sábado, julho 21, 2007

Os Mutantes, quem diria? Acabaram no Carnegie Hall

Os Mutantes-versão século XXI levaram a excursão que marcou a volta do grupo a Nova Iorque na semana passada. Na verdade este show foi mais um evento dentro da programação que, há vários meses vem celebrando os 40 anos da Tropicália, com shows e exposições.

É engraçado ver os americanos festejarem a Tropicália, movimento que nunca entendi muito bem, e que até hoje é tida por muita gente como o maior acontecimento musical na nossa música, nos anos 60.

Era uma época muito radical e de um ufanismo lisérgico. Gil, Caetano, Tom Zé, os Mutantes, Hélio Oiticica, entre outros, decretavam que devíamos valorizar "as coisas brasileiras" e que as influêcias musicais externas eram negativas. Isso numa época em que o cenário internacional era estrelado por gente como Beatles, The Rolling Stones, Hendrix, Cream, Floyd, etc.

Gente esquisita, os tropicalistas. Valorizavam o carnaval, a goiabada cascão com queijo, o piquinique em Paquetá, a Buzina do Chacrinha e desprezavam Blowin´in the wind, do Dylan, por exemplo. Mas se o mais engrançado é que se fizermos uma raspagem em sua música, veremos inegáveis influências do psicodelismo. Gil chegou enfrentar críticas e vaias por cometer o sacrilégio de inserir um grupo de rock - Os Mutantes - na sociedade secreta do Tropicalismo. E, no entanto, basta ouvirmos Alegria, alegria, para notarmos a guitarra delirante na introdução da música. Contradição? Acho que sim.

Por isso acho estranho no palco novaiorquino um grupo que pertencia a um movimento que condenava a música norte-americana. Ou os gringos são muito burros ou são espertos o bastante para promoverem uma armadilha do tipo: "Falavam mal de nós, mas olha onde vocês vieram acabar."

Talvez não seja nada disso. Na verdade, nunca levei a sério a Tropicália. Reconheço a sua importância. Não como movimento em si, mas, sim, o que ela gerou.

O AI-5 decretou a sua morte e abriu as portas para uma geração de novos músicos que não tinham medo de dizer que curtiam rockn´roll tanto quanto samba. Os Novos Baianos foram os primeiros. Os próprios Mutantes iniciaram os anos 70 mais com os dois pés no rock.

Dos Novos Baianos até Chico Scince e a Nação Zumbi, passando pela Cor do Som e por toda a geração do B Rock dos 80, foi um longo caminho e hoje ninguém duvida de que MPB e música estrangeira dá um tremendo caldo.

Não sei como foi o concerto dos Mutantes lá na Big Apple, mas colocá-los dentro de uma homenagem à Tropicália é meio suspeito. Tomara que o Sérgio Batista não tenha usado a patética farda à la Sgt. Peppers que ele usou durante a excurção brasileira. Já posso os ver os americanos rindo e dizendo: "Viu? O mundo dá voltas!"

Vá confiar em americano!

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