Cofessionário
"Quando fico triste, vou à Tiffany's". Audrey Hepburn, inesquecível, fazendo uma boquinha e sonhando diante da vitrine mais famosa do mundo.
Bonequinha de Luxo, um dos maiores clássicos-pipoca do cinema americano, está fazendo 45 anos. Foi reprisado outra noite na tv e vou confessar: ainda me emociono ao assistir esta comédia- romântica. Não pelo final triste desta produção tipo sessão-da-tarde e nem por ouvir Blue River, cantado por Andy Williams. Mas essa filme do diretor inglês Blake Edwards - o mesmo de Victor ou Victória - me emociona porque fala de uma triste experiência a qual todo ser humano está sujeito: a desilusão.
Talvez se iluda menos hoje em dia e, conseqüentemente, a desilusão faça menos vítimas. Mas ela está sempre à espreita. Principalmente quando se exagera na dose de sonhos.
Quem nunca se desiludiu, que atire a primeira Bala. E quem nunca teve um sonho? Um carro, um filho, uma casa, aquele emprego bacana, aquela viagem, aquele caso de amor. Holly Golightly (Audrey Hepburn) e Paul Varjak (George Peppard) tinham um sonho e aprenderam da maneira mais amarga que a vida e Nova Iorque são duas destruidoras de sonhos. Ela nunca arrumaria um marido milionário que a livrasse de sua vida medíocre no interior. Ele nunca seria um escritor de sucesso. Como disse o velho Tom Jobin: "Triste é saber que não se pode viver de ilusão. Que nunca vai ser, nunca vai dar, o senhador tem que acordar."
Aliás, Bonequinha de Luxo é a única comédia-romântica que conheço, sem final feliz. Além do mais, o roteiro esperto de George Axelrod, baseado em livro de Truman Capote, faz o filme passar longe da pieguice. Os personagens de Audrey e George não são santinhos, são dois safados que vivem de mentir e iludir. E isso acrescenta um tom de realidade ao filme, que acabou conquistando o público no mundo inteiro. Você torce por eles e no final, resta um gosto amargo de "porra! A desilusão existe mesmo. Se aconteceu com eles, pode acontecer comigo."
Apesar de ter ganho dois (Melhor Trilha Sonora - Comédia/Drama e Melhor Canção Original) dos quatro oscars a que concorreu, Bonequinha... não foi unâneme entre os críticos e nem entre o público mais cabeça, maravilhados com o Cinema Novo, aqui no Brasil, e com o cinema francês de Godard. Mas esse trabalho do grande Edwards é de um tempo em que o cinema americano ainda tinha boas idéias e as usava não em filmes cult, mas em obras despretenciosas como essa, repleta de cenas hilárias, personagens geniais, interpretações sinceras, uma música belíssima e um tema que diz respeito a todos nós.
Por isso eu confesso: Bonequinha de Luxo me emociona ainda hoje.
Pronto, estou mais leve.
E você? Qual o filme que lhe emociona? Pode confessar. Aproveite que agora só dá pra mandar bala por email. Prometo que ninguém ficará sabendo.
Marcadores: Cinema
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