quinta-feira, abril 27, 2006

Um + Um



Enquanto a ambulância corria pela noite, a minha mente era ocupada pelas lembranças da Rainha Nava e de como era gostoso fazer amor com as cigarras.

Ao meu lado, deitada sobre a maca, estava Norma Rodrigues, ofegante e abatida. A ambulância corria para salvá-la. Eles tinham pouco tempo para fazer o que não consegui nos últimos trinta anos.
Havia também uma enfermeira. Mulata, gorda e de uma calma arrepiante. Uma calma que devia ter-lhe custado muito caro. Ela parecia ser uma mulher trágica. E isso não tinha nada a ver com a sua profissão. Apesar da pouca idade, as situações de drama e desespero deviam ter vindo como ondas em sua vida.
Norma transpirava um suor frio. Parecia um refrigerante tirado do refrigerador. Com o meu lenço, enxuguei a sua testa. Muito lenta, ela virou-se para mim. Os olhos semi-abertos. Até onde iria o seu sofrimento? Onde começaria o seu exagero? Era a sua maneira de dividir a dor comigo. Uma divisão injusta. Eu sempre ficava com a maior parte.”

(Trecho inicial do meu conto A Solidão da Rainha Nava, que faz parte do meu livro Crimes e Perversões, que irá ser lançado em breve. Aguardem!)

Este é um conto sobre o amor. O amor na sua forma mais bela, profunda e intensa. Um amor com devoção, raro nos dias de hoje. Uma história de amor que poderia ter como trilha sonora, uma antiga canção do Ivan Lins.

Ouça aqui.

E cante aqui...


Depois dos temporais
(Vitor Martins - Ivan Lins)

Sempre viveram no mesmo barco
Foram farinha do mesmo saco
Da mesma marinha, da mesma rainha
Sob a mesma bandeira
Tremulando no mastro
E assim foram seguindo os astros
Cortaram as amarras e os nós
Deixando pra trás o porto e o cais
Berrando até perder a voz
Em busca do imenso,
Do silêncio mais intenso
Que está depois dos temporais
E assim foram sempre em frente
Fazendo amor pelos sete mares
Inchando a água de alga e peixe
Seguindo os ventos
As marés e as correntes
O caminho dos golfinhos
A trilha das baleias
E não havia arrecifes
Nem bancos de areia
Nem temores, nem mais dores
Não havia cansaço
Só havia, só havia azul e espaço
****************
Quer rir um pouco? O site da Revista Paralelos publicou um conto meu. Mergulhe aqui, para conferir o meu trabalho neste site sensacional.

11 Comments:

Blogger Milton T said...

Puxa agora quero saber o fim da história.
Abçs

quinta-feira, abril 27, 2006 9:51:00 AM  
Blogger Barbara said...

Fazer amor sem as cigarras também pode?

Belo texto. Mesmo.

quinta-feira, abril 27, 2006 11:31:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Deu agua na boca e um gostinho de quero mais,JULIO...
Parabens!!
Ah,ja te linkei. Muito grato pela autorização!
Abraços!

quinta-feira, abril 27, 2006 2:37:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vai nos dar o prazer de acompanhá-lo por aqui? Ou foi só o gostinho?rss
Comprarei o livro e quero autografado,tá?
Irei aos sites indicados.
belo dia,
beijossssssssss

quinta-feira, abril 27, 2006 5:29:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Já corrigi,JULIO.
Valeu pelo alerta.
Abração!!

quinta-feira, abril 27, 2006 5:40:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Tá certo! O livro será lançado em breve. Mas e a história de amor? Poderemos acompanhá-la por aquí, ou foi só um aperitivo, pra nos deixar com vontade de ler o resto?

Abração.

quinta-feira, abril 27, 2006 11:23:00 PM  
Blogger Jôka P. said...

Gosto de mulatas gordas e trágicas.
Viviennne, a minha empregada é assim.
Abç,
Jôka P.

sexta-feira, abril 28, 2006 12:16:00 AM  
Blogger Milton T said...

Júlio, agora li seu conto na revista. Sensacional, gostei muito. Essas mentes pairam em todos os lugares.

Era colega do filho do Doka Street, quando garoto. Eles da alta sociedade quatrocentona paulistana, eram motivo de orgulho de todos.

Bom feriado

Abçs

sexta-feira, abril 28, 2006 11:07:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

é sempre bom vir aqui.
abraçao
chico

sexta-feira, abril 28, 2006 2:28:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

hum...hoje só nos adoçou a boca!
Vou conferir o site! Beijus

sexta-feira, abril 28, 2006 7:29:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

Júlio, o sistema de comentários lá, está fora do ar!! A decisão do Chato de dar 69 facadas foi uma referência a cena anterior ao crime? (rs*) Bom fim de semana! Beijus

sexta-feira, abril 28, 2006 7:37:00 PM  

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