quarta-feira, outubro 31, 2007

Da Bandidagem Pobre à Tropa de Elite


Há dois sábados atrás, estive no ensaio da minha querida Mangueira. Era noite da escolha de samba e já viu...quadra lotada, alguns famosos, calor e expectativa. Com o dia já clareando foi anunciado o vencedor dos quatro sambas concorrentes. Eram dois mediocres, um bom e um excelente. Ganhou o bom. Voltei para casa decepcionado.


No dia seguinte, a surpresa: soube através dos jornais que um dos compositores do samba vencedor era um tal de Tuchinha, que cumpria pena por tráfico e estava em liberdade condicional.
Imediatamente muitas vozes foram ouvidas dizendo: "Mas que preconceito! Só porque o cara é marginal não poderia ganhar?" Claro que poderia. Mas isso me fez lembrar do olhar complascente que a muitos brasileiros costuma ter com os que estão a margem da sociedade.


Não sei como isso começou, não sei se foi sempre assim. Mas vou partir dos anos 60, quando uma geração idealista acreditava que os marginais eram pobres criaturas que estavam no crime por falta de oportunidade. Em muitos casos, isso é uma verdade. Mas o que nem sempre se tem em mente é que o dificuldades financeiras não justificam o crime.


A foto lá de cima mostra o painel pintado pelo saudoso artista plático Hélio Oiticica, um dos baluartes do movimento tropicalista. Ele é uma homenagem ao Cara de Cavalo, um ladrãozinho medíocre, que assaltava na calada da noite e roubava marmita de trabalhador. O Cara teve a sorte de matar o inspetor Le Cocq, um dos criadores do Esquadrão da Morte. Isso aconteceu em 1964, logo após a Revolução e a esquerda festejou o fato, promovendo o bandido a herói.


Cara de Cavalo foi morto com dezenas de tiros por policiais civis que haviam jurado vingança. Hélio fez Bólide 18-B-331 - o painel da foto - em homenagem a ele. Quando Gil e Caetano foram presos na boate Sucata, no Rio, em dezembro de 1968, dias após a decretação do AI-5, a obra estava decorando uma das paredes da casa de espetáculos, exibindo como uma bandeira contra a repressão policial e, logo, contra o governo militar.


E assim foi durante anos. A obra de Oiticica foi esquecida, mas o idealimso contido nela permaneceu. O governo militar se foi, a esquerda assumiu o poder. Leonel Brizola foi eleito governador do Rio, em 1982, instalando o que chamou de "socialismo moreno", desaparelhando a polícia, impedindo incursões em morros e punindo severamente policiais acusados de atos violentos. O, então, delegado, e hoje deputado estadual Sivuca, foi quase linchado pela esquerda quando disse em uma entrevista a sua famosa frase: "Bandido bom é bandido morto." O mal que Brizola fez à polícia carioca até hoje é sentido. Justamente quando a primeira grande facção criminosa do estado, Comando Vermelho, crescia e bandidos perigosos como Escadinha desafiavam a polícia, o governador cortou verbas destinadas a segurança, o que fez com que tanto a civil quanto a militar se transformassem em policias de fantoche, anos luz atrás da bandidagem em ternos de poderio de fogo. Um retrocesso que até hoje não conseguimos reverter.


Mas foi justamente por aí que a coisa começou a mudar. Acho que, antes da revolução tecnológica, o mundo está vivendo hoje uma transformação moral e ideológica que há muito tempo não se via. O que parecia ser certo, justo e bonito no passado, está sendo revisto. E parece que todas as tolices pregadas nos anos 60 finalmente estão começando a desmoronar.


Quando vi o presidente Lula declarar "que a polícia não pode receber os bandidos com flores", referindo-se a participação da Força Nacional, criada em seu governo, em ações violentas, em conjunto com a PM carioca, quase dei uma gargalhada. E quando vejo o sucesso de Tropa de Elite nos cinemas, cada vez mais entendo que times they are changin´, como dizia Bob Dylan, justamente nos inocentes anos 60, que estão começando a desabar.
Voltando ao ensaio da Mangueira, Tuchinha é um bom compositor, mas estando em liberdade condicional, não poderia estar às cinco da manhã defendendo um samba em lugar público. Isso é fato. Como é fato também que uma polícia que está em guerra, não pode colocar em primeiro lugar os direitos humanos. Guerra é guerra. Tráfico de drogas e violência urbana existe em Recife, em Salvador, em São Paulo, em Porto Alegre, em Buenos Aires, em Los Angeles, em Paris, em Londres, em Nova Iorque ou em Roma. No Rio, existe guerra.


Nossa polícia não é santa e tem que ser fiscalizada para que não cometa excessos. Bandido merece justiça e não bala. BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO...DE MEDO DA POLÍCIA. E absurdos como os Esquadrões da Morte são tão nocissos quanto a idiotice do "socialimsmo moreno", porque afasta a opinião pública da polícia e Tropa de Elite veio mostrar o quanto isso é importante.


Moro no bairro do Flamengo e quando vou dar as minhas pedaladas pelo Parque, freqüentemente os homens do BOPE, cujo quartel fica há uns cinco quilômetros de onde moro, estão fazendo sua corrida matinal. Não é muito raro alguém bater palmas e gritar-lhes palavras de encorajamento. Por quê? Volte ao início e leia tudo de novo.



Povo na Mangueira festejando o samba vencedor, composto por um condenado em liberdade condicional.



Eu e o Antônio Parente, meu amigo de samba, horas antes da decepção na Mangueira.

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segunda-feira, outubro 29, 2007

Bebês X Criminalidade

Foto by Sick Love



Ainda está dando o que falar as declarações do governador do Rio, Sérgio Cabral, na última semana. O que o excelentíssimo governador falou? Simplesmente o que venho pregando há mais de dez anos: a necessidade do controle da natalidade. Quem costuma levar bala aqui há mais tempo sabe que não estou mentindo. Cheguei até a propor uma campanha do tipo FILHO É PRA QUEM PODE. Em algum ponto de 2006 eu fiz um post sobre o assunto, que gerou uma polêmica danada.
Já durante a campanha eleitoral, o atual governador fluminense já havia batido nessa tecla, mas como não costumo dar crédito ao que os políticos dizem nas campanhas, ignorei. Pois eis que na semana passada, numa entrevista Sérgio Cabral soltou a pérola de que para se combater a violência no estado seria necessário se conter a natalidade nas regiões pobres. Sérgio foi mais longe e confessou ser a favor do aborto para conter o avanço da população miserável. Também sou a favor do aborto, mas não o usaria como arma contra a violência. Mas entendo o que o governador quis dizer. Ele, na verdade, pensa exatamente como já coloquei aqui: o combate da violência passa obrigatoriamente pelo controle da natalidade.


O presidente da OAB/Rio achou um absurdo, apesar de ser a favor do aborto como controle da natalidade. O prefeito Cesar Maia disse que Cabral não deveria ser levado a sério. Por quê? Por que quando alguém diz uma coisa tão lúcida é visto como absurdo ou piada? Talvez o presidente da OAB esteja defendendo o ganha-pão dos seus filiados, que irão amanhã tentar tirar das grades os futuros traficantes, arrombadores, puxadores de carro, assaltantes, estupradores ou seqüestradores que essas mulheres pobres estão gerando hoje. Talvez o prefeito esteja defendendo o seu projeto de reeleição, já que o pessoal das favelas compõem a larga maioria dos seus eleitores. Mas Cabral é um político e a pressão foi tão grande que dias mais tarde ele meio que amarelou e disse que "não sou a favor do aborto, mas para combater a violência defendo a pratica do mesmo."


A verdade é que não há futuro para essas crianças. Já está difícil para a classe média! O país não está crescendo com a mesma velocidade com a qual esses casais de baixa renda estão indo pra cama, sem tomar nenhuma precaução. Basta ir a um baile funk numa favela para ver meninas transando, muitas vezes, até com três caras numa noite. Assim, nunca haverá escola, hospital, moradia, segurança e emprego suficiente.


Não concorda? Mande bala.

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sexta-feira, outubro 26, 2007

O amor é lindo

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terça-feira, outubro 23, 2007

Sua vaca!!!!!!!!!

Vila dos Remédios - Fernando de Noronha


Muito cuidado quando tentar ofender uma mulher com o título deste post, pois o efeito pode ser contrário. Isso depois que a exposição Cow Parade espalhou cerca de cem esculturas do mamífero em fibra de vidro pela cidade.
E há algumas semanas o Rio esqueceu seus problemas para curtir as vaquinhas espalhadas de norte a sul. Pais fotografando seus filhos, turistas maravilhados, gente colecionando fotos, jornais promovendo concursos para eleger a melhor vaca e cariocas apaixonados pelos trabalhos de vários artistas, que já foram expostos em 37 países. Numa cidade violenta e mal educada, como era de se esperar, algumas vaquinhas foram abatidas em combate, mas até que o número de vítimas não foi tão maior quanto nas cidades por onde a parada passou.

O Rio está apaixonado pelas mimosas, que parecem já integradas à paisagem da cidade. E ao ver tamanha demonstração de afeto e civilidade em relação aos trabalhos, chego até a pensar que esta cidade tem salvação.

E hoje pela manhã até eu não resisti em clicar uma mimosa. Algumas vacas passaram pela minha vida. Mas nenhuma foi tão thcuthcuca.

Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Vaca no meio do povo, na Cinelândia.

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domingo, outubro 21, 2007

Há certos momentos na vida que...


Por motivos particulares, precisei ir a Porto Alegre neste findi. E quem freqüenta este blog a mais tempo sabe do meu amor por certas cidades, além da minha. POA é uma delas.
Pra começar, admiro muito o povo gaucho pelo seu jeito festeiro, por não dispensarem um bom bate-papo e sua capacidade de celebrar o ato de estar vivo.
Porto Alegre não é uma cidade turística. Não tem belas praias, nem lindas montanhas e nem cartões-postais famosos, mas tem o Guaíba, por exemplo, onde o povo vai nos finais de tarde para celebrar o por-de-sol como se fosse o último. Uma espécie de Arpoador gaucho.

O lance rola na área do antigo prédio do Gasômetro, que foi totalmente reformado. Ao lado, nos antigos armazens do porto, mal utilizados no passado, agora acontecem diversos eventos que deram muito mais vida ao local. Se lembra do que já falei aqui sobre o que Buenos Aires, Boston, New York e Recife fizeram com as suas áreas portuárias? Pois é.


Mais incrível foi o que a cidade fez com o seu mercado municipal. Outras cidades também transformaram os seus mercados em points gastronômicos (São Paulo, Los Angeles), mas o de POA é só charme. Entre frutas, legumes e lojinhas simpáticas, bares e restaurantes simples, mas interessantes. Sugiro o Naval, que funciona ali desde 1907.
O Mercado Municipal de Porto Alegre é um exemplo de como um lugar público, se bem utilizado, pode fazer muito mais para o seu povo.




Que o digam a muvuca que se reune no entorno do Mercado nas noites de sexta para fazer o seu happy hour.
Aliás, por falar de lugares interessantes em POA, aí vão três dicas de lugares que gosto muito:
* Depois de almoçar no Mercado, que tal passar uma tarde dando uma volta pelo bairro Moinho de Ventos, principalmente pela Padre Chagas, cheia de cafés, bistrôs e bares elegantes. Percebe-se uma certa pretensão do local em chegar a um nível de Parlemo, em Buenos Aires, ou no Soho novaiorquino. Mas apesar de precisar comer ainda muito feijão com arroz - digamos que está no nível de uma Garcia D´ávila, aqui no Rio - vale a pena conhecer.
* A Cidade Baixa é o point dos agitos noturnos. A maioria dos bares, restaurantes e boates fica na região da rua da República e da General Lima e Silva. E também neste shopping aí em cima, point da galera cult, cool e moderna. Há uma pizzaria muito simpática, Torre de Pizza, onde é legal, ficar sentado e observar o movimento. O clima lembra a Vila Madalena em São Paulo, ou o Leblon ou a Barra, no Rio.
*Para o almoço, sugiro a Barranco, a churrascaria mais badalada da cidade, onde a classe média vai tirar a barriga da miséria. O mais interessante é que a casa tem também uma área externa, onde as mesas são espalhadas em uma espécie de pequeno bosque, dando ao almoço um clima de "churrasco de família na casa da titia", quebrando a mesmice dos ambientes enfumaçados e barulhentos das outras churrascarias. Mas se for nos finais de semana, como eu fui, vai enfrentar filas e garçons estressados. Nada que abale a imagem do lugar, pois o único que parecia não estar estressado, era o boi antes de morrer, pois a carne tinha a grife gaucha.
Enfim, como eu ia dizendo, há certos momentos na vida que a gente percebe que a gente só levará mesmo os momentos gosotos que vivemos. POA e os gauchos sempre me lembram disso. Por isso, sempre volto. Para nunca esquecer.

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terça-feira, outubro 16, 2007

Que povo é esse?


Imperdível o artigo de capa da Época que está nas bancas. O assunto ainda é o assalto sofrido pelo apresentador Luciano Hulck, em São Paulo, no qual um relógio rolex foi levado. Pois uma pesquisa feita logo após o incidente mostrou que a maioria dos entrevistados achavam que Hulck foi culpado por andar com objeto tão caro num país pobre, que era um absurdo se ter um rolex num país com tanta miséria, que era uma provocação ostentar tanto, etc e tal.
Mas que povo é esse que é capaz de eleger políticos que promovem verdadeiro saque, verdadeiros arrastões na verba pública e condena um trabalhador bem sucedido de usar o fruto do seu sucesso?
Já está mais do que na hora deste país fazer uma auto-avaliação e ver onde está o seu verdadeiro inimigo.

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segunda-feira, outubro 15, 2007

O MP3 não morreu

Foto by Cantabrigensis


Iniciei o meu contato com a web em 1999. E me lembro como, logo depois, o mundo assombrou-se (e varavilhou-se) com o Napster, onde se podia baixar livremente qualquer tipo de música gratuitamente. Naturalmente foi uma revolução no meio musical. As gravadoras e alguns artistas não gostaram, o Napster e outros sites de compartilhamento de músicas do tipo MP3 foram parar na justiça nos EUA e MP3 grátis começou ser coisa rara. Mesmo porque os americanos passaram a ficar com medo, quando as primeiras sentenças judiciais começaram a chegar nas casas, não dos donos dos sites, mas dos usuários. Na semana passada, por exemplo, uma muher foi condenada a pagar mais de 100 mil dólares por ter baixado mais de mil músicas. E segundo a Recording Industry Assossiation of America - a temida RIAA - , outras 29 mil pessoas deverão receber a mesma sentença nos próximos meses.
Mas ainda o MP3 ainda resiste bravamente. O Digitalachemy ofereceu uma lista de dez sites que ainda oferecem este serviço. Eu não tenho saco e nem tempo para ficar procurando música na web, mas quem estiver interessado, mergulhe aqui.

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quinta-feira, outubro 11, 2007

A arte de levar porrada

Numa cena do filme Eu, Christiane F., drogada e prostituída, sobre o drama de uma adolescente alemã que mergulha no mundo das drogas, ela está numa estação de metrô com uma amiga. Amanhecia e elas haviam acabado de deixar uma discoteca, onde o uso de drogas pesadas era total. Ambas haviam dito as suas respectivas mães que dormiriam na casa da outra. De repente um trem pára na estação. A mãe da amiga, que trabalhava à noite, salta e depara com a filha. Diante de uma Christiane F. perplexa, a mãe esbofeteia a sua amiga e a leva embora, depois de pedir que Christiane não a procurasse mais. Em off, a própria Christiane admite que aqueles tapas salvaram a amiga do mar de lama que ela cairia logo depois.
Há realmente porradas que vem para o nosso bem. E ontem levei uma.
Pela primeira vez, desde que criei este blog, há mais de dois anos, fui obrigado a passar cerol, digo, deletar um post. E por um vacilo meu. Sem ter o assistido, eu havia colocado que estava preocupado com as fotos e algumas cenas do filme Tropa de Elite - campeão de bilheteria desde a última sexta-feira aqui no Rio - em que mostrava certos exageros na atuação do Wagner Moura, na pele do Capitão Guimarães, o personagem principal. Eu temia que isso pudesse prejudicar o filme. Retiro tudo que eu disse e me sinto feliz ao escrever isso, pois parece que o cinema brasileiro vem mesmo encontrando o seu caminho. Tropa de Elite, como críticos e muitos blogueiros vem dizendo, é o melhor filme nacional dos últimos anos.


Para falar a verdade, eu não estava levando muita fé. Eu esperava um misto de violência gratuita com socialismo barato, cenas de heroísmo patético e clichês à rodo. Mas quebrei a cara feio. Graças à Deus. O que vi na tela, na tarde desta quinta-feira, foram 118 minutos de roteiro de primeira, ótimas atuações - embora haja, em nos momentos mais tensos - algumas caras e bocas - nenhuma pieguice, diálogos bem feitos, cenas visualmente impactantes e ação na medida certa, embora haja cenas de violência um pouco desnecessária. É isso o que dá confiar apenas em trailers e fotos.

Vi em Tropa a mesma qualidade e os atributos do que o cultuado Cidade de Deus, com menos sofisticação. Só que o longa do José Padilha vai mais longe e chega a ser obrigatório. Obrigatório para todos os cidadãos de bem que reclamam da violência, sobretudo no Rio. Ou seja, a grande maioria dos cariocas. Para todos aqueles que perguntam porque as autoridades não dão um basta na violência carioca, a resposta está ali. Dura, crua, sem rodeios.
Tanto o Cidade quanto o Tropa foram baseados em best-sellers. Não li nenhum dos dois. No caso do último muita coisa retratada não era de todo novidade pra mim, devido ao meu passado de policial. Fico imaginando o impacto dessas informações ao chegarem ao leigo.
O assunto violência urbana já é em si pesado. Mas quando é tratado com tanta realidade e frieza é uma porrada feia. Tropa de Elite não é um filme bonito de se ver. Mas é necessário. Eu e as pessoas na platéia fomos esbofeteados e precisávamos disso. Porque o filme não tenta procurar culpados entre bandidos e nem entre os policiais. Ele nem propõe um solução. Mostra apenas que há um sistema e que as coisas não funcionam devido a sua existência. E que nós somos os culpados por não fazermos nada para mudá-lo. Na verdade é porrada para todo lado. Para os políticos, para a polícia, para os usuários de drogas, para ONGS, para as passeatas pela paz, para a classe média e, literalmente, até o Papa. Porrada dura e necessária. Fico imaginando quando Tropa de Elite começar a viajar pelo mundo, mostrando o tal sistema. E é fácil entender as pressões que a fita tem sofrido, principalmente dentro da polícia carioca.
O impacto do filme na platéia é tão grande, que na seção em que eu estava na tarde de hoje, quando as luzes se ascenderam, ninguém se levantou. Algumas pessoas até esboçaram palmas tímidas. Puro nervosismo. É como se todos dissessem: "Meu Deus! Lá fora tem um esse mundo sujo e corrompido e nenhuma tropa de elite para me proteger. E agora?" Nessa hora me lembrei de uma entrevista da ex-ministra de economia do governo Collor, a Zélia, que disse: "Para os políticos o povo sempre foi um detalhe."
Quanto ao filme, depois de levar - merecidadmente - tanta porrada, só tenho que pedir desculpas e que esqueçam o post anterior. Ele já foi pra vala, digo, para o espaço.



Mas meu amor, vista-se passando um email para juliocorrea19@gmail.com. Só vinte realizinhos.

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domingo, outubro 07, 2007

A solidão da velha senhora - e de todos nós

Foto by Love Like Blue



"A mulher apareceu, caminhando lenta, apoiada em uma bengala e no porteiro. Sorria um sorriso artificial. Era bem idosa. Usava bijuterias baratas. Usava também uma espécie de túnica oriental, exótica, amarelada pelo tempo, e chinelinhos dourados com enfeites de pelúcia nas pontas. Coisas antigas, decadência e velharias.
“Demorei muito, meu querido?”, ela perguntou.
“Não”, mentiu o homem. “Você foi pontual, como sempre. Vamos?”
Atravessaram as pistas da avenida com dificuldade. Como sempre fazia, o homem segurava a mão da mulher, erguendo-a no alto, como se fosse um cavalheiro ajudando uma dama a descer do carro ou um príncipe tirando a bela princesa para dançar a valsa. Bondade, gentilezas; coisas antigas, velharias. Preocupado, o homem fazia sinal para que os carros parassem. A mulher não via a tensão no homem. E pensava que os carros paravam por causa dela."



Trecho do meu conto Caridade, do meu próximo best seller Crimes & Perversões.
Dessa vez é o formato papel. Quem estiver interessado mande bala para juliocorrea19@gmail.com
As férias acabaram e este blog voltará a ser sério. Nos próximos posts mais detalhes e mais trechos.

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segunda-feira, outubro 01, 2007

Vocês pensaram que as férias tinham acabado?

Noronha

Este é o lugar onde a natureza é a estrela e somos apenas reles figurantes. Clique na foto para ampliá-la e viajar plenamente.
Deve exisitr. Mas não conheço lugar onde o por do sol seja mais lindo.
Essa foi a terceira vez que estive em Noronha e ainda sou tocado emocionalmente pelo que vejo.

Fiquei hospedado na Colina dos Ventos, uma pousada que recomendo a todos que visitarem este paraíso. Como o próprio nome diz, fica no alto de uma colina com uma vista...!!!!

Não há estresse que resita a isso.
Praia de Atalaia e suas piscinas naturais protegidas pelo IBAMA. O acesso é muito restrito e há hora de visitação. Por isso só fui conhecê-la nessa viagem.

Gosto de Noronha em setembro. É uma época ótima para mergulho. Esses aí são os Dois Irmãos, na Praia da Caçimba do Padre. Nessa época ela está light, as ondas estão chegando na outra parte da ilha. Aliás, em Noronha acontece algo engraçado. A partir de dezembro, a corrente muda e as ondas começam a açoitar essa praia de forma violenta. É quando os surfistas chegam em bando. Na segunda vez em que estive em Noronha, rolava um campeonato com ondas de cinco metros. Inacreditável como as prais se transformam de uma época do ano para outra.

As ruinas do Forte da Vila dos Remédios também é um local que visito sempre que vou a Noronha. É fantástico e tem uma vista deslumbrante.


Infelizmnte o lugar está mais para ruinas do que para forte devido ao descaso do governo pernambucano.

A Praia do Sancho foi eleita em 2002 pela Revista Travel como a praia mais bonita do mundo. Não conheço o mundo todo, portanto não posso concordar ou discordar. Mas que é bonita, isso é. É lá que gosto de mergulhar. Me sinto seguro entre arraias e tartarugas marinhas. Tubarões também não são raros. Mas perto de certos seres humanos que tenho conhecido, eles são infinitamente menos assustadores.

A Praia do Leão é a minha favorita. Deveria se chamar Praia do Tubarão, pois já vi vários circulando por ali. Trata-se de local de desova de tartarugas marinhas e eles vão atrás das pobrezinhas. Apesar de sua beleza, é um lugar sinistro. Perigoso, cheio de correntezas e valas traiçoeiras. Nem os surfistas se arriscam ali. O primeiro sentimento que chega quando você pisa em sua areia fofa é o de não entrar. Mas gosto da sua atmosfera misteriosa. Afinal gosto de romances policiais. Ai, essa foi terrível!!!

Noronha é um lugar para quem não foge da arraia. Essa também foi horrível!
Infelizmente Noronha está no Brasil e todos os anos o pessoal do IBAMA promove um mergulho coletivo para recolher o lixo jogado no fundo do mar da ilha. Uma parte dos destroços são reciclados e transformados em obras de arte que são expostos ao ar livre, junto ao porto. Outros objetos são expostos para que os turistas vejam o absurdo e se conscientizem da necesidade de se tratar a natureza com carinho. Eu disse absurdo porque vocês não acreditariam no que é retirado do mar todos os anos.

Quando digo que vocês não acreditariam não estou brincando.


Toda beleza é fugaz e se não houver preservação, belezas como as praias Do Meio e da Conceição, não ficarão mais tão belas.
Afinald de contas, Noronha merece. Não merece?
Itamaracá


Deixei Noronha e fui para outro paraíso do qual gosto muito. Em frente a essa ilha, no litoral norte pernambucano, existe uma pequena ilhota, conhecida - não faço a menor idéia da razão - por Coroa do Avião. E é lá que gosto de relaxar. Infelizemente o lugar vem já está sentindo os efeitos do aquecimento global e vem sumindo. Na foto pode-se ver os restos mortais de um coqueiro levado pelas águas, enquanto outro mais a diante já está prestes a sofrer o mesmo dano. Portanto, se quiserem conhecer a Coroa, corram!

Gosto de caminhar por este braço de areia, onde só se ouve as ondas e o vento.

Dependendo da maré. O braço pode ser longo e se extender por quilômetros.


De lá se avista o Forte Orange, em Itamaracá.
Recife

Recife é a capital nordestino de que mais gosto. Principalmente o seu Centro, onde fica a Igreja de São Pedro. Na praça em frente, conhecida por Pátio de São Pedro, há um animado happy hour, com música ao vivo e barraquinhas vendendo de tudo. O governo pernambucano não tem cuidado muito deste patrimônio e o Centro de Recife tem sofrido bastante. É uma pena!



É no Centro que fica o Leite, restaurante tradicional, fundado em 1882. A comida é inesquecível e a música tocada ao piano, é um mimo para os ouvidos cansados do barulho da região. O local é freqüentado por políticos, jornalistas, juízes, desembargadores e membros da alta sociedade. Mas não é caro. Com minha camiseta surrada, minha bermuda cargo e minhas sandálias velhas-de-guerra, choquei um pouco, mas valeu a pena conhecer este lugar incrível!

O Leite foi dica do Ricardo Freire, do Viage na Viagem (link ao lado). E foi uma das preciosidades que nenhum guia de viagem ensina e só se consegue no mundo encantado dos blogs. Como a área em que o restaurante se encontra está muito abandonada, quem quiser conhecer que corra, pois nesse país nunca se deve deixar para depois o que devemos conhecer agora.

O governo pernambucano não está muito bem no meu conceito, depois que vi o descaso com que tem tratado o Centro da minha querida Recife. Mas devo admitir que sua sede é muito bonita.

Aliás o Centro de Recife não é muito visitado pelos turistas que preferem ficar nas praias. É uma pena, pois tem lugares interessantes e charmosos...



...que mereciam ser vistos.


E o local mais interessante no momento, para mim, é o Paço da Alfândega. Seguindo uma tendência mundial, (se lembram do que falei sobre Buenos Aires, Boston e Nova Iorque?) aqui, um antigos armazem portuário foi transformado em um um shopping voltado para tudo o que é alternativo. Com a exceção da praça de alimentação, que é igual a qualquer outra. Lojas muito hypes e fashion ficam lado a lado com restaurante badalados como o Assucar e o Cuba do Capibaribe.

Passar uma tarde no Paço é uma delícia. Tomar um café, quem sabe fazer umas comprinhas ou apenas ver uma exposição. E tudo isso num ex-armazem do cais do porto.


Localizado às margens do Capibaribe, também é gostoso se sentar ali em frente ao Paço e na beira do rio para assistir a tarde morrer. Não há estresse que resista.
Acabou Chorare


Relaxando na Boa Viagem, enquanto as férias não acabam.
Amanhã esse blog voltará ao normal.
Colocarei mais fotos no Flickr.
Abraços.

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