terça-feira, maio 15, 2007

Há 33 anos o samba invadia as coberturas duplex da Vieira Souto

Jorge Ben ou Benjor está de volta, após quase três anos sem lançar um novo trabalho. Em breve, chegarão no mercado quatro CDs e um DVD. O mais interessante deve ser Recuerdos de Asunción 443, um cd com oito músicas inéditas, do tempo em que o cantor era do time da gravadora Som Livre, nos anos 80.
Mas enquanto eu espero, recordo quando o samba deste suburbano de Madureira invadiu as coberturas de luxo do metro quadrado mais caro do Rio. Foi em 1974. Benjor limitava-se a ser apenas Ben e chegava ao ápice de sua carreira que vinha crescendo.
O samba havia surgido formalmente em 1917, quando Donga lançava o primeiro disco do gênero, com o clássico Pelo Telefone. Mas durante muito tempo o preconceito da classe média acho que o batuque fosse coisa de negros vagabundos e a favelados. Para a polícia, era coisa de malandro. Quem paga caro para assistir a um Zeca Pagodinho hoje, não imagina que você poderia ser preso só pelo fato de ter os dedos marcados por calos provocados pelo hábito de tocar cavaquinho. Com isso, os sambistas tinham que usar artifícios como ficar tocando em trens da Central ou em centros de umbanda, para fugir da lei.
Quando, nos fins dos anos 50, um grupo de jovens de classe média, entre uma dose e outra de whisky importado, incorporou ao samba, elementos do jazz, o que era ritimo de marginal passou a ser chique e ganhou o mundo. Mas o samba autêntico continuava maldito.
Por isso, nos contestatóriso anos 60, jovens universitários e/ou ligados ao movimento estudantil desafiaram os seus pais e lançaram a moda de branco ir a ensaios das escolas de samba. E quando Cartola e Dona Zica lançaram o Zicartola, reduto de adoradores do samba, em pleno Centro da Cidade, em 1964, já havia muita garota da zona sul se requebrando. Mesmo assim a classe média carioca ainda se escandalizava ao ver os seus filhos freqüentando antros de negros sambistas.
Ben surgiu em 1963 com um lp chamado Samba Esquema Novo. Nome mais do que apropriado, pois, com muito suíngue, letras que falavam do universo suburbano de onde veio, mas com uma poesia bela e simples, conquistou a garotada que desafia seus pais sambando e também ao povão, que se identificava com aquele rapaz com jeito de quem usa bolsa capanga e joga purrinha em trens da Central. E músicas como Chove chuva, Por causa de você e Mas que nada, tornaram-se clássicos e eram assobiadas nas ruas.
Porém a classe média o achava pretencioso e os críticos desconfiavam da autenticidade daquele samba (...que era misto de maracatu/samba de preto véio...) considerado modernoso.
Mas Jorge Ben seguiu se afirmando a cada disco como um dos maiores astros da MPB. Até que veio o auge, em 1974. Tábua de Esmeraldas não só calou a boca de críticos, dos intelectuais e da classe média zona sul, como entrou para a galeria das obra-primas da nossa música. Poucos discos foram aclamados com tanta unanimidade. "Você já ouviu o último do Ben?", era a pergunta mais ouvida nas festinhas à beira-mar, enquanto arrastava-se os sofás para se dançar O Namorado da Viúva, Minha Teimosia ou Zumbi (nesta última Ben dá uma linda alfinetada com os versos: "...de um lado cana de açucar/do outro lado cafezais/ao centro senhores sentados/vendo a colheita do algodão branco/sendo colhidos por mãos negras...") - músicas que você já deve estar ouvindo - e mais o clássico Os Alquimistas Estão Chegando.
E o que tinha este disco de tão excepcional? Samba autêntico, samba conjugado com vários ritmos - mas sem exagero -, uma poesia espertíssima nas letras, simplicidade e sofisticação na medida, balanço irresistível e criatividade. Finalmente surgia um disco que fazia dançar patroa e empregada.
Com os críticos aos seus pés, Ben chegava a um nível de preciosidade ao qual, infelizmente, ele nunca mais chegou nos trabalhos seguintes. Mas ter ajudado a destruir o preconceito a respeito do ritimo nacional mais querido já foi muito.
E foi assim que o samba invadiu as coberturas duplex da Vieira Souto.
E sem ser anunciado pelo interfone. Provavelmente o porteiro estava sambando.

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A minha teimosia é uma arma/
prá te conquistar/ ...
Putz, que deliciosa lembrança!!

Tem também aquele "Dez anos depois", que ele faz uns pot-pourris deliciosos de suas composições.
Jorge Ben foi um dos melhores acontecimentos na MPB.
Agora, só tem pancadão, né?

terça-feira, maio 15, 2007 3:53:00 PM  
Blogger Milton T said...

Melhor que ele, para mim, só Paulinho da Viola, um cavalheiro do samba!

Boa idéia Julio!

abs

terça-feira, maio 15, 2007 4:13:00 PM  
Blogger Lila Rose said...

A cegonha me deixou em Madureira
De presente para minha mãe Silvia Lenheira

Madureira, ô, ô Madureira, ô, ô
Me deixou numa santa casa barulhenta
Que tremia toda quando o trem passava
Olha o trem
Disseram que eu cheguei com dois quilos e meio
Com dois quilos e meio
O que é que é isso?
Um bebê ou um palito?

Disseram também que eu cheguei sorrindo
E cantando
Em vez de chegar chorando
Acharam estranho

Julio, obrigada pelo post. Você sabe que eu adoro música... ai, ai...Jorge é tudibão!

terça-feira, maio 15, 2007 7:28:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

valeu julio! é isso aí, Jorge Ben na veia. valeu por esse blog-jornalistico de primeira.

por falar nisso, já ouviu o disco do dele com o gil, acho q dos anos 70. tem musicas de quase 14 minutos, muita improvisação, muita zoação e, logico, nem por isso a qualidade fica comprometida. bom pra caramba. acho q nao tem mais em cd, em só uma versão mas cheia de cortes em vinil. mas se tu quiser tem inteirinho no emule. está como xango album. acho q o nome desse disco é xango e ogum album.

como diria: aquele abraço

terça-feira, maio 15, 2007 11:54:00 PM  
Blogger Tiago said...

Muito bom este artigo, o Ben é genial, rei do swing. Este disco é meu preferido, mas também gosto muito do Samba Esquema Novo e do África Brasil.

Pena que há algum tempo ele não nos presenteia com um grande trabalho. O último que tive acesso foi o álbum duplo Acústico MTV, que é um discão, mas de releituras.

Estou curioso pelo que vem de novo por aí.

Alguns caras do Nação Zumbi (Jorge Du Peixe, Lúcio Maia, Djengue e Pupilo) estão com um projeto paralelo, Los Sebozos Postizos, no qual fazem versões de clássicos do Jorge Ben, muito bom.

Abs.

quarta-feira, maio 16, 2007 4:08:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Não sabia que ele está de volta,JULIO.
Otima noticia esta.
Grande abraço!

quinta-feira, maio 17, 2007 12:54:00 PM  
Blogger Vivien Morgato : said...

"Que Maravilhaaaaaa"....;0)

sexta-feira, maio 18, 2007 5:59:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

pra falar a verdade não entendo mt de samba, gosto do som do cavaquinho, mas sou mt duro e não sei sambar, gostei mt de saber um pouco mais da historia do samba, o pouco que sabia era da criação dos desfiles das escolas, qdo li a biografia do Nelson Rodrigues, a concidencia ficou por q no post dessa semana eu e a Claudinha estavamos pesquisando qual samba colocar, pois o post falava de samba só que corriqueiramente, aí acabamos escolhendo chico boarque, que achei interessante tb, acabou q tinha umas 3 musicas mt boa e a escolha foi dificil, não era mt de escutar mpb, mas sou aberto a tudo, então valeu pelo chico e por saber sobre o jorge ben, abraço

http://noelevador.zip.net
http://vidacretina.zip.net

domingo, maio 20, 2007 1:19:00 PM  
Blogger Milton T said...

Julio acertou, passei em frente hoje e estava lotada, mesmo com o fro que fez por aqui.

Boa semana

abs

domingo, maio 20, 2007 7:30:00 PM  
Blogger . fina flor . said...

Ué, seu post acima está sem caixinha de comentários!!!

Achei ridííííídicula a postura do "rei".

beijos e boa semana, dear

MM

segunda-feira, maio 21, 2007 5:08:00 PM  

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