A vida como ela é
As grandes tragédias em nossas vidas são mais inofensivas do que pensamos. O que nos mata, o que nos derruba, o que nos leva mesmo à ruína é o dia-a-dia, as pequenas mazelas do cotidiano, os contratempos da rotina. A perda de um ente querido, o fim de um casamento ou um relacionamento, a traição de um amigo, a perda de um emprego, a destruição de seu lar. O ser humano tem capacidade de, bem ou mal, sobreviver a isso tudo. Mas uma cara feia, um “bom dia” não respondido, uma fechada no trânsito, um atendimento ruim na caixa do supermercado, a grosseria de um colega de trabalho, um imbecil que fura a fila no cinema, o ato injusto de um policial. Essas coisas são como cupins que, com o tempo, vão corroendo a nossa estrutura até tudo desabar. Por isso, no final de cada dia, se você conseguiu passar por todas essas mazelas numa boa, íntegro, sem nenhum abalo e o que é mais importante, sem se afastar um milímetro do seu self, você é um herói. E esse é o tema do post de hoje. É uma homenagem a todos que matam um leão por dia. Como nós.
Até que enfim um bom roteiro!
Sei que já aconteceu com você. Alguém pergunta: “E aí. O que achou do filme?” Após procurar entre um mar de adjetivos, você vem com um insosso “simpático”. Mas não há outro melhor para definir esse Tudo Acontece em Elizabethtown, longa do diretor Cameron Crowe, aquele do também simpático Quase Famosos, que encantou meio mundo em 2003 e faturou um Oscar de melhor roteiro.
Nele, o designer Drew Baylor (Orlando Bloom) é demitido, após um projeto fracassado que causou um prejuízo de quase US$ 1 bilhão de dólares à empresa onde trabalhava. A demissão o faz também perder a namorada. Quando vai se matar, recebe, por celular, a notícia da morte do seu pai. Pensando que o seu mundo havia desmoronado, ele se vê obrigado a ir a Elizabethtown, cidadezinha no Kentucky, para tratar da cremação do corpo do pai, já que sua apática irmã (Jéssica Briel) e sua mãe surtada (Susan Sarandon), se dizem incapazes de cuidar de tudo.
No caminho, ele conhece a inocente aeromoça Claire (Kirsten Dunst), que acaba sendo o seu amparo até o final do filme, pois ao chegar em Elizabethtown, mais problemas. A começar que o pobre Drew tem enfrentar uma família típica do interior norte-americano apegada a valores cristãos e para quem a idéia da cremação é inaceitável. E é justamente aí que começa a beleza do filme. Diante da tela, vemos uma América um tanto esquecida ultimamente. Nada de casais classe média problemáticos da Califórnia; nada de mulheres realizadas na profissão, mas insatisfeita afetivamente; nada de efeitos especiais; nada de crimes; nada de ruas violentas; nada de tráfico de drogas; nada de música eletrônica; nada de papos intelectuais; nada de Bush. Apenas pessoas comuns, famílias ainda estruturadas que moram em casas com jardins na frente e com bandeiras americanas nas sacadas. Ali está a verdadeira América. Todos tem seus problemas, matam os seus leões, mas estão mais preocupados com a qualidade do seu dia-a-dia, sem muitas ambições, sem muitos medos ou angústias. No final, quando o Drew, ao voltar para casa, faz um tour pelo sul do país visitando locais como o hotel em Menphis onde Martin Luther King foi assassinado ou o prédio da antiga Sun Records, em Nashville, onde Elvis gravou seus primeiros discos, percebemos que ele próprio está emocionado ao ter deixado a vida de yuppie de lado e começado a dar valor a coisas simples, como redescobrir o seu país, por exemplo. Quando ele decide espalhar as cinzas do pai por estes lugares, pode parecer meio piegas e ufanista, mas é uma indicação do quanto ele está valorizando as coisas verdadeiras do seu país, que ele não conhecia. Pouco a pouco você vai sendo cativado com a simplicidade que há muito não é mostrado em Hollywood. Até o solo de guitarra na impagável cena da banda do primo tarja preta do Drew, tocando no velório, faz você suspirar: “Porra, há quanto tempo não ouço um bom e velho solo de guitarra?!”
Só o roteiro espertíssimo do próprio Cameron Crowe, a trilha sonora repleta de pérolas e as participações mais do que especiais de Susan Sarandon e Alec Baldwin já seriam o bastante para uma ida rápida ao cinema (o filme já está pra sair de cartaz). Mas Elizabethtown vai muito mais além. Na verdade, há um outro filme dentro desta comédia romântica simpática. Uma sensível homenagem ás coisas simples, naturais e realmente importante da vida. Há 20 anos eu não via isso acontecer num filme americano. Mais precisamente desde o excepcional A Testemunha, em que Peter Weird cria dentro de um filme policial uma linda história de amor. Eu disse simpática? Sim, não estamos falando de nenhuma obra prima, mas apenas de uma comédia romântica muito simpática. Mas se simpatia é mesmo quase amor, não há como não sair do cinema apaixonado por Elizabehttown.
Até que enfim um bom roteiro!
Sei que já aconteceu com você. Alguém pergunta: “E aí. O que achou do filme?” Após procurar entre um mar de adjetivos, você vem com um insosso “simpático”. Mas não há outro melhor para definir esse Tudo Acontece em Elizabethtown, longa do diretor Cameron Crowe, aquele do também simpático Quase Famosos, que encantou meio mundo em 2003 e faturou um Oscar de melhor roteiro.
Nele, o designer Drew Baylor (Orlando Bloom) é demitido, após um projeto fracassado que causou um prejuízo de quase US$ 1 bilhão de dólares à empresa onde trabalhava. A demissão o faz também perder a namorada. Quando vai se matar, recebe, por celular, a notícia da morte do seu pai. Pensando que o seu mundo havia desmoronado, ele se vê obrigado a ir a Elizabethtown, cidadezinha no Kentucky, para tratar da cremação do corpo do pai, já que sua apática irmã (Jéssica Briel) e sua mãe surtada (Susan Sarandon), se dizem incapazes de cuidar de tudo.
No caminho, ele conhece a inocente aeromoça Claire (Kirsten Dunst), que acaba sendo o seu amparo até o final do filme, pois ao chegar em Elizabethtown, mais problemas. A começar que o pobre Drew tem enfrentar uma família típica do interior norte-americano apegada a valores cristãos e para quem a idéia da cremação é inaceitável. E é justamente aí que começa a beleza do filme. Diante da tela, vemos uma América um tanto esquecida ultimamente. Nada de casais classe média problemáticos da Califórnia; nada de mulheres realizadas na profissão, mas insatisfeita afetivamente; nada de efeitos especiais; nada de crimes; nada de ruas violentas; nada de tráfico de drogas; nada de música eletrônica; nada de papos intelectuais; nada de Bush. Apenas pessoas comuns, famílias ainda estruturadas que moram em casas com jardins na frente e com bandeiras americanas nas sacadas. Ali está a verdadeira América. Todos tem seus problemas, matam os seus leões, mas estão mais preocupados com a qualidade do seu dia-a-dia, sem muitas ambições, sem muitos medos ou angústias. No final, quando o Drew, ao voltar para casa, faz um tour pelo sul do país visitando locais como o hotel em Menphis onde Martin Luther King foi assassinado ou o prédio da antiga Sun Records, em Nashville, onde Elvis gravou seus primeiros discos, percebemos que ele próprio está emocionado ao ter deixado a vida de yuppie de lado e começado a dar valor a coisas simples, como redescobrir o seu país, por exemplo. Quando ele decide espalhar as cinzas do pai por estes lugares, pode parecer meio piegas e ufanista, mas é uma indicação do quanto ele está valorizando as coisas verdadeiras do seu país, que ele não conhecia. Pouco a pouco você vai sendo cativado com a simplicidade que há muito não é mostrado em Hollywood. Até o solo de guitarra na impagável cena da banda do primo tarja preta do Drew, tocando no velório, faz você suspirar: “Porra, há quanto tempo não ouço um bom e velho solo de guitarra?!”
Só o roteiro espertíssimo do próprio Cameron Crowe, a trilha sonora repleta de pérolas e as participações mais do que especiais de Susan Sarandon e Alec Baldwin já seriam o bastante para uma ida rápida ao cinema (o filme já está pra sair de cartaz). Mas Elizabethtown vai muito mais além. Na verdade, há um outro filme dentro desta comédia romântica simpática. Uma sensível homenagem ás coisas simples, naturais e realmente importante da vida. Há 20 anos eu não via isso acontecer num filme americano. Mais precisamente desde o excepcional A Testemunha, em que Peter Weird cria dentro de um filme policial uma linda história de amor. Eu disse simpática? Sim, não estamos falando de nenhuma obra prima, mas apenas de uma comédia romântica muito simpática. Mas se simpatia é mesmo quase amor, não há como não sair do cinema apaixonado por Elizabehttown.
Trilha sonora do dia-a-dia...
Ainda não comprei o último do Rappa, o Acústico da MTV, lançado meses atrás. Mas tenho a certeza que se trata de mais um ótimo trabalho desta banda sensasional, que é a melhor coisa produzida no cenário da MPB nas últimas décadas. Pra mim, foram os Mutantes nos anos 60, a Rita Lee e o Tutti-Frutti nos 70, os Paralamas nos 80 e O Rappa nos 90/00.
Milagre é das antigas, mas tem tudo a ver com o tema deste post. Ouça a música, cante a letra (linda, por sinal) e veja as fotos, porque tem tudo a ver.
Milagre
Composição: Marcelo Yuka
Ao redor dos maiores prédios que eu ja vi,
Ao redor dos maiores prédios que eu ja vi,
no final
de um dia cheio de engolir
cada um tem seus milagres pra insistir
cada um tem seus milagres , pra fugir
pra não ouvir
cada um tem seus milagres
o som dos dias que distanciam a nossa melhor metade
que vai ficando de lado
pelo medo de nao dormi
que vai ficando de lado
sem esquecermos das pequenas coisas
que nos protegem, que nos protegem porque,
cada um tem seus milagres ,pra fugir,
cada um tem seus milagres, pra insisti
pra não ouvir
cada um tem seus milagres
3 Comments:
JULIO !!!
adorei as informações que me trouxe sobre a diva bacanérrima Annie Lennox !!!
Ah, e aqui no seu blog tá cada vez melhor... se é que isso é possível !
ÊBAAAAA !!!!
:D
Abçs,
JÔKA P.
Valeu, Jôka. Esse Diva merecia este comentário. O vídeo desta música tb é 10!
gd ab
alô, Nilovsky. Meu companheiro de Bagatelas. Mudantes é tudo! O Rappa tb.
gd ab
Postar um comentário
<< Home