segunda-feira, setembro 22, 2008

Exilados


Definitivamente eu não sei o que os bares têm que me atraem. E olha que eu não bebo nem vinho. Mas gosto do clima descontraído de um bom bar, que nos estimula a conversar. Já falei de alguns bares dos quais gosto no Rio e em Sampa.

Em Londres, escolhi um...pub. Se há alguns anos alguém me dissesse que eu ainda entraria nessa versão inglesa dos botecos, eu pensaria que era praga. Sempre os imaginei como lugares enfumaçados, barulhentos e com quinhentos bêbados por metro quadrado. E fiquei surpreso ao ver que nem todos são assim.

Em alguns, percebi que, dependendo da hora do dia, só faltaria o canto gregoriano para torná-los verdadeiros mosteiros, ilhas de paz, onde você pode pegar sua refeição no balcão e levá-la para uma mesa e ficar hoooras na maior tranqüilidade.


O Warwick é assim. O Warwick foi o pub que escolhi para fazer as minhas refeições. Fica ali na esquina da Warwick com Glasshouse st., na fronteira de Westminster com o Soho. Vergonhosamente esqueci de fotografá-lo. Gostava de chegar no início da tarde, comer e ficar discutindo a relação com o meu laptop, sem ser importunado por ninguém.

Também gostava de conversar com os atendentes, que naquela hora não tinham muito trabalho. Eram, na maioria descendentes de algum imigrante. Aliás, poucas cidades do mundo são tão multiculturais. Você entra nas lojas ou no metrô, olha em volta e vê poucos ingleses.

Na minha passagem pela capital inglesa, o destino me pôs em contato com muitos imigrantes. Alguns, ao saberem que estavam diante de um brasileiro, me contavam suas histórias. Invariavelmente eram histórias tristes. Seus pais ou eles próprios haviam deixado para trás um país em guerra, de economia medíocre, marcado pela fome ou doenças, sem nenhuma perspectiva de crescimento ou por questões políticas.

Uma vez, conversando com um senegalês, numa barraquinha no mercado de Portobello Road e ele me perguntou, após me ouvir falar sobre o número de brasileiros que tentam viver na Grã Bretanha todos os anos (só em 2007, foram mais de mil desesperados barrados pela rigorosa imigração inglesa): "Mas os jornais dizem que as coisas estão melhorando por lá. Por que tanta gente ainda está saindo do seu país?"


Perto da feira de Portobello, Caetano e Gil haviam vivido, durante o exílio, e me perguntei se os brasileiros que continuam a deixar o país não seriam assim como exilados. Não queriam, mas foram obrigados a deixar o país por motivos alheios a sua vontade. Os imigrantes que conheci tinham um motivo verdadeiro para ficar longe da sua terra. E os brasileiros? Enfrentar uma vida incerta em um país que não os deseja, sob o argumento de "falta de perspecitvas", me parece loucura numa época em que ninguém duvida de que o Brasil está crescendo, a fome diminuiu, a inflação não mete mais medo, o desemprego cai, a desigualdade também e o país é muito mais respeitado no exterior.
Aliás, a pergunta do jovem senegalês eu vinha me fazendo há algum tempo.
Bem perto do Warwick, na Dean St., fica uma filial do Hamburguer Union, onde uma tarde fui fazer um lanche e conheci a Eliane, uma gaucha que há três anos vive em Londres. Seus olhinhos brilharam quando falei do Brasil. Mas ao responder se estava disposta a voltar, foi taxativa :"Nem pensar. Não posso mais voltar."
Na verdade, acho a situção dos imigrantes brasileiros é mais complicada. A grande maioria dos que partiram, acredito, o fez por estar cansada de viver no país da impunidade, da roubalheira, das maracutaias, do jeitinho, dos escândalos, das injustiças. As guerras acabam, os catástrofes naturais podem ser previstas, as perseguições políticas podem ser combatidas e situações econômicas dramáticas podem ser amenizadas. Mas é muito mais difícil mudar o caráter de políticos que são eleitos por um povo.

Mas voltando ao Warwick, a paz reinava por lá até mais ou menos quatro da tarde, quando os engravatados chegavam para animados happy-hours que transformavam o local numa planíce africana. Jovens executivos caçando e sendo caçados por meninas sapecas usando pretinhos-básicos. De repente, uma presa bobeava e NHAC! Era abatida sem piedade. Aliás, as meninas inglesas andam muito sapecas. Sex and the city, de certo modo, tem feito mal às mulheres, mas isso será tema de outro post. Mas tenho certeza de que todas as meninas ali estavam atrás dos executivos endinheirados por amor.
Este post se encerra por aqui. Tenho que fazer minha cartinha para Papai Noel.
Volto em qualquer edição extraordinária.
E por falar em Brasil, o nosso Tropa de Elite ainda está cartaz em Londres, fazendo muito bonito. Pelo menos algo se salva.

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4 Comments:

Blogger Nil Borba said...

Não sabia que suas balas estão perdidas em outro continente!! Muito bom ler vc menino. Amei saber de vc longe e tão perto, por conta desse lap sagrado. Não o perca viu?!!rsssss
Aguardarei o próximo post.
Ah..o Brsil nãomudou muit isso é a grande e pior verdade. Ainda que não percebamos tanto a inflação, nossas vidas continuam inquietas por conta de coisas descuidadas...!!

Beijos

terça-feira, setembro 23, 2008 11:22:00 PM  
Blogger Marco said...

Grande Julio,
adoro relatos de viagem.
Tenho a maior vontade de conhecer Londres... Pelo ponto de vista histórico, por ser o local onde o Beatles viveram e gravaram seus discos...
Também gostaria de ir num pub assim como o que você descreveu. Local esfumaçado e com bêbado chato, nem pensar.
Continue com seus relatos de sua aventura londrina. Estou gostando!
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

quarta-feira, setembro 24, 2008 8:32:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vc deixou-me com muita vontade de voltar a Londres,JULIO.
Mas desfrutar com muuito mais calma do que a vez que estive.

Fiquei muito curioso sobre a pergunta que o senegalês te fez.
O que vc respondeu?

:)

Abração!!

quinta-feira, setembro 25, 2008 8:14:00 AM  
Blogger Nil Borba said...

Oie..como está por ai?

beijos e bom domingo

domingo, setembro 28, 2008 2:49:00 PM  

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