terça-feira, outubro 18, 2005

ASSUNTOS DIVERSOS II


Quarta-feira de manhã...
As cinco horas enquanto o dia inicia, silenciosamente fechando a porta de seu quarto, deixando um bilhete que ela espera dirá mais. Ela desce a escada até a cozinha, segurando seu lenço. Cuidadosamente virando a chave da porta dos fundos, pisando lá fora ela está livre

Ela está deixando o lar

Os pais: - Nós a demos a maior parte de nossas vidas. Sacrificamos a maior parte de nossas vidas. Nós a demos tudo que o dinheiro pudesse comprar.

Ela está deixando o lar após viver só por tantos anos. (Bye, bye)

O pai ronca enquanto sua esposa veste seu roupão. Apanha o bilhete que está deixado ali. Em pé sozinha no topo das escadas, ela se desmancha e clama para o seu marido:

- Papai, nosso bebê se foi!!!!

- Porque ela nos trataria de modo impensado? Como que ela pode fazer isto comigo?



Ela está deixando o lar.

Os pais: - Nunca pensamos em nós. Jamais um pensamento para nós. Nós lutamos com dificuldade para vencer.

Ela está deixando o lar após viver só Por tantos anos. (Bye, bye)

Sexta-feira de manhã às nove ela está bem longe, esperando para manter o compromisso que ela fez. Encontrando um rapaz que faz negócios com carros

Ela está se divertindo. Diverção é a única coia que o dinheiro não conseue comprar.

Os pais: - O que foi que fizemos de errado? Nós não sabiamos que era errado)

Algo por dentro que sempre foi renegado Por tantos anos. (Bye, bye)
Ela está deixando o lar, bye bye

O texto acima não é nenhum trecho de conto, romance ou qualquer gênero literário. Até poderia ser, mas trata-se da letra de She´s leaving home, composta pela dupla Lennon e MacCartney, em 1967. E é mais um exemplo do namoro que deu certo, entre a literatura e a música. Namoro esse, que alguns novos autores insistem em dizer tratar-se de uma característica da nova safra de escritores, conforme coloquei no último post. Ninguém comentou a respeito e eu já ia dando o assunto por encerrado, quando recebi um e-mail carinhoso de Anna Maria Ribeiro, autora de um texto sobre o referendo do desarmamento, ao qual também me referi no último post. Ela colocou ainda mais lenha na fogueira ao me enviar um excelente texto escrito por ela, entitulado Noel Rosa e a Síntese, e publicado no jornal Mombläat, de Fritz Utzeri. Aí, vai um trecho, no qual ela disseca um samba de Noel, para exemplificar a proximidade da música com a literatura. Aí, vai:

"Em um de seus sambas – Pra Esquecer - existe uma estrofe que sempre me faz viajar. Em poucos versos ele consegue contar uma história triste, muito triste.

"E hoje em dia
Quando por mim você passa
Bebo mais uma cachaça
Com meu último tostão
Pra esquecer a desgraça
Tiro mais uma fumaça
Do cigarro que eu filei
De um ex-amigo que outrora sustentei”.

Três são os personagens. Um homem amargurado fala da mulher que o deixou. Gosta dela ainda, é claro. Percebe-se pela amargura. Depois de tudo que viveram juntos ela, hoje, passa por ele, sem falar, sem sequer olhar. Para piorar as coisas não tem mais dinheiro. Será que foi por isto que ela o deixou? Não gostava dele, então. Foi o dinheiro, o vil metal que a manteve por perto. Foi-se o dinheiro, foi-se ela. E sabe-se lá, foi ela mesma a causa desta derrocada dilapidando a fortuna com gastos e caprichos extravagantes. Agora ele é pobre de marré-marré-deci. E começa a beber. Naquele dia fundo de poço o dinheiro que resta, um último tostão, permite só mais uma cachaça. Nem mais para o cigarro sobra. Nem sempre foi assim. Um dia teve muito. Sobrava-lhe. E tanto que sustentava pelo menos um amigo. Este também o deixou quando o viu sem tostão. Cúmulo da ingratidão! E então vai-se por água abaixo o amor próprio e ele humilha-se filando um cigarro a este mesmo amigo! Dá pra imaginar a cena, não dá? È terrível. E eu estou apenas resumindo. Poderia ir bem mais longe."

Mais uma vez, obrigado, Anna.

Também achei oportuno voltar a este assunto porque hoje, terça-dia18, começa no Centro Cultural Banco do Brasil, um seminário sobre a literatura latino-americana comtemporânea. Durante quatro dias, autores como os brasileiros Sérgio Sant’Anna, Joca Terron, Santiago Nazarian e Luiz Ruffato, o argentino César Aira e o cubano Ronaldo Montero, tentarão esboçar uma cara para atual literatura feita em nosso continente. Sengundo Beatriz Rezende, a curadora do evento, os convidados têm todas as características da nova literatura, ou seja, irreverente, urbana, antenada às multiplicidades do mundo, sensível a muitas filtragens artísticas, como a música e o cinema. É dar um pulo até lá e conferir.

Há vinte anos...
Tá certo que este revival dos anos 80 já está dando no saco. Mas vou embarcar nessa pela primeira e última vez, para recordar o que curtíamos há vinte anos atrás.



O Songs From The Big Chair, com a extinta dupla Tears for Fears - que a gente chamava de tias fofinhas. Este CD tem o hit Everybody Wants to Rule The World. Os dois se separaram em 1991. O Tears prosseguiu com nova formação.




O Brasil todo cantava coisas como "A gente somo inútiiiiiiiiiiiil" por causa deste disco que foi o segundo maior hit do ano no país, só perdendo para o trabalho aí em baixo.




Eles foram o maior fenômeno de vendas depois dos Secos e Molhados. Chegaram a vender quase o mesmo que o Roberto Carlos e viraram uma febre, com fãs se descabelando nos shows, coisa que não se via desde os tempos dos Beatles. E nas festinhas, todo mundo dançava ao som de "Louras Geladas, na mesa de um bar..."




Os Dire Straits foram fenômeno de vendagem na Grã Betanha com o belíssimo Brothers and Arms. O ano também foi marcado pelo álbum de estréia do Sting, o excelente The Dream of The Blue Turtles.






E chega! Anos 80, descansem em paz!



7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Julio: não há o que agradecer, como você o faz. Ser citada, como o fui, me faz a responsável por agradecimentos. Dei uma passeada no seu blog e encontro Janis Joplin e seu comentário (com o qual concordo) sobre um comentário. "Rebelde sem causa" é uma bela frase, sem dúvida. Mas não pode mais mentirosa. Sempre há causa, sempre há muito sofrimento e dor. Uma curiosidade: você sabia que Janis era acusada de "imitar" Bessie Smith - A Imperatriz do Blues? Basta ouvir as extraordinárias gravações de Summertime, de ambas, para se dar conta de que isto é absurdo. Mas existia, sim, uma enorme admiração de Janis por Bessie. Anos depois da morte de Bessie Janis mandou colocar uma lápide no túmulo, uma vala comum. Por tudo, muito obrigda, Anna Maria

quarta-feira, outubro 19, 2005 8:34:00 AM  
Blogger Jôka P. said...

Julio,
durante toda a década de 80 eu morava na França.
Em Paris, exatamente.
Nunca tinha ouvido falar em Blitz, RPM , ou Ultraje à Rigor.
As minhas referências musicais eram outras.
Jacques Brel, o New Wave inglês e Les Rita Mitsouko.
Na verdade não gosto de quase nada referente à essa década.
Nem da música... e da estética ainda menos.
Quando voltei ao Brasil, ainda peguei um restinho decadente desses conjuntos.
Pro meu alívio, percebi que não perdi grande coisa.

Felizmente tudo passa.
Até a uva, passa.

Abçs,
JÔKA P.

quarta-feira, outubro 19, 2005 1:43:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Anos 80... nossa!, me senti meio "jurássico" lendo seu post.
E ainda mais jurássico por nunca ter me identificado com nenhuma das músicas "do momento" das épocas em que vivi.
É, sou mesmo estranho.

Abraço.

quarta-feira, outubro 19, 2005 5:16:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Anna, obrigado pela visita. Eu achava Janis apenas uma porralouca até ler a sua biografia Enterrada Viva. É emocionante ver o que ela passou.
bjs
....
Grande Jôka!
Até houve coisas interessantes na música dos anos 80. Mas acho que eles estão sendo supervalorizados. Os 80 não foram mesmo uma década para ser levada muito a sério.
gd ab

......

Wagner, não tenho grandes saudades dos anos 80. Os 70 e o início dos 90 foram muito melhores.
abração

quarta-feira, outubro 19, 2005 6:42:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu à palestra do Joca. O cara é bom!

sábado, outubro 22, 2005 1:25:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

PS: o blog dele é http://hellhotel.blogger.com.br/

sábado, outubro 22, 2005 1:28:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

PS2 : esqueci o "fui"

sábado, outubro 22, 2005 1:29:00 PM  

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