quinta-feira, maio 18, 2006

Tapa na Cara


Eles apareceram há uns cinco anos. Eram jovens, sabiam escrever, passavam horas viajando na web e alguns já tinham blogs. Ao contrário dos seus antepassados, eles não precisavam mais que uma editora os publicasse para divulgar os seus trabalhos. O mundo inteiro podia ler à noite o que eles haviam escrito à tarde.
O mercado lieterário precisava de uma renovação. Havia um vazio, uma mórbida falta de novidades na cena literária. Então, a mídia (sempre ela) começou a garimpar entre essa garotada, aqueles que seriam lançados como "os revolucionários", "os salvadores", "aqueles que vieram romper com a literatura tradicional" ou "os que estão criando uma nova linguagem literária". Infelizmente, muitos embarcaram no canto de sereia da mídia e começaram a se achar mesmo os Che Guevara da literatura brasileira. Muitos passaram a correr o Brasil, dando palestras e workshops. Apareceram no Jô e foram assunto nos cadernos B da vida. Eram figurinhas fáceis em noites de autógrafos e nas Bienais.
Foram chamados de Geração 00. Eu conheci vários deles. Me lembro que no lançamento de uma das inúmeras "antologias de Novos" que fui, uma integrante dessa geração, antes de me dar um autógrafo, ao invés de perguntar o meu nome, olhou-me com desdém e me mandou a seguinte pérola: "Como você ganha a vida?". Encontrei essa mesma figura, uma vez, em um shopping. Ao me ver, talvez pensando que eu fosse lhe pedir um outro autógrafo, foi logo mandando: "Agora não posso, estou com pressa!"
Eu convivi com alguns deles, pois foi uma época em que nós organizávamos saraus e eventos literários. Ainda me lembro deles, sempre em grupinhos, pelos cantos, nos evitando. Evitando ter contato com aquele tipo de gente que eles haviam sido há menos de um ano atrás, ou seja, aspirantes a escritores em busca de uma chance.
Eu nem me lembrava mais dessa gente, quando outro dia me deparei com um excelente texto do Paulo Polzonoff Jr., do Digestivo Cultural, em que ele comenta a superexposição e a supervalorização que sofreu essa enxurrada de autores novos neste início de século. Escritores apressados, para leitores apressados. Todos muito preocupados em criar formas, formatos e estilos "revolucionários" de se contar histórias. Só que a maioria não tem muito a contar. Isso, porque não tiveram muita leitura, estão muito ávidos a expor seus trabalhos.
Realmente, essa nova safra de escritores até conseguiu trazer algumas inovações. Mas foram novidades que logo envelheceram. Não pegaram porque, na maioria dos casos, não tinham conteúdo. E os poucos que irão permanecer, certamente preocupam-se apenas em contar uma boa história de forma universal e atemporal.
Não me considero um integrante dessa nova geração, apesar de ter lançado o primeiro livro recentemente. Afinal, já escrevo há quase 30 anos. Sou da geração pré-internet. Escrevíamos, reescrevíamos, mostrávamos para os amigos, reescrevíamos novamente e assim a coisa seguia por um longo caminho até chegar numa editora. Era mais difícil? Muito mais. Então, tínhamos que ter alguma compensação. E a compensação era o prazer de escrever, de curtir o texto, de mexer nele até deixá-lo quase perfeito.
Talvez a rapidez e a facilidade de se divulgar um trabalho pela internet seja a grande maldição da safra de escritores deste século. Parece que esse pessoal só consegue ter prazer após a divulgação ou a publicação, quando o prazer deveria vir no durante.
Eles parecem um casal que faz sexo e só gozam quando um responde sim para outro, após a pergunta: "Foi bom pra você?"

Mergulhe aqui para ler a matéria do Digestivo, que já está dando o que falar. Tanto é que o Julio Dario, editor do site, foi obrigado a escrever outro artigo sobre o tema e que você pode conferir, mergulhando aqui.


É hoje!
O GRUPO
SEIS AUTORES EM CENA

CONVIDA VOCÊ!


LEITURA DA PEÇA “PALAVRAS CRUZADAS”
DE ANNA MARIA RIBEIRO

DIREÇÃO DE TOMIL GONÇALVES


EM CENA:
JANAÍNA NOËL
PAULO DAVID
PATRÍCIA COSTA
ALEXANDRE BORDALLLO

DIA 18 DE MAIO
21:30

ESPAÇO CAFÉ CULTURAL
Rua São Clemente, 409 – Botafogo
Entrada franca
Enquete


Você acha que realmente o governo paulista fez um acordo com o pessoal do PCC?

15 Comments:

Blogger Milton T said...

Julio você é da geração CP500 prológica e apple com placa CPM ? Odiava aquilo quando me formei. Sempre preferi minhas tinteiros.

Aqui está uma baderna socorro!

Bom fim de semana

Abçs

quinta-feira, maio 18, 2006 3:35:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Milton,
quando comecei a escrever nem uma Olivetti eu tinha. Era na tinteiro mesmo.
gd ab

quinta-feira, maio 18, 2006 4:11:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muito boa sua crítica, Julio!!! Esses escritores seriam os famosos "marginais chiques" [como denominou Zé Rodrix]? Rs*

Beijos,

MM

Ps: Vou tentar passar na leitura ;0)

quinta-feira, maio 18, 2006 4:36:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Mônica,
realmente eles não são fáceis.
Vê se aparece lá.
bjs

quinta-feira, maio 18, 2006 4:43:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

O post faz pensar. Eu gosto de escrever, não sei se tenho talento. Gosto de colocar no blog, porque sempre escuto uma crítica construtiva.
Um escritor tem que ler e estudar bastante. estou começando...
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br

quinta-feira, maio 18, 2006 6:21:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Não tenha pressa, Edu.
gd ab

quinta-feira, maio 18, 2006 8:22:00 PM  
Blogger Jôka P. said...

ACHO QUE SIM.
abç!

quinta-feira, maio 18, 2006 10:28:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Lendo seu texto,JULIO,lembrei-me dos tais famosos "15 minutos de fama" que ,dizem,todos temos direito. Estes "novos,rápidos e esquecidos" escritores devem ter experimentado isto e não souberam lidar com a súbita conquista da "celebridade".
Voltaram ao pó.
Abração!!
Ah,eu não acho que o GOVERNO fez acordo. Mas que alguem fez,isto fez.

sexta-feira, maio 19, 2006 8:40:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Valeu, Jôka
gd ab

DO,
com certeza, tem algo de podre nisso.
gd ab

sexta-feira, maio 19, 2006 9:00:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Julião, tu falou tudo nesse texto.
Eu escrevo contos, tudo publicado na internet. Um conto meu está em uma antologia de novos escritores, a qual foi publicada no Nordeste brasileiro.
E não há nada que me enoje mais que novos escritores que acreditam estar num patamar superior aos que batalham por seu espaço, conseguem leitores fiéis com humildade, com uns textinhos aqui e ali, jogados em receptivas páginas literárias da internet.
Por isso, Julião, me orgulha ver o meu continho de internet sendo lido por moçambicanos, angolados e bielo-russos, como já aconteceu. Ou tendo uma amiga chilena que pediu a tradução de um deles para poder entender melhor o conteúdo.
Isso, sim, é a premissa: escrever por prazer e ser reconhecido pela tua literatura e tua humildade ao tratar dela perante os outros.
Grande abraço. E te adicionei no MSN.

sexta-feira, maio 19, 2006 10:49:00 AM  
Blogger Barbara said...

Para escrever meu livro, segui o conselho de JM Barrie: comprei um caderno bem bonito e estou mandando brasa a mão mesmo. Parece que fica tão mais fácil de ver a idéia. (E olha que eu sou nova, hein! hohoho)

Sobre a pergunta no final do texto: E alguém acha que não?

sexta-feira, maio 19, 2006 10:51:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

É isso aí, Luiz,
nossa geração sabe muito bem que o tudo tem o seu tempo e que o talento quase sempre sobressai, enquanto quem não tem talento facilmente desaparece.
Vamos emeessenear. Eu te linkei tb.
gd ab

sexta-feira, maio 19, 2006 2:10:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

V.B.,
também comecei escrevendo num caderno.
bjs

sexta-feira, maio 19, 2006 2:11:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

Conheço alguns assim vaidosos e com livros ocos.

Olha o comentário que li no luz ontem:

"Falando em blogs: um amigo me mostra hj seu artigo sobre escritores novos onde diz q blogueiros não são escritores. Ok, reconheço q a maioria dos blogueiros não é. Mas existem exceções e afirmar o contrário pra mim seria como 'cuspir no prato q como'.
Claire | Homepage | 05.18.06 - 7:07 pm | #

Claire, escreve super bem e não teve a oportunidade de editar seu livro.
Beijus

sábado, maio 20, 2006 12:57:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Também acredito que para alguns autores dessa geração exista uma grande necessidade de publicar, consagrar-se, vender, tornar-se famoso.
Acho que isso decorre de tacanhos que cultivam muito mais o autor do que o texto.
Além disso, nessa sociedade de consumo e fama, espera-se que escritores se tornem produtos constantemente renováveis.
Outro dia, uma amiga me disse que se tornaria escritora, pois está na moda. É chique.
Nos consolemos com o tempo e sua foice indomável.

domingo, maio 21, 2006 11:49:00 PM  

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