sábado, setembro 30, 2006

O Grito Documentado

Foto cortesia da Sony picture, publicada na revista Village Voice.
Onde você estava na década de 80? Provavelmente, se tiver mais do que 30, dançando ao som de Madonna, Cindy Lauper, Prince, Duran Duran, RPM, Ultrage À Rigor ou B-52´s.
Mas lá nos EUA havia uma galera que fazia muito barulho nos submundos do rock. Era o grito de uma geração sufocada por Ronald Reagan e pelo surgimento da AIDS.
Era a versão americana do punk, que todo mundo já julgava extinto.
Há quatro posts atrás eu falei disso, na matéria "E Lá Se Vão 15 Anos...". Pois é, nesse final de semana fiquei sabendo, através da Village Voice, que todo esse grito foi documentado e está sendo mostrado em American Hardcore, que acabou de estreiar por lá. Dirigido por Paul Rachman e roterizado por Steven Blush, o filme retrata um período muito pouco explorado e que muita gente boa nem sabia que havia existido. Estou falando do cenário alternativo do rock americano que foi pouco a pouco saindo das trevas ao longo daquela década, até se transformar no furacão grunge na década seguinte, como falei no meu post. Agora é torcer para que o documentário seja exibido aqui.
E o quartel-general dessa barulheira toda era um clube na Bowery Street, na parte sudeste de Manhattan, na época um local sujo, fedorento e mal freqüentado, onde o punk nasceu.
O CBGB´s ainda existe no mesmo local. E tive a emoção de conhecer. Hoje tem uma aparência bem melhor e ainda dá chance a bandas e músicos alternativos.

Essa aí é a frente de um dos clubes mais importantes da história do rock, onde gente como Blonde, Talking Heads e Ramones começaram. Já falei muito do CBGB´s por aqui.



Lá dentro, bandas iniciantes e desconhecidas se apresentam para uma platéia que mistura desde jovens descolados até coroas nostálgicos como eu. Gosto de coisas alternativas, pouco freqüentadas por turistas e de onde vez ou outra sai alguém para mudar a história.


É um lugar bom para se ir num happy hour e ficar encostado num balcão, ouvindo a garotada que um dia pode estar escalando as paradas de sucesso. Quem sabe? Por U$ 28 você também pode comprar uma camiseta com o símbolo da casa. Eu comprei uma.

E tem mais fotos no segundo Flickr ao laod. Dessa vez, da viagem à Sergipe. Fui.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Viemos Aqui Pra Beber ou Pra Recitar? Os Dois.

Noite de 28 de setembro, última quinta-feira, por volta das oito e meia, um grupo de pessoas classe média chegava à frente de um pequeno prédio, na bucólica esquina da Vinícius de Morais com Nascimento e Silva. O prédio era uma das deliciosas e raras construções antigas, que continuam ignorar o assédio das construtoras gananciosas. O pequeno grupo entra no prédio. Alguns tinham livros nas mãos.
Responda a seguinte pergunta:
O grupo estaria indo para:
a) uma festa de aniversário;
b) um sarau literário;
c) um lugar onde se toca boa música;
d) tomar alguns drinques num bar;
e) tudo isso junto


O Barteliê é um bar. Mas fica em um apartamento. Num apartamento de uma artista plástica e está decorado com obras de arte. Trata-se de um tipo de lounge acolhedor e intimista, onde os integrantes do Movimento Inverso realizam encontros todos os meses. Encontros que misturam leituras de textos e poesia com fundo musical, canto e performances. Na foto acima, o poeta Alex Sauer recita, enquanto Gustavo Saba (que aliás fazia aniversário) faz a trilha sonora. Arte, música, poesia, literatura e bom papo. Tudo por apenas R$ 5. Você paga e pode gatar a sua noite bebendo, comendo e ouvindo. Como se estivesse num bar. E na verdade, você está. Só que com certeza não haverá bêbados chatos, barulhentas comemorações na mesa ao lado, garçons mal humorados ou gente berrando sobre futebol.
Você pode também sentar no piano e tocar algo ou pode interpretar Shakespeare ou declamar Cecília Meireles. Ninguém é obrigado a nada. Mas num ambiente tão convidativo, é muito difícil não participar.


Todo mundo conversa, se conhece, troca uma idéia. De repente alguém saca algo da bolsa. Num bar comum poderia parecer um início de briga ou tumulto. Mas ali é apenas alguém colocando a cara a tapa, lendo seus textos. Na foto acima, no caso, trata-se de André Gadel, lendo trechos do seu último livro.
O Movimento Inverso, liderado por Clauky e Gustavo Saba e mais Sauer, vem fazendo esses encontros há cerca de um ano e o resultado tem sido ótimo.

Saraus e leituras em locais alternativos não são novidades e já deram muitos frutos. Nos anos 50 o movimento beat nasceu em apartamentos apertados e enfumaçados e nos fundos de uma livraria (a City Light), em São Francisco. O movimento de contra-cultura dos anos 60, surgiu em bares escuros do Greenwich Village. Ali mesmo na Nascimento e Silva, Tom Jobim, Vinícius e João Gilberto criaram a bossa nova num apartamento no número 107. E o Barteliê, surgido numa idéia original, só podia dar certo, assim como o Movimento Inverso que abraçou essa idéia.



Isabela Figueiredo lendo o seu, ainda com a trilha sonora do aniversariante Saba. Nada ensaiado, tudo improvisado. Tudo puro, verdadeiro e arriscado. Como a melhor literatura.



Eu estava lá nesta noite. E estou aí com a Clauky maravilha, uma das idealizadoras do Movimento.


E mandei Bala.


E mandei mesmo!



De repente alguém incorpora e rola uma performance.


E a noite ainda teve um debate sobre poesia e cidadania com o Bruno Cattoni.

Há meses atrás - acho que foi em maio - eu comentei aqui sobre uma matéria da revista New York sobre o boom das leituras em bares da cidade. Pois é, saraus e leituras estão tomando o lugar de antigos concertos de rock, com os lugares sendo disputados a tapa.

E neste sábado mais leituras rolarão. Detalhes aí embaixo. Se você nunca participou de uma, experimente. Se quiser participar, é só levar o seu texto.


E tem mais fotos de New York no Flickr. Fui.

terça-feira, setembro 26, 2006

A Paranoia Americana e A Criatura Subterrânea


Li hoje em alguns jornais que os americanos irão abrandar as medidas de verificação de bagabens nos aeroportos, em relação aos líquidos trasportados em bagabens de mão. Na volta da viagem, por exemplo, eu esqueci de guardar o meu deosodorante na mala e quando os agentes federais abriram a minha mochila, dancei. Tentei argumentar que o odor vindo da região obscura sob os meus braços era muito mais letal do que qualquer gás terrorista, mas não teve jeito. Um homem a minha frente na fila, teve um vidro de perfume confiscado. Mesmo que estivesse ainda na caixa lacrada. Ainda tentou argumentar, mas foi inútil. Os policiais o trataram como se ele carregasse um AK 47.
2. Lá estava eu numa manhã, fotografando o lindo prédio da Grand Central Station, quando um policial e um marine atravessaram a rua e foram me interpelar. Quiseram saber porque eu estava demorando tanto por ali. Argumentei que o trânsito na rua 42 estava intenso e estava tendo dificuldade para fotografar. Eles me perguntaram de onde eu era, quanto tempo ficaria na cidade, onde estava hospedado e que tipo de viagem eu estava fazendo - como se minha bermuda e meus chinelos havaianas não dissessem tudo. Me lembrei de alguns filmes americanos da época da guerra fria, em que a rigidez da KGB era ridicularizada. Agora havia uma certa semelhança naquilo tudo. A minha ficha demorou um pouco para cair e perceber que atrás da Central Station fica o predio da ONU e eu já havia ouvido na tv que haveria uma reunião importante no orgão e carros oficiais negros circulavam pelas principais avenidas, com batedores nervosos atrás. Os policiais só se tranquilizaram quando eu falei que era brasileiro. Vi sorrisos de complacência em seus rostos, que me deixaram intrigados. Me senti meio incomodado com a atitude dos policiais por me acharem tão inofensivo e insignificante. Afinal eu poderia estar ali para protestar contra os arroxos econômicos que os ianques vêm nos impondo; eu poderia estar ali para explodir uma bomba em protesto contra os desmandos do FMI ou por terem os americanos financiado o golpe de 64. Afinal, nós sequestramos um embaixador americano nos anos 60, ora bolas! Sei lá! Não queria ser tratado com tanto desprezo. Quase que lhes pedi que me respeitassem! Mas como todo brasileiro, me conformei e segui o meu caminho.
3. Eu havia chegado em Nova Iorque no momento em que a cidade ainda se lembrava e homenageava os que se foram no famoso atentado, há cinco anos. Não se falava em outra coisa. No local onde as torres caíram, está sendo erguido um outro complexo monumental que certamente terá toda a pompa norte-americana e está previsto para ser inaugurado em 2010. Uma emocionante exposição com fotos, textos, vídeos e objetos está no local da tragédia. Turistas e novaiorquinos fazem fila para visitar tudo.
4. Após visitar o local. Decidi pegar o metrô, já que achar táxi vazio e que aceite levar você é tarefa árdua em Nova Iorque. Ainda mais na hora do rush. A estação mais próxima era a da Fulton Street. E foi lá que deparei com a criatura subterrânea.
No momento em que fui depositar os meus dois dólares na máquina que fornecem os tickets, ela deu pau. As estações de metrô têm bilheteiras, mas elas não vendem bilhetes. Também não dão informações e nem auxiliam os usuários. Para falar a verdade, não sei o que elas fazem. De qualquer forma, diante da recusa da bilheteira em me auxiliar, olhei para a direita e vi um ser de aproximadamente 1,50 m. Pele morena e escamosa, cabelos muito curtos e braços meio atrofiados. Não consegui idenficar o seu sexo. O olhar pantanoso desviou-se do meu assim que percebeu que eu lhe pediria ajuda. Sua aparência era exótica e curiosa, sugeria alguma doença mental. Usava um jaleco azul-marinho que lhe identificava como "menor aprendiz". Devia ser um adolescente pobre que ganhava alguma bolsa para auxiliar os usuários do metrô. Talvez para fazer o que a bilheteira não fazia.
"Por favor, estou com problemas. A máquina parece que está fora do ar. Você poderia me ajudar?"
Com uma expressão de puro mal humor no rosto-não-americano, talvez mexicano ou portoriquenho, a criatura virou-se para mim e mandou:
"Por quê? Por que eu vou lhe ajudar."
Enquanto a surpresa e a perplexidade me impediam de ter qualquer reação, olhei para aquele ser e imaginei a sua existência miserável. Ele devia passar algumas horas de seus dias num apartamento escuro e fedorento, em algum lugar miserável, onde os losers da maior metrópole do mundo são obrigados a viver. Ser um excluído no Brasil é motivo de pena e complacência; na América é motivo de vergonha e desprezo. Na maior parte do dia aquela criatura habitava o subterrâneo mal iluminado, cheirando a algo parecido com mofo e onde no verão a temperatura pode chegar a cinqüenta graus. Milhares de pessoas passam por ali diariamente e ninguém nota a sua presença. Porque ela não era para ser notada. Sofrer desprezo e indiferença pareciam ser as suas principais atribuições. Ela devia receber uma ajuda de custo para ser ignorada. Os ratos do subterrâneo, pelo menos, metiam medo. Aquele pobre ser não era capaz de levantar nenhum sentimento em ninguém. Por isso, quando um incauto como eu, inocentemente se aproximava a uma distância imprudente, a sua língua peçonhenta e venenosa, entrava em ação. Era o seu instinto animal, era mais forte do que ela. Coitada. Felizmente, um outro usuário se aproximou para reclamar também e a criatura simplesmente nos mandou ir para outra estação. Poderíamos ter protestado, acho que a criatura suberrânea esperava que alguém se aborrecesse com ela, mas nós simplesmente lhes demos as costas e seguimos nosso caminho.
5. O assunto que mais têm se discutido nos EUA, depois do Iraque e o combate ao terrorismo, é, sem dúvidas, o problema dos imigrantes ilegais. E aí o contato com a criatura subterrânea me fez refletir a respeito. Na virada do século XIX para o XX, italianos e irlandeses, principalmente, chegaram a Nova Iorque e dali fizeram sua nova pátria. Ajudaram a cidade e o país a crescer e ninguém questiona a importância desses imigrantes, que retribuiram com o seu trabalho e o seu amor à acolhida recebida. Nova Iorque e outras cidades americanas hoje estão cheias de paquistaneses, mexicanos, indianos, brasileiros, venuzuelanos, bolivianos, africanos e etc, uma gente que não queria estar lá. Se pudessem, não estariam. Foram para a maior potência por falta de opção. Essa gente não contribui com nada. Só pensa em fazer um pequeno pé de meia e voltar para as suas terras de origem. Não querem e, muitas vezes, até odeiam ter que contribuir para o bem dos EUA. O fato de ter que depender de quem se odeia pode gerar um ódio muito mais destrutivo do que qualquer fanatismo religioso. Em resumo, acho que os americanos estão se dando conta de que inimigos tão poderosos quanto os Bin Laden da vida, podem estar escondidos na estação do metrô mais próxima.
6. Mas apesar da parnóia, apesar das criaturas subterrâneas, Nova Iorque vai seguindo cada vez mais linda. Foi um enorme prazer reencontrar ainda mais bonita e com a auto-estima lá em cima esta cidade que é minha grande paixção, depois do Rio, é claro! Parece que o verão se prolongou mais um pouco para que eu pudesse aproveitar ainda mais os prazeres oferecidos por essa cidade tão louca, estressada e maravilhosa. E eu não perdi tempo. Caminhei muito pelo Central Parque, onde artistas country dividiam a atenção com orquestras sinfônicas e a gente bonita correndo com seus ipods nos ouvidos. Fui ao MOMA ver telas imensas de Di Cavalcanti, Picasso e Monet. Fui comer um belo marcarroni em Little Italy, que estava eufórica devido à festa de San Gennaro. Andei sem rumo pelas ruas do Soho, Tribeca e Village, onde lojinhas bem transadas de novos artistas, vendem peças originais, ao lado de grande grifes. Curti lindos por-de-sol no Pier 17, onde artistas, dançarinos de hip hop e músicos de todos os tipos celebravam os últimos momentos do verão, à margem do East River. Me emocionei com a versão teatral de A Cor Púrpura na Broadway (Não percam se vier para o Brasil). Curti gospel em uma igreja petencostal no Harlem negro. Curti concerto de rock no que restou do CBGB. E compras, é clraro, já que praticamente metade de Nova Iorque estava em liquidação.
Foi realmente uma emoção reencontrar ainda mais linda esta cidade que enfrentou uma quase falência, vários períodos de apogeus e decadências e um atentado brutal. E foi ainda melhor sentir o meu amor por ela crescer ainda mais.
E depois...Sergipe!


A beleza da praia na foz do Rio São Francisco. Clique na foto para aumentá-la, já que ainda estou discutindo a minha relação com o blogger e só tenho podido postar fotos deste tamanho.



A beira da piscina natural, ainda na foz do São Francisco.

Ainda tenho muita coisa pra contar, mas vou contando aos poucos. E quanto às fotos, tem mais algumas no segundo Flickr ao lado. De vez em quando vou colocando outras mais.

quarta-feira, setembro 20, 2006

It´s Up To You...

...NEW YORK...









...NEW YORK...




...NEW YOOOOOOOOOOOORK!



Sem mais comentários. Fui dar uma rapidinha lá em NY e já estou de saída para dar outra rapidinha em Aracajú. Fotos, crônicas, novidades, nos próximos posts. Cliquem nas fotos para vê-las melhor, já que o blogger continua rebelde e só deu para colocar deste tamanho. Tenho muita coisa pra contar. Mas vai ficar pra semana que vem.

Fiquem quietinhos. Fiquem com Deus. Beijos e abraços.

Fui.

quinta-feira, setembro 14, 2006

E lá se vão 15 anos desde que o rock saiu da UTI e foi para o quarto particular com acompanhante


O punk rock sempre foi tão antipatizado pelos americanos, mas tão antipatizado, que ainda tem muita gente que pensa que o gênero é uma criação britânica. Na verdade, os ingleses descobriram esse odiado estilo de rock no CBGBs, uma espeluncas que atraía a escória do rock novaiorquino em meados dos anos 70, e o importou.
O punk estourou na Inglaterra, depois acabou, enquanto nos EUA, ele continuava a ser música restrita a espeluncas. Então, vieram os anos 80 com sua new wave, seu rap, seu british pop, seu hip hop e sua música eletrônica. E aí aconteceu uma coisa fantástica: o punk havia sido extinto no Reino Unido, mas, por um motivo difícil de ser explicado, continuava a ser feito na terra do Tio Sam, mesmo que ainda apenas em espeluncas. O outro dado fantástico era que havia surgido um reduto de punk rock no local menos provável: a ensolarada e alegre Califórnia. De repente, bandas como a Generation X, por exemplo, continuavam a cantar o tédio de se morar num lugar lindo, mas cercado de futilidade e falta de perspectivas por todos os lados. A receita era a mesma, poucos acordes e muito barulho. Mas o punk Californiano era mais bem humorado do que o britânico e não tão experimentalista como o novaiorquino. Sem querer, a garotada da Califórinia, que pegava onda durante o dia e fazia um barulho à noite, havia criado o tipo ideal de punk para os americanos. Punk mais lite, mais dançante, mais debochado e satírico. Deu certo e no final da década, já havia centenas de bandas nos arredores de Los Angeles. Gente como o Black Flag, Jane´s Addiction, Butt Hole Surfers e uns tais de Red Hot Chilly Peppers, que chegariam ao maninstream mais tarde.
De olho na repercurssão que as bandas californianas estavam tendo, roqueiros de outro ponto da costa oeste, que também estavam na estrada já há algum tempo, começaram a fazer um som mais melódico, envolvente, sofisticado e com mais variações, embora com a mesma garra e explosão do punk. Era o que se precisava para que esse subderivado do ritmo que havia nascido em espeluncas novaiorquinas, conseguisse finalmente chegar às paradas.
Foi apelidado de grunge e era assinado por uma garotada que tocava em locais alternativos de Seattle. Eram cabeludos que usavam roupas esportes amarrotadas, muitas superposições e estavam sempre com cara de sono. Gente como Sound Garden, Pearl Jam, Alice in Chains e Screaming Trees. Mas como todo movimento tem um líder, o grunge elegeu o seu quando o cd Nevermind, do Nirvana foi lançado, no segundo semestre de 1991.
A primeira canção deste disco a virar hit foi Smells Like Teen Spirit, que virou hino e resume o pensamento daquela garotada que queria tirar o rock da UTI e levá-lo para o quarto particular com acompanhante, com um som rebelde, mas bem humorado, cínico, criativo e ousado. Novo? Não. Na verdade o grunge era um mix de influências que iam desde The Doors e Neil Young a Jimi Hendrix e, logicamente, punk, é claro.
Quase que imediatamente, na maioria das grandes e médias cidades americanas, bandas alternativas eram formadas, como as meninas do L7, de Los Angeles, o Smashing Pumpkins, de Chicago, ou o Stone Temple Pilots, de San Diego. Na verdade, de uma hora para a outra houve um boom alternativo de arte que não acontecia desde os anos 60. De uma hora para a outra, ser alternativo deixava de ser exótico para ser chique. Era só dar uma circulada na noite e ver meninos e meninas com roupas desgrenhadas, cabelos coloridos, tatuagens espalhadas pelo corpo, assim como piercings também.
Percebendo o que estava acontecendo ao seu redor, o tresloucado vocalista e líder da banda Jane´s Adiction, Perry Farrell, criou um festival totalmente dedicado a tudo que se fazia de arte alternativa. E mais, o festival rodaria pelo país, divulgando o trabalho de quem não estava ainda no mainstream. Uma excelente idéia que teve início no verão de 1991 e duraria até 1997. Seria reeditado em 2003, foi cancelado em 2004 e voltou no ano seguinte. Mas as coisas haviam mudado.
Por falta de novidade, a mídia e o mercado de disco começaram a correr atrás de bandas alternativas para transformá-las em Cinderelas. Foi assim com o Porno For Pyros, foi assim com os Smashing Pumpkins e com toda a galera de Seattle. De repente, o movimento que teve como sua principal característica, ser uma alternativa para o rock comprado do mainstream, foi engolido pelo sistema como o punk havia sido, ao virar new wave. Inevitavelmente surgiram os falsos grunges na pele de bandas como o Creed e Collective Soul. Botiques caras e costureiros famosos começaram a lançar coleções inspiradas na maneira grunge de se vestir. Tudo virou comércio. E o suicídio de Kurt Cobain, em 7 de abril de 1994, foi o tiro de misericórdia.
Restou a amarga impressão de que não havia mais remédio que pudesse curar o rock. E ele voltou para a UTI.
Mas devo um obrigado àqueles cabeludos. Pelo menos eles tentaram.

Convite...

O GRUPO AUTORES EM CENA
CONVIDA VOCÊ PARA A
LEITURA DRAMÁTICA DA PEÇA

“A MANCHA - COM NELSON, EM FAMÍLIA”
DE ANNA MARIA RIBEIRO


DIREÇÃO DE TOMIL GONÇALVES
DIREÇÃO MUSICAL E SOM DE LUIS EDUARDO MONTEIRO

EM CENA OS ATORES:
ALEXANDRE BORDALLO
FERNANDA AZEVEDO
GIL HERNADEZ
JANAÍNA NOËL
MARCUS TOLEDO
PATRÍCIA COSTA

DIA 21 DE SETEMBRO ÁS 21:30
ESPAÇO CAFÉ CULTURAL
Rua São Clemente, 409 – Botafogo
Entrada grátis – Estacionamento em frente


AVISO IMPORTANTE: Irei tirar meus quinze dias de férias que faltavam e, com dizia o Herbert Vianna naquela música, vou "ficar fora uns dias numa ronda diferente". Mas não se iludam. Quando voltar, a balaceira vai comer de novo. É uma ameaça!
Fiquem com Deus e comportem-se!

Beijos e abraços!

quinta-feira, setembro 07, 2006

As Várias Vidas de Mr. Zimmerman


E o Sr. Robert Allen Zimmerman, que completou 65 anos no último dia 24 de maio, viu o seu cd Modern Times chegar ao topo da parada norte-americana, na semana passada. Isso não acontecia há 30 anos e tenho percorrido vários blogs que festejaram o fato, como os seguidores de uma seita festejam um novo milagre. Ouvi pouco deste trabalho de Dylan, por isso prefiro não comentar sobre sua qualidade. Mas vou logo confessando: não gosto de Bob Dylan. Sua voz anasalada me irrita e as melodias de suas canções são um tanto chatas e longas demais. Como compositor Dylan é excelente. Músicas como Blowin´in the wind e The Times They Are-A-Changing, viraram hino do movimento estudantil norte-americano nos anos 60 e já justificariam a fama que este senhor tem. Dylan realmente tem algo a dizer, mas, em muitos casos, acho que o seu recado poderia ser mais curto.
De qualquer forma, Mr. Zimmerman causou um impacto profundo no meio musical. A partir dele, houve uma preocupação maior com as letras e com a com uma visão de mundo mais madura, por parte dos músicos. O rock deixou de ser aquela coisa de "I love you", "Baby, give your heart to me", "I wanna hold your hand" e blá, blá, blá. A música elevou o seu QI. E este foi o grande mérito de Robert Zimmerman.
Dylan pertence a uma geração que incorporou o espírito rebelde e aventureiro do velho cantor folk Woody Guthrie, que na época da grande depressão havia colocado o seu violão nas costas e seguido pelas estradas americanas, cantando a tristeza dos que haviam perdido tudo, em troca de uns trocados para comer. Dylan veio da classe média de Minnesota e preferiu um caminho não tão arriscado. Foi para Nova Iorque, onde gente como Joan Baez, Art Grafunkel, Judy Collins, Richie Havens e Peter, Paul and Mary, havia iniciado o new folk moviment de contra-cultura. Com o seu talento e seu carisma, ele parecia ser o cara certo para a época certa. Mas para quem assistiu No Direction Home, documentário de Martin Scorcese sobre os primeiros anos da carreira do menestrel, fica a impressão de que se tratava de um rebelde sem causa que deu certo, de que Dylan apenas dizia o que milhares de jovens americanos inconformados com a guerra do Vietnã queriam ouvir. Parecia que aquele jovem cheio de pose e que vivia vestido de negro e usando óculos escuros à noite, apenas interpretava um papel.
Depois de ser consagrado com o álbum Freeweelin´, em 63, Dylan ousou a eletrificar o seu folk, para tentar criar uma espécie folk urbano. E resolveu estreiar esta mudança em pleno Festival Folk de Newport, na noite de 25 de julho de 1965. Era como se algum sambista se atrevesse a fazer um ensaio na Mangueira em ritimo de música eletrônica. Resultado: sonoras vaias, como fica claro no final deste vídeo aí embaixo, onde ele interpreta seu clássico Maggie´s Farm.

Apesar da incompreensão do seu público, que o acusou de traição, Dylan seguiu em frente no seu projeto de aproximar a música folk dos jovens urbanos. E logo conseguiu seguidores como o pessoal do The Birds, do Buffalo Springfield, da The Band e do Crosby, Stills, Nash and Young.
Depois de afastar-se alguns anos, recuperando-se de um acidente de moto que nunca foi devidamente esclarecido, a carreira de Mr. Dylan parecia terminada, quando em fins da década de 60, ele mudou tudo e voltou a se aproximar do folk puro e simples, em dois discos sentidos e melancólicos: John Weslling Hardin e Nashville Skyline. Era a sua primeira ressurreição, através de críticas maravilhosas e sucesso nas paradas com o clássico Lay Lady Lay.
Ele iniciou os anos 70 produzindo discos que passaram despercebidos. Nesta época, o folk urbano que ele havia ajudado a criar, já estava dominando as paradas através de gente como Neil Young, América, Poco, Eagles, Joni Mitchel, Carole King e James Taylor, entre outros.
A nova ressurreição de Mr. Zimmerman ocorreu no segundo semestre de 1975, quando surgiu Blood On The Tracks, um lindo álbum, quase todo sobre relacionamentos. Afinal, a geração rebelde e constestatória que havia o levado ao sucesso, agora já havia chegado aos trinta, muitos estavam formando família e gostaram de ouvir canções tão maduras sobre as mazelas das relações afetivas. O resultado foi que Dylan voltou às paradas e voltou a ser assunto nas conversas. O álbum seguinte, Desire, foi rapidamente numero 1 na Billboard, devido ao sucesso Hurricane.
Nos anos seguintes, Dylan pareceu enferrujado e incapaz de acompanhar as transformações que aconteciam na música. Quando, em 1992, organizaram o concerto para comemorar os seus 30 anos de carreira, no Madison Square Garden, NY, artistas como Tom Pretty, Neil Young, Bruce Springsteen, Lou Reed e outros, que subiram no palco para cantar ao seu lado, pareciam homenagear alguém cuja a carreira havia se encerrado. Era como se o velho menestrel não tivesse mais nada a dizer.
Mas eis que em 1997, ele ressurgiu das cinzas outra vez com Time Out of Mind, que obteve boas críticas e subiu alto na parada. No final daquele ano, Mr. Zimmerman chegou a ser condecorado na Casa Branca pelo o então presidente Clinton com o Kennedy Center Honor. O álbum seguinte, Love and Theft, lançado em 2001, também surpreendeu público e crítica. E finalmente, em 29 de agosto último, veio este Modern Times. A revista Rolling Stones alardeou que os três últimos trabalhos do Sr. Zimmerman têm o mesmo nível dos seus discos surpreendentes, lançados nos anos 60. Não sei. Mas seja lá o que for, acho que não se deve esperar do Sr. Zimmerman o mesmo que se espera de um messias. Não o superestime, deixa que ele siga apenas como o bom artista que é. O que vier é lucro. O Dr. Zimmerman já fez muito pela música e merece o nosso respeito.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Chocolate Quente e Borges



AS COISAS
Tradução de Ferreira Gullar

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.
********************
1. O inverno carioca deste ano que andava meio broxa, quem diria, parece que tomou uma od de viagra e está provando que ainda é macho. Este feriado está bom para se preparar um chá ou um chocolate bem quentinho e, bem encolhidinho, ler algo bem bonito.
2. Ele morreu em 14 de junho de 1986. O mundo todo comemorou há quase três meses os vinte anos da sua partida. Menos eu. Imperdoável! O argentino Jorge Luiz Borges, um dos maiores escritores do século passado, é mais conhecido por seus contos maravilhosos. Poucos sabem do seu lado poeta. E foi esse lado que resolvi mostrar pra vocês para, humildemente, homenageá-lo.
O poema acima foi tirado daqui, onde há outros.
1 + 2 . Bom resto de frio e boa leitura.

terça-feira, setembro 05, 2006

Suicídio Coletivo


No último final de semana, a morte trágica de cinco jovens da classe média, com idade entre 16 e 22 anos, em um acidente na Lagoa, zona sul do Rio, chocou a cidade. Como na maioria dos acidentes envolvendo jovens nas noites dos finais de semana, eles haviam acabado de deixar uma boate. O rapaz que estava na direção, provavelmente não estava, quimicamente falando, em condições de pilotar nem um skate. Seus companheiros, também muito provavelmente, não estavam sóbrios o bastante para aconselhá-lo a pegarem um táxi.
A tragédia coincidiu com a divulgação de uma triste estatística. No primeiro semestre deste ano, 179 jovens, entre 18 e 29 anos, morreram em acidentes na cidade maravilhosa, sendo este número 15,8% do total de mortes ocorridos no Rio com pessoas nesta faixa estária. O número de feridos chega a 3.003 (20% das mortes). Nos últimos 5 anos, acidentes de trânsito envolvendo jovens cariocas aumentou 60 %.
Acidentes envolvendo jovens nos finais de semana não são novidade. Eles podem acontecer em qualquer cidade do mundo. Mas esta semana a imprensa carioca está debatendo muito o problema, devido ao caráter quase que epidêmico que o problema atingiu.
Mas o que fazer? O que está faltando? Maior rigor nas leis? Mais campanhas educativas para estes jovens? Maior policiamento?
Acho que falta tudo isso e mais alguma coisa. As leis são fracas, policiamento quase que inexistente e a educação que está faltando não é apenas em relação ás leis de trânsito. É preciso ensinar a estes jovens a serem cidadãos. Mas como fazer isso se esses jovens vêem seus pais ou outros adultos a fazerem verdadeiras loucuras no trânsito indisciplinado e assassino que é o do Rio? O jovem sabe muito bem que dirigir bêbado é o mesmo que tentar o suicídio. Se fosse bem educado, ele não o faria para não causar mal aos outros pacatos cidadãos que estão dirigindo dentro das normas de segurança.
Aí, nós vamos chegar num ponto que já abordei no post Os Excluídos Vão Ao Paraíso, de 29 de julho último. Parece que a sociedade brasileira começou a se dar conta da falta que a educação faz na vida de um povo.
Afinal, dê um carro para um jovem sem educação e promova um suicídio coletivo.
Dê um cartão de crédito para um povo sem educação e promova um endividamento coletivo (pesquisas mostram que o endividamento está batendo recorde)
Dê mais comida para um povo mal educado e ele vai ficar obeso por não saber se alimentar de forma saudável (a obesidade, segundo especialistas, está se tornando uma epidemia) e por aí vai.
Nesta noite, em qualquer curva perigosa, numa grande cidade brasileira, mais um jovem morrerá de falta de educação.
Concurso Público
Muitos de vocês já sabem, mas nunca é demais lembrar que o site da estatal alemã Deutsche Welle está promovendo, desde o último dia 31, um concurso para promover os melhores blogs do mundo, o Best of The Blogs, mais conhecido por The Bobs. Até o dia 30 deste mês, usuários de todo o mundo poderão indicar blogs em dez línguas, inclusive o português. No juri, jornalistas, especialistas em webblogs e pesquisadores de mídia. O vencedor ganhará um MacBook da Apple e os favoritos por categoria, ganharão um ipod de vídeo. Para votar, mergulhe aqui .

domingo, setembro 03, 2006

Um Americano Tranqüilo



1. Estou voltando a praticar ioga/meditação. Eu aprendi ioga no início dos anos 80, bem antes de ser moda. Comecei por acaso, para resolver um problema de respiração. Consegui, gostei e continuei. Depois, a falta de tempo acabou vencendo e abandonei tudo. Dizem que ioga é a aeróbica da mente. Concordo. E como qualquer exercício, se você pára, perde todos os benefícios por ele proporcionado.

2. O tal americano tranqüilo mora em São Francisco, tem nome hippie, Devendra Banhart, e parece mesmo ter sido congelado naqueles loucos anos 60. É muito gente boa e conhece muito de MPB, sobretudo Caetano Veloso. Entende também de Tropicalismo e até mesmo das influências que o movimento tirou dos ensinamentos de Mário de Andrade. Seu som lembra um Dylan mais lite. Lembra também um James Taylor, na época em que estava mergulhado em heroína; um Nick Drake suicida ou um Neil Young melancólico. Coisa rara no meio de tanto rap, trash, soul, funk e música eletrônica. Sempre gostei dos que vão contra a corrente.
Esta figura existe mesmo? Existe e estará no palco Lab do Tim Festival, na noite de 27 de outubro.
E o que o item 1 tem a ver com o 2? É que eu não uso mantras para meditação e sim uma boa música. Como as músicas do Devendra. Ouça e relaxe.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Uma Avenida Chamada Brasil


Rio, numa manhã qualquer.
Duas faxineiras estão em um ônibus, indo para o trabalho, e conversam.

A: "Ai, que Demora!"
B: "Até parece que a Pavuna está ficando cada vez mais longe do Leblon."
A:"É essa avenida Brasil cada vez mais enrolada!"


(Para os que não moram no Rio, a Pavuna é um subúrbio muito distante e pobre. O Leblon, que sempre aparece nas novelas do Manoel Carlos, é, atualmente, o bairro mais valorizado da zona sul. A avenida Brasil é uma enorme avenida que corta os subúrbios e é a principal via de ligação entre o centro e a periferia. Este diálogo já havia sido publicado no primeiro post deste blog, mas resolvi ressucitá-lo diante das útlimas pesquisas que apontam uma vitória esmagadora - para mim 51%, depois do governo que ele fez, é esmagadora- de Lula, em outubro)


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Preparando o lançamento do meu livro de contos Crimes e Perversões, não farei novas edições do A Arte de Odiar. E como muita gente tem me pedido e o livro está esgotado há meses, resolvi disponibilizar cópias em PDF do A Arte de Odiar.
É um romance policial com 98 páginas
Apenas R$ 10.
Quem estiver interessado, é só pedir: juliocorrea19@gmail.com
Por falar no Arte, olha só essa crônica engrassadíssima, publicada no site Texturas On Line, sobre um fato obscuro que rolou após um desastroso lançamento do Arte, que fiz às pressas, no ano passado.