Chet
"...Voltei para casa fora de mim. Tranquei-me no banheiro e tomei um banho demorado. Peguei a esponja de bucha e passei pelo meu corpo para limpar os vestígios dele. Esfreguei a pele até ficar exausta. Depois, deixei-me cair no boxe e acariciei minhas partes íntimas. Fechei os meus olhos. Penetrei o dedo indicador em minha boceta, toquei o clitóris. O prazer transmitido pelas terminações nervosas, simultaneamente com as sensações provocadas pela fantasia em minha mente, reduziram o meu ódio a nada. Era a mesma fantasia que tenho desde a adolescência e que ainda costumo ter na maioria das vezes em que faço sexo com Otávio: Nova Iorque, anos cinqüenta. Eu sou uma vagabunda da rua 42. Estou em meu apartamento miserável, no East Village. A única luminosidade vem de um abajur no canto do pequeno cômodo. A heroína ainda faz algum efeito e sinto uma paz sonolenta. Da vitrola sai a voz melancólica de Chet Baker cantando Time after Time. Espero por Ricky. Ele é boxeador e luta em um ginásio de propriedade da máfia. E ele chega. E eu adoro o seu cheiro acre-doce de homem suado. Diz alguma coisa e tira a minha roupa tão rápido que nem sinto. Então, ele me agarra e se põe dentro de mim com brutalidade. Meu corpo é sacudido com violência. Grito de dor e isto parece excitá-lo. E eu permito. Não sou mais uma vagabunda. Sou apenas uma mulher esperando de um homem muito mais do que ele pode dar. Como a maioria das mulheres."
Virgínia Brandão em trecho do meu romance A Arte de Odiar. Chet Baker é a trilha sonora de 9 entre dez escritores e estagiários de escritores, como eu.
Como sou apressado, aqui vai a minha homenagem antecipada, antes que o mundo comece comemorar os vinte anos de sua trágica morte, em maio de 1988.
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