Frases que a gente lê ou ouve por aí - Parte II
Cena do filme Cidade de Deus
"A vida tem que continuar."
"A vida tem que continuar."
Somos o povo mais cruel do mundo. Quase apanhei da última vez que falei isso. Esse pensamento veio até mim em junho do ano passado, quando, em apenas uma semana, o PCC matou centenas de pessoas em São Paulo. Logo depois veio a Copa do Mundo e os brasileiros foram para as ruas comemorar cada vitória. E chorar a eliminação. Pouco se chorou pelos mortos. E a barbárie paulista foi esquecida.
No momento em que o Rio vive mais um capítulo (a chuva de balas perdidas que já fez mais de 30 vítimas inocentes em uma semana) da violência urbana que já dura há décadas, o escritor Paulo Lins, prestes a lançar seu novo trabalho, se diz decepcionado com o fato de seu livro Cidade de Deus não ter conseguido mudar a situação scoial do país.
- "Fiquei muito decepcionado com a sociedade, em geral. A gente faz um livro como esse, de fundo social, pensando que vai mudar o mundo. No caso de Cidade de Deus, esperava que contribuísse para a diminuição da violência urbana, inspirando programas sociais. Uma década se passou e a violência só aumentou - disse Lins esta semana numa entrevista ao Jornal do Brasil. "
E disse mais: - "Escrevi Cidade de Deus pensando que o povo do conjunto fosse se reconhecer nele. Fiz o livro pensando naquela gente. Por isso a linguagem coloquial, reproduzindo termos e expressões dos moradores da região. Mas o filme vendeu mais que o livro. Na verdade, o livro não teria tido o sucesso que teve se não fosse o filme. E, o que é mais decepcionante, ambos foram consumidos pela classe média."
Ao ouvir o que eu disse sobre a crueldade do povo brasileiro, alguém me disse a frase que abre este post. O Paulo Lins não sabe, mas quem me disse tal frase era alguém da classe média.
Fiquei comovido com a inocência do Lins. Considero o Cidade o melhor filme nacional deste século, muito melhor que o livro. A classe média também adorou o filme, adorou ver o drama daquela comunidade encurralada pelo tráfico, como tantas outras hoje em dia. Mas e daí? Todos devem ter saído do cinema dizendo: "Que pena! Mas a vida tem que continuar."
Até que uma bala perdida os encontre.
Por falar nisso, mandem bala!
7 Comments:
A classe media brasileira e a culpada por todas as nossas mazelas...finge que nao ver os mortos..consome a droga etc
Julio, querido, só para dizer que falei de você lá no Fina Flor..........
beijocas
MM
lúcido como sempre, Júlio.
No caso do filme, uso em aula e discuto, porque minha única arma, como professora, é a palavra,.
E nesse ponto, se eu tiver instrumentos - como o filme - acho que posso fazer um tipo de mudança, pequena, tênue, mas viável. beijos.
Se pensarmos que para haver mudança social é necessária a mudança individual, concordo: a vida vai continuar, como está.
essa aqui nao vai perdida nao...aqui em nz as pessoas ficaram chocadas com o koreano que matou aquela galera na universidade nos eua...um cara chegou pra mim e disse...que coisa horrivel hein?...eu de ca...e dai?...no rio de janeiro tem morrido isso quase toda semana e o fato nao ganha repercussao...nao vai pras paginas do jornais internacionais...sinto pelosamericanos que perderam a vida...mas sinto muito mais pelos que estao perdendo a vida no meu pais...de forma estupida e corriqueira.
grande abraco
julio
Acho que é a classe média do mundo todo...
abs
Nosso coração vai endurecendo, ATÉ NOS DARMOS CONTA (QUANDO DAMOS) DO CORAÇÃO DE PEDRA QUE TEMOS!
Meu coração de pedra diz: a vida tem que continuar.
Postar um comentário
<< Home