Está prestes a completar meio século, o programa de notícias policiais mais famoso do rádio carioca:
A Patrulha da Cidade, que vai ao ar de segunda a sábado, do meio dia às 13h, na Rádio Tupi.
O programa, que foi ao ar em 02 de janeiro de 1960, criado pelo jornalista Afonso Soares, acabou provocando uma revolução no jeito de se passar a notícia radiofônicamente.
A grande novidade surgiu através de um fato ocasional e bem carioca. Uma noite, Samuel estava batendo papo e tomando umas geladas com o amigo e também jornalista, Nelson Batinga, em um boteco no subúrbio do Méier, quando de repente, rolou uma briga. Dois caras se pegaram no tapa. E assistindo o fato de longe, Batinga teve a idéia de reproduzir o fato em forma de rádio-teatro, transcrevendo até mesmo as gírias e expressões corriqueiras usadas nas ruas. "Assim como tem num jornal a fotografia que fala mais do que palavras, e é a imagem contundente do ocorrido, a Patrulha vai levar das ruas ao microfone e nele com os nossos astros a você em sua casa as ocorrências policiais em pinceladas duras e vivas. ", justificou Batinga a sua idéia.
A partir dali, mudava a forma de se fazer rádio jornalismo. A partir de então, puta passou a falar como puta; bêbado, como bêbado; bandido, como bandido; gay, como gay; traveco, como traveco; policial, como policial e assim por diante. Quando eu escrevia o meu romance A Arte de Odiar, recorri algumas vezes a este impagável programa. Depois de ter trabalhado como policial, eu sabia muito bem como a malandragem falava, mas precisava me atualizar.
E a partir dali, A Patrulha da Cidade nunca mais deixou de ser líder de audiência em seu horário. Mesmo sendo acusada, durante a ditadura militar, como incentivadora do esquadrão da morte. Mesmo sendo acusada de fazer piada com a desgraça alheia. Mesmo sendo acusada de preconceito religioso, sexual e econômico. Curisosamente, as camadas mais baixas da população fazem parte da grande maioria de ouvintes da Patrulha. Como se o povo gostasse de rir da própria desgraça.
O aumento da criminalidade fez com que até mesmo os seus críticos fossem se rendendo ao talento e a originalidade do grupo, que através de esquetes curtíssimas, tentavam amenizar a tragédia cotidiana de uma cidade que via a vida humana valer cada vez menos.
A Patrulha da Cidade bem que poderia ser uma versão pré-histórica dos podcasts de hoje.
No decorrer dos anos, os apresentadores e o elenco de atores foi mudando e hoje é composto pela galera lá de cima. Da esquerda para a direita: o jornalista e comunicador Coelho Lima, os atores Marcos Veras, Maurício Manfrini e Simone Molina; o também comunicador Garcia Duarte e a atriz Cordélia Santos.
Para saber mais da história deste programa, ouvi-lo e ver com como são feitas as gravações, é só mergulhar aqui.
Agora, se quiser ouvir um trecho curtíssimo de um dos casos mostrados no programa, é só clicar no player na barra ao lado. É a história de um cara apaixonado por uma gartota, no subúrbio carioca. Só que a garota também gostava de garotas. E deu aquela M. A gravação foi feita ainda na época em que A Patrulha era comandada pelos saudosos Samuel Correa e Juarez Retirana. Imperdível!
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