Fato 1:Em 1971 os Estados Unidos estavam enfrentando uma grave crise econômica, que se arrastaria durante mais de cinco anos, em grande parte provocada pelos altos gastos com a vergonhosa Guerra do Vietnã. A inflação e o desemprego subiam na mesma proporção e os trabalhadores de classe mais baixa, os mais atingidos pela crise, sem vislumbrarem uma luz no fim do túnel, partiram para o confronto. Os primeiros anos daquela década foram marcados por muitas greves. Uma delas foi a dos portuários, que durante alguns meses, parou todos os portos do país.
Como a maior parte da heroína que entrava nos EUA vinha por via portuária, os viciados tiveram seu fornecimento interrompido abruptamente. E como a heroína é uma droga que pode matar tanto pelo excesso quanto pela falta de usso, instalou-se um verdadeiro pânico nas ruas de Nova Iorque, cidade que tinha cerca de 200 mil viciados naquela época e era conhecida como a Capital Mundial da Heroína. Filmes como Panic at the Needle Square e Operação França I, produzidos naquele ano, mostram o sofrimento dos junkies.
As notícias que chegavam aqui no Brasil eram aterradoras. Via-se viciados tendo crises de abistinência nas ruas, tremendo e vomitando nas esquinas. Houve registro de ataques à drogarias e hospitais, a procura de qualquer coisa injetável. Houve casos até de clínicas veterinárias assaltadas.
O governador e o prefeito, então, se viram numa situação inusitada: foram obrigados a ajudar os viciados a conseguir drogas, enquanto tentavam forçá-los a buscar ajuda.
FATO 2:
Recentemente, conversando com um taxista, ele me contou que horas antes havia pego um cara vestido de médico em Copacabana. O cara tinha boa aparência e carregava também uma maleta de médico. Pediu uma corrida para o Leblon. Disse que estava atrasado para dar a primeira consulta em seu consultório. Quando o táxi parou num engarrafamento na Lagoa, o motorista ouviu algo estranho e ao olhar pelo retrovisor, deparou com o tal médico aspirando uma carreirinha de coca sobre a sua maleta.
Temendo serem vistos por um policial, o motorista pediu que o cara parasse. Sorrindo e entre uma cafungada e outra, o médico disse que costumava usar a droga no local da compra, mas devido ao arroxo promovido pela polícia nos últimos dias, estava sem lugar para usar.
O motorista expulsou o passageiro e nem lhe cobrou a corrida.
************************
Sempre que um fato violento ocorre, e dessa vez o caso em questão foi o calvário do menino João Hélio, a sociedade debate calorosamente a questão da violência e esse debate sempre desagua na questão das drogas. Dias atrás, o governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou ser a favor da liberação das dita cujas.
O que eu acho?
Sinceramente, não sei. Ainda não tenho uma opinião formada a respeito.
À princípio, sou a favor da liberação da maconha e das drogas sintéticas. Quanto ao crack e à coca, até acho uma alternativa o governo fornecer a droga ao viciado, em troca de um possível tratamento, como é feito e alguns países europeus. Nos fatos que citei no início do post, eu me refiro a pessoas doentes e os problemas sociais ocasionados pela droga. Talvez se a heroína fosse liberada em Nova Iorque, a cidade não enfrentasse o drama que enfrentou (Fato 1). E quando penso nisso, me inclino a fazer coro para uma liberação.
Mas quando penso numa sociedade frágil como a nossa, onde a justiça, a polícia, a educação, a família e as autoridades são tão ausentes, temo que o tiro saia pela culatra e tenhamos que enfrentar uma bandaleira ainda maior que a atual, com gente morrendo de overdose nas esquinas e cheirando no lugares mais inusitados (Fato 2).
O que vocês acham?
Quem sabe vocês não me ajudam a criar uma opinião a respeito?
Está aberta a sessão. Mandem Bala.