“As pessoas que não se sentem bem ao ficar consigo mesmas, geralmente têm razão”
Coco Chanel
Lojas de bairro, tipo de comércio em extinção
Todos sabem como sou apaixonado por bicicletas. Costumo circular pelo meu bairro com a minha. Pra lá e pra cá. Mas quando você está em qualquer veículo, geralmente não presta atenção em muita coisa além da direção.
Pois outro dia, forcei-me a caminhar até o Largo do Machado. E foi uma experiência reveladora. Encontrar pessoas que não encontrava há muito, passar por antigos endereços, descobrir novos points, etc. Mas foi durante esta caminhada que pude perceber um fenômeno que há muito vem acontecendo em outros bairros do Rio. Trata-se da extinção do pequeno comércio de bairro. Ele está sendo engolido por franquias e rede de lojas. Muitos irão achar o fato apenas uma decorrência natural da crise econômica que vivemos ou que o consumidor sai ganhando, já que essas cadeias de lojas, geralmente, vendem por um preço mais baixo. Mas também há um lado devastador que só agora começa a ser notado: a descaracterização do seu bairro. De repente, a farmácia que tinha aquele atendente que lhe conhecia pelo nome e que desde criança lhe aplicava injeção, agora é uma Pacheco da vida. Aquela pequena loja de produtos naturais que lhe oferecia um incenso de brinde quando você comprava os seus chás, da noite pro dia virou um Mundo Verde e a velha quitanda do Seu Manoel, que sempre nos informava a fruta da época, virou um Hortifruti qualquer.
Eu que sou uma criatura pré-histórica, da época em que ainda existia fiado, conheci a Nossa Senhora de Copacabana, a Visconde de Pirajá, a Ataulfo de Paiva, a Conde de Bonfim, a rua do Catete, todas com suas caras. E fico espantado ao percebê-las cada vez mais iguais.
Por coincidência, na Village Voice da semana passada há uma matéria de Virginie-Alvine Perrette sobre um documentário chamado Twightlight Become Night que mostra a reação dos novaiorquinos à morte das suas lojas de bairro, algumas com quase um século. Lá, como aqui, todos temem a descaracterização e a uniformização do comércio local.
O assunto é polêmico. O time dos contra já está em campo e pergunta: “O que temos a perder com o fim das lojas de bairro?” Pois o primeiro parágrafo da excelente reportagem do Village pode ser uma resposta para eles:
“Listen to the owner of a neighborhood shop, as he describes his devotion to the customers and the community that supports him. Hear the excitement of the child who runs in for a free lollipop, or the gratitude of parents who rely on the store as a safe haven for their kids. Try to understand the appreciation of a grateful customer who was given credit when times were hard, or the way a neighborhood relies on the store as a place to gather, to buy necessities, and ultimately to feel like a part of something larger. Having witnessed all this, watch the shop owner as he closes his storefront gate for the very last time—ever.”
Pois outro dia, forcei-me a caminhar até o Largo do Machado. E foi uma experiência reveladora. Encontrar pessoas que não encontrava há muito, passar por antigos endereços, descobrir novos points, etc. Mas foi durante esta caminhada que pude perceber um fenômeno que há muito vem acontecendo em outros bairros do Rio. Trata-se da extinção do pequeno comércio de bairro. Ele está sendo engolido por franquias e rede de lojas. Muitos irão achar o fato apenas uma decorrência natural da crise econômica que vivemos ou que o consumidor sai ganhando, já que essas cadeias de lojas, geralmente, vendem por um preço mais baixo. Mas também há um lado devastador que só agora começa a ser notado: a descaracterização do seu bairro. De repente, a farmácia que tinha aquele atendente que lhe conhecia pelo nome e que desde criança lhe aplicava injeção, agora é uma Pacheco da vida. Aquela pequena loja de produtos naturais que lhe oferecia um incenso de brinde quando você comprava os seus chás, da noite pro dia virou um Mundo Verde e a velha quitanda do Seu Manoel, que sempre nos informava a fruta da época, virou um Hortifruti qualquer.
Eu que sou uma criatura pré-histórica, da época em que ainda existia fiado, conheci a Nossa Senhora de Copacabana, a Visconde de Pirajá, a Ataulfo de Paiva, a Conde de Bonfim, a rua do Catete, todas com suas caras. E fico espantado ao percebê-las cada vez mais iguais.
Por coincidência, na Village Voice da semana passada há uma matéria de Virginie-Alvine Perrette sobre um documentário chamado Twightlight Become Night que mostra a reação dos novaiorquinos à morte das suas lojas de bairro, algumas com quase um século. Lá, como aqui, todos temem a descaracterização e a uniformização do comércio local.
O assunto é polêmico. O time dos contra já está em campo e pergunta: “O que temos a perder com o fim das lojas de bairro?” Pois o primeiro parágrafo da excelente reportagem do Village pode ser uma resposta para eles:
“Listen to the owner of a neighborhood shop, as he describes his devotion to the customers and the community that supports him. Hear the excitement of the child who runs in for a free lollipop, or the gratitude of parents who rely on the store as a safe haven for their kids. Try to understand the appreciation of a grateful customer who was given credit when times were hard, or the way a neighborhood relies on the store as a place to gather, to buy necessities, and ultimately to feel like a part of something larger. Having witnessed all this, watch the shop owner as he closes his storefront gate for the very last time—ever.”
Abaixo, algumas fotos da matéria do Village.
A luta de moradores para preservar o pequeno comérico dos seus bairros.
Os idosos são os que mais sentem falta das lojas de bairro.
Algumas lojas que correm o risco de fechar em Manhattans são muito antigas.
Bala Perdida, o filme
assista aqui.
Eles foram os campeões na enquete no post passado. Mas acho que nem todos sacaram que a última versão foi um fato real, não foi ficção. E aí que estava o engraçado da coisa.
10 Comments:
Julio,
as coisas vão mudando no bairro e eu nem me dou conta...
Me acostumo, até gosto das mudanças.
Gosto de transformações.
Morei tempo demais na Europa, e aquelas cidades tombadas onde parece que o tempo não passou me encheram até as tampas.
Gosto de caos urbano.
Copacabana.
Zona total.
;)
"Eu não saio dade moda.
A moda é que sai de mim."
"Existem pessoas ricas e pessoas com dinheiro."
COCO CHANEL
Valeu, Jôka
Grande Chanel, né?
Se cuida!
gd ab
Oi, vim te agradecer a visita e a força deixada no Crônicas da Fronteira. Obrigado.
Sobre as lojas, sinto isso com relaçaõ às casas antigas de minha cidade. construções de 60, 70 anos que são demolidas e viram lojas.
oi, júlio. achei o seu link num comentário de um post do meu blog, acho que de setembro. eu sou lesada mesmo e só agora resolvi vir até aqui conhecer o teu sítio. desculpe não tê-lo feito antes, foi muito indelicado de minha parte não agradecer a visita. desde já achei o teu texto muito interessante. eu estive em montevidéo em janeiro e fiquei espantada com o fato de, apesar de o uruguai ser um país pobre o comércio de rua resiste. você pode andar pelo centro da cidade depois de meia-noite e achar tranquilamente um lugar pra comer. só vi um shopping center por lá. por aqui a gente vai se fechando cada vez mais. pena. um abraço, cris
Pois é, Cris
Preservar é um verbo que está fora do dicionário dos povos culturalmente atrasados. Para eles, desenvolvimento está necessáriamente ligado ao novo. O que não é verdade. Estão Buenos Aires e Montevideu que não me deixam mentir.
bjs
pra mim depende. tem dias d ir para o shopping e ser mais um entre a multidão, anonimato gostoso, uma quase não existencia, folga mais do que merecida. tem outros que eu quero/preciso de atenção, alguém que não sorria nem dê bom dia no automático, e aí uma boa lojinha vem mesmo a calhar!
O tipo de comércio mudou, e as pessoas também mudaram. Supostamente, existia a idéia de uma segurança maior em shoppings, mas a violência anda tão grande :(
Nandi, continuo achando que o comércio de bairro não deveria morrer. È ele que faz a diferença.Nada como entrar numa loja e o comerciante lhe chamar pelo nome, perguntar pela família. Eu ainda peguei este tempo.
gd ab
Tem um episódio de "Seinfeld" sobre isso.
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