Sempre achei que os cinemas deveriam ter uma antisala, onde os espectadores pudessem deixar suas convicções, verdades, dogmas, crenças e etc.
Por exemplo: para se assistir
Mamma Mia!, se deveria deixar o mau humor, a seriedade e todos os problemas pendurados nessa sala, assim como para assistir
Casablanca, se deveria deixar a falta de romantismo.
Sempre admirei o
Sean Penn como ator. Para mim, ele estava na galeria dos
bad boys do cinema norte-americano, ao lado de
Al Pacino,
James Dean,
Clint Eastwood,
De Niro, etc. Por isso, ao saber que um dos grandes machões de Hollywood, o machão que teve a coragem de dar um pontapé na bunda da Madonna, nos anos 80, iria interpretar não apenas um gay, mas um ativista gay, em
Milk - A voz da igualdade, minha curiosidade foi aguçada.
Pois bem, na terça-feira de carnaval fomos ao cinema assitir a
Quem quer ser um milionário?(Slumdog Milionaire). Mas parece que todo o Rio de Janeiro teve a mesma ideia e as filas estavam maiores do que as dos banheiros do Sambódromo. Então, decidi matar a minha curiosidade.
E não me arrependi. Foi um prazer encontrar um
Sean Penn irreconhecível, interpretando sem exageros, um dos personagens mais controvertidos da história americana: o ativista gay
Harvey Milk, assassinado dentro da prefeitura de San Francisco, assim como o próprio prefeito, em 1978. O assassino, um ex-funcionário que havia acabado de ser demitido. Punição pelas duas mortes: quatro anos de prisão!!!! Tal absurdo demorou demais para virar filme. Talvez pelo já tradicional preconceito que sempre imperou em Hollywood.
Mas a mesma Hollywood parece que quis reparar o erro ao premiar a produção com dois oscar, ator e roteiro. Quanto ao roteiro, vi poucos dos concorrentes, mas achei o roteiro de
VickyCristina Barcelona, mais interessante. Mas o trabalho do roteirista
Dustin Lance Black e do diretor
Gus Van Sant, passa muito longe da mediocridade. Logo nas primeiras cenas, você já sente que está prestes a assistir um grande filme.
Milk começa mostrando cenas reais de batidas policiais em bares gays nas décadas de 50 e 60, época em que a polícia promovia verdadeiros arrastões nestes locais, que geralmente funcionavam em pontos clandestinos e controlados pela máfia. Foi a época em que um cidadão poderia ter vida ou carreira arrasada somente pela suspeita de ser gay. Um período em que o cara só tinha duas opções: ser macho ou ser preso.
Essa apresentação serve para justificar
Harvey Milk e sua militância, até ser nomeado para trabalhar na prefeitura de San Francisco. E lá encontrar
Dan White (o excelente Josh Brolin), seu incompetente opositor, que acaba demitido e se vinga com tiros à queima-roupa.
Penn consegue levar muito bem o papel, mantendo o mesmo carisma do ativista gay - embora o mesmo não possa ser dito de outros companheiros seus. Nós nos simpatizamos com ele, torcemos por ele, ficamos tristes com o seu assassinato. Isso se você deixar o preconceito na anti-sala. Conseguimos até morrer de rir de cenas como aquela em que ele se confronta na tv com um pastor moralista.
PASTOR: "Eu condeno vocês, gays. Por que praticam sexo e não conseguem se reproduzir."HARVEY: "Mas Deus sabe como nós tentamos."Esse
Sean Penn, hein...humpf! Nunca me enganou!
Quero dizer, sempre soube que ele é um excelente ator.