A Verdadeira Caixa de Surpresas
Ontem, domingo (27), os norte-americanos esolheram 24 horas para a grande ganhadora do 58o. Emmy, ou como o que de melhor assistiram em sua tv no último ano. A série escolhida merece realmente um grande PARABÉNS! Não só por ter sido eleita a melhor série da tv mais assistida do mundo, mas também por que esta mesma televisão há alguns anos vem passando por um período de ouro e há até quem ache que, pela primeira vez desde o seu surgimento no início do século passado, ela está passando a frente do cinema em termos de qualidade.
Acho que a coisa começou lá em 1985 quando anunciou-se que o canal CBS iria produzir uma versão do maior clássico do teatro americano: A Morte do Caixeiro Viajante, do Arthur Miller. Muita gente riu. A tv americana até então era motivo mesmo de riso tal era o descrédito em relação a sua dramaturgia. A maioria dos americanos só ligava a tv para assistir filmes, acompanhar os jogos de baseball, ouvir as notícias e conferir as previsões meteorológicas. Havia alguns programas que fugiam a regra, como o veterano Saturday Night Live. As novelas eram desprezadas e, embora algumas séries tenham feito história, como a famosa Raízes, em 1977, a maioria era tida apenas como passatempo. Poucos filmes produzidos para a tv quase nunca eram levados a sério.
A tv americana também era tida com um cemitério de atores. Só atuavam ali quem havia levado um chute ou uma porta na cara, em Hollywood. Participações de atores famosos no cinema aconteciam, mas eram, geralmente, pequenas participações "para dar uma força" ou "para atender ao pedido do amigo diretor chato". Aparecer em séries de tv era pagar mico e logo gerava boatos sobre uma possível queda de prestígio. Por isso, os americanos ficaram de boca aberta ao saber que o famosíssimo Dustin Hoffman havia aceitado fazer o papel principal na versão do Caixeiro. E o queixo dos ianques caiu ainda mais ao assistir o próprio espetáculo, que além de ter recebido excelentes críticas, foi considerado a melhor adaptação do clássico até então. Dez anos depois, uma outra versão de um clássico do teatro, Um Bonde Chamado Desejo, com Alec Baldwin e Jessica Lange nos papéis principais, ganharia os mesmos elogios. Mas aí, muita água já havia rolado.
De olho no fato de que os americanos estavam preferindo ficar cada vez mais em casa (excesso de trabalho, ingressos caros ou medo da violência), a tv americana decidiu investir em si mesma. Passou a contratar melhores atores, melhores roteiristas e passou a abordar temas mais adultos. Tudo na tentativa de se aproximar do cinema.
A primeira série, talvez, a expressar esta mudança, foi Friends. A história do grupo de amigos novaiorquinos que dividiam um ap trazia personagens carismáticos, temas atuais e um roteiro veloz e espertíssimo, léguas distantes do conservadorismo e do previsível, que sempre foram as marcas da tv americana.
Seinfield e Mad About You, onde casais adultos discutiam, com muito humor, temas adultos, comuns a qualquer casal de uma cidade grande, também se transformaram numa febre. E ao longo dos anos 90, outras séries como Melrose, The Nanny, Married With Children, Everwood, Frazier, Will and Grace, ER, Dawson´s Creek, Ally MacBeal, The King of Queens, CSI, The West Wing, etc, conquistariam até mesmo os mais jovens, que sempre acharam que televisão era coisa para velho. Isso sem falar em desenhos que nada tinham de infantis: Os Simpsons e, mais tarde, South Park. Tá certo, a maioria eram sit-cons. Mas séries policiais cada vez mais realistas e melhores do que muitos filmes de ação hollywoodianos, passaram a chamar a atenção dos mais exigentes, tipo Nova Iorque Contra O Crime, Homicide, Lei e Ordem, 24 Horas(a premiada).
Com o passar do tempo, o cada vez mais respeitado lado dramatúrgico da tv, começou a atrair profissionais desiludidos com a queda de qualidade na indústira cinematográfica. Sim, porque não só a tv havia melhorado. O cinema americano dava sinais de que estava com problemas de criatividade. E até astros do cinema e celebridades começaram a correr atrás de de diretores de séries televisivas. "Não tem uma pontinha pra mim, aí, não?". Afinal, Robert Downey Jr. foi destaque em Ally MacBeal. Woopie Goldberg, Geena Davis e a veterana Cybil Shepherd também tiveram as próprias séries. O machão Michael Douglas fez um policial gay em Will and Grace, onde também Madonna, Cher e Elton John apareceram sorridentes.
No início do século, quando Sex and The City virou o assunto do momento, ninguém mais teve dúvidas: assistir tv estava na moda. E quem ainda achava que a caixinha iria perder o fôlego, com o encerramento de muitas séries populares nos anos 90, se surpreendeu ao ver o lançamento de outras ainda mais bem feitas, adultas e ousadas, como A Família Soprano, Six Feet Under, Desperate Housewives e L World, esta última voltada para as meninas que nunca gostaram de nenhum tipo de boneca.
Mas o que realmente aconteceu com a tv americana? Simples: enquanto o cinema se preocupa com aventuras futuristas, monstros, catástrofes e muuuuuuitos efeitos especiais, a tv oferece apenas boas histórias, enredos inteligentes, temas interessantes, personagens inesquecíveis. Ou seja, mais dramaturgia, mais roteiro. Isso ainda é a melhor forma de se conquistar o espectador.
E qual é a minha série favorita?
Há dezesseis anos no ar, Lei & Ordem é tudo que um amante de literatura policial quer.
E qual é a minha série favorita?
Há dezesseis anos no ar, Lei & Ordem é tudo que um amante de literatura policial quer.
No início deste vídeo, os detetives da Unidade de Vítimas Especiais estão sendo entrevistados por um psiquiatra da polícia. O desempenho dos atores é fantástico ao falar dos seus problemas pessoais e a barra de encarar o dia-a-dia desta unidade, que lida com estupros, pedofilia, prostituição infantil e práticas sexuais das mais folclóricas. Em um dado momento, perguntam a um deles porque continuar naquele tipo de trabalho tão desgastante. E a resposta: "Alguém tem que fazê-lo" Os roteiristas brasileiros deveriam assistir Lei & Ordem e alguns outros seriados americanos umas 600 mil vezes para aprenderem a fazer roteiros sucintos, inteligentes, criativos e reais.
Aliás, Mariska Hargitay, interpretando a detetive Olivia Benson, faturou o Emmy de melhor atriz em drama. Justo, justíssimo.
E é isso. Vou assistir minha tv. Fui!
27 Comments:
voce esqueceu de citar a grande Twin peaks...serie originada do filme de Lynch...muito boa...uma das melhores coisas que vi na tv...nunca tinha visto o sex and the city e vi essa semana...toda a primeira temporada...bom...roteiro legal...sempre gostei de series..(coisa de menino criado na frente da tv)...e vi muita porcaria tambem..barrados no baile/melrose...etc...lembro de uma outra...Anjos da lei...que gostava na epoca...
Pois é, Jorge
eu devo ter esquecido de várias. São tantas! A caixa com todas as temporadas do Sex and The City já saiu aqui no Brasil. Mas a minha preferida ainda é a Lei & Ordem. Não perco uma!
gd ab
Júlio, os atores de lá e cá parecem não gostar muito de atuar na tv. Será que falta adrenalina?
Nunca fui de assistir tv e em casa sempre foi assim, minha mãe odeia e a minha avó, que recebeu em casa, a título de experimentação, mandou de volta, preferindo o velho rádio.
Mais tarde o meu avô veio morar com a gente e esse sim gostava de tv. Até acho que os homens gostam mais de tv que as mulheres. Ele assistia Bonanza. BONANZA!! Eu lembro disso!! (rs*)
Dessas séries que citou, assisti os episódios de algumas. A única que assisti mesmo foi BEVERLY HILLS, 90210 (Barrados no Baile), tinha idade praquilo!! depois a Globo copiou o formato que virou novela das 5 horas. O que mata a tv no Brasil é novela de manhã, de tarde e de noite.
Acabei de comprar a temporada de The 4400 e se quer assistir séries legais, assista Criminal Minds, Monk e Coupling.
Boa semana! Beijus
Luma,
entre as séries americanas tem de tudo. Tem as médias, as ruins, as péssimas, as boazinhas, as imperdíveis. Acho que a época em que ficar em casa assistindo tv era um programa menor definitivamente já passou.
bjus
Meu preferido era Friends....a onda agora é ser "cocooning",...apesar de ter algum efeito especial..hehehe
ABÇS
Milton,
Friends deixou mesmo saudades
gd ab
Muito justa a premiação, caro Julio. Melhor ainda a sua análise e explanação. Também gosto muito de literatura policial. Idem, fui à TV! Beijos
Giulia,
que legal! Quer dizer que poetas também gostam de literatura policial? Beleza! Temos muito em comum.
bjs
Júlio voltando um pouquinho no passado, nos anos 70/80 gostava das panteras e do Homem de Seis milhões de dólares(Cyborg). Nos anos 90, Barrados no Baile, Melrose Place,Twin peaks. Das atuais Sex and City, Desperate Housewives, 24 Horas. Tem outras mas que vejo esporadicamente que nem vale a pena citar.
Bjos.
Buenas.
Julião, meus seriados preferidos:
01) Seinfeld.
02) Saturday Night Live.
03) Whose Line Is It Anyway?
04) Everybody Hates Chris.
05) Chaves.
Sim, um mexicano na alta roda.
Grande abraço.
Vera,
tinha também o Bareta e o Kojak. Mas vamos combinar que dramaturgicamente falando, não se compara com a qualidade que temos hoje. Eram apenas passatempos.
bjs
Luiz,
gentalha! gentalha! gentalha!
Chaves virou cult
gd ab
Muito bom o post! Grande reflexão.
Eu gostava muito de Barrados no Baile! hehe, assistia quando estava na escola ainda! Pena que acabei não assistindo a última temporada (questões de horário).
abraço
lendo um post destes fico me perguntando pq eu NUNCA acompanhei serie alguma...
Morro de curiosidade,JULIO.
Abraços e otima semana
Quero aprender a colocar filminhos e clipes no Fina flor, rs*..... Só não sei fazer isso, ainda, buáááá
Saudades de você, querido, por onde anda? E as leituras?
beijocas
MM
vc sabe jc outro dia mesmo estva pensando sobre isso...caí num canal a cabo destes e passava um filme da década de cinquenta, por aí...romance mesmo. dps meu marido roubou o controle e caiu num outro canal com um destes filmes tragédia plena...sangue misturado a todo tipo de armamento. enfim, pensei q sei lá, num momento tão complicado q o mundo vive...será q não era a hora de aliviar sabe como é?! e vc veio complementando meu pensamento...nas series americanas acabamos encontrando um pouco mais de divertimento..."leveza" sabe como é? por isso tenho toda a coleção de 'sex and the city' adoro 'desperate house wives', ' the gilmore girls'e quem sabe, dps q eu comprar a primeira temporada consiga acompanhar 'lost'...beijo jc!!! ^^
Marshal,
as séries atuais são muito melhores.
gd ab
DO,
nunca é tarde. Dê uma volta de controle remoto. Vc não vai se arrepender.
gd ab
Moniquinha,
vai ter leitura em setembro. Depois passo no teu blog para maiores detalhes.
bjs
Alba,
Lost virou febre. Experimente tb Lei & Ordem
bjs
Gostava de Arquivo X!
Tolomei,
Gostava dos Perdidos no Espaço, Nacional Kid, Flinstons, Kojak, Bareta, Shaft e da grande Cleopatra Jones. Não sabe quem foi esta última? Pergunte aos seus pais. Mas quer saber? Qualquer série americana hoje é muito melhor do que todos eles juntos.
gd ab
Como boa sonnymaníaca, adorei esse post. E lá no Favoritos, morro de rir de vc sempre discordando das listas. rsrs
Bjs!!
Luiza,
Walk On By em 198 é um sacrilégio!
bjs
Oi, Julio!
Pra variar excelente seu post. Estou convidando vc pra dar uma chegada em meus pedacinhos amanhã, dia 31/08 - ok??
Beijos
Olá...
Escolhi vc como um dos blogDay!!
Beijos
simplesmente não consigo assistir essas séries, assim como não consigo ver novela.
:>/
Milton,
têm alguma séries e documentários que farão vc ficar acordado.
gd ab
Bia,
vc não tem noção de como algumas séries são boas. Desperate Housewifes seria a idela para o seu estilo. Neloson Rodrigues adoraria.
gd ab
Passeando pela blogosfera... deixando uma beijoca........
MM
Mônica,
um beijão pra ti tb. Daqui a pouco vou lá no teu blog.
Ah, Nilza,
vou dar uma olhada lá. E obrigado!
bj
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