sexta-feira, maio 16, 2008

Lei de Murphy - O Roteiro


FADE OUT

Som: ruído de despertador

FADE IN

Close na minha mão socando o rádio-relógio. Cinco da manhã.

PLANO ABERTO
Me levanto, coçando o saco e caminho para o banheiro. Houve-se ruído de chuva e trovoadas lá fora.

Close na minha cara de alívio ao fazer as minhas necessidades fisiológicas.

PLANO FECHADO


Close em meu dedo apertando a descarga. A descarga funciona, mas não pára.


ZOOM


Close na minha cara apatetada, olhando para a descarga, tentando entender o que está havendo.


ZOOM


Minha mão socando desesperada a descarga.


OFF


O DEMO: E agora, Julio? A descarga não vai parar e a caixa-d´água do prédio vai esvaziar.


CORTE


Eu falando no interfone com o porteiro.


EU: Severino eu não estou conseguindo parar a descarga.


SEVERINO (SONOLENTO. OFF): Já fechou o registro?


EU: Já. Mas não adiantou. Acho que está com defeito. É melhor você fechar o registro desta coluna do prédio.


SEVERINO: Por quê?


EU: Porque vai acabar com a água da caixa do prédio.


SEVERINO: Mas todo mundo também vai ficar sem água se eu fechar o registro.


EU: Mas é só enquanto eu tento dar um jeito nisso. Aliás, você não pode me dar uma ajuda?


SEVERINO: Mas o senhor não quer que eu desligue a bomba?


EU (Tentando ficar calmo): Severino, você está acordado? É pra você desligar a bomba e vir me ajudar.


SEVERINO: Mas...


EU: Estou te esperando!


Desligo o interfone e fico olhando para o aparelho.



OFF
O DEMO: Você acha que ele vai largar a portaria sozinha e vir te ajudar? É ruim!


CORTE.


Volto para o banheiro e ainda tento interromper a descarga.


EU: Claro que ele virá.

Nesse momento a luz se apaga. A casa é iluminada apenas pelos relâmpagos do temporal.

OFF


O DEMO: Ele não virá. Está faltando luz, você mora no último andar e ele não vai subir todos esses andares, mesmo que você tenha dado uma boa caixinha pra ele no último natal.


EU (falando com alguém invisível): Vai pro inferno!!!! (percebi a tolice que havia dito) Vá se fuder!


OFF


O DEMO: Você não acha ilógico mandar se fuder alguém que vive nas trevas?


De repente, ouve-se alguém gritar ao longe:



OFF


VIZINHO: Olha essa descarga! Nós vamos ficar sem água!!!!!



OFF


O DEMO: É a Dona Gertrudes do 901. Ela está preocupada, tensa, nervosa. E você sabe que ela é cardíaca. E se ela tiver um piripaque? E a Luciana, a moça do 1002? Ela acabou de ter um bebê. O que vai acontecer quando ela acordar e não tiver água para fazer a mamadeira para a pobre criança? E o delegado que mora no 804? Quando ele sober que não tem água para tomar banho...


EU: Puta Merda!
Nesse momento, alguém começa a bater na porta.


Close na minha cara de suspense.


Quem será? O síndico? A Dona Gertrudes? O Delegado do 804? O Demo? Ou o porteiro?. Essa história é verídica. Aconteceu comigo mais ou menos assim há umas duas semanas. E se você apostou na última hipótese, esperando um final feliz, releia o título deste post e aguarde o próximo capítulo.

Ah, a música é Kitty with the bent frame, com o maestro Quincy Jones, da trilha sonora do filme Ladrão que rouba ladrão.

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