quarta-feira, novembro 02, 2005

Reflexões e etc.

"Para cada minuto que você se aborrece você perde sessenta segundos de felicidade."
(Ralph Waldo Emerson)


“A busca dos amigos não se faz com lanternas, mas com o coração."
P.Rosseger”


"Era sábado à noite em São Paulo e ele, Olívio, um jovem imigrante,
estúpido e analfabeto, podia sair daquele infecto quarto de pensão, no Pari,
e ganhar a noite da cidade, estranha e ameaçadora. Podia também ficar lá
e pensar a respeito de si mesmo. Preferiu sair. Era menos assustador. Saiu
a procura dos vagabundos, dos bêbados, das prostitutas, dos sem-remédio.
De algum modo ele os encontraria. Um desajustado sempre encontra os
seus."

Trecho do meu romance policial A Arte de Odiar.



Numa manhã de verão, em 1969, uma composição de metrô cortava o subterrâneo de Nova Iorque. Em seu interior, homens e mulheres indo para o trabalho. Todos pertencentes ao que se chamava na época de maioria silenciosa. De repente, em uma das estações, a composição pára devido a um problema mecânico qualquer. Os auto-falantes pedem gentilmente que todos desembarquem e aguardem a próxima composição. E todos desembarcaram. Mas ao invés de aguardarem pacificamente o próximo trem, depredaram a composição avariada.

Na época, a imprensa não deu muita importância ao fato. Mas alguém observou que aquilo poderia ser um sinal de cansaço do povo com a filosofia pacifista do paz e amor, que estaria fracassando diante da intransigência de Nixon em acabar com a guerra do Vietnã e com a crise econômica pela qual a nação passava. E o futuro próximo mostraria o quanto essas palavras estavam corretas.

Vejo semelhanças com este episódio naquela longínqua manhã de verão em NYC com o Brasil de hoje. Esse pensamento me veio à mente, assim que refleti sobre a vitória do NÃO no referendo. Vejo um certo cansaço não só com o governo, mas com a filosofia romântica do PT diante de certos problemas do país. A segurança pública é uma delas. Mas entendo a derrota do SIM como algo ainda mais simbólico. A desilusão e o cansaço de boa parte do povo com o discurso de "para o bem das instituições democráticas", de "temos que preservar os direitos humanos" ou de "pela cidadania." Diante de cidades dominadas pelo tráfico de drogas, corrupção política em todos os níveis, favelização, anarquia e desrespeito às regras mais básicas de civilidade e desprezo pela educação em detrimento da "esperteza", qualquer belo discurso se transforma em blá-blá-blá. Onde o povo disse NÃO, deve-se ler NÃO aguentamos mais.

Curiosamente, isso tudo acontece com a estréia de dois documentários sobre figuras que simbolizavam a luta pelos direitos humanos, a liberdade de expressão, a cidadania, etc: Vlado - 30 anos depois, sobre o jornalista Vladimir Herzog (sobre o qual falei em post anterior), e no documentário Dom Helder Câmara - Em busca da profecia, da professora da Faculdade de Comunicação (FAC), Érika Bauer. Coincidindo também com os 25 anos do maior relato sobre os horrores ocorridos nos porões da ditadura, o livro Tortura Nunca Mais. Foi lançado na minha época de faculdade e me lembro que o líamos durante os intervalos para debatermos depois. Mais recentemente tive recorrer a ele para escrever uma passagem do meu livro A Arte de Odiar, o jornalista Daniel, ex-preso político, que teve destino idêntico ao de muitos que foram descritos nas páginas deste livro.

E aí vem a pergunta que dói em mim, toda vez que ouço os noticiarios desfilarem o rol de podridão que escorre lá em Brasília. Será que a luta de todas essas pessoas foi em vão? Será que eles lutaram tanto, para que pessoas da mesma corrente de pesnamento chegassem ao poder e fizessem o que estão fazendo? Será que muitos dos protagonistas de toda esta sordidez estão agindo desta forma por desencanto com a sua causa. Será que a culpa é do sonho e não dos sonhadores?

Ontem, voltei a pensar neste assunto ao ler o belo texto de Anna Maria Ribeiro publicado no jornal Montblaat, de Fritz Utzeri, e trasncrito no New York On Time do Jorge Pontual. Leiam. E reflitam.




Eu me amarro em Marcos Valle. Principalmente o Marcos Valle da fase Pop, entre 1968 e 1974, quando suas músicas abusavam de uma riqueza melódia, quase comparável ao Burt Bacharah. E com um swing cheirando à maresia. Marcos Valle está lançando mais um CD, o instrumental Jet Samba, só com peças de jazz. Algumas são regravações de músicas suas. Brasil-México, por exemplo, está contida naquele que, para mim, foi o seu melhor trabalho, o lp Marcos Valle, de 1974. E que injustamente foi o único trabalho seu a não ser lançado em CD. Sabe-se lá por que, já que tinha obras primas como Remédio Pro Coração, Cobaia, Meu Herói e Tango. Esta última tem uma letra muito interessante. Precisei importar este CD do Japão. Os absurdos deste país se estendem ao mercado musical. Ouçam, cantem e decorem, para o caso de alguma briga com o(a) parceiro(a).

Tango

Marcos Valle

Quem que você pensa que eu sou?

Pra me humilhar,

zombando deste amor.

Eu não vou passar a vida a te esperar

Envelhecer, só pra te ter pra mim

Pois faça que eu faço ainda mais

Pois saia que eu saio ainda mais

Pois traia que eu te traio ainda mais

Você não sabe que eu sou capaz

De te mandar embora, te deixar agora

E morrer de amor

De te rasgar a roupa, agir como um louco

Me matar de amor

Quem que você pensa que é?

Pra maltratar quem vive a te esperar

Não espere do meu corpo a solidão

Eu sei amar, mesmo sem ter amor

Eu tanto posso ir como ficar

Eu tanto sei amar como odiar

Eu tanto sei sorrir como ferir

Não brinque com a paixão que eu sou capaz

De te mandar embora, te deixar agora

E morrer de amor

De te rasgar a roupa, agir como um louco

Me matar de amor



E tem mais gente lançando livro...


Mais detalhes no Drops da Fal.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Além disso, ainda tem gente que não sabe o motivo de escolher o "sim" ou o "não". Vota por votar, assim como respiramos e cagamos.

sexta-feira, novembro 04, 2005 6:51:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Certíssimo, meu caro Vidal.
gd ab

sexta-feira, novembro 04, 2005 7:53:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Menino, obrigada!

sábado, novembro 05, 2005 12:38:00 AM  
Blogger Jôka P. said...

"De algum modo ele os encontraria. Um desajustado sempre encontra os
seus."

Um tatú cheira o outro.

Abçs !

sábado, novembro 05, 2005 2:01:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Fal, os blogueiros jamais serão vencidos.
bjs

Jôka, O pobre Otávio Brandão do meu livro sabia das coisas
ab

sábado, novembro 05, 2005 10:12:00 PM  

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