Cidade Bêbada
Que o Brasil vive em crise, ninguém duvida. Que há algo de muito errado neste país, todo mundo concorda. No entanto, tudo parece incrivelmente bem.
Parece.
Eu não sei das estatísticas, mas, embora tenha me afastado um pouco da noite, nas minhas últimas saídas noturnas, algo me chamou a atenção: as pessoas estão bebendo demais. Isso acontece em todas as faixas etárias, mas o que mais me assusta é que parece que se está começando cada vez mais cedo. E pelos motivos errados. Tá certo que o Rio sempre teve tradição boêmia e um histórico de porres folclóricos. Mas eu sinto que o pessoal está bebendo por uma questão de sobrevivência, apenas para se estar bem.
Também tenho conversado com muitas pessoas que dizem estar bem “quimicamente”. Do Viagra ao Lexotan. Parece que todo mundo está tomando alguma coisa para comer, para não comer, para acordar de manhã, para dormir bem, para não ficar triste, para ter ânimo, etc.
E a cidade onde esse clima de faz de conta é mais evidente é o Rio. Isso porque parece que nós, cariocas, somos obrigados a sermos sempre simpáticos, alegres e de bem com a vida. A mídia nos impôs esta sina. E parece que aceitamos.
Não está nada bem. Vivemos numa cidade decadente que fica em um país que está naufragando e exigem de nós que ainda tenhamos o mesmo sentimento de 40 anos atrás. O que faz a festa dos laboratórios farmacêuticos, dos bares, dos traficantes e dos analistas.
Vá você falar mal do Rio para um carioca. É quase certeza de briga. Até certo ponto isso é compreensível. É a nossa cidade! Mas esse amor cego de “cidadão da cidade maravilhosa” é que nos arruína. Está tudo mal e até quando vamos fingir o contrário? As favelas estão sufocando a cidade num abraço, os serviços vão de mal a pior, as praias estão sujas, as ruas estão imundas, a deterioração dos logradouros é visível, o trânsito é assassino e o problema da população de rua é uma calamidade. Não vou nem falar na violência para não baixar ainda mais a auto-estima. Tenho viajado pelo Brasil e é viajando que percebemos o que está acontecendo. O Rio é uma cidade cheia de ódio. A crueldade da péssima divisão de classes que há neste país grita mais aqui, porque não fica escondida nas periferias. Da praia já dá para vê-la.
Não sei até quando o Rio vai continuar lindo. Só gostaria de saber até quando o carioca vai continuar rindo? Rindo este riso bêbado, drogado e falso que já não engana mais ninguém. Não há nada mais ridículo do que ver gari desnutrido sambando com uma vassoura no Sambódromo e com o tal riso fake diante das câmeras.
Me lembrei do Woody Allen que ama Nova Iorque e já cansou de sacaneá-la, de fazer piada sobre ela e mostrar para o resto do mundo os seus podres. Eu não vejo isso aqui. Há exceções, é claro. Mas geralmente quando se fala no lado negro do Rio não se dá muita ênfase no quanto isso está afetando o cotidiano da cidade. O problema da Cidade de Deus, por exemplo, é da Cidade de Deus.
Admitir os problemas é o primeiro passo para resolvê-los. Aliás, este é o lema dos Alcoólicos Anônimos. Onde esta cidade toda irá parar se continuar a viver essa mentira inventada e mantida pela mídia.
E mande bala!
Parece.
Eu não sei das estatísticas, mas, embora tenha me afastado um pouco da noite, nas minhas últimas saídas noturnas, algo me chamou a atenção: as pessoas estão bebendo demais. Isso acontece em todas as faixas etárias, mas o que mais me assusta é que parece que se está começando cada vez mais cedo. E pelos motivos errados. Tá certo que o Rio sempre teve tradição boêmia e um histórico de porres folclóricos. Mas eu sinto que o pessoal está bebendo por uma questão de sobrevivência, apenas para se estar bem.
Também tenho conversado com muitas pessoas que dizem estar bem “quimicamente”. Do Viagra ao Lexotan. Parece que todo mundo está tomando alguma coisa para comer, para não comer, para acordar de manhã, para dormir bem, para não ficar triste, para ter ânimo, etc.
E a cidade onde esse clima de faz de conta é mais evidente é o Rio. Isso porque parece que nós, cariocas, somos obrigados a sermos sempre simpáticos, alegres e de bem com a vida. A mídia nos impôs esta sina. E parece que aceitamos.
Não está nada bem. Vivemos numa cidade decadente que fica em um país que está naufragando e exigem de nós que ainda tenhamos o mesmo sentimento de 40 anos atrás. O que faz a festa dos laboratórios farmacêuticos, dos bares, dos traficantes e dos analistas.
Vá você falar mal do Rio para um carioca. É quase certeza de briga. Até certo ponto isso é compreensível. É a nossa cidade! Mas esse amor cego de “cidadão da cidade maravilhosa” é que nos arruína. Está tudo mal e até quando vamos fingir o contrário? As favelas estão sufocando a cidade num abraço, os serviços vão de mal a pior, as praias estão sujas, as ruas estão imundas, a deterioração dos logradouros é visível, o trânsito é assassino e o problema da população de rua é uma calamidade. Não vou nem falar na violência para não baixar ainda mais a auto-estima. Tenho viajado pelo Brasil e é viajando que percebemos o que está acontecendo. O Rio é uma cidade cheia de ódio. A crueldade da péssima divisão de classes que há neste país grita mais aqui, porque não fica escondida nas periferias. Da praia já dá para vê-la.
Não sei até quando o Rio vai continuar lindo. Só gostaria de saber até quando o carioca vai continuar rindo? Rindo este riso bêbado, drogado e falso que já não engana mais ninguém. Não há nada mais ridículo do que ver gari desnutrido sambando com uma vassoura no Sambódromo e com o tal riso fake diante das câmeras.
Me lembrei do Woody Allen que ama Nova Iorque e já cansou de sacaneá-la, de fazer piada sobre ela e mostrar para o resto do mundo os seus podres. Eu não vejo isso aqui. Há exceções, é claro. Mas geralmente quando se fala no lado negro do Rio não se dá muita ênfase no quanto isso está afetando o cotidiano da cidade. O problema da Cidade de Deus, por exemplo, é da Cidade de Deus.
Admitir os problemas é o primeiro passo para resolvê-los. Aliás, este é o lema dos Alcoólicos Anônimos. Onde esta cidade toda irá parar se continuar a viver essa mentira inventada e mantida pela mídia.
E mande bala!
Para anotar na agenda
11 Comments:
Adorei o "alerta",JULIO.
Verdade pura. No caso do estar sempre "tomando algo",fico impressionado com alguns amigos cariocas que falam,com muita naturalidade,sobre dorgas e quetais...
Parece que não conseguem VIVER se não se contaminam com estas porcarias...
Masssss,como no resto do país,é o POVO quem tem que fazer algo. Antes que seja tarde demais.
Abraços!
Julião, pura coincidência: estou lendo "Tarja Preta", uma coletânea de contos sobre pessoas normais e anormais que tomam remédios para diversos fins. De Jorge Furtado a Pedro Bial, passando por Márcia Denser e Jorge Mautner (!), é uma leitura agradável e que alerta sem forçar a barra.
Mesmo porque é ficção, não é auto-ajuda.
Boa sorte no lançamento. =)
Abração do amigo distante.
Olá, Juca, vc tocou num ponto interessante. Não sou carioca, mas sei o sentimento que cada um tem por sua terra ou Estado natal. O que está passando da conta, sem dúvida, é esse conformismo com tudo o que está errado, passando 24 horas diante dos nossos olhos. As pessoas estão se anestesiando para viver num mundo de faz-de-conta. Até certo ponto isso é bom, mas está passando do limite. Se nós não fizermos nada por nós mesmos, ninguém mais fará. Está faltando união, vontade e respeito, principalmente por si próprio. A impotência está tomando conta e logo não haverá viagra que resolva.
Beijos e bom fds.
Cronica verdadeira e bela,
Quero ir ao lançamento da entrevista. Tem salgadinho?
Olá Júlio,
Estava falando com uma amiga minha esses assuntos que vc menciona hoje. Parece incrível, mas por um simples mal entendido, criei um mal estar com um internauta fluminense muito bacana, que lamento profundamente.
Hoje saio mas para a pizza ou churrasco de domingo, mas quando saio a noite para esticar o horário, reparei na quantidade de destilados que se consome na noite. Ficam todos alegres e sociáveis, mas com um copo na mão.
Fico feliz de enfrentar um balada, alegre, me divertindo, somente com um copo de água nas mãos.
Júlio, me avise sim pois gostaria muiot de conhecê-lo. Tenho uma amiga, que, graças a Deus, não tem o esteriótipo que vc narrou uns dias atrás, sobre os jovens escritores que lançam seus livros nas BIENAIS e se acham o "Ó do Borogodó". Ela teve seu conto lançado este ano na BIENAL. Já comentei de vc para ela, mas ela está meio distante ultimamente.
Abraços Júlio
bom fim de semana
Sou carioca e como tal nunca gostei que falassem da minha cidade, eu posso falar, outros não.
Mas as coisas estão mudando,não se deixa de amar por reconhecer defeitos,não se deixa de querer continuar aqui desejando menos violência,mais qualidade de vida.
Concordo com você,está na hora de
bater no peito com orgulho por ter feito algo para um Rio melhor.
Lindo findi,
beijossssssss
*Tomara eu possa ir dia 04.
Site da poesia de Gabriel Garcia Marques:
http://www.paralerepensar.com.br/ggmarques_cartaaosamigos.htm
Desculpe amigo a palavra..mas muitos brasileiros sao idiotas...eles preferem viver na ilusao...vc acredita que muitos brasileiros que vivem na Noruega me odeiam sem nunca ter me visto porque mostro noticias da Noruega que eles preferem que os outros nao sabiam
ja fui agredida milhares de vezes...so nao me mataram porque nao me conhecem...o adjetivo mais bonito que eles usam pra me definir...e infeliz.
Oi, menino!
Permita-me chamá-lo assim, por favor. Porque saber de alguém que relata tão bem tudo que penso do Rio , ainda que amando tanto, é prazeroso - infelizmente. Perdemos todos: eu, vc e os demais cariocas que fingimos não perceber e fechamos os olhos aos mínimos detalhes que seriam o início de uma possivel solução.
vc me fez lembrar a última vez que sai à noite..digo cheguei em casa ao anoitecer, já com medo e lembranças de tantas pessoas conhecidas assaltadas em diversos lugares, inclusive fora do Rio. Concordo quando vc diz que o Rio é mais exposto , e é..até as praiss ficam de olho no Rio..ele é cercado por favelas e população de rua - e que não venham dizer que o governo tem programa moradia, pq tem sim..mas os colocam em lugares sem infra-estrutura e tão distante de tudo que se torna impossível sobreviver. Emprego?? Nossa...isso é palavrão pra quem se diz responsável pelo Rio, pela cidade maravilhosa sim..pois seu relevo é um dos mais belos do mundo, porém falta zelo, falta coragem de cantar novamente o nosso hino: A garota de Ipanema..pq ela está descalça e suja nos sinais de trãnsito...
Beijos querido e um ótimo domingo pra vc
Júlio, uma triste realidade que vc traz à tona. Eu adoro o Rio morei por 14 anos nesta cidade maravilhosa, só que meio enclausurada na Barra da Tijuca. Minhas minhas filhas nasceram aí e sentem saudade não do lugar mas das amigas que deixaram. O que conheço dos morros e dos humildes foi por intermédio das empregadas que tive.
Problemas há em todos os lugares mas como o Rio é vitrine, tudo aparece. Tá na hora do carioca tomar de novo o dominio da cidade, pena que os administradores atrapalham.
P.S: Mostrei no sábado algumas imagens do filme da Zuzu.
Bjos.
Uma triste realidade !
aqui onde moro ( São Paulo ) a situação está muito feia e perigosa -
já sinto um cheiro no ar que daqui há algum tempo , acho bem rápido
ninguém poderá sair de casa sem correr o risco de tomar um tiro por nada - e viveremos de forma parecida com nossos hermanos da Bolívia , Colômbia ,etc, num clima de guerra civil comandada pela corrupção e pela bandidagem.
A solução é parar de pagar impostos, ir para as ruas , transformar as Leis e punir esse deputados e políticos corruptos com cadeia. Mas, como somos a República dos Bananas, todos anestesiados e medrosos (resquícios da ditadura militar ) vamos botar nossa camiseta verde-amarela e torcer pelo futebol ! regado com muita cerveja.Esse é um país que vai pro buraco, ou melhor, a vala.
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