Ciao 2005
INCONSCIENTE COLETIVO
E enquanto você lê este post...
Na cama king size, na suite de mais de trinta metros quadrados, na cobertura de um dos prédios de um condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, enquanto era fodida pelo marido, gordo e suado, Dilma Salgado pensa, enquanto geme:
“Nove mil e quatrocentos reais!”
Geme, enquanto pensa.
“Como sou cliente. Consigo uns trinta por cento de desconto.”
Pensa, enquanto geme:
“Se eu chorar, a Fernanda não vai me negar uns quarenta por cento. Afinal, quem ficou pendurada no telefone, movimentando os meus contatos em Brasília para que o marido dela não se envolvesse naquele escândalo?”
Geme e pensa:
“Tá decidido, nesse ano novo, vou colocar mais um botox.”
Depois, recostou-se na cadeira, diante do seu micro, no meio da sua pequena kitinete, na avenida das Mercês, Curitiba, como se isto fosse um prêmio.
“Nesse ano novo eles vão ver quem é o sonhador.”
Descendo a Marylebone Road, em direção ás cercanias do Regent´s Park, completamente bêbado e sentindo um frio que só o calor humano podia aplacar, Brian não acreditou quando duas mãos decidas seguraram os seus braços. Eram dois policiais. E ele riu.
“Precisa de ajuda, sir?”, perguntou um deles.
“Eu pensei que fosse...eu pensei...Ela me largou, sabiam? Se foi para Leads com um Paquistanês.”
“Para onde o senhor está indo?”
“Para a Baker Station. A estação parece que está mais longe hoje.”
“Tudo bem, vamos levá-lo até lá.”
“Mas por que vocês estão me prendendo? Um vagabundo roubou meu sobretudo, enquanto eu dormia no cinema. Londres virou uma Terra de Ninguém.”
“Não estamos prendendo o senhor. Só estamos evitando que se machuque.”
Ao ouvir aquelas palavras, Brian sentiu o frio subitamente diminuir. E ele guardou o seu riso nervoso e confidenciou, como se confidenciasse a um amigo:
“Neste ano novo eu vou procurar ajuda.”
“Bom para o senhor. Já estamos chegando.”
“Por que ela foi me trocar por um paquistanês?”
Brian tinha os olhos cheios d´água, emocionado com aqueles dois homens bons, que pareciam ouvi-lo. E ninguém costuma ouvir os bêbados. Ainda mais um bêbado que chora.
Enquanto ele preparava mais um scoch, naquele bar, na Hudson, quase esquina com Canal St., no Soho novaiorquino, Bruce dizia a si mesmo:
“Pense bem! Aceite o convite da companhia de Boston. Eles não vão encenar A Noite do Iguana? Você sempre amou Tennessee Williams. Pense bem! Pode dar certo. Largue esta merda e se arrisque. Se não der certo, pelo menos você será mais feliz. Qualquer coisa é melhor do que a sua vida agora. Você merece e vai ser mais feliz neste ano.”
“Neste ano novo, vou voltar pra minha terra. Não há mais felicidade aqui pra mim.”
Nesse trailer, num subúrbio pobre, nos arredores de Detroit, há pouco tempo, morava Neil Forest. Havia ido parar neste moquifo após ser demitido da linha de montagem na industria automobilística da cidade. Não por ineficiência, mas por ter ferido a Lei Patriótica de Bush. Foi denunciado por um colega de trabalho, após de ter expressado sua revolta pela morte do irmão, Brad, no Iraque. Foi também abandonado por Sarah, sua mulher, que carregou as crianças para a casa dos pais, em algum lugar em Ohio. Com mais tempo para viajar na Web, Neil conheceu e se uniu a outros inconformados com a dor da perda de parentes e amigos, na podridão da guerra. Conheceu também Myra, com quem neste momento está indo para Tulsa, Oklahoma, se juntar a centenas de outros, talvez milhares, que criaram uma ONG que abrigará toda uma legião de outros que, no ano novo, pretendem acabar com a guerra.
Neil e Myra estão felizes. A industria automobilística sente falta de Neil e a recíproca não é verdadeira.
A idéia chegou a Gerrard, quando ele caminhava com Pauline, por uma ferrovia abandonada nos arredores de Lê Havre. Quando Pauline parou um instante para fazer suas necessidades, ele começou a imaginar o que diria a Amélie, que havia ficado em Paris. Era o primeiro final de ano que não passavam juntos. “E se Deus quiser será o primeiro de muitos outros.”, pensou.
E em sua mente, rodava o diálogo futuro:
Eu: “Tenho o direito de ser feliz.”
Ela: “Ne fais pas l’idiot. La vie ne consiste pas à réciter des vers.
Eu: “Tenho sido idiota por todo este tempo, Amélie. Porque fui incapaz de admitir que nunca deu certo.”
Ela: “Je vais me venger de ce que tu!”
Eu: “Vingar do quê? Será melhor para nós dois. La vie est ce qu’on en fait!”
Ela: “Fous-moi la paix!”
Eu: “Não seja assim, Amélie. Neste ano novo, desejo que você seja tão feliz, quanto eu serei.”
Utilizando-se de uma vela encontrada numa lixeira, Hanna preparou mais uma dose. Estava nos fundos de um prédio abandonado há algumas quadras da Turnbull av., South Bronx. Um buraco escuro e cheirando a podre, mas onde os ventos gelados de nordeste não podiam encontrá-la. Estava só e sentiu medo. Sempre teve medo de morrer só, destino de vários companheiros.
“Meu bom Deus, me ajude a sobreviver a mais essa. A última. Neste ano novo vou entrar para o programa da Metadona. Hanna vai começar do zero e vai ser feliz.”
E fechou os olhos para não ver a agulha penetrando em seu braço magro.
Após dançar por toda noite, na pista da boate, na Lagoa, Zona Sul do Rio, Cris subtamente parou, sentindo um cansaço nunca sentido antes. Era como se sua alma tivesse pesando algumas toneladas. Ela estava cansada e quis que todos soubessem disso. De repente, parada, ali, na pista, o cansaço deu um lugar a um prazer suave. E ela começou a dançar leve e sensualmente, indiferente aos outros que a tinham como bêbada. Gostando daquela sensação inédita, pensou: "A felicidade deve ser assim. Eu quero finalmente ser feliz em 2006."
E todos eles serão felizes em 2006.
E para todos que levaram Bala em 2005, devolvo o carinho recebido, desejando que...
...Neste 2006 nada consiga barrar a multidão de momentos felizes que vocês viverão e que, juntos, farão deste ano novo, inesquecível.
Um especial abraço para o pessoal do Digestivo Cultural, para Anna Maria, o Jôka(Avenida Copacabana), Luma(Luz de Luma), Jorge Pontual (NY on Time), Pecus, Lúcia-Franka, Wagner, Helô (Banana & Cia), Ivana - Doidivana- Arruda, Raphael Galvão, Edu, Emerson Wiskow (500 dentadas), Vidal (Bagatelas), Fal (do Drops), Fernando Cals (Observador), Andrea Del Fuego, Flávio(Prosa-Pema) e todos os outros que tanta força deram a este blog neste ano. Felicidade a todos vocês.
14 Comments:
Julio!!!
Amei se post.
.★ * ★..
.*★ *. *..* ★
O tempo é apenas uma parte da eternidade que nunca começa, nunca termina, mas a eternidade do homem, na Terra, traduz-se pelo que ele faz;
Porque o homem bom vive em todos nós.
Porque a alma iluminada não se apaga jamais.
Porque a estrela cintilante jamais se queima.
Porque a chama da esperança jamais se extingue.
Seja feliz nos seus sonhos buscando-os
Seja feliz em seus projetos realizando-os
Seja feliz em seus desejos concretizando-os
Seja feliz em seus sucessos tentando obtê-los
Tente ser feliz em todos seus momentos.
Feliz 2006!!
Beijos
Pra vc tb, Nilza
Um 2006 maravilhoso!
bjs
Júlio!
Obrigada pelo carinho!
Que em 2006 eu encontre muita BP!
Bjs!
Feliz Ano Novo!!!
Sim !!! Quero ser feliz mesmo não tendo uma vida trágica ! (rs*) Obrigada pelo carinho! Quero que seja feliz sempre! A postagem está um primor como sempre e com bastante imagens como gosto! Feliz ano novo mais uma vez! Beijus
UM FELIZ 2006 pra você, JULIO !
Com saúde e sucesso nos seus projetos, no seu recente livro e na sua vida pessoal !
TUDO DE BOM !
Um abraço
do
JÔKA P.
Julio,
estou aqui pela primeira vez,
lindo seu texto.
Um ano incrivel pra voce
até mais!
Cris Cris
Luci, Jôka, Luma,
vocês moram no meu coração e certamente serão felizes em 2006.
bjs
Manoel,
Obrigado pelo comentário com Neruda (tudo de bom) e pelo elogio e um ano feliz pra vc também.
gd ab
Cris, valeu pela visita e que o seu 2006 seja bastante feliz.
bjs
Até o ano que vem, JULIO !
Um abraço !
Jôka P.
Pô, que textos legais. Gostei mesmo.
realizações em 2006, para todos nós, mais paz, menos político ordinário e um grande ano.
abraços
wiskow
Emerson e Dani,
Valeu pelas mensagens. Um 2006 nota 1000 pra vocês!
Oi, Júlio Cesar,
Mais do que a homenagem da citação do nome desse Observador, muito mais, fica o meu agradecimento pelas suas maravilhosas "estorietas" contadas acima do agradecimento aos seus amigos. E, claro, admiradores!
2006, grande ano pra lançar um livro. Você não acha?
Forte abraço
fertnando cals
Valeu, Flavinho
você não aprendeu nada comigo, apenas exercitou mais o seu talento. Um 2006 feliz tb pra vc.
Fernando,
o Observador foi uma das grandes descobertas que fiz no mundo maravilhoso da WEB. E quanto ao livro, vão sair dois este ano, se Deus quiser.
gd ab
Que essa amizade nascida em 2005 se fortaleça em 2006! Agora é aguardar as balas perdidas!!
Abração!
Valeu, Vidal
Muitas Balas virão
gd ab
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