quinta-feira, novembro 23, 2006

Tá infiltrado! Tá tudo infiltrado!


O passageiro branco e de classe média pede para o motorista de táxi parar em frente a um prédio de classe média, em uma rua residencial de Nova Iorque. E diz:
"Eu não quero que você faça nada. Apenas vamos ficar parados aqui."
A câmera dá um zoom até a janela de um dos apartamentos do prédio e vemos a sombra de uma mulher.
“Tá vendo aquela mulher na janela?”, pergunta o passageiro.
O taxista confirma em silêncio.
“Pois aquela é a minha mulher. Mas aquele não é o meu apartamento.”, (risos histéricos), “Você sabe quem mora lá? Você por acaso sabe quem mora lá? Um negro mora lá.”
Sem saber o que dizer, o taxista continua calado. Após alguns segundos de um pesado silêncio, o homem continua:
“Eu vou matá-la. É, não me resta mais nada senão matá-la. Você já viu o que uma magnum 44 faz na cara de uma vagabunda? Pois deveria experimentar.”

Esta é uma das cenas de Táxi Driver – Motorista de Táxi. O taxista em questão era um novato Robert De Niro e o passageiro desesperado era o próprio diretor do filme, Martin Scorcese.
E qual é a história de Táxi Driver? É a história de Travis Bickle, um motorista tão solitário e agredido pela dura realidade das ruas que é obrigado a ver por de trás de seu volante, que acaba tendo um surto psicótico. Só isso. Mas o que fez este filme ser um dos meus preferidos, como já comentei aqui, são as histórias paralelas. Como a do passageiro desesperado. Aliás, esta cena poderia ser tirada e nada seria alterado. É pura perfumaria, mas, na minha humilde opinião, esse é o grande trunfo de Scorcese nos seus filmes. Além de um ótimo contador de histórias, Martin é muito generoso com os seus personagens e trabalha com o carinho de poucos os seus perfis psicológicos. Mesmo os personagens secundários.
Trinta anos depois da estréia de Táxi Driver, eu senti falta do velho e bom Scorcese, ao assistir ontem Os Infiltrados, filme que é o maior sucesso de bilheteria da temporada aqui no Rio. Fui porque era Scorcese. E também porque os críticos – e alguns blogs – me garantiram que eu veria o velho Scorcese. Mas quase perdi a viagem. Ainda não foi dessa vez que o diretor de O Touro Indomável e Cassino, me convenceu que resgatou a velha forma, após fiascos como Gangues de Nova Iorque.
O filme é ruim? De forma alguma. Mas não encontrei nele a grife Scorcese. Senti falta daquelas brilhantes histórias paralelas e de um perfil mais bem trabalhado, principalmente de Billy Costigan (Leonardo Di Caprio), que trai a máfia; e Collin Sullivan (Matt Damon), o policial que passa informações para os bandidos.
São mais de duas horas de trama amarradíssima, muita ação, violência e tensão de tirar o fôlego. Você pagou e Scorcese conta a história para você. Mas não espere muito além disso.
Fui assitir também por que os críticos me garantiram que Jack Nicholson havia pego o seu melhor papel desde Melhor Impossivel. Mentira! Jack continua interpretando o mesmo canastrão de sempre. Só que, por acaso, dessa vez o canastrão trafica armas e drogas.
Quem está realmente bem é Di Caprio. Confesso que nunca tive muita boa vontade com o garoto. Mas em Os Infiltrados ele convence como o ex-policial que não tem outra alternativa a não ser entrar para a máfia e passar informações para o FBI.
De qualquer forma, há diretores dos quais eu só espero filmes que compensem o valor do ingresso; de outros, eu espero bem mais. Talvez o erro seja meu. Por isso, vale a pena conferir Os Infiltrados. Quem sabe você não seja tão exigente, não espere tanto de Martin Scorcese e até goste do filme?

17 Comments:

Blogger Milton T said...

Para mim valeu a dica, não sou um espectador exigente:)

Di Caprio nunca me empolgou, o garoto! Mas o velho Jack, sempre me convenceu!

abs

quinta-feira, novembro 23, 2006 5:49:00 PM  
Blogger Jéssica said...

Ah, falem o que quiserem, mas eu adoro filme com Jack Nicholson. Valeu a dica. Como não tô podendo sair de casa, qdo for pra locadora, alugo ele.
Uma flor e um beijo*.*

quinta-feira, novembro 23, 2006 7:11:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, eu tô louca pra ve o filme novo. Eu tenho Taxi Driver. é muito bom!!!

Abs

quinta-feira, novembro 23, 2006 9:20:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Talvez eu assista, não sei...

Bom fim de semana, dear

MM

ps: tive uma decepção parecida com Volver. Apesar de ser bom - Almodóvar sempre vale o ingresso, se não por isso, por aquilo - mas sei lá, perto de Fale com ela e de Má educação o Volver não me acrescentou muita coisa, não me chamou atenção [exeto pela Penelope Cruz que está um quadro, de tão bela, rs*]

sexta-feira, novembro 24, 2006 5:17:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Se passar nessa vila que vivo com certeza vou conferir...bom fim de semana.

sexta-feira, novembro 24, 2006 8:05:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ainda assim, vc me animou em ver o filme,JULIO. Vou conferir. Ainda mais que vc disse que o Di Caprio ta bem ( !? ),heheheh
Abração!

sexta-feira, novembro 24, 2006 8:52:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Não concordo com quase nada do que você disse.

Primeiro porque Jack está menos canastrão do que em qualquer outro filme que ele já fez. Ele pára de fazer caretas e levantar as sobrancelhas o tempo todo.

Eu também não acredito que Scorcese voltou a velha forma, mas na verdade a história paralela existe: são duas histórias que influenciam uma a outra durante todo o tempo da película. É ou não?

A história principal é pegar o Costello e as paralelas é o que acontece quando cada um dos infiltrados está dando informações para o lado que trabalha.

Sem contar que você não citou a melhor personagem: Dignam!!! Meu deus Mark Walhberg deveria ser indicado a melhor ator coadjuvante! Testosterona pura, um policial que gosta de ser policial! (afinal quem nesse filme realmente gosta de ser policial?).

E o jogo de gato e rato não conta com 'coincidências' para fazer com que um descubra o outro. Ambos estão sempre procurando algo que os leve ao traidor. É um filme de ação/policial coerente e verossimil das personagens até a história.

E sim, até concordo que seja um filme com Testosterona demais.

Abraço

sexta-feira, novembro 24, 2006 9:02:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Vi o filme e gostei. Também não acho que seja o melhor papel do Nicholson. Fico como sendo o seu melhor papel não o de Melhor Impossível, mas de O Iluminado. Nele, ele dá um show.
Acho que o filme, ao contrário do que você pensa, é puro Scorcese, só que feito de um modo um pouco diferente, saindo do panorama de Nova York. Mas os tiques, os jeitinhos e a velha forma de conduzir são dele, sim.

sexta-feira, novembro 24, 2006 10:39:00 AM  
Blogger Ane Brasil said...

Eu vou te dizer uma coisa: um filem com Di Caprio não pode ser boa coisa.
Um filme com muita explosão, e a velha e batida história do tira infiltrado... mesmo sendo um Scorsese eu sabia que não ia ser boa coisa. Guardei meus suados caraminguás e vou ver Sexo, orégano e Rock n'Roll que eu ganho mais.
Sorte e saúde pra todos!

sexta-feira, novembro 24, 2006 11:16:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Julio Cezar comentando filmes que causa impactos; bons.A especialidade do blog torna-o gostoso de ver e ler. Vir aqui é a certeza de sempre encontrar coisas interessantes e agradáveis.
Um grande abraço.

sexta-feira, novembro 24, 2006 11:37:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, eu adoro Taxi Driver, adorei relembrar dessa cena. Mas então, eu acredito que esse recurso de história paralela não caberia muito no Infiltrados. Veja bem, a própria trama já faz duas histórias correrem uma influenciando a outra. Eu acho que desviaria muito o foco. No caso de Taxi Driver, isso funciona pela própria natureza do roteiro, o taxista surta por causa das consequências ao seu redor, percebe? Não sei se estou conseguindo passar meu ponto de vista. Aliás, Infiltrados além de ter duas pararelas, existem duas pontes entre elas, a primeira o próprio Costello e a segunda, fechando o "quadrado" a da personagem feminina. Por isso eu não vejo como o Scorsese poderia ter explorado mais tramas paralelas sem desvio de foco :p

sexta-feira, novembro 24, 2006 2:58:00 PM  
Blogger Jôka P. said...

Truffaut disse em uma entrevista antológica que "Mesmo nos piores filmes há alguma boa cena."
Concordo, e como discordar desse super mestre do cinema ?

Pra mim cinema é como pizza ou sexo - mesmo quando é ruim, é bom.

Abç!
:)

sexta-feira, novembro 24, 2006 3:00:00 PM  
Blogger Vera F. said...

Júlio, quando postei sobre "Os Infiltrados" o filme estava estreiando no Brasil (aqui ainda não chegou) e só me restringi a informar. Entendo que vc por trabalhar com teatro fique mais exigente com relação a interpretação dos atores, apesar dos veículos serem bem diferentes.
Pretendo ainda ver, por isso não posso nem concordar nem discordar.

Bjos.

sexta-feira, novembro 24, 2006 7:24:00 PM  
Blogger Duda Bandit said...

vou asssitir essa semana.

Júlio, vem com a peça pra vitória mesmo. posso fazer contatos de produção pra vc.

abração
saulo.

sábado, novembro 25, 2006 12:45:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eles sabem que esperamos sempre mais deles e eles estão a procura da superação. Se não fosse isso, não teriam motivação. Falo de toda a equipe.
Gostei muito do DiCaprio fazendo "Diário de um Adolescente" e confesso sento uma certa dificuldade em me desligar da imagem adolescente e passar a enxergá-lo como homem. Falei!
Com certeza irei ver o filme!
Bom fim de semana! Beijus

sábado, novembro 25, 2006 1:05:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Pips, a canastronice do Jack não se limita às caretas e levantadas de sombrancelhas. Me refiro àquele ar de quem está sempre tentando ganhar uma menina inocente. Isso pode dar certo em vários papéis, mas não como um gangster à beira da aposentadoria. A cena do cinema (ridícula e dispensável, só agravou o problema). Há atores que não conseguem se livrar de esteriótipos.
As duas histórias paralelas que o filme conta, são necessárias, já que Scorcese precisa falar sobre os dois rivais. Estou me referindo àquelas que não precisariam ser contadas, mas que mesmo assim ele contava e que eram presentinhos, brindes, que só enriqueciam o filme. Cassino está cheio delas. Era como se ele contasse o porque a tal psicóloga sente uma atração por um policial que havia sido expulso da corporação, mesmo que ela tenha um caso com um outro policial que está subindo na carreira. Seria perfumaria, mas só tornaria o filme mais interessante.
O filme é bom, mas Scorcese apenas contou bem a história. O que não é pouco. Mas de um diretor que fez um filme como Touro Indomável, vamos combinar que sempre se espera mais.
bj

domingo, novembro 26, 2006 6:02:00 AM  
Blogger Yvonne said...

Com certeza verei o filme. Preciso acabar com a má impressão que fiquei dele com o filme "O Aviador". Beijocas

segunda-feira, novembro 27, 2006 7:50:00 AM  

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