quinta-feira, setembro 07, 2006

As Várias Vidas de Mr. Zimmerman


E o Sr. Robert Allen Zimmerman, que completou 65 anos no último dia 24 de maio, viu o seu cd Modern Times chegar ao topo da parada norte-americana, na semana passada. Isso não acontecia há 30 anos e tenho percorrido vários blogs que festejaram o fato, como os seguidores de uma seita festejam um novo milagre. Ouvi pouco deste trabalho de Dylan, por isso prefiro não comentar sobre sua qualidade. Mas vou logo confessando: não gosto de Bob Dylan. Sua voz anasalada me irrita e as melodias de suas canções são um tanto chatas e longas demais. Como compositor Dylan é excelente. Músicas como Blowin´in the wind e The Times They Are-A-Changing, viraram hino do movimento estudantil norte-americano nos anos 60 e já justificariam a fama que este senhor tem. Dylan realmente tem algo a dizer, mas, em muitos casos, acho que o seu recado poderia ser mais curto.
De qualquer forma, Mr. Zimmerman causou um impacto profundo no meio musical. A partir dele, houve uma preocupação maior com as letras e com a com uma visão de mundo mais madura, por parte dos músicos. O rock deixou de ser aquela coisa de "I love you", "Baby, give your heart to me", "I wanna hold your hand" e blá, blá, blá. A música elevou o seu QI. E este foi o grande mérito de Robert Zimmerman.
Dylan pertence a uma geração que incorporou o espírito rebelde e aventureiro do velho cantor folk Woody Guthrie, que na época da grande depressão havia colocado o seu violão nas costas e seguido pelas estradas americanas, cantando a tristeza dos que haviam perdido tudo, em troca de uns trocados para comer. Dylan veio da classe média de Minnesota e preferiu um caminho não tão arriscado. Foi para Nova Iorque, onde gente como Joan Baez, Art Grafunkel, Judy Collins, Richie Havens e Peter, Paul and Mary, havia iniciado o new folk moviment de contra-cultura. Com o seu talento e seu carisma, ele parecia ser o cara certo para a época certa. Mas para quem assistiu No Direction Home, documentário de Martin Scorcese sobre os primeiros anos da carreira do menestrel, fica a impressão de que se tratava de um rebelde sem causa que deu certo, de que Dylan apenas dizia o que milhares de jovens americanos inconformados com a guerra do Vietnã queriam ouvir. Parecia que aquele jovem cheio de pose e que vivia vestido de negro e usando óculos escuros à noite, apenas interpretava um papel.
Depois de ser consagrado com o álbum Freeweelin´, em 63, Dylan ousou a eletrificar o seu folk, para tentar criar uma espécie folk urbano. E resolveu estreiar esta mudança em pleno Festival Folk de Newport, na noite de 25 de julho de 1965. Era como se algum sambista se atrevesse a fazer um ensaio na Mangueira em ritimo de música eletrônica. Resultado: sonoras vaias, como fica claro no final deste vídeo aí embaixo, onde ele interpreta seu clássico Maggie´s Farm.

Apesar da incompreensão do seu público, que o acusou de traição, Dylan seguiu em frente no seu projeto de aproximar a música folk dos jovens urbanos. E logo conseguiu seguidores como o pessoal do The Birds, do Buffalo Springfield, da The Band e do Crosby, Stills, Nash and Young.
Depois de afastar-se alguns anos, recuperando-se de um acidente de moto que nunca foi devidamente esclarecido, a carreira de Mr. Dylan parecia terminada, quando em fins da década de 60, ele mudou tudo e voltou a se aproximar do folk puro e simples, em dois discos sentidos e melancólicos: John Weslling Hardin e Nashville Skyline. Era a sua primeira ressurreição, através de críticas maravilhosas e sucesso nas paradas com o clássico Lay Lady Lay.
Ele iniciou os anos 70 produzindo discos que passaram despercebidos. Nesta época, o folk urbano que ele havia ajudado a criar, já estava dominando as paradas através de gente como Neil Young, América, Poco, Eagles, Joni Mitchel, Carole King e James Taylor, entre outros.
A nova ressurreição de Mr. Zimmerman ocorreu no segundo semestre de 1975, quando surgiu Blood On The Tracks, um lindo álbum, quase todo sobre relacionamentos. Afinal, a geração rebelde e constestatória que havia o levado ao sucesso, agora já havia chegado aos trinta, muitos estavam formando família e gostaram de ouvir canções tão maduras sobre as mazelas das relações afetivas. O resultado foi que Dylan voltou às paradas e voltou a ser assunto nas conversas. O álbum seguinte, Desire, foi rapidamente numero 1 na Billboard, devido ao sucesso Hurricane.
Nos anos seguintes, Dylan pareceu enferrujado e incapaz de acompanhar as transformações que aconteciam na música. Quando, em 1992, organizaram o concerto para comemorar os seus 30 anos de carreira, no Madison Square Garden, NY, artistas como Tom Pretty, Neil Young, Bruce Springsteen, Lou Reed e outros, que subiram no palco para cantar ao seu lado, pareciam homenagear alguém cuja a carreira havia se encerrado. Era como se o velho menestrel não tivesse mais nada a dizer.
Mas eis que em 1997, ele ressurgiu das cinzas outra vez com Time Out of Mind, que obteve boas críticas e subiu alto na parada. No final daquele ano, Mr. Zimmerman chegou a ser condecorado na Casa Branca pelo o então presidente Clinton com o Kennedy Center Honor. O álbum seguinte, Love and Theft, lançado em 2001, também surpreendeu público e crítica. E finalmente, em 29 de agosto último, veio este Modern Times. A revista Rolling Stones alardeou que os três últimos trabalhos do Sr. Zimmerman têm o mesmo nível dos seus discos surpreendentes, lançados nos anos 60. Não sei. Mas seja lá o que for, acho que não se deve esperar do Sr. Zimmerman o mesmo que se espera de um messias. Não o superestime, deixa que ele siga apenas como o bom artista que é. O que vier é lucro. O Dr. Zimmerman já fez muito pela música e merece o nosso respeito.

12 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Isto é o que eu costumo chamar de uma tremenda aula histórica,JULIO,heheheh
Abração!!

sexta-feira, setembro 08, 2006 9:37:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Assim como vc também não gosto do Mr. Zimmerman (tb conhecido por Bob Dylan)
Me irrita sua voz anasalada e aquela coisa arrastada.
Me irrita profundamente o ar blasé e seu esnobismo.
Entretanto, há que se dar a mão a palmatória: o sujeito é um bom letrista, ah, isso é.

sexta-feira, setembro 08, 2006 12:38:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

DO,
que aula nada. Quem sou eu!
gd ab

Anne,
pessoalmente Mr. Dylan deve ser um nojo! Mas é um grande letrista. Suas canções cantadas por outros, ficam lindas!
bj

sexta-feira, setembro 08, 2006 12:52:00 PM  
Blogger Vera F. said...

Júlio, gosto do Bob Dylan pelas músicas/letras maravilhosas. Agora como ele é como pessoa sinceramente não sei e nem me interessa saber. Sei separar o artista da pessoa. Não fico o endeusando por isso. Tenho um amigo que considera ele um Deus, já foi a não sei quantos shows dele e se gaba de ter o telefone da casa dele. E tem mesmo! Ele não entra no mérito dessa figura blasé que Dylan tem, ele acha que ele pode, ele é o cara! Não sei se vc conhece, é o jornalista e escritor Eduardo Bueno? É ele o louco por Dylan. Sabe tudo dele. Fui produtora dele num telejornal, onde ele comentava sobre música(CDs,shows).
Sei que as atitudes do Dylan nem sempre condizem com o que canta. Mas fazer o que se a letra é linda? A voz dele não é nenhuma Brastemp, como a do Chico não é, mas adoro o Chico.
Mas pelo que vc escreveu, mesmo não gostando do Dylan, vc tá sabendo muuuuito dele! Gostei!
Vem um filme sobre ele em breve!Quanto tiver mais informações posto.
Bjos.

sexta-feira, setembro 08, 2006 5:29:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Falou e disse, Vera
Modéstia à parte, sei muito sobre rock e música em geral. E como saber de rock, sem saber de Dylan? Sua importância na história da música é imensa e compensa os possíveis defeitos na sua personalidade.
bjs

sexta-feira, setembro 08, 2006 5:51:00 PM  
Blogger Milton T said...

Julio ele não passa despercebido , não? Nos meus 20 e poucos, duro, acompanhava um colega que era cover do Dylan, o Zego e íamos nos bares sem pagar a courvert artístico.

Gostei do disco!

Bom finde

Abçs

sexta-feira, setembro 08, 2006 8:06:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Milton,
sou de uma geração em que era um pecado dizer que não gostava de Dylan. Como se diz naquele anúncio de bebidas, eu aprecio mas com moderação.
gd ab e ot findi pra ti tb

sexta-feira, setembro 08, 2006 8:13:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

O Bob Dylan é fanho e enchendo o saco da Vera, o Chico Buarque também é fanho. Álias como existem fanhos no meio musical!!
O Bob é um fanho nojento, mas ele pode!! (rs*)
Bom domingo!! Beijus

sábado, setembro 09, 2006 1:33:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Luma,
Pode?
bjus

sábado, setembro 09, 2006 8:04:00 AM  
Blogger Alba Regina said...

kkk jc...engraçado, eu acho o chico insuportável como cantor e maravilhoso como poeta, compositor. e, adoro dylan (mesmo com sua voz mais ou menos) e como poeta e letrista...dylan faz parte da trilha sonora da minha vida. mas música é assim mesmo. tem que atingir a gente. e dylan me atinge. em cheio. beijo jc!!!

sábado, setembro 09, 2006 11:12:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Alba,
Dylan me atinge em cheio quando ouço suas canções cantadas por outros.
bj e ótimo findi

sábado, setembro 09, 2006 12:54:00 PM  
Blogger . fina flor . said...

Eu também gosto de Bob Dylan, Julio e ameeeeei o documentário dele ;o)

beijos

MM

terça-feira, setembro 19, 2006 6:16:00 PM  

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