sexta-feira, outubro 29, 2010

Dossiê Colonia Del Sacramento Para Virgens - Como eu

(Clique nas fotos para vê-las em tamanho natural)

Colonia Del Sacramento é uma cidadezinha que fica do outro lado Rio da Plata. Da parte mais alta da cidade, o Farol de San Pedro, dá até para ver o skyline de Buenos Aires bem ao longe.
Colonia foi fundada por portugueses, ao contrário de BUA, erguida por espanhóis, por isso as diferenças arquitetônicas e estéticas entre as duas. A cidade - patrimônio da UNESCO - foi crescendo, mas a sua parte mais antiga foi preservada. E é ela que tem atraído turistas de todo o mundo.

Como era virgem nesse destino, vou mostrar passo a passo como fiz.
Primeiro passo é adquirir o tickets em um buque. Há duas empresas que fazem a travessia do Rio da Prata. A Colonia Expresss e a Buquebus. Ambas dão descontos para quem compra com antecedência. Principalmente, pelo site. A primeira tem preços um pouco menores e me pareceu mais simpática, sem tantas regras. Mas a maioria dos turistas prefere a segunda.
O embarque da Buquebus é feito em um prédio em Puerto Madero, bem na altura da avenida Córdoba (foto). O embarque da Colonia já é do outro lado, próxima a La Boca.
As duas empresas aconselham se chegar uma hora antes do embarque, porque tem que se fazer check-in e passar pela migração. Isso mesmo! Devido a proximidade entre as cidades, você se esquece que está indo para outro país. Imagine-se, então, num aeroporto prestes a cair numa viagem pro exterior. Não se esqueça do passaporte.

Há dois tipos de Buques: o rápido, que cruza o Plata em uma hora e o lento que o faz em 3 horas. Pegue o rápido. Você vai me agradecer por isso.
Eu aconselharia se chegar bem mais cedo para não ficar azul de raiva ao ter que enfrentar isso aí em cima. Principalmente em datas festivas.
Bem, depois de todos os procedimentos de embarque é a hora de se acomodar. Como os assentos não são numerados, se você quiser pegar um lugar junto a janela ou viajar em grupo, é melhor correr para pegar o início da fila de embarque.
No mais, o Buque é muito confortável, rápido e silencioso. Eu consegui até dar uma cochilada. Padrão Primeiro Mundo.

O Buque conta com uma lanchonete que quebra o galho para quem não teve tempo de tomar o café da manhã no hotel. Aceita dólares, pesos argentinos e uruguaios.

Há também um pequeno Free Shop que ajuda a passar o tempo.

Chegando em Colonia você terá que trocar moedas. O peso uruguaio é ainda mais desvalorizado do que o argentino. Mas não se iluda, a inflação lá também é cruel. Cotações que eu pequei: 1 real - 10 pesos uruguaios. 1 dólar - não me lembro bem, mas estava perto dos 20 pesos uruguaios. 1 peso argentino - cerca de 6 uruguaios.
Aproveite para pegar o mapinha distribuído no saguão principal e caia na vida.
Você terá logo a sua frente essa recepção maravilhosa: o corredor de arborizado da rua General Artigas. Mas antes de tudo, é bom você já ter se decidido se irá pernoitar ou não.
Para ser sincero, acho que um bate-e-volta é o ideal. Colonia só tem mesmo de interessante a parte antiga. Pegue o Buque das 8h45min e volte no das 16h30min ou 20h30min. Esses são os horários dos rápidos da Buquebus.
Muitos turistas partem de Colonia para Montevidéo. Para esses, a rodoviária está ao lado da estação do Buque.
Quem quiser pernoitar, poderá contar com várias pousadas que me pareceram bem confortáveis. Não busquei informações, pois estava fora de cogitação permanermos na cidade. Há hoteis nada luxuosos, mas igualmente confortáveis. A maioria das pousadas fica nos arredores da Plaza Mayor.
Virando à esquerda e seguindo direto até o final a rua Miguel Angel Odriozola, você já sairá no início do bairro histórico.
Há aluguel de bikes e scooters em Colonia, mas quer saber? Acho desnecessário. Os trechos não são longos e o lugar requer calma.


A Calle de Los Suspiros é a primeira a chamar a atenção, com essas casinhas rústicas.
Cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo...
Colonia é chamada por muitos brasileiros de "A Parati uruguaia". Sinceramente, não dá para comparar as duas, apesar de algumas semelhanças. Parati é uma cidade histórica, enquanto Colonia é um pequeno baldeário com um bairro histórico preservado.
Como a cidade foi descoberta por portugueses, a arquitetura muda drasticamente.
E não se surpreenda ao se deparar com um ar meio "cidade histórica de Minas". Os pés de moleque do calçamento já são tão familiares a muitos visitantes brasileiros, que eles nem tropeçam.
É uma pena que apenas uma pequena parcela da arquitetura original do lugar tenha sido preservado. Mas pelo menos algo foi preservado, o que não aconteceu com a riqueza arquitetônica da maior parte do nosso país.
O portal que recebe o turista na entrada do bairro histórico, o Portón de Campo, é coisa típica da colonização portuguesa.

O que chama a atenção mesmo em Colonia é o estado de preservação. Não conheço nenhuma cidade histórica com esse nível de preservação no Brasil. O Farol de San Pedro é um exemplo. Pagamos15 pesetas uruguaias cada para subirmos.
Lá de cima dá para se ter uma vista completa desta cidadezinha que já havia conquistado meu coração. Percebe-se também o corte tortuoso, tipicamente português, das ruas do Bairro Histórico.
A muralha espessa ao lado do Farol é o que restou do Mosteiro de São Francisco, fundado em 1964 e destruído por um incêndio.
Plaza Mayor é o ponto central da cidade. Lá e nos arredores existem muitos museus, locais para visitação, bares, restaurantes e também lojinhas, ateliês e antiquários para quem quiser arriscar umas comprinhas.

E antes que você comece a esperar uma Tiradentes em versão uruguaia, já vou adiantando que nem considero Colonia um polo gastronômico ou de compras. A maioria das lojas vende coisas para turistas pouco exigentes. Mas procurando-se aqui e ali, encontra-se coisas originais e de bom gosto.
O Museu Português e dos Azulejos oram os que mais achei interessante. Compre um ingresso e entre em todos os museus.
Quanto a parte da gastronomia, qualquer ruazinha que você virar, saindo da Plaza Mayor, é esta cena que irá ver. Locais e turistas desfrutando da tradição espanhola de se comer ao ar livre.
Ainda mais sob um céu de azul almodovariano e um sol gentil de uns 17 ou 18 graus.
Há restaurantes para todos os gostos e bolsos.
O Mesón de La Plaza e o La Florida, ambos na Plaza Mayor me pareceram ser os top de linha.
Este aí de cima, que fica em frente ao rio, também achei bem caro.
O mais badalado é o El Drugstore, com suas mesinhas com toalhas muito coloridas.
Não é muito difícil de achá-lo. Fica na Calle Portugal, em frente a Basílica del Santissimo Sacramento. Oferece música ao vivo à noite e não achei caro. Mas como o Tio Riq disse que havia se decepcionado com a comida, não quisemos arriscar.
Para aqueles que não estão dispostos a gastar muito, a rua principal da cidade, a General Flores (acima), existem locais mais em conta.
Mas preferimos ficar num italiano nesta ruazinha bem bucólica.
Por estar no final de uma transversal, longe da General Flores, o lugar estava quase vazio e era muito tranquilo. Os preços eram honestos e a pasta, inesquecível. Ótimo para um bate papo ao sol com taças de vinho branco reluzindo.
Mas você definitivamente não vai passar fome me Colonia.
Tenho certeza que você vai encontrar um local - romântico, de preferência - para fazer sua refeição no clima bem cool que Colonia pede.
No mais, é só desgastar o almoço dando mais um giro pelo Bairro Histórico, apreciando a herança espanhola na arquitetura...
...e apreciar os detalhes de uma cidade cheia de histórias e charme.
Costumo dizer que são os detalhes que fazem uma cidade conquistar você.
Depois de se deliciar com a exuberância de Buenos Aires, entrar em contato com um lugar que consegue ser tão rico através de tamanha simplicidade, é como um carinho na alma. Colonia é acolhedora, barata, tranquila, charmosa e cheia de histórias. Nem Paraty e nem Tiradentes. Colonia é única e por esse motivo merece ser visitada.
Talvez o nome da rua mais famosa da cidade venha do fato de que os visitantes sempre param lá para uma foto antes de voltar para o próximo Buquebus. Suspirando de pena de deixar esse lugar muito bacana.

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segunda-feira, outubro 18, 2010

Buenos Aires Para Sem Vergonhas

Bem, você já perdeu sua virgindade de Buenos Aires, foi bom pra você e agora tudo que deseja é esticar sua estadia ou voltar outra vez para conhecer o ponto G ou o Lado B da cidade. Em outras palavras, você já está íntimo e sem vergonha.
Pois bem, aí vai dicas menos turísticas para quem quer continuar desfrutando da capital argentina.
Mais relaxado(a), comece curtindo da arquitetura riquíssima e de padrão europeu. O Centro e a Recoleta são os melhores lugares para isso. Nos arredores da Plaza Gal. Martin (foto acima), há verdadeiras pérolas neste sentido.


Outro local para se curtir os resquícios do período de ouro da cidade, entre as décadas de 40 e 60, quando Buenos Aires atraía celebridades de todo o mundo e era considerada um pedaço europeu na AL. Esse período foi morto por sucessivas crises econômicas, crises políticas e uma das mais crueis ditaduras que o continente viveu.
Aí, você vai dizer: Mas isso é programa de turista! Em primeiro lugar, você é turista e não há motivos para se envergonhar disso. Só que agora você está vivenciando a cidade e não mais a conhecendo apenas. Os turistas virgens vão atrás do Café Tortoni ou, no máximo, do Edifício Palacio Barolo(no 1370 da Avenida de Mayo). E estão apressados demais para prestar atenção á riqueza dos detalhes de um tempo em que BUA era mais requintada.
A avenida de Mayo(foto) é para ser percorrida desde a Plaza Del Congresso - prestando atenção no belíssimo prédio do Congresso argentino - até a Plaza de Mayo. Passando batido, como já falei, pelo tal Café Tortoni. Turista descolado prefere um café mais comum, onde ele possa ser confundido com um local.
Sugiro o Café London City, há poucas quadras do Tortoni, descendo a avenida em direção a Plaza de Mayo, como você estivesse indo para a Casa Rosada (foto). Tranquilo, bom atendimento e preços muuuuuito mais justos. E nem sombra de turistas barulhentos e ansiosos em perder a virgindade.
A avenida Corrientes é conhecida como a Broadway portenha, devido a grande concentração de teatros. E o teatro argentino pode lhe reservar boas surpresas. Mais uma vez, a Time Out pode lhe ser útil neste sentido. Acima, a versão original de Mais Respeito Que Sou Sua Mãe, que está em cartaz no Rio, numa versão do Falabella & Cláudia Jimenez, que tem consquistado crítica e público.
O espetáculo é uma adaptação do impagável Antonio Gasalla - que está no papel principal - de um conto do próprio diretor Hernán Casciara e está bombando. Assistir em BUA além de ser mais barato, é interessante para se ter a visão de uma família portenha. Para quem quiser arriscar, está em cartaz no Teatro El Nacional, Av. Corrientes, 968, próximo à Nove de Julho. Convém comprar com antecedência. Masi detalhes, mergulhe aqui. A peça já está em cartaz há um ano e não sei até quando ficará. Portanto, corra! Enquanto a maioria dos virgens está lá gastando seus pesos em shows de tango totalmente fakes, você está entrando em contato com a autêntica vida cultural argentina
Na região existem alguns bons restaurantes que são ignorados pela turistada. Um deles é a Pizzaria Guerrin, sobre a qual falei no outro post, mas só agora mostro uma foto do seu interior. O ambiente é simples, nada modernoso ou pretensioso. A decoração é de uma típica pizzaria italiana da antiga. Os preços são bons e o atendimento é ainda melhor. Note bem que fomos no início da noite e a encontramos assim. Se você for mais tarde, principalmente nos finais de semana, vai encarar filas. Nem sinal de turistas. E você se sente um local.



Nunca senti vergonha de ser turista, mas se integrar à vida do local visitado é uma experiência que quem viaja deveria viver sempre.
E de repente você se depara com uma manifestação de ecologistas gritando e batendo panelas. A maioria dos turistas ou se afastariam correndo, ou apenas olhariam com curiosidade ou no máximo bateriam uma fotinha. Mas quando já se perdeu a vergonha da cidade e se está íntimo dela, por que não se misturar ao grupo como se aquilo lhe dissesse respeito. O que eles querem? Contra quem ou o quê protestam? Como protestam? Existe melhor maneira para se aprender sobre uma cidade e um povo?

Outra coisa que adoro em Buenos Aires são os jardins e parques. A área verde da cidade é bastante extensa e reservam locais muito gostosos para relaxar, sem pressa.

Gosto muito do Bosques de Palermo...

...onde os portenhos vão pegar um sol. Nem que seja um sol de 17 graus.

É um parque muito grande, ótimamente conservado...
...bonito e...

...cheio de lugares acolhedores. Por incrível que pareça, o lugar é menos frequentado por turistas do que possa parecer, apesar de bastante conhecido.
O acesso mais fácil é por metrô. Linha D-verde e saltar na Estação Plaza De Italia. Nessa altura do campeonato, acredito que você já esteja de posse de seu mapa da cidade. Então, será fácil de achar.
Gosto de caminhar no parque após o almoço. Às vezes, inverto e vou pela manhã e depois vou fazer o meu esporte preferido em qualquer cidade onde estou: sentar num café ou bar e ver a vida passar. Sem a pressa que os turistas geralmente têm. O turista sem vergonha, não. Ele não tem pressa. É capaz de ficar horas ali vendo assistindo ao melhor espetáculo de todos: a vida.
Palermo Soho fica bem perto dos Bosques. É só seguir uma das ruas que começam na avenida Santa Fé, próximas a Estação da Plaza di Italia. Olhe no mapa e será fácil. Palermo é bem turístico. Os virgens vão conhecer. Os sem vergonhas vão para curtir.
É a parte cool e moderna da cidade, bem diferente do tradicional e refinado do centro. Me incomoda um pouco a tentativa de ser a versão portenha do Soho nova-iorquino ou londrino, mas é um local que deve ser curtido sem pressa. Reserve uma tarde para esse bairro. Palermo Holywood fica logo depois, além da linha férrea. Mas nunca achei a menor graça ali. O tempo que você gastaria indo até lá, aproveite para esticar sua permanência em Palermo Soho.
Aí, chove e faz frio. O que fazer?
A maioria dos turistas irá se abrigar num shopping ou na Galeria Pacifico.
Sugiro um programa mais aconchegante e interessante. Ao invés de chope ou vinho, que tal um algo diferente? Que tal esquecer a balança e cair de boca num chocolate quente com pãezinhos, bolinhos e tortinhas e biscoitinhos, num lugar que é a Confeitaria Colombo de Buenos Aires?
Então, pegue o metrô da linha A e vá até a Estação Costa Barros. Ao saltar, olhe para o outro lado da rua e você verá a Confiteria Las Lilas. Atravesse a rua e seja feliz.
O lugar é tradicional e acolhedor. Cheios de senhores e senhoras que o frequentam há décadas. Gerações inteiras passaram por alil. Raríssimos turistas aparecem. Os preços não são tão simpáticos, mas valem cada centavo. O atendimento é bom.
Há dois tipos de chá completos. Ambos dá para duas ou três pessoas, dependendo da fome. Imperdível!
Mas você não será um sem vergonha completo em BUA se não gastar os seus últimos pesos em uma tarde de degustação no café do Hotel Avelar (a foto acima é de 2007, mas o local não mudou praticamente nada), na avenida do mesmo nome, na Recoleta. Esse prédio suntuoso, que já abrigou algumas das famílias mais ricas da cidade no século XIX, antes que a burguesia debandasse do Centro, devido a uma epidemia de febre amarela. É hoje um hotel exclusivo, mas que abre seus salões para os mais abonados. Eu disse os mais abonados. O quê? Você  tem vergonha de entrar num lugar tão luxuoso? Então, pare de ler este post e vá tomar...
...lanchinho naqueles fast foods dentro das Galerias Pacífico (foto da entrada da Av. Cordoba), porra! Esse post é para quem deixou a vergonha no Brasil.
Gaste 100,200 ou 300 comendo delícias de primeira, tomando chá em porcelanas importadas, sentados em cadeiras com assento em veludo - que os garçons puxarão para vossa excelência se sentar -, sendo chamado de senhor ou madame pelos garçons bilíngues e tomando vinhos de safras que você nem ousaria pedir aqui. Mesmo por que, não conheço nada parecido, pelo menos no Rio.
Chegue de táxi, por favor, de cabeça erguida e saia deixando boa gorjeta para o garçon. Sua auto-estima irá lhe agradecer.
De qualquer forma, não tenha vergonha de ser feliz nesta cidade, onde o moderno e o histórico convivem como irmãos, onde os preços são convidativos, os locais públicos oferecem conservação e limpeza acima da média da maioria das capitais brasileiras, onde a noite é animada, onde os serviços funcionam relativamente bem e onde a parte cultural é bem diversificada. E além do mais há muito, muito charme. Merece ser visitada por quem não tem vergonha de ser feliz.
Nada melhor de dicas de um local. Por isso não se esqueçam de colar com o Marcelo Barbão e ficar sabendo de points totalmente descolados.
No próximo post, eu ensino como visitar a bucólica Colonia Del Sacramento. Fui!

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