Os Sopranos, Quem Diria, Acabaram Em Padre Miguel
Meu útlimo post foi sobre o renascimento da tv americana em termos de qualidade. Falei de algumas séries que têm feito a cabeça do público, mesmo aqui no Brasil. E para que a justiça seja feita, tenho que destacar uma série nacional que não fica muito atrás do padrão do melhor que está sendo feito nos EUA. Trata-se de Filhos do Carnaval, uma superprodução do canal HBO, com direção de Cao Hamburger e um superelenco que inclui o veterano Jesse Valadão, Enrique Diaz, Rodrigo dos Santos, Mariana Lima, entre outros. A tv brasileira estava precisando e merecendo um trabalho deste nível há muito tempo.
Só a abertura já avisa que você não está diante de mais uma serizinha qualquer, feita com o objetivo apenas de obter IBOPE. A produção, a trilha sonora, as imagens, o roteiro, tudo surpreende nesta série. Mas o que tem me deixado de boca aberta é o desempenho dos atores. A maioria não-global. Eles não parecem estar atuando e, sim, sendo filmados com uma câmera escondida. Ao invés das tradicionais caras-e-bocas, muita naturalidade. Saem os clichês interpretativos e entra muita ousadia, desenvolvida, certamente, após um aprofundado trabalho de pesquisa.
Mas sobre o que é Filhos do Carnaval? Sobre a família de um grande bicheiro. Para quem não sabe, bicheiro é o dono de uma banca de jogo de bicho, que controla milhões de reais em dois sorteios diários. Bicheiros existem em vários estados, mas grande parte da história desses vilões passa pelo Rio. Como fui criado no subúrbio, sei muito bem do poder que esses obscuros personagens exerceram até a década de 80. Como aconteceu com a máfia italiana em Nova Iorque, a nova geração de bicheiros não está tão interessada na contravenção e os negócios foram diminuindo, mesmo por que os grandes nomes do Bicho ou estão muito velhos ou estão mortos. Para os mais novos, não custa lembrar que os bicheiros já tiveram um poder muito maior do que os traficantes e qualquer facção criminosa dos dias atuais. Em muitos bairros cariocas, eles simplesmente mandavam. Assim como tinham grande parte da política e da polícia nas mãos.
Apesar de tudo, o cinema nacional poucas vezes teve corajem de abordar os negócios desses barões da ilegalidade - a investida mais famosa foi Boca de Ouro, do Nelson Rodrigues, levada às telas no início da década de 60. E isso aumenta o valor desta série primorosa, onde os negócios do bicho são dissecados e o poder que esses barões ainda exercem, sobretudo na indústria do carnaval - a escola de samba (supostamente a Unidos De Padre Miguel) que pertence ao Anésio Gebara, protagonista,é o motivo do título da série - , é mostrado sem meia-palavras. E mais, bandido fala como bandido, puta fala como puta, empresário fala como empresário e bicheiro fala como bicheiro.
Filhos do Carnaval foi, imagino eu, baseada em outra série que há anos vinha dando o que falar na mesma HBO: a polêmica Família Soprano. Assim como os bicheiros aqui do Rio, muita gente em Nova Iorque pensava que a máfia italiana estava morta e enterrada. Mas essa série mostra que elas não só continuam atuando - embora sem o mesmo poder de antes - , como diversificaram os seus negócios ilegais. Prostituição e tráfico de heroína é coisa do passado. O negócio agora vai desde venda de cartelas clonadas de telefones públicos para imigrantes até coleta de lixo. Mas o mais sensacional são os personagens, muito reais, bem construídos e interessantíssimos. O personagem principal, Tony Soprano, interpretado pelo gorducho James Gandolfini, para se ter uma idéia, faz análise para tentar controlar a culpa pelos seus atos truculentos, suas crises de pânico e os problemas com sua família pra lá de problemática. A mesma coragem e ousadia em que o submundo do jogo do bicho é vasculhado pelos Filhos do Carnaval, aqui, o cotidiano de uma família mafiosa é mostrado sem rodeios. Aliás, as duas séries têm mesmo muito em comum. Sorte a nossa!
Mas se você pretende conhecer a série americana, corra. Lá, ela já saiu do ar e a última temporada irá ser exibida aqui, em outubro.
Tony Soprano (o de preto, à frente): análise para suportar filho maconheiro, mãe tirana, filha rebelde e mulher infiel.
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E FELIZ BLOGDAY PRA TODOS!!
11 Comments:
Júlio, não assino HBO, infelizmente!! Vou esperar a série sair em dvd!!
Não leu o texto que me inspirou?? Anterior aquele que comentou!!
Feliz dia do blogueiro!! Beijus
Luma,
vou voltar lá pra ler.
bjus
Eu assito, mas o meu preferido foi o Mandrake, com o M. Palmeira!
Abçs
Milton,Perdi o Mandrake,mas vou ver quando voltar a passar na HBO.
gd ab
Olá Julio! Foi prazeroso vir até aqui (recomendação da Nilza, do Juntando Pedacinhos em homenagem pelo BlogDay) e descobrir que nossa temática tem muita correlação. Gostei do seu trabalho bloguístico e certamente retornarei. // Bom ver uma boa matéria sobre televisão. Por coincidência meu último post é uma análise da tv brasileira e você está convidado a lê-lo. Abraços.
Valeu Ery, vou até lá
gd ab
Infelizmente eu não tenho HBO aqui em casa,JULIO,mas fiquei muito curioso com esta serie.
Abração e otimo fds a vc!
Não tenho HBO, mas fico feliz por saber que uma série boa está sendo feita por aqui, porque aquela cópia RIDÍCULA do sex and the city, que deram o nome de Avassaladoras era uóóóóóó´´oóóóóóó, rs*
bom fim de semana, querido!!!
beijos
MM
DO,
devem lançar esta série em DVD. Fique de olho!
gd ab
Mônica,
neste país pouco se cria e quase tudo se copia.
bjs
Júlio, tenho HBO e nunca vi. Vou prestar atenção. O Enrique Diaz e a Marina Lima são casados. Quando passa???
Bjos.
Filhos do Carnaval foi excelente !
Está repetindo ?
Acompanhei todos os episódios !
Agora vem a nova temporada dos Sopranos !
A minha preferida foi A Sete Palmos, que também já acabou há algum tempo.
abç!
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