Na Baixa
Posto de salvamento em South Beach.
Quando o meu voo, procedente do Rio de Janeiro, chegou no bem estruturado Aeroporto Internacional de Miami, conhecido como MIA, naquela madrugada de dezembro de 2012, a temperatura era de nove graus.
E eu, que esperava pegar uma prainha, pensei: *@?#!!!!!.
O dia amanheceu esplêndido, mas a temperatura não passou de vinte graus. No dia seguinte, ela chegou a vinte e dois. E no outro, a vinte e sete. Yessssss! Deu praia.
Mas não só praia. Acontece com Miami, o mesmo o que acontece com o Rio no verão. É tanto calor e abafamento, que a gente acorda de manhã cheio de planos para curtir o lado Miami-longe-da-praia, mas dá uma preguiiiiiiça de sair da areia! E terminamos não conhecendo nem a metade do que deveríamos conhecer.
No inverno, a praia passa ser apenas uma das atrações e não A ATRAÇÃO.
Prédios em estilo art decó na Ocean Drive, South Beach. Resquícios de uma época de ouro.
Para se entender o que Miami tem a oferecer, tem que se entender um pouco da cidade.Miami é uma cidade que já teve seu boom, nos anos 60, quando era o destino preferido dos americanos nas férias de verão. Era uma cidade calma, simpática, barata e muito menor. A região de South Beach, onde a maioria dos turistas se hospeda hoje, era quase interiorana, cheia de predinhos em estilo art decó, como os na foto acima, onde o pessoal da meia idade se sentava para conversar ou pegar um sol. Esses prédios continuam os mesmos até hoje. Mas não se vê mais velhinhos. A noite na Ocean Drive é outra hoje em dia, cheia de restaurantes, bares e clubes bem animados. A idade média nesses locais é bem abaixo dos trinta.
Carros antigos parados em frente a prédio moderno, cercado por outros em estilo art decó, na Collins Avenue.
Miami se modernizou, mas não perdeu o seu ar kitsch, retrô. Pelo o contrário, parece ter orgulho dele. O Kitsch e o retrô estão em toda parte. Para os moradores, ele são lembranças de tempos idos - até o início da década de 1970, quando nove entre dez aposentados de grandes cidades norte-americanas, como Chicago, Detroit, Filadélfia, Dallas, Boston e, sobretudo, Nova Iorque, sonhavam em um dia terminar os seus dias nas areias de South Beach.
Miami naqueles dias era muito mais tranquila, barata, segura e acolhedora. Fora da alta temporada, entre dezembro e março e também entre junho e setembro, parece que todos os moradores de South Beach se conheciam. O tráfico de drogas era tímido e as ocorrências policiais eram poucas.
Devido a sua proximidade com a América Central e também seu clima, a maior cidade do estado da Flórida sempre seduziu imigrantes latinos. Mas os hispânicos naqueles tempos eram poucos e mais cordatos (leia-se submissos).
Miami naquela época, poderia até ser o paraíso dos aposentados e dos casais de meia-idade, mas era considerada um cemitério para os mais jovens.
A Espanhola Way e seus restaurantes mais aconhchegantes sob o sol do inverno.
Tudo começou a mudar no começo da década de 1980, quando a economia norte-americana bombava e o país precisava cada vez mais de mão de obra barata. Com isso, o departamento de imigração ficou mais bonzinho, durante um tempo, permitindo a entrada de muitos trabalhadores vindo de países mais pobres, sobretudo de Cuba e México, mas também muitos brasileiros.
A maioria desses trabalhadores eram composta de gente pacata que só queria juntar uma grana mais rápido e voltar para sua terra de origem. Mas no meio deles, havia muita gente do mal. O presidente Jimmy Carter cometeu o inocente erro de abrir as portas para cubanos que desesperadamente tentavam deixar a Ilha, arriscando suas vidas em botes ridículos. Fidel Castro, para o resto do mundo, parecia dar uma de bom samaritano e permitir deixar sair quem quisesse sair, mas na verdade, ele só permitiu que os "indesejáveis" partissem. Isso incluía prostitutas, doentes mentais, travestis, viciados, psicopatas e marginais de todo gênero. Quando Carter percebeu a besteira que havia feito, já era tarde demais e Miami já havia sido invadida por pessoas da pior espécie, causando um prejuízo do qual a cidade custaria a ser livrar - na verdade, até hoje sofre seus efeitos.
A Miami dos anos de 1980 era perigosa, suja, vulgar, decadente. Os aposentados se foram, assim como os turistas e muitos moradores. Quem acompanhou naquela década o seriado policial Mimi Vice teve uma ideia do que estou falando.
O antes paraíso, agora era um lugar o qual devia se evitar passar as férias.
Trailler de artistas no Wynwood Art District.
Para muitos, Miami era um caso perdido. Mas os governos local e federal resolveram dar mais uma chance à cidade. Em um esforço conjunto, houve um duro combate ao tráfico de entorpecentes e á criminalidade, investimentos milionários foram destinados, além de incentivos para que grandes empresas se entusiasmassem a abrirem filiais na cidade. Era o início de uma nova fase para Miami. Basta se andar pelo centro da cidade e se surpreender com as torres moderníssimas de apartamentos residenciais e comerciais. Grandes redes de hoteis, assim como grifes famosas também começaram a aparecer.
Além disso, largas avenidas e auto-estradas foram abertas, ruas foram limpas e reubanizadas, a iluminação também melhorou e o sistema de transporte ficou mais prático. O aeroporto, como pode-se ver no link proposto acima, tornou-se em um dos mais modernos do país.
Houve uma valorização dos imóveis, enquanto artistas e astros da música, como Madonna, compravam casas na cidade.
Toda essa modernidade passou atrair os mais jovens, pois a noite passou a ser uma das mais animadas do país.
Estamos falando dos anos 1990, quando ocorreu o Plano Real, aqui no Brasil, e os brasileiros passaram a invadir a Flórida, agora não como imigrantes, mas como turistas e até como investidores. Miami virou um paraíso para a nossa classe média. Infelizmente, ela buscava na cidade apenas prazeres furtivos, como compras, balada e praia. Era como se Miami não devesse ser levada a sério como outras metrópoles americanas como Boston, San Francisco, Los Angeles e Nova Iorque. Para 95% dos turistas, Miami era para se distrair, Nova Iorque, por exemplo, era para se apreciada.
Mas, a maioria dos turistas não sabia que, na calada da noite, um grupo de artistas locais estava se esforçando para mudar essa imagem de futilidade.
Os maravilhosos murais nas ruas do Wynwood Art District.
Em 2003, surgia o Wynwood Art District, um trecho do Centro (que tem seu núcleo ao longo da NW 2nd Ave, entre as ruas NW 22th e NW 28 th), onde vários artistas abriram suas galerias e ateliês, que podem ser visitados livremente. A arte ali é de alta qualidade, mas quem não tiver tempo ou não encontrar os locais abertos, pode apreciar os geniais murais feitos por esses mesmos artistas praticamente em todas as ruas do bairro. O impacto visual Chega a ser, por vezes, impressionantes.
Coisa mesmo de primeiro mundo. Senti falta de indicação dos artistas e legendas falando sobre as obras, mas aos domingos, acontece um tour pelo bairro, no qual guias especializados dão informações sobre os trabalhos.
Há também cafés e pequenos restaurantes bem charmosos por aquela área.
O problema é que Miami é uma cidade com poucas ruas arborizadas e, por mais que você aprecie arte, visitar todas as ruas e seus murais, sob um sol de 30 graus, é torturante.
E é aí que entra a vantagem de se conhecer a cidade no inverno, quando o tempo fica mais firme, o sol mais brando e os ventos mais tranquilos.
E não é só o Wynwood que merece atenção do visitante que quer respirar cultura e conhecer lugares de bom gosto em Miami. O Vizcaya Museum também merece algumas horas de sua estadia com sua decoração elegante e seus jardins maravilhosos.
O Miami Design District (nos arredores das ruas NE 39 e NE 40), com suas lojas de decoração e grifes caras, que não desapontam os mais exigentes, é obrigatório para quem quer comprovar que existe, sim, vida inteligente e bom gosto em Miami.
Cafés charmosos, como o da foto acima, esperam o visitante no Design District, após apreciar as lojas de decoração que são quase que uma galeria de arte ou comprar nas lojas de grife quase exclusivas. Mas veja se é possível curtir um bom café nessas mesinhas sob um sol inclemente de verão? Mas fazia uns 19º quando eu fui e estava muito convidativo.
O Bass Museum, no coração de South Beach, com sua coleção de artistas latinos famosos, como a mexicana Frida Kahlo e seus jardins maravilhoso, cheio de esculturas e manifestações artísticas, por vezes, estranhas, como esse enorme varal aí nas fotos embaixo, não deve ficar de fora.
O Miami Art Museum, bem na Flagger Street, onde os brasileiros vão comprar principalmente eletrônicos, tem um dos maiores acervos artísticos do país. Mas, infelizemente, é desprezado.
Antes, você só encontrava em Miami, hoteis de grandes redes, nada personalizados e sem nenhum charme. Eles ainda estão lá com suas enormes torres envidraçadas, onde turistas de todas as partes se acotovelam nas piscinas.
Mas já começam surgir alguns hotéis boutiques e ou charmosos locais para pessoas que querem algo além de conforto. O The Betsy Hotel, onde me hospedei, em plena Ocean Drive, pode ser uma opção charmosa. Olhem esse lounge no terraço, onde se toma café ou curte um por do sol delicioso, com as temperaturas amenas do inverno.
Mas nem tudo ainda flores em Miami. Ainda se percebe uma discreta prostituição nas baladas de South Beach, o consumo e tráfico de drogas ainda marcam presença e o centro da cidade deve ser evitado à noite.
A cidade ainda tem um caminho a ser percorrido até que possa competir com outras metrópoles norte-americanas, como Nova Iorque, sua maior rival. Mas o fato de ela ter tentado tão bravamente e ter dado a volta por cima, já é um motivo para um visita, principalmente para nós, brasileiros, que vivemos em cidades tão cheias de problemas. Visitar Miami pode trazer a esperança de uma mudança possível.
Tudo bem, você quer mesmo praia e compras? Bem, depois de verificar que existe mesmo vida inteligente e bom gosto em Miami, pode correr para os shoppings e para as espreguiçadeiras e se torrar no sol. Torrar não, pois estamos no inverno e o sol vai lhe dar apenas uma cor melhor.
*Inormações úteis:
Desde 2010 está em funcionamento uma linha de ônibus, o Metro Bus inaugurou uma linha expressa, também chamada de Flyer (nº 150) que sai do aeroporto direto para South Beach, onde há paradas determinadas, sendo uma bem na Lincoln Road, coração de South Beach. Este serviço é um grande auxílio para a maioria dos turistas que ficam na orla e os preços dos táxis costumam ser altos neste trajeto. A passagem custa US$ 2,5 e a viagem é bem rápida. Os veículos são muito confortáveis, contam com wi-fi grátis, lugares para acomodação das bagagens e ar condicionado.
Para pegá-lo, você deverá embarcar primeiro no Metro Mover que funciona somente dentro do aeroporto. Ele liga todos os terminais e mais a rodoviária, que fica bem ao lado. O serviço é grátis e os trens saem a cada minuto.
Para quem vai ficar no Centro de Miami, deverá pegar o metro rail, a linha de metrô que tem várias estações no continente.
Para quem estiver em South Beach e quiser conhecer tanto o Design District, quanto o Wynwood Art District, acho que a opção mais barata seria pegar um ônibus até Downtown e lá pegar um táxi, já que ambos os locais não contam com estações de metrô próximo.
Miami ainda é uma cidade propícia ao aluguel de carro.
Tentei colocar links dos mapas e informações da prefeitura de Miami, mas estão todos fora do ar há semanas. Uma pena.