sexta-feira, março 30, 2012

O Terrorista Chega a Terceira Idade

"Já ouvi acusarem você de escritor pornográfico. Você é?"
"Sou, os meus livros estão cheios de miseráveis sem dentes".

O trecho acima foi tirado do conto Intestino Grosso, o último do livro Feliz Ano Novo, que tornou-se o presente de Natal preferido das pessoas de bom gosto em 1975.
Sim, eu disse 1975, auge da ditadura militar. Por isso, o autor da citada obra, o mineiro, radicado no Rio de janeiro, Rubem Fonseca, viu seu livro ser recolhido das livrarias, por ordem do, então, Ministro da Justiça, Armando Falcão, após já ter entrado na lista dos mais vendidos no país. O argumento foi o de "excesso de violência e palavrões", mas ao se julgar pelo trecho no início deste post, percebe-se  que a razão não foi bem esta.
As novas gerações não sabem, mas já houve um tempo neste país, em que você podia ser preso ao ser flagrado carregando certos livros.
As novas gerações também podem achar interessante, engraçado ou inteligente o trecho acima, mas naquela época ele tinha quase que o efeito de um atentado terrorista.
Eu ainda tenho um exemplar da primeira edição, lançada em 1975 pela já extinta Editora Arte Nova.
Rubem Fonseca conseguiria liberar sua obra apenas em 1989, após uma longa batalha judicial.
Hoje, no alto dos seus 86 anos, ainda está em forma e gozando de enorme prestígio, como mostra este vídeo recente, onde o autor faz palestra em Portugal:

E quanto aqueles que proibiram Feliz Ano Novo? Alguém sabe deles?



Marcadores:

2 Comments:

Blogger Ana Coeli Ribeiro said...

Nossa amigo, teu comentário me deixou até emocionada,especialmente pelo escritor que és, porque sei que não é de ficar com troca de elogios, ( há alguns blogs em que ninguém critica nimguém)sua siceridade só me acresenta(não vaidosa)entende!
É isso querido amigo,precisamos da sombra e da dor para valorizar a luz.
Não vou comentar teus escritos agora, estou muito cansada(sono mesmo) e amanhã leio com calma
bjs e Luz!
Ana

sexta-feira, março 30, 2012 11:00:00 PM  
Blogger Ana Coeli Ribeiro said...

Lembro muito bem da ditadura e do medo das pessoas naquela época, onde a censura se fazia presente na vida dos que ousassem pensar.Também lembro quando este livro foi proibido.É triste pensar numa vida onde nos tira a liberdade.Não consegui ver o filme, o som estava ruim, mas pelo pouco que ouvi ele continua maravilhoso e encantando a todos.Muito legal vc lembrar e escrever, os jovens não sabem e poucos se interessam por nossa história tão recente ainda, não é?
Uma linda e iluminada semana
bjs
Ana

domingo, abril 01, 2012 10:07:00 PM  

Postar um comentário

<< Home