domingo, novembro 16, 2008

DNA


A velha viúva de luto fechado está a comprar na vendinha. Proprietários cobram aluguel de uma inquilina, no grito, enquanto os vizinhos assistem. Imigrantes preguiçosamente tomam suas cervejas e turistas suados descem as tortuosas e estreitas ladeiras, cheias de construções centenárias, nas varandas das quais, lençois, roupas e toalhas estão despudoradamente estendidos em cordas. De repente, o cheiro de uma comida caseira nos assalta.
Velhas gordas com as pernas cheias de varizes, solteironas mal-humoradas, maridos magros e melancólicos e jovens sonhadoras. Personagens familiares e que ainda podem ser encontrados em alguns pontos dos subúrbios cariocas. Parecem terem sido tirados das obras do Nelson Rodrigues.
Depois da imponência e do compromisso com a modernidade, de Londres e depois da elegância e sofisticação de Paris, chegar em Lisboa foi um choque. Era final de tarde e comecei justamente onde Lisboa é mais Lisboa, na colina de Alfama, com suas ladeiras apertadas, suas vendinhas e suas casas, que lembram os velhos cortiços que existiam aos montes na parte central do Rio e de São Paulo.

Eu, que nasci nos subúrbio do Lins de Vasconcelos, no Rio, fiquei emocionado ao reencontrar o bom do Rio de Janeiro do passado, num lugar onde tudo - ou quase tudo - dá certo. É como se eu visse no que o Rio poderia ter se transformado se não tivesse perdido o rumo. Visitar Portugal é como viajar ao nosso DNA.
Aconcelho a todos que ainda não foram à Europa a fazer o que eu fiz: começar por Londres, depois Paris e finalmente chegar em Lisboa para saborear o delicioso choque.

Lisboa não quer ser elegante, tem uma sábia humildade para não querer ser pomposa e não tem pressa de ser moderna. Quer apenas caminhar pelo século XXI de mãos dadas com suas tradições. E aí que está o charme que nos fascina.


Praça do Mercado, vista do Alfama, a parte mais charmosa da cidade,...
...de onde se vê as ladeiras serpenteando caóticamente colina abaixo.
E é lá no alto da colina de Alfama que fica o Castelo de São Jorge...



O dia já ia morrendo e, apesar do cansaço, antes de o sol morrer, Lisboa já havia me ganhado.

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3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Arrependo-me amargamente de não ter conhecido Lisboa,JULIO. Mas nada que um retorno não resolva.

Será que se começar por ela,e depois ir aos outros lugares,o choque tbem não é o mesmo??

Abraços!

segunda-feira, novembro 17, 2008 12:25:00 PM  
Blogger Marco said...

Caraco! Ainda tem Lisboa neste périplo??? Uau!
Muito legal... Eu gostaria MUITO de ir a portugal e fazer lá o que fiz na Espanha, quando lá estive: vagabundear pra lá e pra cá. Vou juntar uns caraminguás e ir à Portugal. Mas quero dar uma esticadinha em Amsterdam e Bruges (na Bélgica). Que maravilha de viagem você fez, heim Júlio! Puxa... Parabéns.
Sobre o seu comentário no Antigas ternuras, o post era muito mais sobre valores antigos que se perderam do que sobre o texto do tipo auto-ajuda. Ele só foi o provocador.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

quinta-feira, novembro 20, 2008 4:10:00 PM  
Blogger Vivien Morgato : said...

Lisboa está na minha lista de desejos.

domingo, novembro 23, 2008 8:40:00 PM  

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