
Nelson Rodrigues
Na verdade poderia ser Nelson Rodrigues.
Este cidadão acima é o Luiz Biajoni, jornalista e um pacato pai de família do interior paulista. Mas também autor de um dos livros mais resenhados nos últimos tempos. Sexo Anal - uma novela morrrom. Livro esse cujo o tema é aquilo do qual muito se fala, mas sobre o qual poucos entendem.
Mas não se iludam. Vulgaridade e baixaria passam longe deste romance de 204 páginas. E não é pouca coisa, pois escrever sobre sexo é mais difícil do que a prática em si. É caminhar sobre uma linha tênue entre a beleza do erótico e a pura sacanagem pornô. Mas o Bia consegue, através de uma linguagem leve, simples, dinâmica e esperta, manter o equilíbrio.
Assim que comecei a ler o livro, a imagem de um Nelson Rodrigues mais moderno, de camiseta GAP, calça cargo e ipod, veio a minha mente. E as obsessões comuns nos textos do velho dramaturgo me perseguiram durante toda a leitura. Se não vejamos, Luiz e Virgínia são dois jornalistas que mantém um caso bem resolvido. Virgínia tem necessidades de sexo pela traseira, o que é resolvido sem problemas pelo namorado. Mas ao investigar o estupro e assassinato de uma menor e entrevistar um dos criminosos na cadeia, este lhe diz: “Eu quero comer o teu cú.” E como nos textos do saudoso Nelson, a liberal Virgínia perde o eqüilíbrio ao sentir os porões de sua mente invadidos por sentimentos estranhos. Ela passa a se sentir culpada pelo próprio desejo. E seu conflito interior aumenta ao lidar com o preconceito e o machismo dos colegas de redação, que vêem o sexo anal como uma excentricidade. “Não esquenta, esses desequilibrados têm mesmo essas perversões, sexo normal não satisfaz esta raça. Eles querem sexo anal, comer defuntos...essas anomalias.”, diz um deles. Além disso, Virgínia tem que enfrentar o ciúme de Luiz, quando ela confessa inocentemente que havia o traído com o seu médico, por quem ela sente uma avassaladora atração sexual. Enquanto isso Luiz busca consolo com uma jovem que havia sofrido abuso sexual na infância.
Sexo Anal é sobre isso. Sobre gente lutando para realizar seus desejos sexuais mais íntimos, numa sociedade que, se evoluiu muito, desde os tempos áureos de Nelson, talvez não tenha evoluído tanto quanto gostaríamos. Se estivéssemos nos anos 50, Virgínia poderia ser Ermelinda e Luiz, Adamastor. Mas estariam lidando com o mesmo tripé de conflitos: traição, desejos, obsessões. Tudo isso faz de Sexo Anal muito mais do que um livro sobre sexo. Na conclusão do livro, por exemplo, a escolha de Virgínia resume o principal proposta do romance, a luta para que a felicidade através da satisfação total dos desejos venha um dia a derrotar os pesos pesados da estupidez humana, em um desafio de vale tudo promovido pela moral.
Outro aspecto interessante é como os personagens falam de questões sexuais – algumas até mesmo fortes, como estupro e homossexualismo – de forma tão natural, o que dá um toque atual e inteligente ao livro. Mas se essa naturalidade é o trunfo do Sexo, em alguns trechos, também é o seu maior inimigo. O autor peca pelo excesso, ao descrever cenas totalmente dispensáveis. Um pecado típico de escritor iniciante, que tem a ilusão de estar sendo mais verdadeiro ao se prender a pormenores. Por exemplo, Virgínia tem problemas de hemorróidas, o que dificulta suas relações sexuais. Até aí, tudo bem. Mas os detalhes do seu sofrimento podem lever o leitor desatento a pensar que o autor quer apenas chocar, o que seria uma grande injustiça. Encaro isso como uma ingênua honestidade ao desenvolver o texto. Já posso até ver o velho Nelson com suas bochechas caídas dizendo: “Minta mais, meu caro Bia! Minta sem nenhum pudor!”
Por outro lado, o texto seria enriquecido com um perfil psicológico mais trabalhado de seus personagens, que são tão interessantes. Aliás, uma revisão também mostraria caminhos para agilizar trechos que parecem repetitivos, embora, no geral, a fluidez do texto seja uma de suas maiores qualidades.
Na verdade, Sexo Anal é um romance único que deveria estar nas melhores livrarias se as editoras brasileiras não fossem tão burras. Biajoni é mais um na extensa lista dos desprezados pelo mercado editorial, a recorrer a web para divulgar a sua arte. O que não é nenhum pecado. Mas neste caso, pela qualidade da obra, a web deveria apenas ser uma ferramenta e não a solução. Vai dizer!

Baixe o livro, mergulhando
aqui.
E o blog do autor está linkado aí do lado.
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Por falar na burrice das editoras, continuo comercializando o meu romance policial
A Arte de Odiar por aqui. São 98 páginas, formato PDF bem fácil de ler. Como remuneração pelos três anos dedicados ao livro estou cobrando o preço de dois chopes ou duas águas de coco: R$ 5, via depósito bancário. É só pedir pelo
juliocorrea19@gmail.com e mando via email. Com direito a autógrafo. As razões que me levaram a isso estão no último post.