domingo, julho 21, 2013

Woodstock: Esqueça o festival e seja feliz!

Conhecer ou visitar Nova Iorque é muito legal.
Por ser multi-cultural, a Big Apple guarda mil segredos a serem desvendados. A cidade também tem uma excelente rede gastronômica, hotéis para todos os gostos, ótimos museus, intensa vida noturna, cenários encantadores, parques acolhedores, eventos interessantíssimos, além de ser o maior centro de consumo do mundo.
Mas justamente por ser a maior metrópole do mundo, Nova Iorque pode se tornar cansativa. As calçadas cheias, as filas, o barulho, o excesso de luzes, a overdose de informação, muito calor ou frio congelante. Mesmo que você fique hospedado ou se limite a lugares mais cool e descolados, é tanta coisa para ver e fazer que pode rolar algum estresse.
E basta alguns dias no pique frenético desta cidade e o turista, se não tomar cuidado, vai voltar para casa mais cansado do que chegou.
Toda vez que eu ia a Nova Iorque, ficava pensando na delícia que seria ter um lugar próximo e interessante, onde eu pudesse relaxar um pouco e recuperar a energia. Se fosse possível um bate-volta, melhor ainda.
A melhor opção de bate-volta a partir de Nova Iorque era, para mim, a Filadélfia. Washington, Boston ou Atlantic City já são mais distantes e, por isso, merecem um ou mais pernoites.
Acontece que a Filadélfia, apesar de ser muito interessante, também é uma grande cidade e não é o local ideal para se relaxar.
Sempre pensei na possibilidade de um bate-e-volta até Woodstock. Mas achava que não valia a pena por causa da distância.
Mas durante a viagem que fiz a Nova Iorque, no mês passado, decidi testar um bate-e-volta a esta cidade lendária.
Na verdade, há anos eu sonhava conhecer Woodstock.
Eu tinha nove anos quando ocorreu o famoso festival, que reuniu cerca de 500 mil pessoas e fez história, entre os dias 15 a 18 de agosto de 1969.

O festival era para ser realizado em Woodstock, mas, semanas antes do evento, a prefeitura o proibiu, temendo tumultos, já que cerca de 200 mil pessoas já haviam chegado à região.
O local que conseguiram arranjar para o evento foi uma fazenda nos arredores da cidadezinha de Bethel, no Condado de Sullivan, há cerca de uma hora e meia de Woodstock.
Mas o nome Woodstock Festival foi mantido.
Por quê? Era uma pergunta que eu tentava responder.
Eu sempre quis saber o que Woodstock teria para os organizadores decidirem fazer o festival ali.
A conclusão a que cheguei foi a de que Woodstock não é um tão bacana por causa do festival e, sim, o festival seria realizado ali porque a cidade já era bacana.
Na verdade, Woodstock sempre foi um reduto de artistas que buscavam inspiração na atmosfera bucólica daquela cidadezinha cercada por montanhas e florestas.
A fama aumentou uns 100% quando Bob Dylan comprou uma propriedade na região, em meados dos anos 1960. Woodstock virou moda e passou a atrair famosos e anônimos em busca do "astral diferente"
E este astral diferente realmente existe. Woodstock tem tudo o que se espera de uma pequena cidade onde se tenta levar um estilo de vida alternativo: a cordialidade, a tranquilidade e a consciência ecológica. A diferença é que, ali, temos a impressão de que não foi uma coisa adquirida. Parece que tudo isso sempre existiu.
Voltando ao assunto do post, eis que testei e descobri que é possível e viável um bate-volta até Woodstock. Sem correria e sem o menor estresse dá para se dá uma geral na cidade em algumas horas.
Para quem pensa em ficar uns dias na região, o ideal seria alugar um carro em Nova Iorque. Não é barato, mas você poderá aproveitar as atrações nos arredores de Woodstock e de Saugerties, a maior cidade da região, com trilhas, rios, cachoeiras e mirantes, tudo cercado de muito verde.
Para ir de carro, é só perguntar ao mapa do Google. Basicamente parece que é pegar a rodovia interestadual 17, em Nova Jersey e seguir até Kingston pela a 87, depois pegar a estradinha Mill Hill, que irá lhe deixar no coração de Woodstock.
A opção mais barata para um bate-e-volta é o bom e velho ônibus. A Adirondack Pine Hill Trailways tem ônibus partindo diariamente de Port Authority (a estação rodoviária de Nova Iorque, na oitava avenida entre as ruas 41 e 42) para Woodstock. Aqui você pode conferir os horários e preços.
Não vale a pena ir de trem, pois você teria que ir até a Kingston e pegar um ônibus. Em todo o caso, aqui você poderá também consultar as opções de preços.
O guichê da Trailways fica no primeiro andar ou no nível do linha do metrô. Não encontrei fila.
O interessante é que se você comprar para os dias no miolo da semana (terça a quinta) a passagem é mais barata (US$ 45 - ida e volta, em junho de 2013). Nos outros dias sai por US$ 56.
O grande lance para quem vai fazer o bate-e-volta é pegar o ônibus no horário de 9h30min. Achei o horário legal, pois você não precisa acordar tão cedo e toma o café da manhã com calma.
Eu cheguei pontualmente ao meio dia e voltei no busão que passa por volta das 17h. Você chega em Nova Iorque antes das oito da noite.
A viagem para Woodstock já é um deleite. Ôs ônibus são confortáveis e as estradas são muito boas. E lindas. Você passa por vários quilômetros de bosques e alguns rios. E também por cidadezinhas como Kingston e New Paltz, iguais àquelas que a gente vê em filmes, cheias de casarões como o da foto acima.
O ônibus vai deixar você na praça principal de Woodstock, a Village Green.
E logo bem na praça, já existe uma opção de pousada, a Village Green, que fica bem numa ruazinha sem saída, que começa na praça. Para obter mais informações, mergulhe aqui.
Aliás, para obter mais informações sobre pousadas e o que fazer em Woodstock, este site aqui é uma tremenda ajuda.
Se você leu este post até aqui e decidiu fazer o bate-e-volta a Woodstock, vamos ver no que posso ajudá-lo.
Quando ir? - O verão e o final da primavera são os períodos ideais para quem quer fazer esportes radicais, trilhas, pescar, nadar nos rios e explorar a cidade e seus arredores com temperaturas agradáveis.
O outono, pelo que pude apurar, é o período mais romântico, quando as ruas se enchem daquelas folhas coloridas caídas das árvores. Ótimo para quem quer amor, paz e descanso. Woodstock tem um clima ligeiramente mais frio do que a cidade de Nova Iorque, já que fica numa região montanhosa. Por isso, as atividades ao ar livre diminuem nesse período.
Além do mais, em outubro ocorre o festival de cinema da cidade. Se você pretende ir nessa época, reserve antes, pois as pousadas costumam lotar.
Não iria no inverno. Pelo que sei, costuma nevar muito na região e tempestades não são raras. O risco de você ficar preso na cidade por causa do excesso de neve na estrada não deve ser descartado. Além do mais, acho que a cidade perde um pouco sua magia, fica mais cinza, menos colorida, menos receptiva.
 Onde Comer? - Bem, você chegou em Woodstock por volta do meio dia e, provavelmente, está com fome. Então, vamos logo comer algo.
A opção mais prática, me pareceu o Landau Grill, que fica na Mill Hill Road, quase em frente a pracinha Village Green. É só olhar para a direita. Aliás, comece explorar a cidade por ali.
Comidinhas, saladinhas, sanduiches e lanches rápidos para alimentar e não entupir o seu estômago. Os preços são bons e o atendimento segue o padrão Woodstock, atencioso, gentil e prestativo. Você pode conferir o menu e os preços aqui.
Aliás, como era de se esperar, os preços em Woodstock são bem mais em conta do que em Nova Iorque.
Come-se neste varandão coberto, de onde você nem tem vontade de sair de tão acolhedor. Talvez não seja assim nos dias frios ou de chuva. Isso tudo me fez crer ser a melhor opção.
Do outro lado da Mill, quase em frente ao Landau, existe essa loja da rede Bread Alone que também vende algumas comidinhas. A tradição da casa são os produtos artesanais. O local é pequeno, mas ao lado há mesinhas e cadeiras. Não entrei, então, não sei dos preços, mas você pode conferir e obter mais informações aqui. Lamento não ter entrado para experimentar uns docinhos como sobremesa.
Ao longo da Mill Hill Rd, você encontra outras opções para forrar o estômago. O Landau e a Bread Alone são as opções mais próximas do ponto onde você irá saltar do ônibus.
O que fazer tendo apenas algumas horas em Woodstock? - A cidade de Woodstock não tem nenhuma grande atração turística. E eu acho isso ótimo. Porque o melhor do lugar é entrar no seu clima. Você não tem a obrigação de visitar nenhum lugar e tudo o que vai ter que fazer é se soltar sem direção. Caminhando tranquilamente, em pouco mais de duas horas, você conhece 80% ou 90% dessa cidade única.
Woodstock é um lugar único, porque talvez seja o único lugar onde o sonho dos anos 1960 tenha dado certo. Alguma cidades vivem das glórias do passado. Mas o incrível é que, ao andarmos pelas ruas de lá, percebemos que nós vivemos mais do passado do que os locais. Como lá o sonho não acabou e, sim, foi apenas aperfeiçoado, a vida seguiu em frente, sem perder contato com os ideais que sempre imperaram na região: a possibilidade de se criar uma sociedade alternativa, com respeito a natureza, uma extrema civilidade, uma liberdade consciente e uma incessante necessidade de se exercitar o trio alma-mente-e-espírito.
Essa cena acima, de um, talvez, veterano da geração paz & amor, conferindo os seus emails em um smartphone, é um exemplo de que Woodstock adaptou sua filosofia de vida aos novos tempos numa boa.
Outros lugares que também sofreram grande influência do sonho dos anos 1960, acabaram o adaptando às realidades do dia-a-dia.Ali parece que aconteceu o contrário. Então, para mim, as grandes atrações de Woodstock são lugares banais em qualquer cidade, como...
 ...um açougue, por exemplo. Ou...
 ...um lavanderia ou...
...um café. E quem sabe...
...uma mera loja de bicicletas (aliás, alugar um bike para expolorar Woodstock e arredores é obrigatório para quem vai ficar na cidade; mas não para um bate-e-volta.
Alguém conhece uma funerária mais bonita?
E o que me dizem dessa livraria?
Woodstock também tem algumas galerias de arte que merecem uma olhada. Quem vai fazer o bate-e-volta talvez não tenha tempo, mas entre em pelo menos uma, se puder.
Quem for a Woodstock no final de semana, não deve deixar de visitar a feira que rola atrás da Bread Alone.
Em resumo, o estilo de vida, é a maior atração de Woodstock e ele deve ser explorado em cada cantinho, pelo menos da parte mais central da cidade.
E, aos pouquinhos, você vai descobrir porque essa pequena cidade foi escolhida por artistas de todos os tipos e porque os organizadores decidiram, inicialmente, fazer aqui o famoso festival.
Dá para fazer compras? Sim, mas quem estiver pensando em encontrar alguma grande marca é por que não entendeu nada do que escrevi até aqui.
Ao longo da Mill Hill Road e a Tinker Street, que são as duas principais vias da cidade, há dezenas de lojinhas. Vai do gosto e do apetite consumista de cada um. O que se vê mais são artigos religiosos e objetos de decoração. Não achei os preços altos. Woodstock, como já falei, sempre foi lar de artistas de todos tipos. Por isso, encontra-se muita coisa de artesanato e produtos que você só encontra mesmo lá.
Encontrei poucas lojas de roupas e calçados. Esta de produtos artesanais me chamou a atenção.
Assim como esta loja de velas artesanais.
Essa casa de chá numa transversal da Mill Hill Rd também merece uma visita.
Mas eu menti quando falei que não há atrações turísticas em Woodstock. A Legends é uma loja que está completando 41 anos e que é a única na cidade que descaradamente vive do passado. Na verdade, eles sabem que os turistas que visitam a cidade estão, indevidamente, atrás de lembrança da "época do festival que deu fama à cidade". Então, lá se encontra tudo sobre a cultura dos anos de 1960. De imãs de geladeira que são réplicas do poster que anunciava o festival até discos vinis.
Embora seja, despudoradamente, voltada para turistas, a loja realmente merece uma visita. Nem que seja para comprar a famosa camiseta com a propaganda do festival. Eu trouxe uma.
Para terminar, a pergunta final:
Por que visitar Woodstock?
  1. Porque é uma cidade única. Woodstock só existe em Woodstock;
  2. Porque serve como uma pausa na correria de Nova Iorque;
  3. Para se surpreender com o fato de uma cidade com tanta qualidade de vida e que fica há menos de três horas da maior metrópole do mundo, definitivamente parece nem tomar conhecimento disso;
  4. Para conhecer essa região do estado de Nova Iorque que é linda!; e
  5. Para entender a magia que essa cidade tem que fez tantos artistas escolherem morar lá e os organizadores do famoso festival decidirem realizá-lo ali.
E a pergunta que não quer calar:
Realmente vale a pena fazer o bate-e-volta até lá?
Vale. Achei bem redondo e nada cansativo. Aliás, dos dias em que passei em Nova Iorque, foi o que menos me cansei.
Mas quer saber? Na próxima vez, vou pernoitar. Acordar em Woodstock deve ser uma experiência.
E para terminar, se você ainda não entendeu o espírito de Woodstock, depois de tudo que eu falei e mostrei, aí vai uma foto que pode resumir todo esse post. Trata-se de um aviso na porta de uma loja, que alerta o cliente para ter cuidado com o degrau na entrada...
E estamos conversados.

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