Buchicho no Chiado

Anoitece em Lisboa. O que fazer? Ou melhor: onde fazer o quê? Dez entre dez blogs que visitei quando estava planejando esta viagem me disseram "Vá ao Chiado." Então, tá. Coloquei o lugar na minha agenda, decidido a ir logo na primeira noite, sem saber o que me esperava.
"É a Lapa de lá.", eu havia lido. Mas encontrei muito mais do que isso. É uma boemia portuguesa, com certeza. Mas o que vi ali, dificilmente sairá da minha mente.
Há lugar para todos. Do hype ao tradicional; do indie ao eletrônico; do turístico a lugares de imigrantes; do conservador ao GLS; do simples ao cool. Se você não encontrar onde se encaixar é porque você simplesmente não existe. Assim como acontece na Lapa carioca, todos tem seu lugar e convivem pacificamente, mas sem se misturar.
Como era uma noite de quarta-feira, fui conhecer o famoso Tasca do Chico, sobre o qual eu já havia lido uma matéria na Time Out portuguesa. Era noite do evento Fado Vadio.À princípio, parece um botequim despretensioso, desses que existem aos montes em qualquer capital brasileira. A música é ao vivo. De repente, alguém se levanta e começa a mandar um fado. Como se estivéssemos numa roda de samba ou num partido alto.
Achei legal e interessante, só que na noite que eu fui e o pessoal não parecia muito entusiasmado e poucos foram os que se aventuraram a cantar. Realmente é um lugar que merece ser conhecido.
Mas lugares com fado ao vivo não faltam no Chiado, um lugar que, por sua diversidade, é super moderno. Mas não perde o link com as tradições portuguesas. E por isso que até a minha viagem á Portugal, chiado era apenas um ruído desagradável. Agora, chiado será sinônimo de lugar inesquecível.* Talvez, o único ponto negativo no lugar seja o tráfico de drogas que atua livremente. Diferentemente de qualquer outro lugar que já visitei, lá os traficantes lhe abordam, vendendo de tudo. É uma pena!

Marcadores: Cidades
Para decepcionar sua mente suja, funicular é o ato de andar neste simpático teleférico que é o anjo da guarda das pernas cansadas dos turistas que precisam subir a ladeira da Bica
Ou você anda no funicular (teleférico) ou...
...encara essas simpáticas escadinhas. Mas para que tanto sacrifício? Bem...



O Bairro Alto é outra colina da cidade e está em estado muito melhor do que o Alfama. As ruas são mais bem cuidadas e percebe-se que há uma inegável valorização. Mais o charme é o mesmo. Lisboa foi semi-destruída por um terremoto em 1755. As famílias mais ricas, fugindo do caos que se instalou na parte baixa da cidade, mudaram-se para o alto das colinas. O Bairro Alto ainda guarda algum resquício dessa época. Não tem a naturalidade de Alfama, mas compensa em beleza.
É lá em cima que fica A Brasileira, o imponente restaurante, freqüentado por Fernando Pessoa. De cara, os cariocas lembram da Colombo, aqui no Centro do Rio. Só que a nossa Colombo é maior e um pouco mais sofisticada.
Os turistas adoram dar uma parada ali, na tentativa de "reviver" os áureos tempos em que o famoso poeta fazia ali suas refeições e papeava com amigos. Mas o lugar me pareceu uma das armadilhas para turistas que existem em qualquer lugar. De Fernando Pessoa...
...só mesmo a estátua em frente à casa, que ainda tem que segurar mochila de turista abusado. Ninguém merece!
Mas o melhor do Morro Alto é subir até lá no finalzinho da tarde e procurar um dos bares com varandão com vista para o Tejo e curtir a morte do sol. Não é como o pôr de sol à beira do Sena, em Paris. É outro tipo de beleza, outro clima. Mas a emoção é a mesma.
E lá embaixo? O que temos?
O imponente portal da rua Augusta, a mais charmosa rua-calçadão que conheci. Depois de andar por ela, fica até difícil de encarar a Ouvidor, no Rio, ou a Direita, em Sampa.
O Elevador de Santa Justa é fascinante. Lembra o Lacerda, em Salvador, só que é mais pomposo. Atualmente é mais usado mesmo por turistas do que pelos nativos.
E a Praça do Rossio, ao anoitecer. Mas o Centro de Lisboa está longe de ser apenas isso. Mas a noite de Lisboa será o assunto do próximo post.

Eu, que nasci nos subúrbio do Lins de Vasconcelos, no Rio, fiquei emocionado ao reencontrar o bom do Rio de Janeiro do passado, num lugar onde tudo - ou quase tudo - dá certo. É como se eu visse no que o Rio poderia ter se transformado se não tivesse perdido o rumo. Visitar Portugal é como viajar ao nosso DNA.
...de onde se vê as ladeiras serpenteando caóticamente colina abaixo.
E é lá no alto da colina de Alfama que fica o Castelo de São Jorge...



Você não viu a Pedra do Arpoador? Pois nem poderia. Mas é nas margens do Sena que os parisienses vão curtir o pôr do sol, quase ao estilo dos ipanemenses, aqui no Rio. Só não chegam a bater palmas para o sol moribundo porque, você sabe, não há tanto calor humano.
Mas o dia ainda não acabou e barcos circulam rio abaixo, alguns oferecendo festas a bordo.
...o barquinho vai.
Enquanto isso, músicos veteranos tocam jazz nas pontes de acesso ás duas ilhas dentro do Sena, Cité e St. Louis.




