AI - que porrada!
"No dia 14 de junho de 1972, Ana Maria Nacionovic Corrêa, 25 anos, Marcos Nonato da Fonseca, Antônio Carlos Bicalho Lana e Iúri Xavier Pereira, todos militantes da ALN, estavam almoçando no Restaurante Varella, na Mooca. o proprietário do estabelecimento, Manoel Henrique de Oliveira, que era alcagüete da polícia, telefonou para o DOI/CODI-SP, avisando da presença de algumas pessoas que tinham suas fotos afixadas em cartazes de “Procurados”, feitos na época pelos órgãos de segurança. Os agentes do DOI/CODI, assim que se certificaram da presença dos quatro companheiros, montaram uma emboscada em torno do restaurante, mobilizando um grande contingente de policiais.
De imediato, foram fuzilados Iúri e Marcos Nonato. Ana Maria, ainda vivia, quando um policial, ouvindo seus gritos de protesto e de dor, impotente perante a morte iminente, aproximou-se desferindo-lhe uma rajada de fuzil FAL, à queima-roupa, estraçalhando-lhe o corpo. Ato contínuo, os policiais fizeram uma demonstração de selvageria para a população que se aglomerou em volta daquela já horrenda cena. Dois ou três policiais agarravam o corpo de Ana Maria e o jogavam de um lado para o outro, às vezes lançando-o para o alto e deixando-o cair abruptamente no chão. Descobriram-lhe também o corpo ensagüentado, lançando impropérios e demonstrando o júbilo na covardia de tê-la abatido. Não satisfeitos, desfechavam-lhe ainda coronhadas com seus fuzis, como se mesmo morta Ana Maria representasse ainda algum perigo.
Da emboscada, conseguiu escapar, ferido, Antônio Carlos Bicalho Lana (morto em 30 de novembro de 1973), testemunha, dos três assassinatos.
A população, revoltada com tamanha violência e selvageria, esboçou, dias depois, uma reação de protesto, tentando elaborar um abaixo-assinado que seria encaminhado ao Governador do Estado. Mas, devido ao clima de terror existente no País naquela época, somado ao pânico de que aquelas cenas de verdadeiro horror pudessem se repetir com eles, a iniciativa foi posta de lado. Também as ameaças feitas pelos policiais, na hora do crime, intimidaram os populares."
"Estudante de Psicologia na Universidade de São Paulo, era a responsável pela imprensa da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, com ativa militância no movimento estudantil dos anos 1967/68. Foi presa em 9 de novembro de 1972, na Parada de Lucas, Rio de Janeiro, em batida policial realizada por uma patrulha do 2º Setor de Vigilância Norte, após rápido tiroteio, em que morreu um policial.Após correr alguns metros e se esconder em vários lugares, Aurora foi aprisionada, viva, dentro de um ônibus onde havia se refugiado momentos antes.Foi torturada desde o momento de sua prisão, inclusive na presença de vários populares que se aglomeravam ao redor da cena. Aurora foi conduzida para a Invernada de Olaria. Lá, foi torturada nas mãos dos policiais do DOI/CODI e integrantes do famigerado “Esquadrão da Morte”.Aurora viveu os mais terríveis momentos nas mãos daqueles carrascos, que além dos já tradicionais pau-de-arara, sessão de choques elétricos, somados a espancamentos, afogamentos, queimaduras, aplicaram-lhe a “coroa de cristo”, ou “torniquete”, que é uma fita de aço que vai gradativamente sendo apertada, esmagando aos poucos o crânio.No dia 10 de novembro, Aurora morreu em conseqüência dessas torturas. Seu corpo chegou ao IML/RJ como ‘desconhecida’, pela Guia n° 43 da 26ª D.P.Após prendê-la e torturá-la, jogaram seu corpo crivado de balas na esquina das Ruas Adriano com Magalhães Couto, no Bairro do Méier (RJ). A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança era de que a morte de Aurora seria conseqüência de uma tentativa de fuga, quando era transportada na rádio-patrulha que a prendera. Ao tentar fugir, Aurora teria sido baleada e morta."
Os relatos e fotos acima foram tirados do ótimo arquivo do Grupo Tortura Nunca Mais. Existem outros relatos. Muitos. São centenas de jovens que pensaram que pudessem mudar o país e o mundo apenas com boas idéias e foram colidos por um trem chamado AI-5, o ato quarentão, que fez aniversário no último dia 13 de dezembro e que eu não podia deixar passar em branco. Muito se falam dos chamados "heróis contra a ditadura", como Gabeira, Gil, Caetano, Zuzu Angel, Ulysses Guimarães, Herzog, etc. De maneira nenhuma quero diminuir a importância de todos eles. Mas só quero lebrar as centenas de pequenos heróis que deram suas vidas e sobre eles pouco se fala. Eu tive um primo que foi preso e torturadíssimo no Doi-Codi, como já falei aqui. Do seu sofrimento, pouco se fala. Por isso acho esse arquivo do Tortura... uma importante forma de homenagear esses heróis esquecidos.
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