Inocência Em Tempos de Cólera
Continuo envolvido num projeto que me obriga a fazer muita pesquisa histórica. Então, encontrei aqui, um fato curioso.
Para quem ainda não estava neste mundo, no ano 1968 o mundo pegava fogo. Conflitos entre a polícia e estudantes rolavam nas principais capitais do mundo. E aqui no Rio a coisa não era diferente. Na manhã de 28 de março, uma manifestação de secundaristas por melhores condições do restaurante Calabouço, mantido pelo governo para que estudantes fizessem suas refeições a preços subsidiados, terminou na morte de Edson Luís Lima Souto, de 18 anos. A opinião pública estremeceu. O corpo foi velado na Assembléia Legislativa, que ficava na Cinelândia. Milhares de pessoas cruzaram a noite visitando o corpo. "Um estudante morreu. Podia ser seu filho.", clamava o povo.
Na tarde do dia seguinte, outra multidão acompanhou o cortejo do Centro até o cemitério São João Batista, em Botafogo, numa clara demonstração de que o povo repudiava a brutalidade.
Há duas passagens no texto que encontrei sobre o cortejo que me chamaram a atenção e coloco na íntegra aqui. Reparem que o texto foi escrito antes da reforma da lingua portuguesa, em 1971.
"Na Praia de Botafogo, utilizando-se de pedras, os participantes do féretro foram quebrando tôdas as lâmpadas dos postes...Na Rua da Passagem pediram a dois guardas que tirassem o quepi à passagem do corpo. Os policiais se recusaram e os estudantes jogaram seus quepis longe, o que quase originou nôvo conflito."
Ao ler isso me dei conta de que a esquerda brasileira parece ter mesmo vocação para tentar vencer satã só com orações, como dizia o ministro Gil, na música Oriente. Me lembrei também do Presidente Lula outro dia, na tv, discordando do rebaixamento da maioridade penal como uma das formas de baixarem a violência. E usando mais uma vez o surrado e desbotado clichê: "a violência só se combate com educação."
10 Comments:
39 anos depois e a história não mudou muito, poderia ser um relato atual. Estamos no meio dum fogo cruzado entre a polícia e a criminalidade desenfreada, a violência passa a fazer parte do nosso cotidiano de forma tão constante que chagamos a ficar meio "acostumados", anestesiados diante de tudo. Tempos de barbárie.
Abs.
Adorei o texto. Parabéns...Achei uma ousadia mto grande e um desrespeito maior ainda jogarem os "quepis" dos guardas.....
Dann Ferreira
www.o-diariu.blogspot.com
Bom... eu tô lendo um livro do Zuenir, "Cidade partida". Ele escreveu também "1968 - o ano que não terminou". Esse eu não li, mas foi bom você tocar nesse assunto.
Falo sobre algo parecido lá no meu.
Um gande abraço e valeu a visita.
A história se repete,meu amigo. Só que acho que hj em dia as coisas estão fora de controle. E não devemos esperar nada deste governo. Se é que vai aparecer algum que dê jeito.
Abração,JULIO!!
tambem nao concordo com a ideia de reducao da maioridade penal 'e solucao...diminui-se a idade e se manda mais menores infratores pra instituicoes superlotadas e corruptas...?
isso 'e avancar...ou aumentar o monstro?
'e claro que educacao 'e a saida!...mas nao vejo o nosso governo providenciando nenhuma mudanca estrutural...algo de revolucionario...apenas enchendo linguica e rezando pela velha cartilha...
ja estou de volta aqui julio...como vao as coisas ai no rio?
Eu tinha 10 anos em 1968...
Os moleques que zuaram com os guardas hoje são formadores de opinião, políticos influentes, chefes de redação de jornais...
A tendência era piorar... e piorou.
Infelizmente somos reféns das nossas atitudes e, sobretudo, da nossa falta de atitude. Com o passar dos anos, os movimentos estudantis se deterioraram como num passe de mágica. Hoje em dia, os jovens são menos atuantes que antes, parece que a "fome da revolução" foi esquecida com o entre e sai das décadas.
Antes de se discutir a violência, precisamos, urgentemente, discutir a nossa existência. O que cada um realmente faz para a construção de uma sociedade exemplo, onde menino, meninas e homens possam ter um pouco de dignidade.
Grande abraço!
Gostei do seu blog. Vou linká-lo!
Acho que, sem contar com o meu último post "elétrica", todos os outros combinam bastante com o título deste blog... Quando puder, dê uma confirida.
Abraços!
Oi!
Desta vez não estou aqui para comentar seu post e nem mesmo para pedir sua visita no meu blog.
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Uma campanha idealizada por Christiane Torloni e Victor Fasano, e que conta com um texto publicitário de Juca de Oliveira, está tocando o país e recolhendo milhares (atualmente mais de 300.000) de assinaturas.
Entre as assinaturas está a de artistas mundialmente conhecidos como Rodrigo Santora, Gisele Bündchen, Annie Lennox, Roberto Carlos, e centenas de outros artistas brasileiros e extranjeiros. Isso além de outros brasileiros que se comoveram com a campanha e estão cedendo suas assinaturas para ajudar.
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