Em uma entrevista no final dos anos 70, Caetano declarava que o melhor daquela década teria sido esperar pela seguinte. E uma das coisas mais interessantes que aconteceram no anos 80, no cenário musical, foi a diversidade de sons que tomou conta do mercado. Havia desde os invevitáveis ídolos pré-fabricados com suas roupas esquisitas e cabelos idem (Duran Duran, Madonna, Cindy Lauper, Prince, etc), até sons futuristas (Gary Numan, Laurie Anderson, Thomas Dolby), os que flertavam com os sons da Jamaica (Madness, The Specials, UB40, Steal Pulse, The Police, Selectors), os eletrônicos (New Order, Soft Cell, Cabaret Voltaire) os sons sinistros dos góticos (The Cure, Siouxie and The Banchees, Bauhaus, Sisters of Mercy), os sons líricos (Cocteau Twins, The The, Echo and The Bunnyman, Jesus and Mary Chain), os mais chegados às raízes (Dire Straits, Stray Cats, The Jam, Dexys Midnight Runners), os mais engajados (U2), os new waves (B-52´s, Go Go´s, Devo), os novos sons negros (Afrika Banbata, Planet Patrol, Soul Sonic Force, Grandmaster Flash, MCDC, Imagination) etc.
O problema é que todos os citados acima eram artistas ainda jovens, sem muito crédito perante os críticos. Era preciso que alguém de peso legitimasse o movimento musical sustentados por eles. E o inglês Phil Collins fez isso com o seu primeiro trabalho solo, o Face Value, lançado no Brasil naquele comecinhho de 1981.
A primeira faixa , a enigmática In The Air Tonight, com sua batida quase tribal e seu arranjo futurista, já diz ao que o disco veio. Mas há ainda a dançante Missed it again, a linda You know What I Mean, o reagezinho This Must Be Love e a folk de raiz The Roof is Licking.
Phil Collins, que ainda estava com os Gênesis, legitimava o caldeirão de tendências experimentalismo que seria a marca da década que estava nascendo. E tudo com sofisticação, competência e honestidade. Não que Phil tenha ido fundo como um Siouxie and The Banchees ou com um U2. Mas, se não em todas, na maioria das faixas percebe-se um pedacinho de influencia tirada dos novos sons que a nova geração de roqueiros estava fazendo. Os críticos gostaram e o público amou. Depois disso, todos passaram a levar a música dos anos 80 a sério.
Curiosamente, a faixa que fecha o disco, é Tomorrow Never Knows, que havia sido o mergulho dos Beatles no psicodelismo, movimento musical e cultural que rolava em meados dos anos 60, mas que, no início, era tido apenas como coisa de doidões e alternativos. Quando o álbum Revolver foi lançado com esta canção, foi a benção que gente como Jefferson Airplane e Grateful Dead queria para serem levados a sério. Afinal os Beatles estavam fazendo a mesmo tipo de música que eles.
Sem comparações com o psicodelismo, Phil Collins fez o mais ou menos o mesmo com o seu Face Value. Ele apostou, absorveu todas as novas tendências, deu-lhes uma roupagem mais madura e jogou tudo no seu disco histório.
Em nome do pai, do filho e do espírito santo. Amém. A nova música do anos 80 estava batizada e abençoada.
Infelizmente, Phil não conseguiu manter a qualidade deste Face Value, preferindo o conforto de baladista milionário. Mas a gente perdoa e agradece.
"Obrigado, senhor! Pelo lançamento de mais essa edição do A Arte de Odiar"
Agora é só pedir:
ou no site bagatelas.net