verdade. Naquela triste madrugada do natal que percebi a grandeza contida na letra dessa música. Quando se aprende o ensinamento contido em suas frases, você passa a encarar a vida de outra forma. Você cresce, você amadurece, você se humaniza, você se ilumina.

Não quero me fazer de vítima, mas assim como o Tim, aprendi da pior forma possível. E o agradeço por ter contribuído por aquela viagem de táxi ter, não só ter me feito chegado às lágrimas para ter forças para enterrar meu pai, em pleno dia de natal, com certa dignidade, mas também ter mudado a minha forma de encarar a vida.

Todo mundo tem "a música da sua vida". Me diz aí qual é a sua.

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