terça-feira, agosto 09, 2022

Tamanho Não é Documento



Conhecer ou visitar o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses na época certa (junho/julho) é tudo de bom. Ainda é uma delícia mergulhar nas lagoas (foto junho 2022) nos arredores de Santo Amaro, que é o filé mingnon do Parque.
A última vez em que estive ali havia sido em 2015. Fiquei surpreso ao ver agora o quanto a cidade havia crescido e, consequentemente, perdido o que ela tinha de melhor: o seu charme rural rústico e bucólico. Eu costumava dizer que ali a natureza explodia na sua cara da forma mais simples e autêntica, encantando os que moram nas metrópoles, como eu.
Mas, nessa mesma viagem, fui conhecer um lugar, não muito distante, que ainda guarda o charme rural que havia me fascinado há sete anos, em Santo Amaro.


Os chamados Pequenos Lençóis são uma espécie de anexo do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, situado entre os municípios de Paulinho Neves e Tutóia, há cerca de uma hora da chamada Capital dos Lençóis, a cidade de Barreirinhas.
Mas não se iluda. Apesar do nome, o local ocupa uma área extensa, não tão grande como a do parque principal, mas igualmente bonita.
Tamanho ali, definitivamente não é documento. E os Pequenos Lençóis, no quesito beleza, são gigantes.
O grande diferencial da região é a vegetação abundante, que compõe junto com as dunas e lagoas, um cenário muito lindo.
Há também vários trechos de mangues, que só aumentam a beleza da região.
As lagoas do lugar não são grandes como as de Santo Amaro e não contam com um lençol freático que as mantenha durante alguns meses. Elas começam a secar rapidamente, assim que estação das chuvas acaba.

Mas enquanto estão cheias, permitem um banho delicioso.

Tutóia é a cidade da região com melhor estrutura, com algumas boas pousadas, sendo a Jagatá, a melhor de todas. Trata-se de um balneário, mas as praias, com a exceção da Ponta do Arpoador, não são os seus grandes atrativos.
A outra vantagem da cidade, é estar estrategicamente em frente ao lado maranhense do Delta do Parnaíba. Então, você acaba conhecendo dois lindos pontos turísticos, estando hospedado em apenas um lugar.
O pessoal do kite surfe já descobriu o lugar e algumas pousadas passaram a abrir junto à Ponta do Arpoador, que é onde, além de ser um local belíssimo,  o vento é constante.

Arpoador é o nome de um vilarejo onde os Pequenos Lençóis terminam. Ficar hospedado ali significa experimentar 24 horas por dia, a experiência de estar em uma região, não só linda, mas também de uma rusticidade rural que só contribui para aumentar a sua beleza. 

Trata-se de um lugar muito simples, com ruas de areia, pouca iluminação e condições sanitárias precárias.
A maioria dos seus habitantes vivem do que plantam ou pescam.

Você deve ter em mente que não há muitas opções de lugares para comer e que depois que o sol se põe, nada para fazer, a não ser descansar.
Mas acompanhar a rotina diária do lugar, como a pesca nas lagoas, por exemplo, além de belo, é reconfortante.
Foi ali que encontrei a bela rusticidade rural que Santo Amaro perdeu um pouco ao optar pelo crescimento.
Ainda longe de ser explorada pelo turismo de massa - a maioria se contenta  em ir até Barreirinha ou Atins -, Tutóia e, principalmente a região do Arpoador, ainda guardam uma atmosfera de paraíso perdido.
Quem está percorrendo a Rota das Emoções, a caminho do Delta do Parnaíba, passa apressadamente pela região, sem se dar conta do verdadeiro tesouro que há ali.
Não sei até quando os Pequenos Lençóis permanecerão intocáveis assim.
Espero que não mudem nunca. Mas as mudanças climáticas em curso poderão alterar esse paraíso. A melhor época para visitá-los coincide com a melhor época para ir aos Lençóis Maranhenses também.

Então, que tal preparar uma visitinha no ano que vem?


#pequenoslençóis #tutóia #rotadasemoções #kite #deltadoparnaíba #viagem #maranhão #natureza

Marcadores: , , ,

sábado, dezembro 18, 2021

Ponta do Mel, dunas, mar, falésias e sertão. Tudo no mesmo lugar.

Ponta do Mel é um vilarejo, no litoral do Rio Grande do Norte, há 248,3 km da capital.
É um lugar muito simples, onde a pesca é a principal atividade.
Bem distante do turismo de massa e ainda pouco explorado, a não ser por locais, o lugar não oferece muita estrutura.
A Pousada da Maré é a melhor opção. Não espere luxo e sofisticação.
O lugar é limpo, confortável e com preço justo.
O atendimento é muito bom e o ambiente, bastante agradável.
Ideal para descansar por alguns dias.
Ponta do Mel pertence ao município de Areia Branca, assim como o seu vizinho, ao norte, São Cristóvão. Ali, os restaurantes são melhores. Talvez seja um bom negócio almoçar e até jantar ali.
As praias de São Cristóvão são melhores para um banho, mas não têm a mesma beleza.
Não acho vantagem se hospedar em São Cristóvão, pois estará longe dos principais atrativos da região.
Mas vale muito a pena conhecer esse vilarejo, nem que seja só para uma praia, almoçar ou conhecer as obras do artista plástico Nilsão, que usa material reciclado.
O principal atrativo da região são as Dunas do Rosado, uma APA, situado entre Ponta e Porto do Mangue, mas um pouco mais próximo do primeiro.
O local é composto por dunas de vários tamanhos e formas, que ao longo do dia, vão adquirindo diferentes cores.
O lugar é seco e não há lagoas. Portanto, não vá esperando encontrar um novo Lençóis Maranhenses.
Mas as dunas aqui levam vantagem em relação ao parque maranhense não só devido à variedade de formatos, mas também pela diversidade do material que as formam.
As dunas ali são formadas por areia da praia, areia das falésias e terra dos solos arenosos ao redor.
Essa mistura acaba criando uma maravilhosa variedades de cenários.
A maioria dos turistas preferem conhecer o local no final da tarde, para apreciarem o lindo espetáculo do por do sol.
O problema é que o vento nesse horário é muito forte e impede um contemplamento mais profundo, como se é possível fazer ao amanhecer. O ideal é visitar o lugar no início e no final do dia.
A medida que vai anoitecendo, as dunas vão ganhando um tom róseo, explicando a origem do nome do lugar.
Outro atrativo da região é explorar seu entorno de bugre. Ponta do Mel é famosa por ter um terreno e uma vegetação de sertão, bem próximo ao mar. Coisa rara no litoral brasileiro. Em resumo, esse vilarejo encantador foi uma surpresa para mim e merece ser visitado.

Marcadores:

terça-feira, julho 14, 2020

O Dia em que Entendi que a Minha Cidade é Bipolar



Estação de #marechalhermes, Janeiro de 2020

Em março de 1979, eu era um pacato garoto de classe média do #riodejaneiro e estudava em um colégio particular na #tijuca.
Nós tínhamos um professor de geografia muito figura, chamado Evandro, que eu adorava.
Ele tinha um método muito original de dar aula e logo no início daquele ano letivo ele anunciou que iria nos levar para conhecer a cidade. Como asim conhecer a cidade?  E ainda enfatizou: “dos dois lados”. Não entendemos muito bem o que aquilo queria dizer. Mas logo saberíamos.

Estação de Padre Miguel, janeiro de 2020.


Um enorme ônibus foi alugado para acomodar a turma. Muito cedo, rumamos para o #centrodaidade. Ali foi o ponto de partida da aventura. Depois começamos a subir a zona sul. #flamengo#botafogo#copacabana#ipanema e #arpoador.


Arpoador, março de 1979.

Chegamos a dar uma parada no Arpoador, que ainda tinha a Avenida Francisco Bhering aberta e havia passado por uma modernização recentemente. Depois seguimos para o #leblon#saoconrado.

Praia de Sepetiba, janeiro de 2020.

Fomos indo #barradatijuca acima, pela Avenida das Américas, até o final do #recreiodosbandeirantes . Neste momento, metade da turma já estava maravilhada, pois poucos haviam ido até aquele ponto da cidade. Mas o choque começou mesmo quando subimos a Serra da Grota Funda (naquela época, logicamente, não havia o Túnel Vice-Presidente José de Alencar) e, depois, descemos para a #pedradeguaratiba.

Estrada da Pedra, em 1979.


Estrada da Pedra, 2020.

Vacas, cavalos, carroças, sítios e chácaras. Enquanto o saudoso Evandro nos alertava que ainda estávamos dentro da cidade do #riodejaneiro, nós olhávamos tudo fascinados.

Sepetiba, 2020.

É difícil para um jovem de hoje imaginar o choque que foi para nós descobrir esse lado rural da cidade ounde vivíamos,  uma das maiores metrópoles da América Latina.

Sepetiba, 2020.

Passamos por #santacruz, que parecia uma cidade do interior naquela época. E poucos minutos depois, estávamos tirando fotos na orla de #sepetiba, que ainda tinha praia naquela época.

Sepetiba, 2020.

Nesse ponto estávamos completamente sem palavras diante de uma cidade que jamais imaginávamos existir.
Mas nem podíamos supor que a nossa aventura estava apenas começando.


Sepetiba, 2020.

Lembro-me fazia um dia belíssimo e almoçamos em um restaurante na margem da Baía de Sepetiba.



Praia de Sepetiba, 1979.

Como eu falei,  naquela época Sepetiba ainda tinha praias, que hoje encontram-se totalmente assoreadas...


Praia do Cardo, em Sepetiba, totalmente assoreada em 2020.

Depois, voltamos para o ônibus, pensando que retornaríamos para  a nossa zona de conforto classe média.
Mas o grande Evandro tinha outros planos para nós.

Praia do Recôncavo, Sepetiba, 2020, assoreada.

O ônibus nos deixou na estação de #santacruz. A partir dali, deveríamos descer até a #centraldobrasil...de trem!

Baía de Sepetiba, 2020.

O choque foi total. Com a exceção de mim, nenhum de nós havia pego um trem suburbano da Rede Ferroviária, que na época caiam aos pedaços. Poucos de nós haviam ido além do #méier e nossos olhos de classe média observavam tudo completamente chapados com o choque cultural.
O trem estava relativamente vazio, mas vimos pingentes, evangélicos pregando, vendedores de produtos que jamais imaginamos existir e tipos suburbanos que pareciam terem sido tirados de filmes ou documentários antropológicos.
#Bangú#realengo#deodoro#madureira#piedade#engenhonovo. Enquanto o trem sacolejante descia em direção a #central, diante de nós ia passando uma outra cidade. Mais feia, mas não menos fascinante. E o grande Evandro ia nos alertando: “Isso também é #riodejaneiro!”

Baía de Sepetiba, 2020.

Quando chegamos na #centraldobrasil, nossa relação com a cidade havia mudado. O ônibus alugado já nos esperava para voltarmos para o conforto classe média das nossas vidas, mas nossa visão de #riodejaneiro havia mudado radicalmente.
Infelizmente só tenho essas poucas fotos daquele dia, que aliás estão muito ruins.
Aqueles eram outros tempos. Duvido muito que algum professor hoje faça o que nosso querido Evandro fez.
Tenho muita saudade daquela turma e do Evandro, que já nos deixou.

Baía de Sepetiba, 2020.

Pois em março deste ano, eu repeti quase o mesmo passeio - com a exceção do Arpoador - que tanto me fascinou há 41 anos. O choque foi outro, já que a cidade mudou bastante. Foi uma experiência de vida!
Não sei o que o destino fez com cada um daquela turma de 1979, mas uma certeza eu tenho: assim como eu, ninguém esqueceu a aventura.
























Marcadores: , ,