Plin-Plin!
Você já deve ter assitido àquele anúncio da Oi, no qual o Ronaldinho Gaucho percorre alguns restaurantes de comida internacional e põe o celular para entoar em alto volume a irritante musiquinha-tema da companhia de telefonia móvel para a Copa. A maldita "Oooooooh, sou brasileiroooooô!"
Por si só, o anúnico já seria ridículo. Mas além disso, acho que ele passa uma imagem ruim do nosso povo. O do Fodão, o que tem direito de desrespeitar as culturas de outros países porque somos melhores que eles.
Tá certo que é apenas um comercial de tv. E eu até encararia a coisa dessa forma, se ele não tivesse ido ao ar na mesma época da publicação de uma matéria no excelente jornal Montbläat, do jornalista Frizt Utzeri. A matéria é sobre uma outra matéria publicada pouco antes na Veja, sobre a decadência moral dos brasileiros, tendo como ponto de partida uma pesquisa feita pelo autor da novela Belíssima, Silvio de Abreu.
Como o Montbläat não tem site, vou tomar a liberdade de colocar um trecho dessa preocupante matéria:
“Realizamos uma pesquisa com espectadoras para ver como o público estava absorvendo a trama e constatamos que uma parcela considerável delas já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para elas, fazer o que for necessário para se realizar na vida é o certo. Esse encontro com o público me fez pensar que a moral do país está em frangalhos”.
“As pessoas se mostraram muito mais interessadas nos personagens negativos que nos moralmente corretos. Isso para mim foi uma completa surpresa. Na minha novela anterior. ‘As Filhas da Mãe’, há coisa de cinco anos, o comportamento dos grupos de pesquisa era diferente. Os personagens bons eram os mais queridos. Nessa última pesquisa, eles foram considerados enfadonhos por boa parte das espectadoras. Elas se incomodavam com o fato de a protagonista Júlia ficar sofrendo em vez de se virar e resolver sua vida de forma pragmática. Outro exemplo são as opiniões sobre Alberto, o personagem que não mediu esforços para tirar de seu caminho o Cemil, um bom moço e roubar sua pretendente, Mônica. Alberto fez uma falcatrua para desmanchar o romance do rival. Em qualquer outra novela, isso faria o público automaticamente ficar do lado do mocinho. Mas as donas-de-casa não viram nada de errado na conduta do Alberto. Pelo contrário: ponderaram que, se ele fez aquilo para conquistar um mulherão, tudo bem”.
“O fato de o André ter dado um golpe do baú na Júlia também foi visto com naturalidade. As espectadoras achavam que, se ele precisava de dinheiro, não havia mal em ficar com ela. Colocamos então que o canalha a estava roubando e as espectadoras retrucaram: deixa disso, daqui a pouco eles vão ficar bem. O fato de André ser bonito era suficiente para ganhar o prêmio máximo numa novela, que é ficar com a mocinha. Na mesma pesquisa, colhemos indícios claros de que essa maior tolerância com os desvios de conduta tem tudo a ver com os escândalos recentes da política”.
Estudo desvalorizado
“Numa parte da pesquisa, as espectadoras apontaram com qual personagem se identificavam e a maioria simpatizava com a Júlia, é claro. Mas havia colocações do tipo: ‘Quero ser a Júlia porque aí eu pago mensalão para todo mundo e ninguém me passa a perna’. Olhe que absurdo: a esperteza desonesta foi vista como um valor. O simples fato de o presidente Lula dizer que não sabia de nada e não viu as mazelas trazidas à tona pelas CPIs e pela imprensa basta, as pessoas fingem que acreditam porque acham mais conveniente que fique tudo como está”.
“Sinto dizer que, se as novelas ficaram mais elaboradas, foi pela evolução natural dos autores. Hoje, o problema em relação ao público é o contrário. O nível intelectual do brasileiro de maneira geral está abaixo do que era na década de 60 ou 70, porque as escolas são piores e o estudo já não é valorizado como antigamente. Houve um dia, não custa lembrar, em que cursar a universidade era um objetivo de vida. O valor não é mais fazer alguma coisa que seja dignificante. As pessoas querem é subir na vida, ganhar dinheiro, e dane-se o resto”.
Estudo desvalorizado
“Numa parte da pesquisa, as espectadoras apontaram com qual personagem se identificavam e a maioria simpatizava com a Júlia, é claro. Mas havia colocações do tipo: ‘Quero ser a Júlia porque aí eu pago mensalão para todo mundo e ninguém me passa a perna’. Olhe que absurdo: a esperteza desonesta foi vista como um valor. O simples fato de o presidente Lula dizer que não sabia de nada e não viu as mazelas trazidas à tona pelas CPIs e pela imprensa basta, as pessoas fingem que acreditam porque acham mais conveniente que fique tudo como está”.
“Sinto dizer que, se as novelas ficaram mais elaboradas, foi pela evolução natural dos autores. Hoje, o problema em relação ao público é o contrário. O nível intelectual do brasileiro de maneira geral está abaixo do que era na década de 60 ou 70, porque as escolas são piores e o estudo já não é valorizado como antigamente. Houve um dia, não custa lembrar, em que cursar a universidade era um objetivo de vida. O valor não é mais fazer alguma coisa que seja dignificante. As pessoas querem é subir na vida, ganhar dinheiro, e dane-se o resto”.
Esta matéria do MontBläat é preocupante porque mostra a quantas anda a educação e a moral do nosso povo. Esse país ainda tem algum futuro? Em caso negativo, qual a participação da tv nisso tudo? Essas são as perguntas básicas que as autoridades deveriam estar se fazendo. Isso se as autoridades estivessem mesmo preocupadas com o país.
Quer assinar o Montbläat? Informações em flordolavradio@uol.com.br.
12 Comments:
Eu li esta entrevista e fiquei boquiaberto,JULIO.A verdade é que,cada vez mais,sinto-me fora de época.
Acho que nasci numa era errada. Ou minha educação foi por demais retrógrada. Sei lá.
Grande abraço!!
Júlio, dois pontos que quero salientar aqui: lº tenho uma amiga que diz que determinados comerciais dão a impressão de que são contra o produto (vide seu ex.)Concordo com ela. Esse aí é de doer.
2º não gosto de novelas (embora às vezes seja novelesco, ainda bem que dentro do conceito da literatura), pq me irritam, são estressantes, longas e não passam nada de bom caráter. Geralmente são como está postado no comentário. O vilão, ou aquele que sempre arma barraco é que é o mais popular, agradável para o povão. E depois, vc já percebeu como as novelas são barulhentas, como é o relacionamento pais-filhos? Como dizem coisas desagradáveis? Em como o pobre é esteropitado, riducularizado? Por incrível que pareça, eu estava em PoA em fev, de férias, fui a Paracatu agora em jun, de férias. E ainda está passando esta Belíssima. Qto tempo... Chega, né? Não vou atrapalhar o seu jogo, mas foi bom ter trazido essa matéria. Gostei de ler.
E agora, pode me chamar de chato, mas insisto: leia a crônica do meu amigo, depois comentamos.
Abraços e obrigado.
Júlio, não vejo surpresa nisso. Vc tbém não viu, aposto. A gente sabe que é assim. Aliás, nossa indignação maior é essa. Sabemos que está mudando para pior há muito tempo, a decadência é clara. E fazer o quê? Eu gostaria muito que isso mudasse, muito mesmo.
Beijos.
Desvio de caráter sempre existiu, o que acontece é que a sociedade geralmente é condescendente com quem tem dinheiro, finjindo não ver.
Acho que o que contribui para se gostar de alguém que tem desvio de caráter nas novelas é a construção dos personagens bonzinhos, que nunca vêem nada de mal na ação do ruins, acreditam sempre nas pessoas erradas e caem em qualquer armadilha feitas pelos mauzinhos. É muita ingenuidade, ninguém acredita mais em pessoas assim. Até porque elas acabam sendo injustas com quem realmente gosta e quer o bem delas.
Não me surpreende a pesquisa.
Bjos.
Salve Julio! Tô dando uma expiada aqui nos teus textos. Parabéns! Aproveito pra te convidar pro meu site, que foi ao ar esses dias:
www.leonardodemoraes.com.br
Abração!
nao vi o comercial...mas acho que o Brasil e muito desclassificado nesse item...mas nao sei se nos outros paises a coisa nao e parecida...as pessoas gostam muito mais do Lex do que do Kent..o problema e que no Brasil nao existe punicao ai tudo e permitido...
Que terrível constatação, o normal é levar vantagem, é se dar bem.
Temos como educadores as novelas globais,péssimo exemplo do que é dignidade,honestidade e retidão de carater.
linda noite querido,
beijosssssssssss
FALAR EM FUTEBOL, ACHO QUE ESSAS PROPAGANDAS COMEÇARAM COM A LEI DE GERSON, EM 1970..."LEVAR VANTAGEM EM TUDO"....
Realmente muito preocupante, caro amigo Julio, mas é o reflexo dessa nossa sociedade e do nosso (des)governo. No entanto, assistir ou não novelas ou tv, está no nosso livre arbítrio - desliga-se o aparelho caso não se queira compactuar com essas mazelas. Evidentemente que isso não elimina o problema que está na raiz da sociedade, mas serve para ocupar o tempo com coisas mais úteis, como ler um livro, conversar com a família, brincar com o cachorro, apreciar a natureza, etc. Beijos
Realmente é preocupante...
Não li a revista e não encaro a propaganda como algo negativo. Chamaram Ronaldinho para fazê-la justamente por ser uma pessoa alegre. Além dessa imagem que a veja valorizou tanto, está a alegria que o nosso povo leva para outros países.
Não é querer ser bairrista, mas esse declínio social é mundial. Veja bem como os "gringos" aqui se comportam.
Beijus
Obrigada pela sua visita adorei, e levar bala foi 10 rsrs
bjs e uma otima semana.
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