sexta-feira, março 30, 2012

O Terrorista Chega a Terceira Idade

"Já ouvi acusarem você de escritor pornográfico. Você é?"
"Sou, os meus livros estão cheios de miseráveis sem dentes".

O trecho acima foi tirado do conto Intestino Grosso, o último do livro Feliz Ano Novo, que tornou-se o presente de Natal preferido das pessoas de bom gosto em 1975.
Sim, eu disse 1975, auge da ditadura militar. Por isso, o autor da citada obra, o mineiro, radicado no Rio de janeiro, Rubem Fonseca, viu seu livro ser recolhido das livrarias, por ordem do, então, Ministro da Justiça, Armando Falcão, após já ter entrado na lista dos mais vendidos no país. O argumento foi o de "excesso de violência e palavrões", mas ao se julgar pelo trecho no início deste post, percebe-se  que a razão não foi bem esta.
As novas gerações não sabem, mas já houve um tempo neste país, em que você podia ser preso ao ser flagrado carregando certos livros.
As novas gerações também podem achar interessante, engraçado ou inteligente o trecho acima, mas naquela época ele tinha quase que o efeito de um atentado terrorista.
Eu ainda tenho um exemplar da primeira edição, lançada em 1975 pela já extinta Editora Arte Nova.
Rubem Fonseca conseguiria liberar sua obra apenas em 1989, após uma longa batalha judicial.
Hoje, no alto dos seus 86 anos, ainda está em forma e gozando de enorme prestígio, como mostra este vídeo recente, onde o autor faz palestra em Portugal:

E quanto aqueles que proibiram Feliz Ano Novo? Alguém sabe deles?



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segunda-feira, novembro 29, 2010

"Deus é um Blefe"

"Os olhos eram redondos, azuis, pequenos e úmidos. Pareciam estar-se escondendo atrás da camada aquosa e das espessas sombrancelhas brancas, unicamente à espera do momento de projetar-se e capturar alguma coisa. Elihu Wilsson não era da espécie de homem cuja carteira a gente tentaria furtar, a não ser que se tivesse muita confiança nos dedos."

O mestre Dashiell Hammett, em uma perfeita descrição, no seu clássico Safra Vermelha, que acabei de ler.

Eu tenho falado pouco sobre literatura neste blog, mas pretendo me regenerar. É uma das minhas promessas para 2011.


E por que não começar agora?
Pois bem, a polêmica frase no título deste post é o mote do meu conto A Noite das Mentiras Púrpuras, que fará parte da coletânea Escritores & Escritos, que a editora carioca Flaneur irá lançar agora em 9 de dezembro. E onde diversos escritores da nova safra da literatura nacional se propõem a escrever sobre escritores famosos já falecidos.
Isso mesmo. Pela primeira vez, mestres como Edgar Allan Poe e Charles Bukowski, irão virar personagens em contos, criados por gente talentosa como a escritora paulistana Andréa Del Fuego,  a jornalista da Folha de SP Cecília Gianetti, a escritora carioca Diana de Hollanda e o jornalista Marcelo Moutinho. O livro tem prefácio de Ítalo Moriconi.
Fiquei satisfeito em participar dessa coletânea com idéia tão original e ainda mais ao lado de gente que admiro.
Escolhi Tennessee Williams - um dos maiores nomes da dramaturgia e da literatura do século XX, como personagem principal do meu conto.
Mais detalhes sobre o lançamento...

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quinta-feira, abril 09, 2009

E tome bala!

"No leito de morte de fulana, ele falou: sempre te amarei, Ciclana"


Um dos meus micro-contos, projeto que estou ressucitando.





Ah, a senhorita lá em cima bem pode ser a digníssima sogra da fulana.



* Sei que não é o post mais conveniente para a época, mas o que você esperava de um blog com esse nome? Feliz Pascoa a todos!

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segunda-feira, maio 05, 2008

Enfim, o outono




E com ele, chega a vontade de ler um bom livro. Há época melhor para se atracar com um bom romance policial, enquanto o frio e/ou a chuva rolam lá fora?



Pois as editoras sabem disso e nesse outono estão caprichando. A Ojetiva principalmente, pois botou no mercado vários títulos top de linha. Vou citar dois para quem quer ficar antenado com o que de melhor está se escrevendo na literatura policial no exterior.



Echo Park, de Michael Connelly, foi lançado em 2006 carregado de elogios da imprensa internacional. Aliás, Connelly é o escritor policial mais cultuado nos EUA no momento.


A história gira em torno do drama de consciência do agente veterano Harry Bosch, que cometeu um vacilo no passado e deixou de prender um homem que tudo leva a crer ser o responsável pelo desaparecimento de uma jovem e por vários assassinatos brutais. Torturado pelo remorso, Boshc sente a obrigação moral de colocar o psicopata atrás das grades e aí é que o bicho pega.

Eleito pelo Los Angeles Times o melhor romance policial de 2006, Echo Park é suspense psicológico da melhor qualidade, além de ser moderno e não errar na dose da ação. Recomendadíssimo.


Morte em Dark Harbor conta a história do agente Stone Barrington, que é o protagonistas das histórias de Stuart Woods. Neste caso, o herói do escritor se vê obrigado a investigar um familiar: seu primo Richard mata a mulher e a filha. Por que um dedicado pai-de-família de classe média faria tal atrocidade? E o romance prova que investigar um crime em família pode ser muito mais dramático e perigoso.



Agora, se você quiser ler um autor nacional de ótima qualidade, leia Doutor Valdini, um conto policial deste metido à besta que vos escreve e que acabou de ser publicado aqui.

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sábado, abril 05, 2008

A rua tem vida

Quando não estou circulando de bike, estou de carro, metrô, táxi ou ônibus. Outro dia, choveu no Rio. Não dava para usar a bike e decidi ir até o Largo do Machado, há uns dois quilômetros de onde moro, caminhando. E fiquei bobo com certas mudanças que haviam ocorrido no meu bairro e eu nem havia me dado conta. Aproveitei também para botar em prática um hábito que costumava ter no passado e que foi assassinado à queima-roupa pela falta de tempo: caminhar e observar a vida nas ruas.

Pois o título deste post foi tirado de uma frase do A Alma Encantadora das Ruas, do jornalista e escritor Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio. Já falei sobre esse livro - lançado no início do século passado - aqui, mas é que a Companhia das Letras o está relançando numa edição de bolso e o site Domínio Público, o disponibilizou para download.

O livro é sobre as ruas do Rio, mas poderia ser sobre as de Bancoc, Tóquio, Moscou, Buenos Aires, Roma, Miami ou Nova Iorque. Em todas as cidades há ruas que merecem ser observadas. Como escreveu o magnífico João, há ruas gentis, há ruas trágicas, há ruas pacatas, há ruas depravadas, há ruas imorais. No seu bairro mesmo deve haver alguma rua carente, carecendo de sua atenção.

A correria desses nossos dias transformaram as ruas apenas em lougradouros públicos pelos quais passamos com pressa. Vou tentar dedicar algumas horas por semana para fazer como o bom e eterno Paulo Barreto e flanar por aí. Com uma vantagem: o pobre João do Rio não tinha uma máquina digital para registrar tudo.

Quer baixar o A Alma...?, mergulhe aqui.

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segunda-feira, março 17, 2008

Miséria Humana




Foram todas as quatro edições vendidas. Como, à princípio, não haverá mais edições, se alguém ainda estiver a fim, entre em contato. Dependendo do número de interessados, haverá edição extra.

Quero agradecer de coração a todos os que compraram. Muito obrigado pela força.

Agradeço também aos que não compraram e que tiveram que aturar o merchandising aqui, nos últimos meses.

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terça-feira, fevereiro 12, 2008

As cavernas obscuras do nosso ser


"Ah, olha só a vadia! E encolhe, e solta, e mexe, e sacode e rebola. E eu, a serpente, vou saindo do cesto, maravilhada e à mercê dos seus encantos. Como o velho leão de circo que faz o seu número para ganhar a suculenta carne no final.
E o meu número é arrastar-me até este lugar sujo e mal freqüentado, para deixar-me ser enfeitiçado por ela. Deus sabe como tenho resistido todos esses anos. Não posso, não devo, dizia eu — um homem bem sucedido e chefe de uma família adorável —, enquanto o demônio (um sujeito simpático e de boa conversa) me fazia deixar o meu confortável escritório e, nesta noite de chuva, vir até a um lugar sórdido como este, na parte suja e feia da cidade, onde, só ou em bando, vive-se em apartamentos apertados ou em vagas. Um lugar de gente ansiosa e disponível, onde o calor humano é mais barato.
Olho em volta e vejo que não sou o único. O que não me serve de consolo, pois me considero especial, levando em conta de onde venho e que o grande herói da minha vida foi o xerife Anderson..."


Trecho inicial do meu conto Dança do Ventre, do meu livro Crimes e Perversões, que você pode adquirir, mergulhando aqui: juliocorrea19@gmail.com


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sábado, fevereiro 09, 2008

E o Síndico virou livro



Nos anos 70, o Tim morava em Copacabana e freqüentemente era abordado por guardas de trânsito das redondezas, pois além de dirigir sempre sem carteira, seu carro constantemente tinha um farol quebrado, pisca-alerta com defeito ou outra infração qualquer. E o velho Tim sempre soltava uma cervejinha para os PMs, que o passaram a chamar de "cartão de crédito".

Um dia, o "Síndico" iria fazer uma reuniãozinha para amigos, após um longo dia de gravação.

Quando chegou na porta do seu prédio, ele se deu conta que os bancos já haviam fechado e ele estava sem um tostão.

Sem pensar muito, ele procurou os guardinhas das dedondezas para que lhe dessem algum dinheiro.

E em pouco tempo conseguiu o bastante para, pelo menos, para algumas cervejinhas. Acho que foi a primeira vez que policiais garantiram a cervejinha de alguém.

O livro Vale Tudo, a biografia do Tim, lançado no final do ano passado pelo jornalista, crítico musical e também amigo do Síndico, Nelson Mota é um livro típico para o verão, com histórias deliciosas de um ícone da nossa música, muito conhecido pela sua simpatia e comportamento polêmico, mas que também sofreu muito. Principalmente por amor. Ninguém escreve um clássico como Azul da cor do mar sem motivo.

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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

É Verão e estou na praia...


Ilustração tirada da crítica do New York Times.

"...O dia de outubro quando ele viu pela primeira vez os seios dela nus precedeu em muito o dia em que pôde tocá-los - 19 de dezembro. Ele os beijou em fevereiro, embora não os mamilos, os quais roçou com os lábios uma vez, em maio. Ela se permitia avançar sobre o corpo dele ainda com maior cautela. Moviemntos súbitos ou segestões radicais da parte dele podiam arruinar meses de trabalho."

O trecho acima é o mais belo que li a respeito da época da inocência, antes da revolução sexual dos anos 60, quando um jovem casal tinha que lutar contra seus desejos, pois a virgindade era ainda contava pontos.
É verão estou Na Praia, o best seller do britânico Ian McEwan, lançado aqui pela Companhia das Letras no ano passado com grande estardalhaço. Cheguei até a fazer um post a respeito. Meu interesse por esse inglês, prestes a completar sessenta anos, cresceu após assitir à Desejo e Reparação, o filme de Joe Wright, que virou o filme da estação pra mim, sério candidato ao Oscar, e que foi baseado na obra de McEwan (Atonement, eleita pela revista Time, como o melhor romance de 2002).
A história de Na Praia poderia ser resumida em uma linha: "Dois adolescentes virgens irão ter a sua primeira relação na noite de núpcias, numa praia inglesa, Chesil Beach, no verão de 1962. Tudo corria bem até que um fato inesperado vem mudar a vida dos dois para sempre. Falando assim, pode parecer que daria um bom conto e não um romance. E para falar a verdade essa foi a impressão que tive no início. Mas McEwan é desses escritores que nos supreendem e o perfil psicológico é descrito com uma grandeza capaz de de emocionar e incomodar pretensos escritores invejosos como eu. Mais do que um clássico sobre a perda da inocência, Na Praia é sobre as brincadeiras - muitas vezes de mau gosto - que o destino faz com a gente.
Em Desejo e Reparação, McEwan chega às raias de um Nelson Rodrigues, descendo aos subterrâneos mais sombrios da alma humana. O filme poderia ser um pouco menor e pode ser confuso, devido ao tratamento quase fantástico dado a algumas cenas. Mas ficaria feliz ao vê-lo ganhar a tatueta.
Aliás, como foi a sua primeira vez, querido leitor? A minha foi...psicodélica. E-mais para julio-correa19@gmail.com.

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sábado, janeiro 19, 2008

Vai curtir uma balada hoje? Cuidado! Você pode encontrá-los...


Só lendo o resto do meu conto Testosterona, do Crimes e Perversões, o meu livro de contos, já na quarta edição e que pode ser pedido pelo juliocorrea19@gmail.com

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sábado, janeiro 05, 2008

O Caso Elizabeth Lewd


"Bem, tudo começou no momento em que Ana Maria Lewd entrou em meu consultório. Estava acompanhada de Elizabeth, sua única filha. A garota tinha um ar tímido, mas notei que ela olhou para o meu pau quando fui cumprimentá-las.
Você sabe, sou um especialista em casos de problemas sexuais. E Ana Maria era a minha cliente mais rica. Por isso, cobrava-lhe um pouco mais caro do que os outros pacientes e tentei ser educado, fingindo não notar o comportamento constrangedor da jovem.
No dia anterior, Ana havia me procurado para falar desse estranho hábito da filha.
“É difícil para mim, conversar a respeito”, havia dito.
“Mas só poderei ajudá-la se souber o que está acontecendo”, falei.
Eu já estava acostumado com a dificuldade dos pais em revelar os problemas dos seus filhos. Porém, mais tarde, teria que admitir que o caso de Elizabeth era mesmo delicado..."
Quem será, na verdade, o analista e o analisado nesta história do conto, que tem o mesmo título deste post? Histórias passadas em consultórios psicológicos sempre foram instigantes para mim. Essa tem um igrediente...picante. Por isso entrou no Crimes e Perversões, o meu livro de contos policiais. E picantes. E que pode ser adquirido pelo juliocorrea19@gmail.com

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sexta-feira, dezembro 14, 2007

29 centímetros


"Vinte horas. Sábado. Restaurante na Lagoa. Ainda chovia quando Marcela chegou.
MARCELA: - Boa noite.
EU: - Boa noite. Tudo bem?
Marcela era uma quarentona, classe média. Como a maioria. Bem vestida, cabelos louros e lisos. Tinha um sorriso sincero. Diferente dos outros.
MARCELA: - Você chegou há muito tempo?
EU: - Uns dez minutos.
Marcela, já sentada, me examinava com um sorriso curioso.
MARCELA: - Você é muito bonito. Se fosse mais jovem eu acharia que...
EU:- Que sou um miché?
MARCELA: - Isso.
Já dava para perceber que teria trabalho com ela. Só não imaginava o quanto. Sorri meio de lado e depois a encarei. Não nos olhos, mas...em algum ponto entre os olhos. Aprendi isso com a Clara, minha cliente psicóloga.
EU: - Mas eu não sou um prostituto.
MARCELA: - Tá certo. Posso perguntar o que você é, então?"

O que será que ele é, então?

Sei que as pessoas que freqüentam este blog não tem a mente suja e não estão pensando besteira. Mas quem quiser saber como a noite desses dois acabou, só lendo este conto - que tem o o título deste post como título - do meu livro Crimes e Perversões, cuja a terceira edição já está para sair. Garanta o seu pelo juliocorrea19@gmail.com.

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domingo, novembro 25, 2007

A Verdadeira História de Suzete Kitchnette

Foto by Bezitted


“Era uma vez uma garota humilde do subúrbio. Bonita e muito ambiciosa. Sonhava em ser uma atriz do teatro e do cinema. E preferiu o caminho mais fácil. Os homens têm necessidades e ela aprendeu a satisfazê-las. Então, a moça humilde do subúrbio acabou se transformando na maior vagabunda que esta cidade já conheceu. Ganhou muito dinheiro com isso. Mas, como nas novelas mexicanas, não encontrou a felicidade. É isso que você quer escrever? Um drama mexicano?”

Este é o trecho inicial do conto que tem o título deste post. Para saber quem foi mesmo Suzete, só lendo o meu livro de contos Crimes e Perversões, que de drama mexicano não tem nada. A segunda edição já está rolando e pode ser pedida pelo juliocorrea19@gmail.com.

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sexta-feira, novembro 09, 2007

Enquanto isso no submundo...



Foto by Ali K.



Quer saber como termina isso. Peça o livro Crimes e Perversões pelo email: juiocorrea19@gmail.com. E atenção! É versão papel, não é PDF.









Os personagens do texto acima são fictícios, mas a cena das putas foi baseada em uma que assisti nessa esquina da rua Luiz de Camões, atrás da Praça Tiradentes, onde fica o Centro Cultural Hélio Oiticica. Durante o dia é apenas mais uma rua da parte velha do Rio. Mas à noite, é mais conhecida como "rua das putas", antiga e decadente área de prostituição da cidade.





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sexta-feira, outubro 26, 2007

O amor é lindo

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domingo, outubro 07, 2007

A solidão da velha senhora - e de todos nós

Foto by Love Like Blue



"A mulher apareceu, caminhando lenta, apoiada em uma bengala e no porteiro. Sorria um sorriso artificial. Era bem idosa. Usava bijuterias baratas. Usava também uma espécie de túnica oriental, exótica, amarelada pelo tempo, e chinelinhos dourados com enfeites de pelúcia nas pontas. Coisas antigas, decadência e velharias.
“Demorei muito, meu querido?”, ela perguntou.
“Não”, mentiu o homem. “Você foi pontual, como sempre. Vamos?”
Atravessaram as pistas da avenida com dificuldade. Como sempre fazia, o homem segurava a mão da mulher, erguendo-a no alto, como se fosse um cavalheiro ajudando uma dama a descer do carro ou um príncipe tirando a bela princesa para dançar a valsa. Bondade, gentilezas; coisas antigas, velharias. Preocupado, o homem fazia sinal para que os carros parassem. A mulher não via a tensão no homem. E pensava que os carros paravam por causa dela."



Trecho do meu conto Caridade, do meu próximo best seller Crimes & Perversões.
Dessa vez é o formato papel. Quem estiver interessado mande bala para juliocorrea19@gmail.com
As férias acabaram e este blog voltará a ser sério. Nos próximos posts mais detalhes e mais trechos.

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segunda-feira, agosto 06, 2007

Esses escritores policiais e suas descrições maravilhosas...



"Aquela loira era agradável como um lábio cortado. Sua manicure fazia os seus dedos parecerem cubos de gelo."



Raymond Thornton Chandler, criador do Philip Marlowe, um dos detetive mais famoso da literatura. Ninguém soube melhor descrever uma loura.

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quinta-feira, agosto 02, 2007

Crimes com grife

Numa manhã como outra qualquer, uma mãe, que levava o seu filho ao colégio, tem o trajeto interrompido por marginais que a obrigam a sair do carro. O menino não consegue se livrar do cinto de segurança e é arrastado por vários quilômetros pelos bandidos em fuga.


É uma história absurdamente violenta, mas daria literatura?


Não, pela gratuidade e futilidade com que o crime foi praticado.

Mas já houve uma época os crimes ocorridos aqui tinham mais elegância e é disto que trata a minha nova aquisição literária deste inverno.

Essa coletânea, organizada por George Moura e Flávio Araújo e lançada pela Globo, tenta desvendar crimes praticados com inteligência e astúcia e que foram encobertos por corrupção policial, impunidade e leis brandas, igredientes deste país injusto. São crimes interessantes e misteriosos, muitos ainda não resolvidos e que intrigam a opinião pública até hoje. Crimes que dão literatura.

Crimes com grife. Yes, nós também temos psicopatas!

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quinta-feira, junho 21, 2007

Vamos a la Plaia?



Ian McEwan é um escritor inglês pelo qual sempre tive curiosidade de ler. Fui adiando, adiando, até ler um trecho do seu livro A Praia, que parece ser o lançamento do mês, tal o buchicho que a web literária está fazendo. O trecho está na coluna do Sérgio Rodrigues, no No Mínimo, que trata Sir McEwan como "um monstro". Como ainda não fui apresentado a este senhor, encaro com reserva tal elogio, mas estou a um passo de concordar, após ler o trecho abaixo. Antes de você lê-lo, é bom que saiba que a história se passa em 1962, quando explodia a chamada Revolução Sexual dos Anos 60 e é sobre os problemas que dois jovens inexperientes estão tendo na cama na sua noite de núpcia.

Vamos lá:

"Quando se beijaram, ela sentiu imediatamente a língua dele, retesada e robusta, avançar entre seus dentes, como um rufião abrindo caminho à força até um quarto. Entrando nela. A sua própria língua se dobrou e retraiu numa aversão automática, dando ainda mais espaço à de Edward. Ele sabia muito bem que ela não gostava desse tipo de beijo, e nunca fora tão impositivo. Com os lábios firmemente pregados nos dela, devassou-lhe o fundo carnudo da boca, e em seguida fez um movimento circular por trás dos dentes da arcada inferior até o vazio onde três anos antes um dente de siso crescera torto, para acabar removido sob anestesia geral. Era nessa cavidade que a língua dela normalmente se perdia, quando ela própria estava perdida em pensamentos. Por associação, tinha mais a ver com uma idéia do que com uma localização, era mais um lugar privado e imaginário do que um vão na gengiva, e a ela parecia estranho que outra língua também pudesse ter a permissão de chegar até lá. Era a ponta aguçada e dura desse músculo alienígena, vivo e palpitante, que a repugnava. A mão esquerda dele estava espalmada acima das omoplatas dela, logo abaixo do pescoço, alavancando a cabeça dela contra a dele. A claustrofobia e a falta de ar se igualavam quando ela decidiu que não suportaria ofendê-lo. Ora ele estava sob a língua dela, empurrando-a para cima, contra o céu da boca, ora sobre a língua, empurrando-a para baixo, e depois deslizando com suavidade pelos lados e em círculo, como se achasse que podia dar-lhe um nó simples. Queria enredar a língua dela em algum tipo de atividade própria, induzi-la a um abominável dueto mudo, mas ela só conseguia se encolher e se concentrar em não reagir, não ter engulhos e não entrar em pânico. Se vomitasse na boca dele – e esse era um pensamento desvairado –, o casamento estaria terminado num instante, e ela teria de voltar para casa e explicar aos pais. Entendia perfeitamente que esse negócio de línguas, essa penetração, era uma representação em escala menor, um ritual do que ainda estava por vir, como um tableau vivant, o prólogo de uma velha peça que anuncia tudo o que acontecerá em seguida.
Enquanto esperava que esse momento particular passasse, com as mãos apoiadas por convenção nos quadris de Edward, Florence se deu conta de que havia topado com um lugar-comum, bastante evidente em retrospecto, tão primitivo e antigo quando danegeld ou droit de seigneur, e cuja definição era quase tão elementar: ao decidir casar-se, foi exatamente isso que ela aceitou. Tinha concordado que era certo fazer isso, e que isso fosse feito com ela. Quando ela e Edward e seus pais seguiram em fila para a lúgubre sacristia depois da cerimônia, para assinar o registro, foi nisso que puseram seus nomes, e todo o resto – a suposta maturidade, os confeitos e o bolo – era só uma distração educada. Se não gostasse, a responsabilidade era só dela, uma vez que todas as suas escolhas ao longo do ano anterior convergiram para isso, a culpa era toda sua, e agora ela realmente achava que ia vomitar."


Então? Vai para o trono, digo, para a estante ou não vai?

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quarta-feira, junho 20, 2007

100 Crimes que compensaram


Sou averso a esta inflação de listas que têm sido publicadas na web nos últimos tempos. Mas essa lista eu não podia deixar de divulgar.
Que sou amante da literatura policial todos sabem. Uma vez alguém me disse que quem gosta muito de ler sobre crimes tem uma certa porcentagem de mente criminosa. Nunca parei para pensar em qual seria esta minha percentagem e também isso é algo que só discuto com o meu analista.
Mas a verdade é que sou apaixonado por qualquer tipo de livro policial e encontrei a lista dos cem melhores, elaborada pela prestigidíssima Crime Writers Association (of Great Britain). Tá certo que a lista é muito antiga (1990), deixando de fora muita gente boa, como o americano Dennis Lehane, o meu preferido da nova geração. Mas levando-se em conta quem elaborou a tal lista, vale a pena dar uma olhada.


Como sempre há injustiças, como o décimo lugar do clássico O Falcão Maltês, por exemplo. Mas, no geral, gostei das escolhas. A maioria são clássicos da literatura policial de todos os tempos. Se o crime é uma arte, alguns são verdadeiras Monalisas. Meu analista não pode saber que irei dizer isso, mas são crimes sofisticados, bem elaborados, inteligentes, charmosos e até bonitos. Pelo menos bonitos de ser lidos.


Qual a arte que pode haver em se arrastar uma criança pelas ruas como se fosse um Judas?

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