Um Dia Perfeito X Um Plano de Cão
Um grupo de assaltantes invade a agência de um grande banco no centro de Manhattans e faz 50 reféns. São encurralados por centenas de policiais. Mas consegue sair pela porta da frente, levando o que queria e sem ser preso. Você acredita nisso? Não? Então corra para assistir O Plano Perfeito, o novo filme de Spike Lee, que teve estréia mundial no último dia 24 e já bateu recorde de bilheteria nos EUA no final de semana com arrecadação de U$ 28,9 milhões.
Mas antes leia esta historinha: 22 de agosto de 1972, dois ladrões invadiram uma agência do Chase Manhattans, no Brooklyn e foram encurralados pela polícia e a Guarda Nacional, fazendo cerca de dez reféns. Eram os tempos de Nixon, Watergate e Vietnã. Um ano antes, a Guarda havia invadido o presídio de Ática para tentar conter uma rebelião provocada por integrantes dos Panteras Negras e acabou provocando a morte de mais de 30 inocentes, a maioria funcionários do presídio. Muito inteligente, o assaltante que comandava o assalto, sabendo que grande parte da população estava muito p. da vida com a Guarda Nacional, tratou de jogar o povo contra ela, provocando cenas impagáveis, que seriam retratadas em Um Dia de Cão, de Sidney Lumet, baseado num best seller do mesmo nome e lançado em 1975. Quem não se lembra do Al Pacino gritando “Ática! Ática! Ática!”, na frente do banco, com a multidão repetindo em coro, deixando os policiais sem saber o que fazer?
É difícil não lembrar de Um Dia de Cão ao assistir O Plano.... Mas entre os dois filmes há diferenças que nos fazem pensar que as mudanças ocorridas na América nesses 31 anos que os separam foram maiores do que supunhamos e fazem toda a diferença. Os bandidos dos anos 70 pareciam ter pretensões menores. Se em Um Dia de Cão, o assaltante líder, interpretado por Pacino, queria roubar uma grana apenas para pagar a operação de mudança de sexo do seu amante transformista, em Um Plano Perfeito, o líder (Clive Owen) do assalto quer se vingar do dono da instituição financeira, que havia enriquecido de forma inescrupulosa. E é aí que está o maior problema do filme, os personagens não convencem e não convencem o público a se envolver na trama. O rítimo rápido demais não permite que os bandidos – parecem robôs fortemente armados - , as vítimas – sem muita expressão - , os policiais – parecem máquinas de manter a ordem - não nos emocionam. Se por um lado, torcíamos mais pelos bandidos de Um Dia de Cão e nos afeiçoávamos com os reféns, na obra de Lee, apenas ficamos passivos sem nos engajarmos na luta do bando ou no drama dos demais.
Então O Plano Perfeito é um filme ruim, certo? Nada disso. Vale uma corrida ao cinema mais próximo. O Elenco está soberbo, embora Clive Owen esteja meio forçado como o bandido astuto que arquitetou tudo. Mas há ainda a bela Jodie Forster como a inescrupulosa, fria e astuta executiva de Wall Street. Só revê-la em seu melhor papel desde O Silêncio dos Inocentes já é um prazer.
O roteiro é super bem elaborado, desses que, em determinada hora, faz você se perguntar: “Meu Deus! O que esse roteirista vai aprontar agora?”
O problema do Plano Perfeito é que existiu um Dia de Cão. Se você não assistiu ao filme de Sidney Lumet, sorte sua. Em caso contrário, vai sair do cinema com a impressão de que apenas acabou de assistir a um bom filme. Só isso.
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